Capítulo I- O inaceitável.
Nem a nublada noite tiraria a magia daquele momento. Ao redor do recinto as velas choravam e iluminavam o ambiente, deixando o característico aroma de parafina misturar-se ao de eucalipto do incenso que ardia em brasa.
A suíte presidencial do hotel tinha uma vista privilegiada das luzes da cidade, com a vantagem de ter o maior espaço físico para acomodar as famosas telas, já vendidas, de um dos artistas mais famosos da atualidade.
Fumando o seu charuto Havana, Inuyasha posicionava-se no parapeito da janela com o objetivo de pintar a coisa mais linda que ele havia visto: a mulher nua em sua cama. A mulher de pele alva e os cabelos negros como a noite que eram iluminados pela pequena chama das velas e as luzes coloridas que faziam aquele pequeno espetáculo noturno assemelhar-se a um sonho.
Os lençóis pálidos que roçavam de leve na pele da moça pouco escondiam suas virtudes, a suave brisa contribuía para que mais e mais fosse revelado daquele dorso perfeito. Não resistindo à sua musa, Inuyasha largou o pincel e secou um pouco da tinta em sua calça já repleta de cores secas. Caminhando com os pés no frio chão de pedra observou mais de perto aquela visão por poucos segundos antes de afagar-lhe os cabelos gentilmente e tocar-lhe o rosto aveludado com a mão suja de tinta.
A jovem sorriu ao reconhecer o carinho do amado, que era sempre acompanhado do odor de solvente antes de abrir os belos orbes da cor do céu. Afastando os cabelos prateados do amado com a sua pequena mão, a musa então enlaçou os braços ao redor do pescoço do rapaz e beijou-o sedutoramente, fazendo-o deitar ao lado dela.
'Meu céu...' Sussurrou ele com voz rouca ao fitar os olhos da amada.
Subitamente a bela mulher começou a contorcer-se de dor, e o alvo lençol adquiria a tonalidade vermelha, deixando Inuyasha descontrolado.
'Kagome! Minha Kagome! O que você fez! 'Gritou ele descontrolado ao ver a mulher que amava ficar pálida como um papel e perder os sentidos lentamente.
'Inu..ya...sha...per..dão... 'Balbuciou Kagome tocando o rosto do rapaz, tingindo-o de sangue antes de desfalecer.
Inuyasha enrolou-a no lençol e carregou-a até o corredor o mais rápido que pode. Apesar de estarem no último andar a suíte possuía um elevador privativo, que não demorou a chegar. Precisava chegar ao hospital o quanto antes.
Flashback:
Em uma pequena galeria de arte moderna
'Que porcaria! Parece um borrão!' Exclamou a jovem ao ver o quadro sem pé nem cabeça.
'O que falta na tela?' Indagou o rapaz por trás da jovem.
'Tudo! A começar por inspiração'. Disse ela esboçando um sorriso sem graça.
O rapaz hipnotizado pelos os olhos azuis da jovem e encantado pela sua franqueza sorriu genuinamente para ela.
'Obrigado pela ajuda, vou tentar melhorar da próxima vez. Algo me diz que estarei mais inspirado.' Disse ele piscando levemente para ela.
'Eu sou Kagome.' Apresentou-se ela estendendo a mão para o rapaz
'Inuyasha.' Disse ele retribuindo o cumprimento.
'Será que você poderia posar para mim? Certamente com você como minha modelo eu não conseguiria estragar o quadro nem se eu quisesse!' Inuyasha olhava para a jovem esperançoso.
Kagome sentiu-se tentada a seguir o belo hanyou de madeixas prateadas. Não sabia o porquê, mas por um instante lhe parecia certo sair da galeria com aquele desconhecido e ,abandonar o namorado de cinco anos na fila da máquina de refrigerante.
'Certo... vamos então?' Perguntou ela estendendo sua delicada mão para Inuyasha. Desejava que o pintou pegasse sua mão e a arrastasse dali o mais rápido o possível, antes que ela mudasse de idéia.
Como se ouvisse os pensamentos de Kagome, Inuyasha tomou a mão de sua musa inspiradora e então levou-a para longe da galeria. Agora que finalmente a havia encontrado não a deixaria fugir.
Inuyasha estava sentado na sala de emergência a espera de notícias de sua Kagome. Não podia perdê-la, não agora depois de tudo o que passaram. O rapaz passava a mão em seus cabelos indomados na esperança de que esse gesto o acalmasse em vão.
O hanyou estava como saíra do apartamento, pés descalços e sem camisa. O seu estado físico estava de acordo com seu estado mental, totalmente fora de lugar. Pensava em sua musa, não ela era mais do que isso, era a mulher de sua vida. Sabia que ela tinha voltado a beber, por mais que não quisesse aceitar isso sempre encontrava miniaturas de uísque em sua bolsa. Lembrou-se da última vez fez que flagrou-a após uma recaída.
Flashback
'Você faltou novamente a reunião dos AA. Onde você se meteu, Kagome?' Indagou Inuyasha preocupado ao fitar o semblante da esposa. O rímel borrado, a roupa amarrotada e o cabelo desgrenhado confirmavam que ela havia bebido.
A jovem passou pelo amado, esbarrando-lhe no ombro para forçar passagem. Kagome atravessou a sala e jogou-se no sofá, sentou-se na penumbra ignorando a presença do rapaz.
'Eu saí do ateliê e fui direto para o encontro dos AA! Não podia vir buscá-la porque a tela precisa ser entregue amanhã, o cliente pagou adiantado. Eu te falei, Kagome! ' Reclamou o esposo indignado colocando as mãos nos bolsos para não sacudir a jovem e trazê-la a realidade.
'Foi por causa desta merda de cliente que o nosso filho morreu.' Pronunciou-se a mulher com um misto de raiva e tristeza na voz, sentando-se no sofá um pouco mais ereta.
Inuyasha mirou Kagome de modo gentil, sabia que indiretamente, ela tinha razão. Com passos pesados chegou até aquela mulher que era o único motivo dele continuar vivendo. Se não estivesse trabalhando até tarde Kagome não teria ido visitá-lo no ateliê com o filho deles, e consequentemente, sua família não teria passado por um tiroteio. Assim, o garotinho deles não precisaria ter perdido a vida.
O jovem sentou ao lado dela deixando que Kagome deitasse a cabeça em seu colo. Inuyasha ouvia o pranto da amada em silêncio, cada lágrima que molhava seus joelhos era como se adagas se cravassem em seu coração. Sentindo-se impotente ele apenas deixava que ela extravasasse a sua dor em seus braços.
'S..o...u...t...a...' .Balbuciou Kagome o nome do filho que tinha apenas 9 meses. Ao ouvir o nome do pequeno, Inuyasha deixou que uma lágrima solitária escorregasse por sua bochecha.
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Maldita bebida, maldita válvula de escape.' Murmurou o pintor baixinho.
Apesar de saber que Kagome demoraria a superar a morte do filho jamais pensou que ela se entregaria à bebida. Amava-a demais, assim como amava seu filho, que fora vítima de uma bala perdida.
A enfermeira chamou Inuyasha, arrancando-o de seus pensamentos. O rapaz levantou-se, estendendo as costas para falar com ela. A cada palavra da mulher as lágrimas molhavam o seu rosto, não queria acreditar no que ouvia.
'Você tem certeza?' Perguntou ele a enfermeira com a voz pouco firme.
'Infelizmente sim, senhor. A paciente estava grávida de uma criança acéfala, devido ao álcool. O embrião não resistiu e foi abortado naturalmente. A paciente, que já possuía uma infeção no útero não poderia engravidar em sua atual condição. Acabou não resistindo a hemorragia.'
Inuyasha caiu de joelhos ficando em estado catatônico não acreditando em sua triste realidade.
Um mês depois
O artista olhava o quadro pronto a sua frente que retratava uma bela mulher deitada sobre uma cama, com o corpo iluminado por velas e luzes coloridas. Será que é isso que Kagome tinha se tornado para ele, um sonho?
Sim , ela tinha se tornado um sonho devido à escolha de ambos, pelo fato de não reagirem, de se entregarem à dor. Sem perceber Inuyasha e Kagome traçaram um destino inaceitável para suas vidas.
Recado da NandBom, esse é um short fic de três partes. Sabe quando você se pergunta como seria a sua vida se fizesse isso ou aquilo? O que eu tentei fazer foi uma pequena história mostrando como as "pequenas escolhas" afetam o futuro . Essa é a história mais triste... as outras serão menos down, eu espero (apesar de terem problemáticas diferentes)! Ainda faltam : o Inevitável e o improvável.
Antes de me xingarem, peço que leiam "o inevitável". Eu resolvi começar com "o inaceitável" por ser a história mais ácida (na minha opinião) e eu sempre quis fazer isso... mas garanto que eu posso me redimir com a próxima. Agüentem uma semaninha só, please!
(em off: idéia baseada no filme fantástico "Corra Lola corra", que é alemão. Já o Hollywoodiano "Efeito Borboleta" foi 'chupado' doprimeiro filme. Quem não viu vale a pena. Já adianto que ele também tem 3 partes...- -'' ao menos o meu enfoque é diferente Nand tenta amenizar a cópia, mas pelo menos teve a decência de dar os créditos a quem merece)
Obrigada por lerem,
Nandykboo
