No capítulo anterior... Após uma longa batalha, Sesshoumaru finalmente conseguiu derrotar Yorumaru. Ferido, voltou para casa, sendo tratado zelosamente por sua mãe. Mas uma simples pergunta trará de volta lembranças esquecidas...

Capítulo VI - Dolorosas Lembranças

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- Eu me apaixonei por uma humana. - disse Inu no Taisho - Estou perdidamente apaixonado por Izayoi.

- Querido... - murmurou Kasuga - É verdade o que me disse? - ela não queria se convencer que as últimas palavras de seu marido fossem verdadeiras.

- Hai. - respondeu ele.

Kasuga baixou um pouco a face, escondendo os olhos nas sombras produzidas por seu cabelo. Inu no Taisho abriu a boca para falar, mas desistiu e tornou a fechá-la, sem saber o que dizer.

- Eu... - murmurou ela, erguendo o rosto. Uma lágrima solitária rolava face abaixo - Eu entendo...

Inu no Taisho se condoeu de ver sua querida esposa assim tão triste. Mas ela sabia que esse dia chegaria.

- Eu entendo... - Kasuga repetiu - Vá, Inu no Taisho, querido...

O Grande Cão Branco do Oeste concordou com um leve aceno de cabeça e levantou-se, fechando a porta corrediça com cuidado após sair.

Kasuga, sozinha, permitiu-se então chorar desconsoladamente.

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- Eu sabia que aquilo iria mesmo acontecer. - disse Kasuga, voltando a sentar-se e depositando a jarra de água no chão ao seu lado - Sempre amei muito seu pai, mas... O sentimento não era correspondido... E eu sabia... Ele sentia apenas um grande afeto por mim... Nos conhecemos desde a mais tenra idade. Sempre fomos bons amigos. Como Senhor das Terras do Oeste, seu pai precisava de uma esposa digna. Fui escolhida. E acabei me apaixonando por ele. - deixou escapar um pequeno, porém dolorido, suspiro - Quando Inu no Taisho me contou que apaixonara-se por outra, senti meu coração partir, quebrar-se em mil fragmentos. Mas não poderia detê-lo. Portanto, deixei-o ir. Então ele enfrentou Ryukossei... E depois disso... - interrompeu-se, com os olhos marejados.

- O Grande Cão das Terras do Oeste morreu para proteger uma humana e seu filho, um hanyou. - murmurou Sesshoumaru, escondendo da face qualquer traço do ódio que o arrebatava - E a senhora não o impediu.

- Não, eu não o impedi. - Kasuga confirmou, desviando o olhar do de Sesshoumaru, culpada - Por que eu o amava. Além do mais, eu sabia que a doce Izayoi faria Inu no Taisho feliz. Eles se amavam profundamente.

- Este sentimento é para os fracos. - Sesshoumaru falou com desprezo - A senhora era a esposa dele.

- Sesshoumaru... - Kasuga baixou um pouco mais o tom de sua voz, dando-se por vencida - Você jamais entenderia meus motivos. - encarou-o nos olhos, séria - Porque você nunca se permitiu amar. - dizendo isto, apanhou outra vez a jarra de água e levantou-se abruptamente, abandonando o quarto com novas lágrimas nos olhos.

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Uma mulher vinha andando apressada por um dos corredores do palácio, carregando cuidadosamente um ou dois quimonos limpos e dobrados, quando deteve o passo de repente, assustada. Por pouco escapara de colidir com Sesshoumaru numa esquina. Este lhe dirigiu um olhar gélido e palavras rudes:

- Cuidado por onde anda, humana imprestável.

- Perdão, Alteza... - respondeu a mulher, um pouco ruborizada, curvando-se respeitosamente ante seu senhor.

Sesshoumaru prosseguiu seu caminho, ignorando completamente a presença da humana.

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- Por que há humanos insignificantes trabalhando neste castelo? - Sesshoumaru questionou sua mãe, momentos mais tarde, sentado a frente dela.

Kasuga, bebericando o conteúdo da bonita xícara que trazia nas mãos, defendeu-se, severa:

- Sesshoumaru, tenha mais respeito com sua mãe. Ainda sou a senhora desta casa e, assim sendo, sou eu quem decide as coisas por aqui.

- A senhora é uma youkai. - retrucou Sesshoumaru, sem se abalar e rejeitando a xícara que lhe era oferecida por sua mãe - Não compreendo seus motivos para proteger estes seres desprezíveis.

- Lhe digo o mesmo, Sesshoumaru. - Kasuga depositou a xícara vazia numa bandeja no chão - Despreza-os, mas anda em companhia de uma garotinha humana. No entanto... Lhe contarei minha história... para que compreenda...

Sesshoumaru, mesmo não querendo admitir, estava de certa forma curioso. O que acontecera no passado de sua mãe para que ela desenvolvesse tamanho apreço por humanos ordinários? Ela, a Senhora das Terras do Oeste...

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Anoitecia. As trevas da noite abraçavam tudo ao seu alcance, trazendo também o medo no coração dos humanos. Em particular numa certa aldeia no Oeste. Aquele lugar estava sendo atacado por cruéis youkais, que destruíam tudo em seu caminho.

- Por favor, meu filho não! - uma mãe assustada suplicava pela vida de seu filho pequeno - Podem fazer o que quiser comigo, mas deixem meu filho ir!

A resposta foi simplesmente uma risada cruel e, logo em seguida, sangue espirrando nas paredes das cabanas. Esta mulher e tantas outras não foram ouvidas pelos youkais, que mataram todos os habitantes daquela aldeia.

Ou pensaram que tinha sido assim...

Longe dali, no interior de um bosque escuro, uma mulher corria por entre as árvores, tentando desviar dos galhos no seu caminho. Ela estava fugindo... Fugindo daqueles youkais cruéis.

Algo, de repente, a deteve. A mulher aproximou-se lentamente e ficou frente a frente com uma criança encolhida no chão da floresta. Sentindo a aproximação de alguém, a menina ergueu os olhos assustados.

- Calma, vai ficar tudo bem... - murmurou a mulher, aproximando-se devagar para não assustar.

De volta à aldeia destruída, os youkais reuniram-se num grupo no centro do lugar e um deles, certamente o líder, pois tinha forma humana, falou:

- Sinto cheiro de mais humanos desprezíveis. Preparem-se, pois são muitos.

- Por que está sozinha? - perguntou a mulher para a criança, no bosque.

- Meus pais me deixaram aqui sozinha... - respondeu a menina em voz baixa e medrosa.

- Onde eles foram? - a mulher tornou a perguntar.

- Não sei... Eles não me disseram...

- Eu estava naquele bosque porque meus pais tinham ido caçar humanos e, desobedecendo-os, eu os segui até onde consegui... - Kasuga narrava para seu filho suas lembranças - Aquela bondosa mulher sabia que eu era uma youkai e acabou ficando aquela noite comigo, protegendo-me de outros youkais da forma que podia... Na manhã seguinte, ela ficou sabendo, através de aldeões, que meus pais e aqueles youkais cruéis que os acompanhavam, tinham sido exterminados por humanos poderosos...

Sesshoumaru escutava tudo com atenção, observando a youkai a sua frente.

- Apesar de ter perdido os dois filhos e o marido naquele ataque, a viúva Tomoko não me matou. - Kasuga prosseguiu a narrativa - Fomos para outra aldeia, mas os aldeões expulsaram-nos ao descobrirem que eu era youkai. Tomoko nunca pensou em me abandonar e passou a cuidar de mim com desvelo. Alguns anos mais tarde, acabei por conhecer seu pai e nos tornamos grandes amigos. Ele me contou sobre o grande clã dos inuyoukais e tentou convencer-me a segui-lo. Aceitei após um tempo de luto pela morte de Tomoko. - suspirou suavemente - Esta é minha história, Sesshoumaru. O único a conhecê-la antes de você foi seu pai. Ele também desprezava os humanos, mas, ao saber de tudo, procurou conhecer o lado bom dos humanos.

- Este "lado bom" levou-o à morte. - disse Sesshoumaru, sério.

- Sesshoumaru, se despreza tanto os humanos, por que permite que uma garotinha humana o siga? - perguntou Kasuga suavemente.

- Eu salvei a vida dela... - respondeu Sesshoumaru, como se o fato não tivesse importância.

- Você poderia afastá-la facilmente. Por que não o faz?

Sesshoumaru fez menção de responder, no entanto sua mãe o calou com um pequeno gesto, colocando seu dedo indicador suavemente sobre os lábios do youkai.

- Não tente explicar-se. Eu o entendo. - Kasuga sorriu - Espero que algum dia me entenda também. E aceite que, se não fosse pelo bom coração de uma humana, eu não estaria aqui. Consequentemente, você também não estaria.

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