A Influência do Profundo - Capítulo 2
- Ze-Zero? – Hayato olha abismado, afastando o rosto. Não fosse a inconfundível armadura do reploid, pensaria que é qualquer um.
- Por que a surpresa? – Ele sorri, caminhando lentamente rumo ao japonês. – Não está claro?
- Você não pode ser o Zero!
Enquanto caminha, o guerreiro de armadura sombria estende o braço, mirando a palma da mão para um pequeno e pacato prédio. De imediato, nasce uma intensa rajada energética que grita e atravessa o ar na direção do concreto, transformando a moradia em uma enorme pilha de destroços e fogo, morte.
- Por que está fazendo isso? – O rapaz olha desacreditado, furiosamente arrancando da cintura o cabo da katana.
- Porque não existe nada mais... – Zero puxa seu sabre das costas. - Divertido! – Ao que seus olhos brilham em vermelho, corre na direção de Hayato, atravessando a rua como se realmente fosse feito de sombras, tamanha sua fluência e velocidade.
No entanto, a última coisa que o japonês irá fazer é se intimidar. Também avança até o inimigo, ativando a lâmina de plasma de sua espada e puxando-a ao lado do corpo, prontíssimo para o ataque. Quando se aproximam, as espadas brandem a fúria de grandes meteoros, com seus movimentos jogando ao horizonte um violento estalar de energia. Hayato atacara com bastante força, para Zero simplesmente bloquear.
- O que está tentando fazer? Me desequilibrar? – O reploid olha com um sorriso zombeteiro, agüentando a força de Hayato sem qualquer problema. – É assim que se faz! – Colocando um pouco de seu peso para frente, ele joga o japonês para longe com enorme facilidade, fazendo-o cair e se ralar cruelmente no asfalto.
- Maldito! – O jovem volta a erguer-se, ignorando a dor, e encara o adversário. – Não vou perder pra você!
- Você já perdeu... Só que os mais fracos nunca se dão conta na hora certa...
A mesma cena volta a se repetir: ambos os lutadores disparam como raios, um na direção do outro, brandindo sabre e espada em golpes mortais. No entanto, quando prestes de se encostarem para outra explosão de intensidades, Zero de súbito desaparece, borrando-se como uma imagem que contorce nas águas, e deixa um grande arregalar nos olhos do adversário. Dezenas de luzes esverdeadas em formato de corte criam-se ao redor de Hayato, todas passando suavemente por cada canto de seu corpo.
- O que acha da sensação de estar perto de morrer? – A voz ampla e grave de Zero novamente se coloca, assim que este surge atrás do adversário, exatamente como havia desaparecido. – Não é maravilhosa? – Sorri, vendo o sangue jorrar de todos os ferimentos do rapaz, que desaba contra o solo.
O guerreiro de metal vira-se, rindo leve e gostoso, e vai caminhando até o corpo estirado ao chão. Fitando Hayato com o mais profundo reflexo de crueldade, abre seu manto com as mãos e cruza os braços, para então erguer lentamente sua perna direita. Zero pousa seu pé sobre a nuca do japonês, pressionando-lhe a cabeça contra o solo bem aos poucos, com uma imensa satisfação estampada em seu pálido semblante. No entanto, antes que cena horrenda aconteça, uma voz jovem e feminina rasga a noite, com todo seu vigor de juventude.
- Nem ouse fazer isso!
O barulho do rugido de uma fera eclode ao campo de batalha, ao que uma imensidão de chamas estala sem piedade até as costas do reploid. Pego totalmente desprevenido, ele não tem como evitar o ataque e é arremessado para trás. Porém, no fim do raio incandescente, Zero continua de pé, coberto pela capa que o protegera das labaredas. Ele olha para a direção do golpe, e vê uma garota de aparentes 16 anos, de cabelos prateados e grandes olhos verdes, vestindo um pijama já amassado. Ao seu lado, senta-se um imponente leão alaranjado, coberto por selvagens jubas flamejantes. O guerreiro de sombras ri descontroladamente e aponta-a com o dedo indicador, para sua injúria.
- Qual é a graça? – Ela semi-cerra os olhos, furiosa.
- Nada... Eu só achei que já havia passado da hora de criança dormir...
- É CLARO QUE SIM! Por que acha que meu pijama tá amassado?
Muito longe daquela cidade, em uma vasta floresta cheia da mais luzente vida, uma alma encontra-se em profunda agonia. Após uma imensidão de árvores, em um vale localizado entre um relevo montanhoso e rochoso, é possível encontrar um lar. Uma casa tradicional japonesa, de madeira, sentada ao gentil gramado que domina o solo e desfrutando, em companhia de generosas árvores, do frescor cristalino de um lago que ali repousa. Lá dentro, em um dos pequenos recintos, um jovem japonês de volumosos cabelos castanhos encara uma armadura prateada presa à parede. É Seishiro Kusanagi. O lendário guerreiro prateado é apenas um garoto de 18 anos. De súbito, a porta do local desliza, abrindo-se, e dali adentra um velho de 70 anos, vestindo um kimono dos mais simples.
- Vovô... – O rapaz fecha os olhos. – Eu sinto uma presença maligna.
- E você queria ajudar... Não é? – O velho pergunta, coçando sua longa barba grisalha.
- Mais do que tudo... No entanto... – O japonês aproxima a mão direita sobre o peitoral da armadura na parede, a Draken Soul. No entanto, por mais força que faça, seus dedos são incapazes de sentir a frieza de seu metal milenar, bloqueados por uma intensa energia invisível. – O traje esta me rejeitando. Por quê?
- Porque agora é a hora de conquistar a confiança de Aeon.
- O que você quer dizer com isso?
- Eu sinto que seu coração está confuso... Você não sabe o que realmente quer fazer. Está preocupado com ela... Não é?
- Estou.
- Aeon não pode sincronizar com você desse jeito. Primeiro você tem que decidir. O que é importante para você? Pelo que você quer lutar? Ele deve querer muito ficar ao seu lado, só é preciso que essa barreira seja quebrada.
Seishiro cerra o punho e desfere-o contra a parede, dominado por uma frustração ardente. Ele vira-se e parte para a saída, com os vastos orbes castanhos imersos em profundos pensares. Ele sente, na alma, a dor de nada poder fazer.
Na cidade DGM, montada às costas do leão das chamas, a garota recém-chegada corre em círculos, em alta velocidade, rasgando como um cometa. Parado em um ponto qualquer, Zero mira-a com seu canhão de braço, o Z-Buster, atirando sem parar, sorrindo como uma criança ao divertir-se com um brinquedo. A jovem decide parar de fugir e, em um impulso enorme, o leão pula elevando-se aos céus e abre sua mandíbula, rugindo um estrondo. Dali uma imensa rajada de fogo se arremessa na direção do reploid, colocando todo seu ardor para consumir a couraça negra. Zero, porém, apenas ri levemente e firma os olhos, puxando sua capa.
- Valeu a tentativa, pirralha.
Quando o raio de fogo está para lhe atingir, o reploid simplesmente desaparece, deixando-o descarregar toda sua fúria no pobre solo, que despedaça. O guerreiro negro surge acima da garota, bate-a com a capa e a prende na mesma, arremessando-a contra solo, a dez metros. A fera das chamas pousa macia como uma pena e já corre para sua dona, que se encontra estirada no chão e sem se mexer, tamanha a dor que inflige. Zero desce para perto de ambos e fita-os com um puro olhar sádico.
- É realmente uma pena, morrer tão jovem. Mas eu prometo fazer sua ida ser bastante prazerosa. – O reploid diz, pegando o cabo do sabre.
- KISAMA! Eu ainda não terminei com você! – De súbito a voz de Hayato explode, ao que ele se levanta com dificuldade. A vida da menina é poupada por mais algum tempo.
- Ah, mas já vai terminar. Quando seu corpo cair, sem a cabeça! – Zero responde, assim que ativa a lâmina de raios de sua arma.
Sem conseguir se manter totalmente em pé, o japonês fica de coluna curvada, olhando para baixo. Parece que ele irá desabar a qualquer minuto, porém, uma energia tempestuosa começa a fluir por seu corpo, como um ciclone. Quando suas roupas começam a agitar, a lâmina de sua katana explode com toda força para fora do cabo, formando uma espada enorme. O reploid apenas olha, também agitando sua capa com uma intensa energia que concentra no peito.
- Isso acaba aqui! É o seu fim! – Hayato ergue a katana, lançando um olhar mortal e furioso. – ENGETSU! – Desce a lâmina contra o chão. Ao estalar, uma onda de plasma gigantesca se ergue correndo na direção do oponente.
- Interessante. Esse é seu ataque mais poderoso? – Zero corre na direção do golpe, puxando o sabre para o lado do corpo, cuja energia também cresce, exatamente como a do outro, e desfere um enorme corte. – Então sinto em dizer que é o SEU fim, haha!
Por entre os dois, uma explosão de luz nasce e absorve a cidade em um longo chiado energético. Ela desaparece e, como em uma mágica, o cenário muda: uma arena em ruínas, cercada de prédios desabados, sobre uma cruel cratera. Hayato continua sustentando-se com as pernas, na mesma posição de antes, nenhum músculo já é capaz de se mexer. O reploid, intacto, caminha em sua direção, rindo alucinadamente. Sua mão volumosa agarra o pescoço do guerreiro, apertando-o com bastante força, enquanto ele esboça outro sorriso de sadismo.
- Não se preocupe. Em segundos, a dor acabará.
O japonês é arremessado ao alto, como se nem tivesse peso. Zero salta e o segura no ar, pela nuca e pelas pernas, erguendo-lhe o corpo e sorrindo diabolicamente. Desfere um golpe com o joelho nas costas de Hayato, impiedosamente partindo sua espinha ao meio. Em êxtase com o doce som dos ossos quebrando, ele arremessa o inimigo contra o chão, com toda a força, erguendo uma nuvem de poeira.
- Pronto... Bem melhor! – Diz, soltando outra gargalhada enquanto desce.
Logo que pousa, guarda o Z-Saber e, estralando os dedos, vai aproximando-se da menina que ainda se encontra imóvel no chão. Por sorte, antes que ele vá tirar a vida dela, algo se aproxima em alta velocidade, um vulto. Por instinto Zero aponta o canhão e dispara, atingindo em cheio o seu alvo. Um estouro ecoa e uma densa névoa cobre todo o lugar: o reploid atingiu uma bomba de fumaça. Quando a nuvem se dissipa, tanto a garota quanto Hayato já não estão mais sobre o solo destruído da cidade DGM.
