CAPÍTULO 14 – ENTRE MORTOS E FERIDOS

Frio. Revirou-se na cama macia, tentando inconscientemente esquentar um pouco o corpo. Sentiu um novo contato na pele próxima ao rosto, macio e quente, a sensação de frio sumiu.

Voltou a dormir profundamente.

Uma voz conhecida entrou por seus ouvidos, era quase um sussurro. Alguém preocupado com sua saúde, mas estava difícil prestar atenção no que era dito, o sono não lhe permitia entender nada direito.

-E o outro?

Ele sentiu vontade de abrir os olhos, mas o cansaço ainda era maior.

-Passei no hospital antes de vir para cá. Ele está bem, só alguns arranhões e uma forte dor de cabeça. Mas vai ficar legal. E você, como está?

Finalmente a curiosidade venceu o cansaço e abriu vagarosamente os olhos. A imagem, mesmo embaçada confirmou o que já havia deduzido. Eram seus padrinhos que estavam lá, conversando, perto da cama onde se encontrava. Mas não olhavam para ele.

-Bem... – disse Bellatrix em resposta.

-Só isso? - Sirius sorriu – Você humilhou o Malfoy, o Lestrange e o resto daquela corja ao mesmo tempo, o que provavelmente deve ter deixado Voldemort morrendo de ódio e diz que está tudo bem? Achei que isso seria o suficiente para deixar a minha estrela radiante de felicidade.

Harry tentou desembaçar a visão piscando algumas vezes, não conseguiu muita coisa já que estava sem óculos, mas percebeu claramente quando o padrinho enlaçou a cintura dela, gentilmente enquanto falava.

-Minha Estrela... Faz anos que você não me chama assim...

-Fazia... - foi a última coisa que ele disse antes que suas bocas se encontrassem.

O beijo era longo e carinhoso. Havia um cuidado em cada toque, como se eles quisessem ter certeza que a boca do outro continuava igual, cada canto seria excessivamente vasculhado e o tempo que isso levaria parecia não importar nem um pouco.

Ela encostou a cabeça no peito dele quando o beijo terminou.

-É muito bom ter você aqui comigo de novo. – disse Sirius num tom tão baixo que Harry quase não escutou.

-É muito bom estar com você de novo. – sussurrou ela.

-Quando você apareceu contando que tínhamos uma filha e o que tinha acontecido com ela, quase não acreditei. Mas naquela hora eu sabia que íamos ficar juntos novamente.

-Você disfarçou bem então... Achei que ia me expulsar a pontapés... – disse ela sorrindo.

-Bom, se o Remo não estivesse junto pra me segurar talvez eu tivesse feito isso mesmo. – o tom de voz saiu um pouco mais amargo – Mas depois, quando me acalmei e pensei mais um pouco. Parecia um sonho pensar que eu tinha uma filha... e com você...

-Achei que você jamais acreditaria em mim...

-É... Mas eu acreditei. E cegamente. Se você estivesse mentindo teria sido fácil me pegar no Ministério aquele dia...

Ela riu casualmente.

-Você tem sorte de ainda ser charmoso. – então a expressão ficou séria novamente - Eu te amo, sabia?

-Sabia...

Ela balançou a cabeça de um lado para o outro, achando graça do convencimento dele então olhou em direção à cama, Harry fechou os olhos rapidamente, não queria que os padrinhos percebessem que ele estava vendo e ouvindo tudo aquilo.

-Tem certeza que não é melhor levá-lo para o hospital também? – perguntou a voz feminina.

-Se o Remo disse que não, eu confio.

-Mas o feitiço que o Pettigrew usou era muito forte.

Rabicho! O garoto abriu os olhos automaticamente, como pudera esquecer de tudo que acontecera.

-Finalmente o belo adormecido acordou... - disse a madrinha se aproximando da cama e tocando gentilmente sua testa, como se quisesse verificar se havia algum sinal de febre.

-O... O que aconteceu? - perguntou ele, tentando levantar.

-Calma, - o padrinho fez sinal para que não se alarmasse - Está tudo bem agora...

-Mas o Rabicho... ele fugiu...

-Nós o pegamos, ou melhor, você o pegou. – Sirius apontou para a fita presa em seu braço - O amuleto que Bellatrix fez para você funcionou muito bem, como dizem os trouxas: o feitiço virou contra o feiticeiro, literalmente...

-Ah foi? – ele olhou para o pedaço de pano em seu pulso, quase sem acreditar.

-Você foi muito imprudente saindo do pub. – ralhou a mulher – Eu mandei que ficasse aqui dentro, bebê. Você viu o que aconteceu com aquele idiota que tentou te acertar, não viu?

Ele se lembrou da visão grotesca do homem virando pó, teve um leve arrepio, depois se recompôs.

-E os outros?

-Bom, Sirius e Remo saíram correndo atrás de você e eles acabaram fugiram na confusão. – explicou Bellatrix – Você precisava ver a forma como corriam antes de conseguirem, finalmente desparatarem...

Sirius riu. Mas Harry não entendeu a piada por que sua cabeça fervilhava de perguntas e ele tratou de fazer a mais importante delas.

-Então o prenderam? Levaram o Rabicho para o Ministério e o prenderam? Você está...

-Livre? Mais ou menos. - disse Sirius - Demorou um pouco para entenderem o que estava acontecendo, claro. Afinal não é sempre que um suposto defunto aparece na porta do Ministério carregando outro suposto defunto e exigindo ser absolvido de todas as acusações pelas quais fora condenado. Foi realmente muito engraçado ver a cara do velho Fudge na hora em que nos viu...

-Mas você foi inocentado?

-Ainda não, o processo vai ser reaberto, por causa das novas evidências. Dumbledore conseguiu que eu tivesse o direito de respondê-lo em liberdade.

Harry soltou um suspiro aliviado, depois sorriu.

-Isso é bom, tenho certeza que estará tudo resolvido em pouco tempo e você vai poder voltar a ser um homem livre. - ele sorriu para Bellatrix e concluiu - Então, depois limparemos o seu nome, madrinha.

Mas ela não parecia ter ficado feliz com o comentário. Sentou ao seu lado na cama, tirou o cabelo dos olhos do garoto e esticou-lhe o seus óculos.

-Não há chances para mim, bebê. Eu não sou inocente das coisas que me acusam...

-Mas está arrependida delas. - afirmou ele.

-De algumas... Mas não acredito que isso seja de muita valia. Por isso vou ter que continuar me escondendo aqui no pub.

-Não vai voltar para Hogwarts amanhã, comigo?

Ela fez que não.

-Tenho algumas coisas para resolver com o Sirius. E não faça essa cara... – falou, se referindo ao bico que ele tinha feito inconscientemente – Você já está bem grandinho pra se virar sozinho...

-É... o problema é que eu sempre tive que me virar sozinho...

Ela riu alto da cara que ele fazia.

-Muito bem, bebê chorão... Se isso te deixa mais alegre eu vou aparecer em Hogwarts depois que tiver resolvido tudo por aqui, ok?

-E quanto tempo isso vai levar?

Bellatrix devolveu a pergunta para Sirius, com um olhar. Ele deu de ombros.

-Uns dias... não mais que um mês, pode estar certo.

Ele voltou ao colégio no dia seguinte, como previsto no calendário escolar. Foi a primeira vez que não conseguia ficar feliz por estar novamente em Hogwarts e ele sabia bem porque. Queria estar com seus padrinhos, ajudar Sirius durante o processo e estar perto de Bellatrix, por que, mesmo sabendo que ela se virava muito bem sozinha, não podia deixar de se preocupar com a sua segurança.

Por isso olhou seu dormitório com certa repulsa naquela noite.

Ele e Rony tiveram que desistir do jantar para ter alguns minutos de privacidade. Então, assim que Hermione ele se, pois a contar cada momento que passara longe dos amigos.

-Caramba! O cara foi incinerado?! Isso que é feitiço de proteção! – gritou o ruivo quando Harry chegou a parte em que um comensal tentou matá-lo dentro do pub.

-Quando iam imaginar que logo ela teria o sangue da sua mãe, não é? Devem estar se perguntando o que aconteceu até agora.

-Pois eu estou me perguntando até agora como foi que nos encontraram.

O comentário calou a todos por alguns segundos.

Aquela questão estava martelando na cabeça de Harry há algum tempo, já. Mas ele fora incapaz de tocar no assunto com os padrinhos, já que a hipótese que levantaria não era nada agradável.

-Você já tem alguém em mente, não é? – perguntou Hermione, percebendo a expressão dele.

Harry fez que sim.

-Mira... – murmurou depois de alguns segundos – Ela teve tempo de avisar a Voldemort onde eu estava, quando foi à Toca naquela tarde. Sabia de mim, sabia da festa e, me atrevo a dizer, sabia até da sra. Malfoy.

-Mas você acabou de falar que ela não sabia que a tal patrocinadora dela e a sra. Malfoy eram a mesma pessoa.

-Mas ela podia muito bem estar fingindo, Rony. Ela veio para Hogwarts tentar descobrir quem eram os pais e já tinha quase certeza de quem eram muito antes do encontro no pub. Uma vez ela me mostrou o livro de formatura do Sirius e disse ter encontrado a foto de Bellatrix e se achado muito parecida com ela. Quem me garante que ela não cruzou com a foto de Narcisa Malfoy, na época Narcisa Black? Ela a teria reconhecido, não teria? Pra descobrir que se tratava da mãe do Malfoy seria um pulo.

Hermione balançou a cabeça de um lado para o outro.

-Isso é apenas uma suposição, Harry...

-Mas é a suposição mais provável. – disse bravo – Vai por mim, Hermione, foi ela...


O café da manhã foi bastante silencioso. Depois da última noite os três amigos não falaram muito entre si, isso por que Harry não estava nada aberto a conversas já que era constrangedor imaginar que havia se envolvido com alguém tão falso.

Mas, mesmo magoado, não pode deixar de procurar os grandes olhos negros na mesa rival. Só que não a encontrou naquela manhã, nem na seguinte, nem na seguinte.

Levou mais de duas semanas para que cruzasse com Mira novamente, num corredor, na saída da aula de feitiços.

O rapaz tinha a atenção voltada ao recado que o professor redigira em sua prova. Ela, em algo que lia também.

Por isso aconteceu a colisão.

-Ah, caramba, me desculpe... – disse ele segundos depois de perceber que derrubara todo o material de alguém, sem se dar conta de quem se tratava, embora o cheiro de chuva por cair tivesse lhe chamado a atenção.

-Mas que droga! – gritou ela quase ao esmo tempo – Não olha por onde anda não, idiota! – ela fez um movimento irritado para tirar o cabelo do rosto, foi quando os olhares se cruzara – Você...

O simples olhar de desprezo que ela impunha deu lugar a uma raiva quase letal. Foi difícil sustentar o olhar dela, o coração de Harry chegou a se apertar por estar vendo tanta raiva naqueles olhos, parecia até que ele era o errado.

Mas não fora ele que a trairá, por isso continuou a encará-la sem demonstrar o menor medo. Se tinha alguém que devia sentir vergonha era ela, e não o contrário. Bastava um movimento, apenas um movimento e ele ia dizer pra ela tudo que estava entalado na sua garganta.

-Ora, ora, ora, tropeçou em algo podre, prima? – Draco apareceu atrás da garota, com aquele sorriso cínico e irritante, que lhe era peculiar. E, pelo visto, o fato de Harry ter lhe salvado a vida não tinha feito muita diferença – Precisando de ajuda? – perguntou o loiro pousando a mão no ombro dela.

Mira olhou irritada para a mão branca em suas vestes, mas, quando ia mandar Draco tirá-la dali teve um relance da cara enciumada de Harry e não teve a menor dúvida.

-Não priminho, - disse no tom mais doce que conseguiu (como todo mundo da família ela não era muito boa nisso), mas foi o suficiente para fazer o sangue do grifinório ferver mais ainda.

-Priminho? É assim que vocês se tratam agora é?

-Bom, é isso que nós somos, não é, minha cara? – perguntou Draco da forma mais casual possível.

-Ao que me consta é isso sim... meu querido... – ela exagerou no elogio, o que fez a raiva de Harry ficar mais visível ainda – Agora vamos, esta na hora do nosso treino e não podemos chegar atrasados. Temos que esmagar alguns gatinhos no próximo jogo.

Pra finalizar ela passou a mão pela cintura de Draco e os dois saíram abraçados enquanto o Sonseriano com a varinha fazia com que todas as coisas de Mira levantassem do chão e se rearrumassem novamente nas mãos dela.

Harry ficou olhando aquela cena (absurda, quase surreal) tentando se controlar para não ir até lá, tirá-la das mãos de Malfoy e dar um soco na cara dele por ter se atrevido a tocar nela. E foi preciso muito esforço para se controlar mesmo, tanto que ele quase não ouviu quando Cho se pois a chamar o seu nome.

Com muito custo ele desviou o olhar dos dois Sonserianos.

-Ah, oi Cho, o que foi?

A oriental parecia um pouco nervosa, mas Harry não percebeu isso, nem quando ela tomou um grande fôlego e finalmente começou a falar.

-Bom, Harry... eu estive pensado, estou no meu último ano e talvez não o veja mais quando sair do colégio e... bem, sempre que penso nisso fico chateada por nós não estarmos nos falando direito.

-Ah ta... – disse ele desanimado, dando uma última olhada na direção que Mira seguira, bem na hora em que ela também virava a cabeça para encara-lo novamente.

Quando ela se deu conta que era Cho Chang, a aparadora do time da Corvinal e ex namorada de Harry, quem estava ali, do lado dele, Mira parou bruscamente. Draco tomou até um susto tamanha fora a brutalidade com que ela se desvencilhou dele, mas ao olhar a cena que ela observava, soltou um muxoxo e balançou a cabeça negativamente.

Já Harry não pensou duas vezes (se é que se pode dizer que ele pensou). Ele desviou os olhos para a corvinal novamente, e abriu o sorriso mais gentil que conseguira.

-Sabe Cho, a gente podia conversar melhor depois da aula, o que acha? É que eu estou meio atrasado para o próximo tempo.

-Claro. – respondeu Chang com um sorriso maior do que o comum – a gente se vê depois então...

Para finalizar Harry deu uma olhada vitoriosa para a Sonseriana, virou-se e foi embora, sem perceber que Mira saiu bufando na direção em que Cho seguira.

Ele encontrou os amigos na aula seguinte e Hermione logo percebeu sua agitação, mas foi preciso mais três tempos interruptos lhe perguntando o que acontecera para que finalmente, vencido pelo cansaço, disse algo.

-Ah, Harry. Por que você não conversaram e colocaram tudo em pratos limpos... – dizia a amiga – tenho certeza que...

-Conversar? Pra que conversar? – falava com tom de deboche – Agora ela tem o priminho querido para conversar, Hermione...

Hermione olhou para Rony e fez uma negativa com a cabeça.

-Aquilo foi cena para te irritar, não percebe? – disse.

-É, ela e o Malfoy continuam se detestando...

-Não foi o que me pareceu.

-Bom, foi o que ela disse pra Gina. – falou o ruivo – Ela continua sozinha naquela casa, apesar de ser uma Black. E olha que mesmo tendo o Sirius como pai o fato de ser filha de uma Comensal da Morte, e sangue puro deveria ser suficiente para fazer todos a venerarem.

Harry solou um muxoxo.

-Também pudera, ninguém lá sabe disso.

Hermione e Rony se entreolharam novamente.

-Que foi? – perguntou ele, percebendo a ação.

-Você não leu o jornal de hoje, não foi? – disse ela.

-Não... Nem tomei café hoje, lembra... Estava revisando a matéria de Poções. O prof. Sanap vai fazer de tudo pra me ferrar esse ano.

-Ele sempre fez de tudo pra te ferrar, Harry... – disse Rony enquanto Hermione procurava o Profeta Diário em suas coisas.

-Mas o que tem demais no jornal de hoje? – perguntou Potter certo de que não ia gostar nada da resposta.

A amiga achou o que procurava e passou as mãos dele. A manchete principal trazia um título bem sugestivo "A FAMÍLIA BLACK RENASCE – herdeiro dos Blacks assume filha que pensava estar morta.", no centro uma foto de Mira, saindo de um dos treinos de quadribol, pela distância dava pra perceber que o fotografo tivera uma certa dificuldade em fazer o seu trabalho sem levantar suspeitas.

Ele olhou para a imagem e se irritou mais ainda ao perceber que, mesmo ela estando toda suja e suada, com o cabelo despenteado e trajando aquela roupa verde e prata, ele não conseguia achá-la feia. Pelo contrário, ela parecia até mais atraente e bonita do que o normal.

Do lado esquerdo dela, uma foto antiga de Bellatrix, muito parecida com a que Monstro tinha em seu quarto, e do outro lado, uma de Sirius, bem mais atual.

Ele tinha os cabelos presos em um rabo de cavalo e, mesmo de óculos escuros, parecia bastante irritado com os flashs. Pelo aspecto do lugar, o haviam cercado na saída de alguma audiência no Ministério da Magia.

-Ele... ele a assumiu publicamente?

-Harry... não surta, ele é pai dela... – disse Hermione com tom reprovador – Mesmo se ela não prestasse o certo seria assumi-la.

-Eu sei, eu sei... – resmungou ele antes de começar a ler a matéria.

Como esperado o jornal exagerava nos fatos e distorcia um pouco a história, mas em geral dizia resumidamente a verdade. Sirius Black, o ex fugitivo que conseguira provar sua inocência a pouco, tinha uma filha de 15 anos com a temível Comensal Bellatrix Lestrange, fruto de um caso quando jovens.

Falavam um pouco da vida de Mira e como ela estava feliz por ser herdeira de uma família tão importante quanto os Black.

Harry soltou um muxoxo.

-Até parece que ela está adorando isso.

-Parece que está sim... – era a voz de Gina.

Ela acabara de encontrá-los no corredor de acesso a ala hospitalar, estava acompanhada de Luna que parecia avoada, prestando atenção em tudo, menos a conversa, como de costume, alias.

-Bom... – disse o garoto virando-se para encará-las – Não foi o que pareceu lá no pub, sabe. – ele tinha certeza que a sonseriana já havia contado para as amigas o que havia ocorrido – Ela não me parecia muito feliz, por assim dizer.

Gina deu de ombros.

-E desde quando a Mira demonstra felicidade, Harry?

-A não ser quando esta quebrando a cara de alguém... – concluiu Luna antes de voltar a prestar atenção num buraquinho da parede de tijolos.

-É... A não ser quando está quebrando a cara de alguém. – concordou Gina com certa graça na voz – A verdade é que a reação dela a toda aquela informação foi bem natural... vindo dela.

Harry soltou um muxoxo enquanto Hermione e Rony concordavam silenciosamente.

-O que não é nada comum é essa briga sem sentido de vocês. – falou Luna, desviando a atenção do tijolo, novamente.

-Isso é verdade, até agora não entendi porque vocês estão assim. – disse Gina – A Mira fala, fala, fala e eu não entendo nada.

-Ela por acaso te falou por que está chateada com o Harry, Gina? – perguntou Hermione, tentando esclarecer um ponto que ainda estava confuso. Ela sabia o motivo pelo qual Harry estava brigado com Mira, mas o inverso? Por que ela simplesmente deixara de falar com ele?

-Ah, ela disse que o Harry falou algo que não devia para a tal mãe dela. – disse ela sem dar muita importância aquilo. Mas Hermione estava bastante interessada.

-Falou o que, exatamente?

Gina estranhou a pergunta.

-Disse que a família que a criou nunca a deixava usar o sobrenome deles...

-Mas ela não me contou isso! – protestou Harry.

Hermione franziu o cenho.

-Por um acaso ela já havia contado isso a vocês?

Gina fez que sim, Luna também.

-Quando?

-No dia em que o Drac... – Gina engoliu o nome - o Malfoy a chamou de rejeitada pela primeira vez. Ela estava irritadíssima, você lembra, Luna?

-É, ela estava mesmo e nós não entendíamos por que... até que ela contou.

-Tinha mais alguém com vocês?

-Não.

-Ninguém mesmo?

-Não Hermione, já falei, só estávamos eu ela e a Luna...

-E a sua gatinha, Estrela. – completou a loira – Alias, não há vejo desde que voltamos.

-Ela fugiu no natal. – disse a ruiva dando de ombros – Fiquei tão chateada. – então ela percebeu a troca de olhares do trio mais velho – O que foi?

-Nada. – respondeu Rony.

-O que foi? – insistiu ela – Vocês sabem alguma coisa que eu não sei?

-Deixa de ser estérica. – brigou o irmão – Você está parecendo a mamãe.

-Então me diz o que está acontecendo antes que eu comece a parecer com os gêmeos!

-Ui... A ex futura quem sabe um dia senhora Malfoy está brava...

Gina estreitou os olhos, o prenúncio do fim. Harry tinha que concordar que o amigo pegara pesado dessa vez.

-Seu........ CRETINO! Pelo menos, senhor Ronald Arthur Weasley, eu tive coragem de assumir pra todo mundo que gostava dele. Pior você que não assume que gosta da Hermione nem pra você mesmo!

Granger enrubresceu, Rony ficou mais vermelho que seus cabelos, mas no caso dele era raiva também.

Por sorte Longbotton apareceu com um outro assunto, urgente, para desviar a atenção de todos.

-Vocês precisam vir! Vocês precisam vir rápido! – dizia ele afobado.

-Calma... – falou Luna carinhosamente, tentando fazê-lo respirar devagar – O que aconteceu?

-A... aquela amiga de vocês... Ela arrumou uma confusão e... Bom, é melhor vocês irem pra lá. Parece que o professor Snape esta adorando a possibilidade de expulsá-la agora que descobriu que ela é uma Black.

-A Mira? – ele confirmou – O que ela aprontou?

-Não entendi direito, parece que ela cortou todo o cabelo da apanhadora do time da Corvinal, algo assim... – disse Neville.

Hermione e Rony olharam para a cara de Harry na mesma hora.

-Que dorga! – gritou Gina, nitidamente preocupada com a amiga – Mas pro que ela faria uma coisa dessas?

-Ela é meio ciumenta, sabe... – disse Luna olhando Harry de rabo de olho.

O garoto abriu a boca para protestar, mas não teve tempo, Gina e Luna já tinham saído a procura de algum professor que pudesse interceder a favor da amiga.

Neville as acompanhou com o olhar, depois voltou-se para os amigos.

-Sabia que elas iam ficar preocupadas... Elas se gostam muito. – disse – Entranho isso não é?

-Por que? – perguntou Hermione.

Neville deu de ombros.

-Ela é uma Sonseriana, afinal.E pra piorar e filha... – engoliu o resto da frase, depois balançou a cabeça – Deixa pra lá, ela não tem culpa disso, não é mesmo.

-Não, não tem... – confirmou a garota.

Ele acenou com a cabeça e então se afastou do grupo.

Os três amigos voltaram a se entreolhar.

-Olha Hermione... – o ruivo começou a falar – Sobre aquilo que a Gina disse... eu..

Ela acenou a mão para que ele deixasse aquilo pra lá.

-Ela tava com raiva, tudo bem... não vou levar a sério. – depois olhou para Harry – Viu no que deu o seu showzinho?

-Ah? A culpa é minha agora?

-Claro que é, você tinha que ter a cabeça no lugar, já que ela não tem... Alguém tem que ser centrado nesse relacionamento.

-Não há mais relacionamento nenhum, Hermione.

Ela fez um ruído irritado.

-Quer saber do que mais, desisto de colocar um pouco de juízo na cabeça de vocês. – virou as costas e saiu para a mesma direção que Neville.

-O que diabos EU tenho haver com isso? – peguntou Rony.

Harry deu de ombros.

-Está preocupado com qual das duas? – perguntou Rony, depois de longos segundos de silêncio que o estavam deixando louco.

-Com a Cho, claro. – respondeu ele, meio contrariado.

-Pois não fique, ela deve estar bem. Pelo que eu entendi foi só o cabelo. Um bom chá de crina de cavalo e cresce tudo em uma noite. Pode confiar, eu sei... Os gêmeos tiveram uma faze de detonar os nossas cabelos enquanto dormíamos...

-É... mas eu devo admitir que a culpa foi minha.

Rony deu um longo suspiro.

-Fala a verdade Harry, você ainda gosta da Sonseriana.

O amigo lhe deu um olhar raivoso.

-E você da Hermione. – respondeu – Nem por isso eu fico te jogando isso na cara, fico?

-Não estou te jogando nada na cara, caramba! – o natural seria ele explodir ali mesmo, virar as costas e ir embora, afinal duas alfinetadas sobre seus sentimentos enrustidos por Mione eram um pouco demais para o jovem Weasley, ou deveriam ser, por que ao que parecia não era aquilo que o estava preocupando e sim a situação do amigo - Mas a Mione tem razão quando diz que vocês deviam conversar. Colocar tudo em pratos limpos sabe, dizer que não foi você que disse as coisas para a sra Lestrange, que na verdade foi ela mesma. Dizer por que está chateado com ela, se foi realmente ela quem entregou o seu paradeiro você vai saber quando a encarar. Pelo menos a mamãe fala que isso funciona. – ele esperou um pouco, tentando avaliar a reação de Harry as palavras – Bom, vocês realmente deviam esclarecer as coisas... Isso é, se ela não for expulsa.

Por um milagre divino, o amigo concordou em silêncio.

-Você tem razão.

-Tenho?

-Tem... eu preciso colocar isso em pratos limpos mesmo... e farei isso hoje. Caso ela não seja expulsa, é claro. – ele abriu um sorriso malicioso.

Alguma coisa no olhar brilhante de Harry dizia que ele não ia fazer exatamente o que Rony tinha proposto.

E não ia mesmo. Quando a noite caiu eles ficaram sabendo, por intermédio de Gina, que Mira recebeu uma detenção de um mês, mas nada além disso. Coisa que deixou o professor Snape muito contrariado, como sempre. Depois de obter essa informação Harry pediu licença e subiu para o dormitório. Presentindo algo Rony resolveu ir atrás.

-O que vai fazer com isso? – perguntou ao flagrar o amigo pegando a capa de invisibilidade.

-Colocar as coisas em pratos limpos. – respondeu Harry – pelo que a Gina disse a Mira deve estar voltando para o salão comunal da Sonserina por essas horas.

-Vai barrá-la na entrada das masmorras?

Harry fez que não.

-Não me diga que...

-Isso mesmo... eu quero vê-la em seu hábit natural.

Dizendo isso ele jogou a capa sobre si e sumiu da vista de Rony, deixando o amigo preocupado para trás.

Não foi difícil entrar no covil das cobras. Na verdade foi à própria Mira quem lhe propiciou a senha, quando voltava toda suja do seu primeiro dia de detenção.

-Cobra reina, leão rasteja.

Muito a contra gosto Harry repetiu a senha entrando logo em seguida no salão comunal..

As coisas não haviam mudado muito desde a última vez em que estivera lá. Havia alguns objetos diferentes, alguns móveis fora do lugar, mas nada realmente importante.

Os alunos estavam espalhados pelo salão, conversavam em grupos separados, mas ainda Harry pode perceber que a atenção da maioria se voltou para Mira quando essa entrou.

Mas foi uma garota negra, de olhos grandes e que Harry sabia ter a mesma idade de Mira, quem resolveu se aproximar e dirigir a palavra a ela.

-Olá Black. – falou com um sorriso tão doce quanto falso estampado nos lábios – Que bom que já voltou, fiquei preocupada com você.

Mira soltou um muxoxo irritado, mas a garota não se importou.

-Nossa, você está horrível... precisa de um banho urgente. Eu tenho uns sais ótimos para relaxamento, minha mãe que faz, sabe. Se quiser eu preparo...

-Nem morta eu entro numa água que você tenha preparado Sarvel. – cortou ela, rispidamente, virando as costas em seguida e deixando a garota falando sozinha.

Mas não foi muito longe já que Draco Malfoy e seus inseparáveis amigos puxa saco pararam na sua frente. Ela olhou com repulsa para o loiro que trazia pendurada no seu ombro ninguém menos que a esnobe de plantão Pansy Parkison.

-O que foi priminha? – perguntou ele num tom sarcástico, bem diferente do que usara na frente de Harry – Não está vendo que a Sarvel só está querendo ser amável com você?

-Engraçado, até ontem ela nem olhava na minha cara.

-As coisas mudam... – ele deu de ombro, e pareceu incomodado por isso não ter afastado um pouco a garota pendurada nele – Até ontem você era uma sangue ruim, rejeitada e incapaz. Hoje você é a única herdeira de uma das mais importantes famílias de bruxos do país. Natural que as pessoas mudem com você.

-Elas podem mudar se quiserem, mas eu não mudei. Prefiro ser tratada pelo que sou, não pelo que aquela corja que você chama de família importante é. Sou egocêntrica demais para aceitar isso, sabe.

-Mas devia... Seria muito melhor pra você assumir seu posto e aceitar a proximidade das pessoas da sua casa. Sangue puros como você...

-Desculpe querido, mas eu gosto de ter pessoas que realmente gostam de mim por perto. Não é o seu caso, eu sei... – ela apontou Pansy com o queixo – Você nem sabe o que é ter alguém que realmente gosta de você por perto...

Draco se desvencilhou de Parkisou tão abruptamente que a garota quase perdeu o equilíbrio. Ele aproximou o rosto do de Mira e perguntou, entre dentes, de forma que só os dois ouvisse.

-Está insinuando que ela não gostava de mim?

-Não... Estou afirmando que você é um idiota por trocar a Weasley por essa mosca morta.

-Você sabe bem por que eu terminei com ela... – murmurou num tom mais baixo ainda.

-Sei... Por isso que digo: você é um idiota. Nem morta eu ia deixar que os outros decidissem isso por mim. Essa é a diferença entre nós, querido.

Ela passou por ele com aquele andar superior, digno de uma Black, as vezes não tinha como negar esse fato.

-Você é uma de nós, prima! – gritou Draco, antes que ela alcançasse a escada – Mesmo que não queira, é igual a todos nós aqui!

Ela regrediu os passos que a levaram até a escada mais rápido que um estalo, voltou a parar na frente dele e encará-lo, mas deixou de lado os murmúrios, que se dane quem estivesse ouvindo.

-Eu não sou igual a você, seu verme platinado! Nunca vou ser, entendeu bem? A única coisa que temos em comum é que nós dois queremos um pedaço do Potter, Malfoy. Por isso temos uma trégua. No mais, no que me diz respeito eu quero que você, a sua família, ou qualquer um nessa casa se danem!

Draco abriu um sorriso enigmático, não parecia ter ouvido nem metade dos insultos.

-Que tipo de pedaço você quer do Potter, prima?

-O pedaço que eu quero não é da sua conta.

-Claro que é... – ele tinha um tom amável – Afinal, você é minha priminha querida, lembra? Dependendo do pedaço que você quer, eu tenho uma idéia para conseguir.

Ela o olhou por um segundo, como se o avaliasse, depois abriu um sorriso de lado, bastante parecido com o de sua mãe.

-Quero o pedaço de fora.

-Ahhhh, boa escolha...

-Qual a idéia?

-Quadribol....

Ela soltou uma gargalhada.

-Sabe Malfoy... São nessas horas que eu consigo entender por que temos o mesmo sangue nas veias, o que tem em mente?

-Bom... – ela levantou a mão o fazendo parar de falar. Então fungou, como os cães fazem quando farejam algo.

-Acho melhor conversarmos sobre isso depois. Tenho que tomar banho.

Draco deu de ombros enquanto ela virava as costas e, finalmente, seguia para o seu dormitório. Feito isso Harry achou melhor ir embora, não poderia segui-la mais, e já havia descoberto o que queria.

Ela era exatamente igual no seu hábit natural.