-Vai ficar sem falar comigo até quando?
-Que tal pelo resto das nossas vidas?
-Ora vamos Gina, o que você queria que eu tivesse feito?
-Conversado comigo por exemplo...
-E você teria "conversado" comigo sobre isso Gina? Claro que não teria.
-De qualquer forma teria sido melhor do que ter mandado a Hermione me pressionar e ter inventado essa história de namoro idiota.
-Eu não fiz a Hermione te pressionar e também não inventei essa história de namoro idiota... foi tudo idéia dela, como de costume. Mas, se isso serviu pra te separar do Malfoy, sem detonar a terceira guerra mundial, devo admitir que foi brilhante... como de costume, também.
Eles estavam caminhando sozinhos em direção ao vilarejo vizinho, Rony e Hermione seguiam mais à frente, sendo assim não podiam ouvi-los.
Era bastante incomodo estar do lado de alguém que todos achavam que era sua namorada e não poder lhe dar a mão, por exemplo e ele sabia que iria ter que enfrentar uma maratona de perguntas do amigo, quando voltassem para Hogwarts, por causa daquele ato.
Mas Harry estava mais preocupado com os sentimentos de Gina, mesmo que ela duvidasse disso. Por esse motivo quando ele percebeu que os olhos dela lacrimejavam, resolveu aproximar mais o corpo e enlaçá-la com um dos seus braços, fazendo-a debruçar a cabeça no seu ombro, enquanto andavam. Mas ele não podia negar que fora surpreendente o fato dela ter aceitado.
-Sei que não sou a melhor pessoa pra você conversar sobre isso, Gin. Provavelmente eu era a sua última opção, nesse caso. Mas eu queria entender, como se deixou envolver desse jeito com aquele... – resolveu engolir o insulto, não sabia muito bem porque – Malfoy.
Ela balançou a cabeça de um lado para o outro, parecendo confusa também.
-Não sei ao certo, Harry. Acho que nenhum dos dois sabe ao certo quando começou... Só sei que encarar os olhos dele quando eu disse que tínhamos que terminar foi o pior momento da minha vida. – ela levantou a cabeça, e tirou o braço dele do seu ombro - Eu sei que vocês fizeram tudo isso pra me proteger, acho que, como disse Hermione, se fosse com uma amiga minha teria feito o mesmo também... Mas toda vez que eu lembro dos olhos deles... não da pra acreditar que isso tenha sido o certo... E ele está com raiva de mim, muita raiva... Eu.. eu não queria isso... Queria que ele entendesse que não podemos ficar juntos... Quero dizer, por Merlin, nossos pais já se estapearam em pleno Beco Diagonal uma vez! Simplesmente não da...
Harry concordou em silêncio.
-Mas eu queria que ele entendesse isso. Queria poder falar com ele de novo sabe, para fazê-lo entender.
-Por que não fala então?
Ela parou de repente.
-Você deixaria?
-Eu? – ele deu de ombros – A vida é sua Gina, por que eu teria que deixar você fazer algo ou não? Não acho prudente. Acho que, já que terminaram é melhor não se falarem mais, até por que acredito que ele fará uma das suas grosserias... Bom, você foi namorada dele, sabe muito bem do que ele é capaz... Mas se você acha que vai se sentir melhor se tentar.
-Mas.. - ela olhou de rabo de olho para o casal que sumia mais à frente - Hermione disse que estaria de olho em mim...
Harry sorriu de lado.
-Ela está achando que EU estou de olho em você, lembra?
-Então vai me ajudar, a encontrar o Draco?
O coração de Harry se apertou, acobertá-la para que ela pudesse encontrar o Malfoy era totalmente contra os seus princípios, afinal ele estava fazendo tudo para que aquilo acabasse de vez. Mas os olhos dela brilhando para ele e implorando ajuda não estavam sendo muito úteis, na verdade o estavam desmontando.
Por que ela se envolveu com ele? Por que? Ele ia fazê-la sofrer, e muito. Estava na cara que ele ia ser grosseiro com ela ou algo muito pior se ela o procurasse. Mas talvez, fosse isso que faltava para aquele romance insano acabar de uma vez por todas.
-Certo Gin, e te ajudo. – ele levantou o dedo antes dela pular no seu pescoço – mas já aviso que essa será a primeira e a última vez que farei isso, entendeu bem... última vez!
Mesmo assim ela pulou no pescoço dele e o abraçou.
-Bom, o plano é o seguinte. Eu marquei de encontrar com a Mira e...
-Encontrar com a Mira? – Gina um sorriso incompreensível – Como assim encontrar com a Mira? Achei que você fosse meu namorado Harry Potter... – disse em tom cínico.
-Deixa de besteira anda, não é nada disso... é só que... Eu tinha a convidado antes dessa história toda acontecer... Só isso. Bom, eu ia te levar junto, mas agora... bem, agora você vai ter que descobrir a onde o Malfoy está.
-Isso é fácil. Ele me mandou uma coruja, dizendo que era pra eu encontrá-lo hoje, naquele ponto antes da subida para a montanha, caso tivesse tirado essa idéia absurda da cabeça...
Ele não gostou muito disso, mas apenas acenou.
-Certo, imagino que lá seja difícil que alguém esbarre em vocês mesmo. Em contra partida vou tentar levar a Mira pra um lugar afastado também, para que não me vejam sem você. – ele a olhou preocupado – Eu preferia ir JUNTO com você...
-Não, Harry!
-É, eu sei... Não ia dar certo... Tudo bem, mas vamos marcar um horário e um lugar para nos encontrarmos depois, e se você não aparecer eu vou lá e arrebento a cara dele.
Ela sorriu, animada. Era infinitamente melhor vê-la assim, do que com aquela expressão de morte de minutos atrás, embora ele achava que os motivos estavam totalmente invertidos.
Quando ele entrou no bar seu coração acelerou ao reconhecer as mechas roxas, Mira já estava lá, sentada em uma mesa mais reservada, ao fundo.
Eles haviam pré combinado o lugar, por carta, logo cedo, quando ele recebera uma coruja dela, perguntando se estava bem, pois soubera o que havia ocorrido. Ele aproveitou o animal para enviar o recado com o ponto de encontro.
No fundo, enquanto caminhava sozinho, (depois que se afastaram de Rony e Hermione, Gina seguiu para o seu encontro ao pé da montanha) chegou a pensar que ela não apareceria, por algum motivo qualquer. Na verdade já tinha até calculado um tempo em que ficaria esperando para em seguida se retirar, caso ela realmente não aparecesse.
Mas ela estava lá. E antes dele. Isso era um bom sinal? Devia ser, ele só não sabia bom sinal de que.
-Desculpa, me atrasei?
-Não. Eu que cheguei cedo... – ela dera um pulo da cadeira quando o viu, Harry quase achou que a havia assustado, mas em seguida Mira olhou em volta - Ué, cadê a Weasley, você não disse que ela vinha?
-Vinha... mas... – ele puxou uma das cadeiras, à frente dela – Posso? – ela acenou positivamente – Bom, a Gina teve que resolver umas coisas.
-Malfoy? – ele fez que sim – É melhor deixá-los resolverem isso sozinhos mesmo. – ela sorriu de lado – Ouvi dizer que você inventou que eram namorados.
-Não foi bem eu que inventou isso... Mas foi a melhor forma dos irmãos dela não descobrirem nada...
Ela riu.
-Que foi?
-Nada, só lembrei dos irmãos dela... – Harry fez cara, no mínimo ela ia falar mal dos Weasley, como todo mundo da casa dela – Eu sou fã deles sabia?
Harry não teve como ele esconder a expressão de surpresa.
-Dos Weasleys?
-É. Digo, dos gêmeos. Eles são ótimos batedores... – ela pós a mão na boca como se tivesse dito coisa que não devia – Droga, falei outro elogio a alguém... Tenho que parar com essa mania... – e começou a rir – Como diz a Lovegood, é péssimo pra reputação de menina má que eu tento manter.
Ele começou a rir também.
-É ruim mesmo.
Nesse instante a aparição de Neville no bar fez Harry lembrar que devia ir para longe dali. Ele acenou para o amigo, que de tão avoado nem pareceu ter percebido que ele não estava acompanhado pela "namorada".
Mas Longbotton não permaneceu muito tempo no bar, deu uma olhada em volta e saiu em seguida, sem nem ao menos perceber a presença de harry no lugar.
Sem perder tempo Harry convidou Mira para dar uma volta, ela não pareceu gostar muito da idéia, mas acabou aceitando. Caminharam aparentemente sem rumo, conversando futilidades, contando piadas, rindo. Era engraçado notar como eles tinham assunto, mesmo sem se conhecerem direito, ou sem terem, aparentemente, nada em comum.
Ele ficou sabendo que Mira havia rejeitado o convite à primeira vez, por que não estaria em Hogwarts. Desde que a sua carreira como cantora começou, seu irmão mais velho (que também era seu produtor, alias, pelo que Harry entendera, ele era um produtor famoso entre os trouxas) acertou com Dumbledore que, quando houvesse shows ela poderia se retirar do colégio para suas obrigações profissionais.
E nesse fim de semana ela teria um show, mas foi adiado porque o lugar havia pegado fogo, algo assim. Nada grave, mas que impediu a realização do show. Mira contou que o irmão estava todo atarefado procurando outro lugar para que o show pudesse ser realizado logo e os ingressos não precisassem ser devolvidos. Mas ao que parecia Mira não estava muito preocupada com isso, pois dizia que o irmão era bastante competente.
-Seus pais devem ficar felizes por vocês trabalharem juntos, não?
-Não sei. Não moro com os Smith desde que Jonh saiu de casa e me levou pra morar com ele.
-Os Smith?
-É.. meus pais.. quero dizer.. o casal que supostamente me criou. – ele continuou sem entender muita coisa, e Mira continuou a explicar – São pais do Jonh, não meus... é por isso que eu não me apresento com o sobrenome deles.
-Você é adotada?
-Claro que sou adotada. Ta na cara não está?
-Não, porque estaria na cara?
-Potter, eu sou sonserina. O Chapéu Seletor jamais me colocaria na Sonserina se eu fosse filha de trouxas. - ela fez um gesto, batendo com o dedo na cabeça, como que dizendo pra ele usa-la pra pensar.
-Então... você é filha de bruxos.
-Provavelmente sim... Pelo menos é essa a linha que eu sigo nas minhas investigações.
-Está tentando descobrir quem são seus pais?
-É... Se não porque acha que eu viria pra uma escola que eu nunca ouvi falar? Foi realmente muito estranho quando aquela coruja entrou lá em casa no dia do meu aniversário, sabe... Nós ainda morávamos com os Smith. E aquela carta, mais estranha ainda, me dizendo que eu era uma bruxa e que tinha uma vaga em um colégio para bruxos... Acho que se o Jonh não tivesse pensado que isso podia ter algo haver com meus pais biológicos eu jamais aceitaria vir pra Hogwarts.
Ele ponderou por alguns segundos.
-E já tem alguma pista de quem são seus pais?
-Sim... – ela pareceu ficar bastante desconcertada por um momento – Acho que já sei quem foi meu pai... Ainda não consegui ter certeza, mas só pode ser isso...
Harry esperou que ela dissesse algum nome, mas ela se calou.
-Ainda preciso de uma confirmação. Só não sei como vou arrancar isso do Malfoy.
-Do Malfoy? Ele sabe de alguma coisa?
-Ah, com certeza... Não viu do que ele carinhosamente me chama?
-Rejeitada...
-Ele sabe que sou adotada, coisa que ninguém na Sonserina sabia... E digo mais, pra ele me chamar assim é porque ele sabe que fui abandonada na porta da casa dos Smith. Conseqüentemente ele deve saber quem fez isso...
-Ele te chama assim há muito tempo?
-Não. Começou a me chamar assim esse ano... Pra ser mais exata naquele dia no campo de Quadribol.
Harry pois a mão no queixo.
-O que nós leva a crer que ele só ficou sabendo disso há pouco tempo também... correto? – ela acenou com a cabeça, concordando, sem entender direito a onde ele queria chegar – Posso por minha mão no fogo que isso tem haver com a visita que a mãe dele fez quando você o mandou pra enfermaria.
Ela parecia surpresa.
-Nem pensei nisso. Mas... como a mãe dele saberia?
-Acho que posso te ajudar. – disse Harry, se lembrando do parentesco entre Bellatrix e Narcisa, talvez ele conseguisse alguma informação com sua professora de Oclumência que os ajudassem a desvendar aquilo.
Mas Mira não parecia muito feliz com a oferta. Ele começou a balançar a mão de um lado para o outro em sinal negativo.
-Não Potter, não precisa. Isso é problema meu, ok. Eu me viro sozinha... – disse enquanto dava-lhe as costas, tomando um grande susto em seguida.
Um enorme lobo branco, de dentes muito afiados estava a poucos metros dos dois, literalmente babando pra eles, e em posição de ataque.
Harry sacou a própria varinha e puxou Mira para trás dele.
-Não tinha me dado conta que estávamos tão longe... – disse ela, com um certo tremor na voz – temos que voltar pra cidade.
-Calma... A cidade está muito longe, ele está pronto pra atacar e vai nos pegar antes que cheguemos lá.. – Harry olhou de lado – Está vendo aquela casa abandonada?
-A Casa dos Gritos?
-Isso, quando eu disser, você corre pra lá, entendeu?
-E você?
-Vou tentar atrasá-lo. Não vou conseguir segurá-lo muito já que os Lobos Brancos são imunes à magia. Mas posso retardá-lo, pra dar tempo da gente fugir. Quando eu disser, você corre, ok. Estarei logo atrás de você.
-Não. Eu vou te ajudar. – disse ela sacando a varinha também e se posicionando ao lado dele – Já entendi o que você pretende fazer, vamos fazer os dois, então corremos juntos...
Harry não teve muito tempo pra discutir, o lobo já dava seus primeiros passos na direção deles.
-Certo... quando eu disser... – disse, atento aos movimentos do animal. Quando esse saltou na direção deles ele gritou – Agora!
Harry apontou a varinha para uma moita próxima ao lobo, enquanto Mira apontava para uma árvore que se encontrava do outro lado. Ao comando mágico ele fez com que a moita crescesse fazendo com que o animal desse de cara com a planta, enquanto a árvore caia quase em cima dele, atrapalhando totalmente sua passagem.
-Vamos! – gritou Harry a puxando e direção a casa.
Os dois correram o mais rápido que puderam e quase que isso não foi suficiente. O Lobo se desvencilhou dos empecilhos e correu a passos largos atrás dos dois.
Quando chegaram à casa só tiveram tempo de bater a porta atrás de si para ouvir, em seguida, a batida do corpo do lobo na madeira grossa.
Os dois caíram arfando no chão, sedentos por um pouco de ar. Mas a tranqüilidade não durou nem um minuto, na segunda investida contra a porta o lobo branco a derrubou, entrando em seguida na sala onde eles se encontravam.
Harry bem que pensou em descer pela passagem que levava até Hogwarts, mas precisaria distraí-lo mais uma vez, e pela proximidade não haveria tempo para isso.
Mas é claro que não ia se dar por vencido. Já enfrentara coisa muito mais assustadora que aquilo, levantou a varinha mais uma vez, ainda caído no chão, mesmo que não conseguisse pensar em nada para deter o próximo ataque do animal.
Mas não foi preciso ele fazer nada porque um enorme cão preto entrou pela janela da casa e voou em cima do lobo antes que ele os atacasse.
O coração de Harry se encheu de alegria. Era ele, só podia ser ele...
E estava bastante forte porque, em poucos segundos de briga, o cachorro colocou o lobo para correr.
Harry se levantou quando finalmente o animal foi embora e em seguida, o cachorro se transmutou em frente aos seus olhos. Não entendeu muito bem porque Sirius fez isso, afinal, mesmo atordoada pelo ataque que sofreram, Mira ainda conseguiria ligar os fatos facilmente.
Mas quando Sirius o encarou, abriu os braços e um enorme sorriso pra ele, todas as preocupações se foram. E, também sem se importar com a presença da garota, ele correu para dar um longo abraço no padrinho.
-Sirius Black...
Era a voz de Mira, quase um sussurro na verdade, mas foi o suficiente para trazer os dois de volta a realidade.
Harry olhou preocupado para ela, a garota, que estava com os cabelos praticamente soltos após a corrida, parecia assustada com a presença de Sirius.
-Calma, Mira. Está tudo bem...
-Tudo bem? Como assim tudo bem, Potter? Esse cara é um assassino... Foi ele quem entregou os seus pais ao...
-Ele não fez nada disso. – falou o garoto num tom calmo.
-Não? – ela o olhou meio confusa, depois, voltou a encarar Sirius, desconfiada.
Era engraçado ver que ele ainda mantinha o sorriso nos lábios. O homem deu alguns passos em direção a ela, e Mira, quase que instintivamente, deu os mesmos passos para trás, tentando manter a pouca distância que existia entre eles.
Sirius agachou um pouco, para que pudesse ficar da mesma altura que ela, o que acabou fazendo-o apoiar um dos joelhos no chão.
-Não... filha...
Harry gelou. Filha? Como assim filha? O que diabos estava acontecendo?
Foi então que ele deu uma boa olhada em Mira, a expressão de medo havia sumido, mas não foi isso que lhe chamou a atenção... Foram os cabelos que caiam por sobre seus olhos, fazendo-o lembrar de algumas imagens que vira na mente de Bellatrix. E então ele se deu conta de que, mesmo com as mechas roxas, Mira era muito parecida com a jovem Bellatrix... parecida demais.
Então tudo fez sentido.
-Não me chame de filha. – rosnou ela – Não sou sua filha, não sou filha de ninguém... a gente não abandona os filhos por ai, sabia?
-Tem muita gente que faz isso sim... Mas não é o caso aqui. Eu não sabia que você existia até bem pouco tempo, filha.
Ela estreitou os olhos pra ele... Igualzinho a Bellatrix.
-Como assim?
Mas os dois foram interrompidos pelo alerta de Harry, que olhou para a janela a tempo de ver Gina a Malfoy se aproximando.
-Rápido, Sirius, se esconda.
Antes que terminasse a frase, porém, o grande cachorro negro (no qual seu padrinho já havia se transformado) sumiu pra dentro da casa, pelo caminho que Harry sabia ser o do túnel que seguia pra Hogwarts, no segundo seguinte Gina e Draco apareceram na porta.
