Prólogo
Nevara há pouco. O céu estava encoberto por nuvens levemente cinzas, em nuanças de inverno.
Ela afastara-se do castelo coberto pela neve, assim como as árvores ao redor da floresta para a qual estava se dirigindo. A Floresta Proibida. Em alguns instantes, continuava a caminhar sem rumo, deixando atrás de si um rastro de profundas pegadas. Mais à frente, podia ver outros rastros, talvez seus, poderia estar andando em círculos. Não sabia. Algo a impelia a continuar. Aproximou-se e abaixou-se para analisar melhor. Constatou, então, que as pegadas não eram suas, pois havia muitas.
Avistou um objeto, quase imperceptível, brilhando em meio às marcas no solo branco. Eram óculos. Tocou levemente o objeto, mas não ousara removê-lo do gelo.
Um pouco mais à frente, saltando aos olhos pela pureza alva da neve e de tudo ao redor coberto por ela, havia uma pequena mancha vermelha. Chegando mais perto, viam-se outras marcas próximas, seguindo uma direção.
Parecia-lhe sangue.
Continuou seu caminho, mas não muito longe de onde encontrara as manchas, deparou-se com uma cena totalmente inesperada e confusa. Destacava-se da neve uma das mãos e parte do rosto de um homem soterrado, possuía cabelos negros curtos e pele clara. Seus lábios arroxeados pelo frio. Harry?, inquiriu a si mesma.
Notou um outro homem que reconheceu de imediato. Suas madeixas ruivas emoldurando um rosto extremamente pálido. Mantinha-se de pé a muito custo. Viam-se vários cortes nas pernas, muito pouco sobrara das calças, e provavelmente vinha desses cortes o sangue que vira sobre a neve. A brancura do tórax exposta ao tempo frio, sua pele manchada pelo sangue rubro.
Paralisou por alguns momentos. Sem saber o que pensar. Assistindo àquela cena bizarra.
Recuperou-se do choque e moveu-se na intenção de ajudá-los, mas uma risada estridente que parecia o tilintar de metal, reverberou pelo ar, desviando sua atenção.
Não reconheceu o som, mas vinha de algum lugar atrás de si.
Hesitou entre ajudar seus amigos e seguir a risada fantasmagórica, mas seus instintos diziam para seguir a voz medonha. Correu na direção da qual ouvira o esganiçado som, subitamente já empunhava sua varinha e apontava-a para o indivíduo.
O ser apresentava uma forma difusa e embaçada, e segurava em uma das mãos um amuleto que emanava um brilho quase ofuscante. A outra mão apontava para um homem que tinha cabelos como um manto feito de escuridão, na altura dos ombros. Suas vestes negras esvoaçando com a brisa fria. Encontrava-se suspenso no ar, e parecia inconsciente.
Observou em volta, assustada com o quadro que se formava a sua frente. A neve pura, maculada por cinzas de alguns corpos carbonizados, destroços de árvores e sangue. Corpos de bruxos e criaturas, conhecidas e estranhas, amontoavam-se ao redor das duas figura, que pareciam ignorar sua presença.
Então, o homem abriu os olhos: eram ônix. Estranhamente, apesar da distância, podia ver perfeitamente seu rosto, e sabia o que ele pensava ao fitá-la e reconhecê-la. O terror que habitava sua mente, era como se ecoasse em sua própria.
Acordou.
Raios de luz batiam contra o vidro da grande janela, fechada por pesadas cortinas, atravessando displicentemente a única fresta e refletindo em seus olhos castanhos. Em sua testa gotas de suor brilhavam, e estava abafado, apesar do feitiço de resfriamento que pusera no quarto. Era um ensolarado dia de verão, mas não se sentia muito confiante do que estaria por vir.
Continua...
N/A: Como notaram, este é somente o prólogo. Será uma NC mais para frente. Sem data prevista para o próximo capítulo.
