CAPÍTULO 7:
"O que disse?"-Isabella perguntou, não gostando do tom melancólico na voz dele.
Ele a segurou pelos ombros e lhe deu um beijo, Isabella não resistiu. Sentia que aquele seria o último beijo, o beijo de despedida. Assim que o beijo terminou, ele a fitou e se afastou.
"Quero que me escute, e não me interrompa, por favor."-ele pediu e Isabella concordou com um aceno de cabeça, Isaak suspirou e ainda segurando-a pelos ombros, a fez sentir seu cosmo.
Inicialmente, ela ficou amedrontada, mas começou a relaxar ao notar que essa estranha energia que os envolvia era quente, carinhosa. Ela refletia o verdadeiro coração de Isaak.
"Você me perguntou o que eu havia feito de tão terrível, me perguntou se eu matei alguém...o que eu fiz foi imperdoável, e se você vier a me odiar por isso...vou compreender."
"Isaak...está me assustando falando assim."
Isaak se afastou e começou a falar, na verdade, desabafar. Contou sua infância em um orfanato, os anos que passou na Sibéria, seus mestres, o melhor amigo Hyoga, da desilusão e do tempo que passou enlouquecido pelo rancor de se sentir traído por aqueles que respeitava e amava. A loucura de ter servido Poseidon...tudo...inclusive que em parte, se culpava pelas enormes ondas que arrasaram as terras no Oceano Ártico, incluindo a costa canadense, incluindo esta ilha e as vidas que ela ceifou.
Aquilo tudo parecia surreal demais para Isabella, cada palavra de Isaak pareciam tão fantasiosas, mas ela podia sentir sua sinceridade, que ele dizia a verdade.
Após o final do relato, eles ficaram em silêncio. Ele esperava alguma reação por parte dela, qualquer coisa. Queria ouvi-la xingá-lo, amaldiçoá-lo...qualquer coisa, menos o seu silêncio, e aquela expressão indecifrável em seu rosto, em seu olhar.
"Não vai dizer nada?"-ele perguntou ansioso.
Dizer o que? Que achava isso loucura? Verdade? Não sabia o que dizer...
"Isabella..."
"Você...disse coisas difíceis de acreditar."-falou cautelosa.
"Atos dizem mais que palavras."-ele falou e mostrou a Isabella seu cosmo gelado, afirmando a veracidade de sua declaração.
Imagens confusas vieram a mente de Isabella. A grande inundação, vizinhos e amigos sendo levados pelas águas, seu irmão e sua cunhada nunca mais foram vistos...ela mesmo e Laura quase morreram naquele dia...um milagre as salvou...e ele esteve envolvido nisso? Participou dessa tragédia?
"Isabella, diga algo por favor..."
Ela recuou alguns passos, quando ele estendeu a mão e tentou tocá-la, ele suspirou.
"Vai mesmo partir?"-ela perguntou.
"Vou."-ele deu um sorriso triste.-"Vou para a Grécia, aceitei um trabalho com o senhor Solo e..."
"Despeça-se pelo menos de Laura."-falou com frieza.
"Isabella, eu prometo que vou vol..."
"NÃO!"-ela disse enfática.-"Não prometa isso...não quero ouvir isso! Não dê falsas esperanças a ela. Pois eu sei que você não...não vai voltar. E eu quero mesmo que você vá embora e nunca mais volte!"
"Você não quer que eu volte?"-ele ficou bem na frente dela. Uma última chance.
"Diga que não quer que eu vá."-dizia-se em pensamento.-"Diga que vai sentir minha falta. Diga que me ama. Que merecemos nos dar essa chance. Se disser isso, não irei embora."
"Isabella..."
"Eu não quero vê-lo mais."-disse, afastando antes que ele pudesse toca-la novamente.
O.O.O.O.O.O.O.O.OSentada em um canto, no quarto do hospital, fitando o rosto de Laura que ainda adormecia, Isabella tentava digerir tudo o que estava acontecendo, tudo o que ouviu e viu...sua vida, o que havia feito, tudo.
Laura havia acordado uma certa hora, e Isaak havia aparecido para se despedir dela e partir. A menina chorou, é claro. Mas não disse uma palavra sequer a Isabella. Ela não se iludia, sabia que teria uma árdua tarefa pela frente, reconquistar a confiança e o amor de sua filha.
Houve um momento, em que ela achou que Isaak iria lhe dizer algo importante, que fosse beijá-la. Mas ele apenas murmurou um adeus e saiu.
Uma voz interior lhe dizia: Não era o que queria? Uma segunda chance de fazer o certo? De ser perdoada? De amar e ser amada? E não era isso que todos queriam?
Sentia-se triste, vazia, desesperada. Ela ergueu-se e olhou para a janela, e descobriu então a verdade que tentara negar: amava Isaak Kolehmainen.
Talvez ainda tivesse tempo. Talvez pudesse alcançá-lo antes que fosse embora. Talvez pudesse dizer que o amava e que não partisse. Que assim como ele não a culpava por seus erros, ela sentia o mesmo. Não importava o que ele fizera antes, importava quem ele é agora!
Pegou o casaco sobre um sofá e saiu correndo, viu Pansey no corredor e pediu que ficasse com Laura até que retornasse. Depois saiu correndo até o píer.
Viu o barco dele, subiu e bateu a porta, gritou por seu nome e nada.
"Ei, senhorita Isabella!"-chamou um velho marinheiro.-"Ele não tá aí não."
"Aonde ele foi?"-perguntou angustiada.
"Ele saiu com uma sacola de viagens. Parece que ia pegar o aerobarco do Nate."
Sem esperar mais, ela correu para o local. Isabella estava quase alcançando o porto, quando viu o aerobarco de Nate levantar vôo. Ela parou, ofegante, o coração aos saltos, observando-os sumir no horizonte. Não conseguiu reter as lágrimas, e sentiu as pernas fraquejarem.
Ela o havia perdido. Talvez para sempre.
O.O.O.O.O.O.O.O.O.O.O
Dois anos depois...
"Já estou indo para a escola, Isabella."-avisou Laura, agora com dez anos, pegando um pedaço de bolo de chocolate do balcão.
Ela ainda não conseguia chamá-la de mãe, mas pelo menos ainda eram amigas e Isabella sabia que com o tempo, só com o tempo, ela poderia realmente perdoá-la e quem sabe, chamá-la ao menos uma vez de mãe.
"Direto para casa depois das aulas."-avisou.-"Ou tem outros planos?"
"Projeto de Ciências, vamos para a casa do Dominic Trelyn."-disse dando uma mordida no bolo.-"A Rebeca, Marie St. Claire, o Dom e eu vamos montar um Aquecedor Solar."
"Então me telefone assim que chegar na casa dele."
"Tá."-assim a menina acabou de devorar o bolo e pegou sua bolsa, saindo.
Nesses dois anos, Laura começou a se vestir menos como um garoto e se tornar mais feminina. Talvez o fato de estar se aproximando da adolescência e de estar sendo paquerada por Domenic Trelyn, um menino adorável e muito bonito, com cachos dourados que lembravam um anjo, ajudou muito.
Dois anos...
Isabella suspirou imaginando o que ele estaria fazendo agora. O que fez nesses dois anos. Será que já a esqueceu e está com alguém? Esse pensamento teve o efeito de um soco em seu estômago. Como se sentia arrependida pelo o que havia feito. Pelo o que havia deixado de fazer.
Mas agora era tarde demais.
O.O.O.O.O.O.O.O.O.O.O
A caminho da escola, Laura conversava com uma animada Rebeca que falava do Baile da Primavera na escola e pensando quem iria convidar. Laura já pensava em Dominic, e nem prestava a atenção no que a amiga dizia.
"E aí?"-perguntou Rebeca.
"O que? Eu não ouvi a pergunta."
"Perguntei se já fez as pazes com sua mãe."-insistiu.
"Tamos bem...mas não chamo ela de mãe."-falou desinteressada.
"Por que?"
"Ah, não quero falar disso!"-irritou-se.
"Tá."-andaram um pouco e passaram pelo píer para cortarem caminho, viram o barco de Isaak ancorado no mesmo lugar.-"Os empregados daquele homem rico é quem cuidam do barco, certo?"
"É. Não sei por que? Ele não vai voltar para buscar mesmo!"-Laura fechou a cara e continuou a andar.
Após andarem mais um pouco, pararam diante de um grande barco.
"Esse barco não tava aqui ontem."-falou Laura.
"Olha o nome dele!"-apontou Rebeca.
Laura leu, ficou curiosa e deu a volta para observar a embarcação melhor e prendeu a respiração ao ver o dono do barco aparecer.
O.O.O.O.O.O.O.O.O.O.O
Rebeca entrou esbaforida na lanchonete, Isabella imediatamente deu a volta pelo balcão e chegou até a menina preocupada.
"Rebeca, o que foi?"-perguntou angustiada pela palidez dela.
Mas a menina não conseguia dizer o que queria, de tão cansada que estava por correr e conseguiu apenas proferir as palavras:
"Laura...no farol..."-respirou fundo para continuar o que ia dizer, mas Isabella saiu correndo para o farol. E a menina correu logo atrás.
Isabella pensou que seu coração fosse parar. O que houve com Laura? Já havia pedido à ela que não fosse ao velho farol sozinha, aquele lugar ameaçava cair aos pedaços desde que resistiu bravamente a grande enchente.
Se ela foi até lá, pode ter se acidentado! Estaria machucada? Não quis parar para perguntar mais nada à amiguinha de Laura, Isabella apenas correu.
Chegando próximo ao farol, avistou Laura brincando entre as pedras na praia. Estranhou. Se ela não estava ferida porque Rebeca veio tão aflita lhe chamar? Olhou para trás, contrariada para pedir explicações a menina quando o viu.
Seu coração disparou, as pernas ameaçavam fraquejar e ela sentiu um frio no estômago. Isaak! Era Isaak!
Ele a observava, com o rosto sereno, encostado a sombra de uma árvore, ele se vestia de maneira esportiva, calça jeans e uma camisa pólo azul.Suas mãos estavam enfiadas nos bolsos da calça, e ele mexia o pé com nervosismo, certamente incerto quanto a reação dela a sua volta.
Eles se entreolharam.
"Você...voltou."-começou ela.-"Eu pensei que você, nunca mais fosse voltar."
"Não agüentei mais ficar longe."
Isabella o encarou.
"O que? Por que?"
"Porque eu a amo."
Isabella fechou os olhos e sufocou um soluço, e antes que eles pudessem dizer mais alguma coisa, ela venceu a distância que os separava e o abraçou e o beijou debaixo daquela mesma sombra.
Imediatamente, ele a envolveu em seus braços e correspondeu ao beijo com saudade e paixão.
"Eu te amo."-ela disse, com os olhos marejados pelas lágrimas.-"Tentei te dizer isso há dois anos atrás, mas não consegui alcançá-lo e você já tinha partido..."
"Não vamos falar nisso agora."-ela a abraçou com força, voltando a beijá-la.
"Olha Laura!"-Rebeca apontou para o casal com um sorriso e corada.
"Legal!"-a menina vibrou.-"Agora quem sabe além de uma mãe ganho um pai?"
"Ei! Você chamou a dona Isabella de mãe!"-a amiga vibrou.
"É..."-ficou sem graça.
"Laura!"-Isaak a chamou.-"Vamos!"
"Aonde?"-Isabella perguntou curiosa.
"Ali."-apontou para um barco do outro lado da praia.-"Quero que conheça o Isabella, nosso barco. Presente de casamento do Julian. Já pensou em ir daqui até o Caribe em nossa lua de mel?"
"Você está me propondo casamento?"
Isaak a encarou bem em seus olhos negros e sorriu;
"Isabella Collonville, aceita ser minha esposa?"
"Ah, certamente que sim...Isaak Kolehmainen."
O.O.O.O.O.O.O.O.O.O.O.O
Algum tempo depois...
"Então estamos entendido?"-Isaak entregou os relatórios finais a Tétis sobre os investimentos de Julian Solo na região e estava satisfeito.
"Quem diria que se tornaria um homem de negócios."-disse a loira guardando as papeladas e disquetes.
"Pois é. O mundo dá voltas interessantes."-ele espreguiçou-se e observou a paisagem pela varanda da sua casa a beira do mar.
"Sabia que não decepcionaria Julian. Os dois anos que você passou conosco nas Empresas Solo foram realmente proveitosos!"-ela ergueu e arrumou a saia de seu tailleur vermelho.
"O casamento é mês que vem?"-ele perguntou olhando para o anel de noivado de Tetis, um caríssimo diamante.
"Sim. Julian e eu achamos que esperamos tempo demais!"-ela sorriu como uma menina.-"Espero que vocês apareçam. Sei que não gostam de deixar Turtlle Bay, mas a Grécia é linda nessa época do ano. E onde está nosso afilhado?"
"Ele..."
Sons de risadas encheram o ar. Sorrindo o ex-general marina e a sereia se debruçaram no parapeito para verem melhor o que se passava no amplo gramado cheio de flores.
Lá puderam ter a visão privilegiada de uma adolescente, sentada no gramado, e de uma linda mulher de longos cabelos negros, soltos ao vento, correndo atrás de um alegre menino de dois anos, com cabelos tão negros quanto os da mãe.
Fim!
Está aí o final desse fic emocionante. Deixei para postar o final só agora para homenagear Isaak em seu aniversário, 17 de fevereiro.
FELIZ ANIVERSÁRIO ISAAK!
E obrigada a todos que acompanharam a fic!
Beijos!
