Desde aquele dia ficou infinitamente mais fácil sair para as aulas com Bellatrix, bastava ele pedir licença para resolver alguma coisa que seus amigos logo entendiam que era um dos encontros misteriosos.
Claro que lhe dar com a curiosidade de Rony foi um pouco mais difícil, como explicar para o melhor amigo que ele não podia falar com quem estava tendo encontros?
Acabou que, por um milagre divino, o ruivo nunca mais tocou no assunto. E ele nem se deu ao trabalho de perguntar porque, óbvio, era melhor deixar como estava.
Mas algo ainda o preocupava, a conexão misteriosa de Gina e Malfoy, no começo decidira não falar nada para os amigos, porque não queria alarmar Rony à toa, mas cada dia sua preocupação com a ruiva aumentava.
Bellatrix não quis tocar no assunto quando perguntou se ela sabia de algo, desconversou, tão astutamente que ele só se tocou que ela não lhe respondera a pergunta dias depois, quando viu o loiro rondando o corredor próximo a uma aula do quinto ano.
-Posso saber o que faz aqui? – perguntou, parando Malfoy no meio do caminho.
-Desde quando tenho que lhe dar satisfações, Potter?
Ele o olhou desconfiado e nesse mesmo instante as turmas da Grifinória e da Corvinal saíram da sala, Gina e Luna conversavam animadamente quando se depararam com os dois no meio do corredor e foi visível a inquietude de Gina ao vê-los juntos.
Harry olhou para ela, em seguida pra Draco, que também a encarava.
Gina simplesmente virou o rosto e seguiu na direção oposta ao ponto onde eles estavam, ao seu lado Luna deu de ombros, virou-se e seguiu a amiga.
-O que você queria com ela?
-Com a Weasley? Pirou, Potter? O Sol andou fritando os seus miolos, foi? O que eu ia querer com aquela pobretona, heim?
-Quem perguntou isso fui eu. Não gosto da idéia de você perto da Gina. E faz tempo que você a está rondando. Quero saber por que.
Draco estreitou os olhos para ele.
-O que eu quero com ela não é da sua conta, Potter. Não se meta.
Eles se encararam por alguns segundos. Harry teve que segurar a vontade de entrar na mente daquele idiota e descobrir logo do que se tratava aquele súbito interesse pela garota, mas se conteve, mesmo se tratando do Malfoy, ele não achava aquilo correto.
Draco virou-lhe as costas e saiu dali sem mais uma palavra, irritadíssimo com a intromissão, claro. Mas seja lá o que fosse ele tentaria novamente, por isso Harry decidiu tentar cortar o mal pela raiz.
Demorou um pouco para encontrar os cabelos ruivos de Gina no pátio. Ela caminhava junto à amiga, para um local mais afastado, resolveu segui-la e por um ponto final no que quer que fosse tudo aquilo. Estava pronto para tirar-lhe satisfações dignas de um irmão mais velho. Ou ela lhe dizia o que estava acontecendo, ou seria obrigado a contar tudo para Rony e os gêmeos.
Mas quando percebeu quem as estava esperando junto à árvore próxima ao campo de quadribol, resolveu deixar os escândalos pra depois e se aproximar sorrateiramente.
-Caramba, já disse pra ele um milhão de vezes... "Não procure a Gina pelos corredores!" Que coisa. Eu sinceramente não sei como ele pode ser um Malfoy, juro... ele é tão idiota...
-Malfoys são idiotas, Mira.
Exatamente, a famosa e linda cantora Purplered, ou Mira, para o mundo mágico, estava ali, conversando com Gina e Luna, sobre ninguém menos que Draco Malfoy.
-As últimas gerações até que podem ser, mas se as anteriores fossem tão idiotas assim, não teriam chegado a onde chegaram...
-E a onde eles chegaram? – perguntou Luna, com uma expressão um pouco confusa.
Ele esticou a cabeça a tempo de ver Mira dar um olhar irritado para a Corvinal, depois balançar a mão como que deixando o assunto de lado.
-Esquece. Você não entenderia... – ela parou ao perceber que ou olhos de Gina estavam cheios d'água – Ora, vamos Weasley... ele não merece isso, sabia?
-Eu sei... – murmurou a outra tentando secar as lágrimas – eu sei...
-Então pare de chorar. Como diria o meu irmão.. o que não tem remédio, remediado está.
"Um provérbio tipicamente trouxa." Pensou Harry, era tão estranho ver uma Sonserina proferindo ditos trouxas.
-Calma amiga. – disse Luna acariciando os cabelos vermelhos – Uma hora ele larga do seu pé.
-Não é só por isso... É que... O Harry está desconfiado, ele vai me perguntar o que está havendo...
-Você não vai dizer a ele vai?
-Não, Luna! Não posso... Tenho vergonha... Não conseguiria...
-E o que esse cara tem haver com a sua vida, posso saber?
Gina deu um olhar gélido para a outra, enquanto secava o rosto com a manga da veste.
-Além de já ter salvo a minha vida? Nada.
Mira soltou um muxoxo.
-A história da Câmara Secreta né, no primeiro ano, eu lembro... O cara é o verdadeiro heroizinho de plantão... Bom, eu tenho que ir. Vou dar o recado pra lesma oxigenada, ok. E pra reforçar vou falar que da próxima vez que ele fizer isso eu quebro a cara dele de novo.
Gina abriu o primeiro sorriso.
-Obrigada.
-Ei, não é por você... – disse a outra, meio encabulada, meio chateada – É que... é que... Eu gosto de quebrar a cara daquele retardado mesmo.
-Tanto faz. Obrigada assim mesmo.
Ela acenou de leve e se virou para ir embora.
Harry pensou rapidamente, não adiantaria falar com Gina agora, ela estava bastante abalada e já tinha dito que não contaria nada para ele e conhecendo a teimosia Weasley, ela não abriria a boca mesmo. Então, ele só tinha mais uma opção.
Na verdade aquela fora a melhor desculpa que conseguira inventar para si mesmo para ir atrás de Mira.
Ela passou pelo campo de Quadribol e desceu a escada próxima aos vestiários, seria o lugar perfeito para abordá-la, mas antes que conseguisse, porém, ele teve que se esconder novamente ao ver o motivo de todo aquele mistério, se aproximando.
-Hei, Malfoy, venha cá, quero falar com você. – disse Mira no seu habitual tom de ordem.
Ele parou, olhou em volta, como se ouvisse vozes.
-É impressão minha ou tem uma mosca falando comigo?
-É impressão sua sim Malfoy. Moscas não quebram a sua cara, lembra?
Ele soltou um suspiro irritado.
-Vai usar esse argumento até quando, Rejeitada?
Ela levou as mãos à cintura.
-Até você aprender a não cair quando eu bato em você... Ou seja, pelo resto da vida... E para de enrolar que eu tenho um recado.
Foi impressionante a forma como o rosto de Draco iluminou-se num sorriso. Um sorriso cínico, era verdade, até por que Harry duvidava que ele conhecesse outra forma de sorrir, mas a satisfação era clara em suas feições.
-O que ela disse?
-Pra você parar de segui-la.
-Eu não estava a seguindo...
-Não... Claro que não. O que estava fazendo naquele corredor àquela hora então, heim? Me poupe Draco. Você é idiota ou o que? Quantas vezes ela já disse pra não fazer isso?
-Eu queria falar com ela.
-Mandasse uma coruja, marcasse um encontro, sei lá! Mas ir atrás dela no meio do colégio? Era lógico que o Potter ia acabar te vendo uma hora...
-Eu estou pouco me lixando pro Potter.
-Mas ela se importa...
Ele deu um soco na parede mais próxima.
-Potter isso, Potter aquilo, tudo Potter! O que ela viu nesse cara, me diz? O que ele tem que eu não tenho?
Mira deu de ombros.
-Um coração? Pelo menos ela liga pra essas coisas... – ela colocou o dedo no queixo e fez um ar pensativo – Ele é bem mais charmoso que você também... – o coração de Harry deu um pulo - E mais famoso e...
-Ta, ta... já entendi, Rejeitada, já entendi. Você fala isso pra me irritar né... – ela fez que sim, sorridente.
-Tirando a parte do charmoso, sim, o resto foi só pra te irritar.
Ele fingiu não escutar o último comentário.
-Bom, diga a ela pra me encontrar hoje então, no mesmo lugar. – Mira cruzou os braços – Certo, o que vai querer em troca dessa vez? Já retirei minha desaprovação quanto a sua entrada pro time.
Hahá! Finalmente uma boa explicação para ela o estar ajudando. Traça de favores... Bem sonseriano mesmo.
-Informações... O que você sabe a meu respeito?
-Eu? – ele abriu mais ainda o sorriso cínico - Nada.
-Para de me enrolar e responde logo, o que sabe sobre os meus pais?
-Que eram trouxas? – ele fez cara de desentendido.
-Malfoy... Eu estou perdendo a paciência, ou me fala ou pode esquecer o recadinho...
Ele aproximou-se dela, caminhou ao seu redor a olhando de cima a baixo.
-Já sei... aqui... – disse enquanto colocava a mão no rabo de cavalo dela e tirava-lhe o elástico que o prendia. O estomago de Harry se revirava com a proximidade das mãos dele nas mexas roxas terminadas em vermelho, mas ele conteve. Draco, voltou a ficar a frente dela, abriu os longos cabelos com as duas mãos e os troce para frente do rosto fino – assim está bem melhor.
Infelizmente, da onde estava, Harry não pode averiguar se estava melhor realmente, como sentiu inveja de Malfoy por isso.
Ela jogou as mexas para trás novamente, com um bufar irritado.
-Detesto eles soltos, ficam caindo nos meus olhos. – falou enquanto fazia menção de prendê-los novamente.
-Pois se eu fosse você andava com eles assim, pelo menos por algum tempo... Pode ser que consiga algumas respostas. – disse virando as costas e indo embora.
Mira ficou parada, olhando o loiro se afastar.
-Caramba, o que essa tartaruga parafinada quis dizer com isso?
-Que é pra você deixar seu cabelo solto.
Ela deu um salto ao virar-se.
-Potter? O que você ta fazendo aqui?
-Vim dar os parabéns à nova batedora da Sonserina. – ele cruzou os braços obre o peito, tentando manter o olhar severo – Parece que você e o Malfoy finalmente se entenderam, hei. Fico feliz com isso.
-Fica é? – ela riu enquanto enrolava o cabelo uma vez tentando não deixá-lo cair sobre os olhos – Achei que preferiria a época em que eu batia nele.
-Era mais engraçado, devo admitir.
Eles ficaram calados por alguns segundos.
-Então. O que quer comigo? – perguntou ela impaciente.
O que falar agora? Não podia ir direto ao assunto, ela nunca lhe diria nada. Então, uma idéia acendeu na sua cabeça, não era das melhores, mas pelo menos ganharia tempo.
-Você ainda está me devendo um autógrafo, lembra? Eu estive pensando, poderíamos nos encontrar em Hogsmead esse fim de semana, ai você pagaria essa dívida, o que acha?
Ela o olhou surpresa.
-Você está me convidando pra ir a Hogsmead com você? – ele fez que sim - Eu... Eu... Não posso. Tchau. – disse virando-se e indo embora.
-Droga! – esbravejou quando ficou sozinho novamente – Droga, droga!! – esbravejou de novo, antes de sair correndo ao perceber que chegaria atrasado na próxima aula.
-Como assim detenção, Baby Potter?
-Detenção... detenção, Bellatrix. Aquele negócio que os professores fazem quando querem ferrar com a gente... – respondeu o garoto sem um pingo de paciência na voz.
Ela lhe deu um olhar severo.
-Eu sei o que é uma detenção, rapazinho. Olha o respeito quando falar comigo, não sou seus coleginhas de classe.
Harry engoliu seco. Havia sido um dia bastante cansativo, mas nada que explicasse a grosseria com alguém mais velho.
-Desculpa. – resmungou depois de alguns segundos.
-O que eu quero saber é, como você pegou essa detenção?
-Cheguei atrasado para a aula de poções. O professor Snape não ia perder a chance de me dar uma detenção, ia?
-Não, não ia. E ao que me consta você foi muito idiota de dar esse gostinho pra ele... – ele soltou um muxoxo – Deve ter tido um motivo muito bom pra isso...
-É, tive... Na verdade teria me poupado tempo se você já tivesse me dito o porque o Malfoy andava atrás da Gina, quando eu perguntei.
-Ahhhh! – ela riu – E estragar a surpresa, bebê? Claro que não. Quer dizer que você descobriu então...
-E não gostei nem um pouco... Como pode acobertá-los, Bellatrix?
-O garoto é meu sobrinho, lembra? – falou ela em tom cínico.
-Mas NÃO serve pra ela! É lógico que ele a está enrolando, ta na cara. Até ela deve saber disso... E o meu medo é que através dele a Gina esteja passando informações sobre a Ordem pros Comensais.
Bellatrix fez que não com a cabeça.
-Posso lhe assegurar que a última coisa que eles fazem quando estão juntos é conversar. – Harry olhou-a irritado – Pelo visto isso te incomoda, bebê.
-Claro que me incomoda! Por Merlin! A Gina corre perigo se envolvendo com esse cara.
A mulher fez um aceno despreocupado.
-Claro que não corre. Eu estou por perto, lembra?
-É, só que você tem uma avaliação bem diferente da minha quanto ao que é perigoso.
-Lógico, eu não tenho ciúmes da ruivinha.
-Não estou com ciúmes dela!
-Está sim... alias, isso está parecendo os meus tempos de colégio sabe. Quando o Lucius dava em cima da sua mãe e o seu pai tinha exatamente esses acessos de ciúmes... A diferença é que a Lílian nunca foi idiota pra cair na conversa dele... – ela olhou pro lado pensativa – Se bem que ela foi idiota pra cair na conversa do Potter. Sinceramente, não sei o que foi pior...
-O Malfoy dava em cima da minha mãe??!!! Aquele asqueroso dava em cima da minha mãe??!!!
-É. Dava, Baby Potter. Por que o espanto?
-Por que minha mãe era filha de trouxas e, que eu saiba os Malfoys odeiam filhos de trouxas.
-Diga isso pros hormônios de um garoto de dezessete anos. – falou ela rindo – É claro que ele não pretendia casar com ela, bebê. Mas se ela caísse, o Lúcio aproveitaria, e muito... – o sangue de Harry começou a borbulhar de raiva só de imaginar o velho Malfoy tocando num fio de cabelo ruivo da sua mãe – Mas... o garoto é diferente.
-Draco não é diferente do pai dele! – gritou Harry, ao mesmo tempo em que se guia em direção a porta – Em nada! E se ele pensa que vai se aproveitar da Gina está muito enganado por que eu não vou deixar.
-Ele gosta dela, Harry! – gritou Bellatrix num tom mais alto que o dele, o que o fez parar e se virar novamente para ela – Draco gosta dela. Mesmo que ELE não queira, ele gosta da pobretona. Eu sei disso, da pra ver nos olhos dele quando estão juntos. E se você se meter, vai estragar algo muito bonito, sabia?
-Que se dane! - ele fez menção de se dirigir à porta novamente.
-Petrificus Totalus! Ele é meu sobrinho Potter! E aquela garota é a única chance de livrá-lo do futuro planejado pra ele! Eu não vou deixar você atrapalhar isso...
