Cap. 4 - Um grito, a verdade.
"Draco mostrou-se para mim de uma forma totalmente nova, era uma pessoa completamente diferente do que eu estava acostumada. Sua forma de falar, o jeito como deixava-se surpreender pelas coisas sem demonstrar o antigo desprezo e superioridade. Quando percebi o patamar a que chegamos, eu não podia e nunca desejaria voltar atrás, até a forma de amar de Draco era diferente. Mesmo se eu o comparasse a Harry, nunca me via desejando os braços do meu antigo amor enquanto recebia carinho dele. E ficava entre nós aquele sentimento de compreensão, quando Harry e Hermione contaram sobre a gravidez ficamos quase um mês sem nos ver e mesmo assim não questionamos um ao outro embora soubessemos que estivemos chorando. Tudo o que eu queria é que não tivesse um fim... Tudo o que eu desejava é que aquela pessoa estivesse sempre comigo, aquela pessoa especial que me deixou amar sem freios, sem medir meus sentimentos. Tudo o que eu realmente queria... era ter essa felicidade para sempre."
Um silêncio pesado
parecia comprimir o ar a volta do casal que estava sentado no sofá
de couro preto, a ruiva tinha lágrimas nos olhos amendoados e
o loiro apertava os próprios joelhos com os dedos enquanto
olhavam para a expressão desolada de Melissa, as mãos
apoiavam o rosto e os cabelos enrolavam-se pelos seus braços,
enquanto ela lutava contra suas lágrimas desejava com todo seu
coração que aquilo acabasse, desejava com toda sua
força que fosse tudo um pesadelo.
Para sua infelicidade,
era tudo muito real e verdadeiro. Gina estava grávida e sendo
assim deveria se casar... com Draco Malfoy.
Ela se levantou da
poltrona e foi embora debaixo de muitos chamados de sua amiga e
seu...amor. Era certo chamar assim agora o noivo de sua amiga? Um
sorriso ironico curvou os lábios rosados enquanto uma lágrima
alcançava seu queixo. Era assim o seu destino, sua história
seria sempre digna de uma novela mexicana.
Harry foi o primeiro a
sentir a falta da amiga, Mione levantou a possibilidade de uma
viagem, Rony balançou a cabeça e apenas sorriu ainda
abobalhado para a namorada e Luna por sua vez, falou das diversas
maneiras que uma mulher de coração partido poderia
perder-se.
Mas era felicidade demais para eles, Harry estava
explodindo de alegria com a esposa e seu pequeno filho que chamava-se
Sirius J. Granger Potter, uma homenagem ao padrinho perdido. Para
melhorar, Rony e Luna casariam-se um mês depois que Gina e
Draco, a ruiva apressava o casamento o máximo que podia porque
a barriga estava começando a crescer um pouco e ainda estava
escondendo de seus pais a gravidez.
O Sr. e a Sra. Weslay radiavam
felicidade, todos seus filhos pareciam estar tendo sucesso em suas
carreiras e em suas vidas pessoais, que outro destino pais bondosos
poderiam desejar a seus amados filhos? Que não eram poucos,
diga-se de passagem.
Tudo parecia tão perfeito para aquelas
pessoas, mas Melissa não fazia parte daquilo, infelizmente
percebeu que nunca pertenceu àquilo tudo.
Em toda sua vida
leu livros, assistiu filmes, presenciou histórias fantásticas
repletas de alegrias e tristezas. Em toda sua vida desejou com todo
seu coração fazer parte daquilo, ajudar e participar de
alguma forma. Por que tão tarde descobriu que não era
seu caminho?...
Me deixe ir...
Me deixe ir
Me deixe procurar a resposta que eu preciso conhecer
Me deixe encontrar um caminho
Me deixe andar afastada
Através da ressaca do mar
Por favor me deixe ir
Me deixe voar
Me deixe voar
Me deixe levantar contra esse céu de veludo vermelho-sangue
Me deixe perseguir isso
Quebrar minhas asas e cair
Provavelmente sobreviver
Então me deixe voar
Me deixe voar...
Por mais que tentasse
se alegrar por seus amigos, seu coração estaria sempre
chorando.
De longe ela acompanhou tudo e todos, fazendo-se
presente quando era chamada mas nunca chegando voluntariamente.
Aos
poucos, tentou libertar-se da presença daquelas pessoas que
tanto amava... mas sempre voltava, mostrava seu sorriso e balançava
a cabeça quando questionavam se estava bem.
No casamento de
Draco e Gina, mais uma vez foi madrinha. Chegou a recusar, mas acabou
deixando-se convencer quando Gina pediu para todo o resto da família
e amigos ajudarem. Tomou o cuidado de estar sorrindo sempre, com seu
afilhado no colo, por que Deus? Por que ela seria sempre isso... A
madrinha?
Sentia-se feliz quando o pequeno Sirius apertava seu
dedo com a mãozinha e nunca reclamava se o menino puxava-lhe a
corrente ou os cabelos.
Fred e Jorge deram as graças com
seus fogos novamente, dessa vez tomando o cuidado para que eles não
se 'animassem' tornando possível que pudessem ver um
espetáculo durante toda a festa que parecia não ter
hora para acabar, pois a noite se aproximava e os convidados não
pareciam dispostos a partir ainda.
Harry e Mione estavam muito
gratos a Mel, ela se propôs cuidar do pequeno Sirius naquela
noite permitindo que o casal dormisse uma noite completa.
E no
jardim da Mansão Malfoy, Melissa sentou-se em um banco com a
criança ressonando em seu colo, a noite estava quente e os
vagalumes disputavam com pequenas fadas a iluminação
das roseiras. Ao seu lado estava o buquê que acabou caindo em
suas mãos, rosas vermelhas e gardênias.
De longe,
acompanhou a partida dos noivos para a lua-de-mel e silenciosamente
acenou, desejando felicidades eternas.
Me deixe correr
Me deixe correr
Me deixe percorrer a crina da chance até o sol
Você sempre esteve ali
Mas você pode me perder aqui
Agora me ame se você tiver coragem
E me deixe correr
Sozinha, após um jantar n'A Toca, reparou em
como não se encaixava naquele quadro de família feliz,
era madrinha de Sirius e agora também da pequena Christie,
filha de Gina e Draco. Era engraçado como alguns anos antes,
via Harry perdido e achava-se segura de si mesma, penalizada pelo
sofrimento do amigo. Agora ele estava feliz, achou seu lar, sua
família, seus amigos... Ela ficou para trás, como
poeira debaixo do tapete. Com Draco foi muito parecido, ela foi feliz
enquanto estavam juntos, mas foi fácilmente descartada, ele
passou para outro 'pavimento' como ele preferia falar para suas
passagens de vida.
Caminhando pelo jardim, viu Lupin sentado em um
banco e quando sentou-se ao seu lado e olhou-o nos olhos...
compreendeu porque estava ali.
Ela não vivia por sua
felicidade, sua razão de estar ali era a felicidade daquelas
pessoas. Sua existência estava marcada para confortar a solidão
daqueles que estavam destinados a sofrer. Desviando o olhar para as
próprias mãos, viu que não tinha marcas ou
danificações, não havia riscas nem linhas e
sorriu de si mesma, ela não era um ser humano, por isso a
professora Sibila nunca previu seu futuro, por isso Dumbledore sempre
a manteve perto deles, dos que estavam destinados a enfrentar toda
aquela dor. Remos sorriu para ela e passou a despejar em seus ouvidos
todas as suas incertezas, seus temores e pesadelos. Suas tristezas
tocaram profundamente a garota que segurou suas mãos calejadas
entre as suas e deu-lhe o conforto que precisava naquele momento. Ela
amava a todos eles porque foi criada para isso, os sofrimentos deles
seriam transferidos para ela aliviando assim o coração
daquelas pessoas especiais e queridas. Quando Remos chorou
silenciosamente em seu ombro e ela beijou-lhe cada lágrima com
carinho suas dores eram as delas e ele jamais voltaria a sofrer
daquela forma.
Seria assim... sempre.
Eu estou viva e eu sou verdadeira para meu coração agora - Eu sou Eu,
mas por que a verdade sempre me faz morrer?
Me deixe quebrar!
Me deixe sangrar!
Me deixe rasgar com força, eu preciso respirar!
Me deixe perder meu caminho!
Deixe-me perder!
Para prosseguir talvez...
Apenas me deixe sangrar!
Me deixe drenar!
Me deixe morrer!
Me deixe quebrar as coisas que eu amo, eu preciso chorar!
Me deixe queimar isso tudo!
Me deixe alcançar minha queda!
Através do fogo purificador!
Agora me deixe morrer!
Me deixe morrer...
Me deixe para fora
Me deixe desfalecer através dessa escura noite de veludo
Fim.
