Sempre há uma escolha

Capítulo 2- O inevitável

A modesta casa precisava de reparos. Era pequena com um jardim abandonado em sua entrada. Em seu caminho haviam árvores secas, de trocos grossos e retorcidos como se dançassem um louco ballet. A residência de aspecto selvagem e sinistro tornava-se ainda mais peculiar durante à noite. Hoje especialmente, a neblina cobria a lua minguante, mas ao contrário da usual morbidez a aura do lugar era nostálgica.

Na estreita varanda, Inuyasha disputava um espaço entre o cavalete e as tábuas quebradas no chão. Misturava as tintas no pequeno recipiente branco esmaltado com a finalidade de dar vida a sua próxima obra de arte. No entanto não conseguia se concentrar, o encontro que tivera com aquela jovem na galeria à tarde não saía de sua cabeça. Tentara em vão procurar uma tonalidade que fizesse juz àquelas belas safiras cintilantes, estava diante de uma Deusa e deixou-a escapar. Jogou os pincéis na água desistindo, não conseguia reproduzir aquele céu luminoso que tinha em suas lembranças.

O artista afastou-se do cavalete e, com suas mãos azuis de tinta, pegou o delicado cordão aproximando-o de seus orbes dourados. A esfera feita de quartzo rosa era presa por uma fina corrente prateada cheia de pequenos cristais que refletia os olhos cor de fogo do rapaz.

"E eu nem soube o nome dela..." Disse ele num fio de voz analisando o objeto.

Flashback

Em uma pequena galeria de arte moderna

"Que porcaria! Parece um borrão!" Exclamou a jovem ao ver o quadro sem pé nem cabeça.

"O que falta na tela?" Indagou o rapaz por trás da jovem.

"Tudo! A começar por inspiração." Disse ela esboçando um sorriso sem graça.

O rapaz hipnotizado pelos os olhos azuis da jovem e encantado pela sua franqueza sorriu genuinamente para ela.

"Obrigado pela ajuda, vou tentar melhorar da próxima vez. Algo me diz que estarei mais inspirado." Disse ele piscando levemente para ela.

A garota retribuiu o sorriso ainda envergonhada. Aquele hanyou era realmente atraente, ela nunca vira olhos daquela maneira, pareciam o Sol, duas labaredas incandescentes devorando-a . Colocou uma mecha teimosa atrás da orelha para desobstruir a sua visão.

A jovem hesitava em se apresentar, talvez porque soubesse que seria mais difícil namorar outro agora que tinha certeza que o homem dos seus sonhos existia. Umedecendo os lábios de maneira pura e ao mesmo tempo sensual ela tomou uma decisão: correr, ignorando o aperto em seu coração e os pedidos de "espere" do rapaz . Não poderia trair Houjo, afinal ele fôra seu amigo, confidente e namorado nesses cinco anos que estavam juntos.

Inuyasha observava a jovem afastar-se dele, sentiu que uma parte de si também estava deixando-o. Instintivamente olhou para o chão onde estava a garota e encontrou uma pequena gargantilha. O pintor aproximou-se do ornamento e pegou-o. Ao menos aquilo lhe lembraria que o encontro que tivera não fôra uma ilusão.

Duas semanas haviam se passado desde o inusitado encontro na galeria, o hanyou ia para lá todos os dias encontrá-la sem sucesso. Sempre usava para si a desculpa de encontrar um patrocinador na sua ida diária ao local, porém no fundo ele ansiava por ver novamente a jovem de olhos azuis.

Já eram três da tarde quando Inuyasha decidiu deixar a galeria. Vestiu o sobretudo marrom e pôs o cachecol vermelho ao redor do pescoço dirigindo-se a saída. Cumprimentou o recepcionista com um aceno e, antes de sair não pode deixar de prender a respiração.

Uma moça de cabelos longos e negros estava "admirando" um de seus quadros. Ela ria de forma contagiante, e o pintor sentia que a busca por sua musa inspiradora havia finalmente terminado. Caminhou decididamente em direção da jovem, virando-a de forma brusca.

"Você... não é ela..." Concluiu tristemente ao ver os olhos castanhos da moça. A mulher a sua frente era idêntica a sua musa: o mesmo tom de pele, a mesma voz, o mesmo cabelo... mas em seus olhos não havia o céu.

"Eu sinto muito por ter sido rude." Desculpou-se ele sinceramente, aquela situação já estava embaraçosa demais. A mulher abriu um lindo sorriso e fez uma pequena reverência, por um instante Inuyasha viu os olhos dela tornarem-se azuis.

Balançando negativamente a cabeça ele saiu do recinto. Aquela mulher estava deixando-o louco. Será que estava apaixonado por uma mulher cujo nome ele sequer sabia? Sorriu com o desatino e deixou suas criações por hoje.

Caminhava devagar pensando em suas desventuras. A tarde fria e o vento cortante congelavam seus ossos. Sua ambição em se tornar um artista famoso estava prestes a se realizar, precisava apenas pintar sua obra prima para sair da pequena galeria e expor suas criações em seu próprio espaço cultural, ou quem sabe até em um grande museu. Para isso ele precisava mais do que talento, precisava de inspiração.

Inuyasha suspirou cabisbaixo enquanto brincava com o gracioso colar, passando-o por seus habilidosos dedos. Ignorava os demais pedestres, imerso em seus pensamentos o jovem pintor traçava planos para o seu glorioso futuro no mundo da arte, mas no fundo sabia que sozinho não conseguiria reproduzir o seu melhor trabalho, precisava de uma musa para a realização de seus sonhos . O descuido de uma das manobras fez com que o ornamento escorregasse de sua mão caindo no chão, fazendo com que o pintor se abaixasse para pegá-lo.

Estava tão distraído que não havia percebido que uma pessoa ao seu lado também abaixara para pegar o objeto. A mulher fôra mais rápida e pegou-o com suas pequenas mãos. Inuyasha ia agradecer à jovem entretanto, ao fitar-lhe os orbes a voz se recusava a sair de sua garganta. A garota reconhecendo o seu pertence sorriu e mirou o pintor com suas reluzentes safiras.

"Não sabe quanto tempo o procurei, julguei que o houvesse perdido." Disse a garota com o colar em mãos e os olhos fixos em Inuyasha.

"Você... eu tentei devolvê-lo mas não a encontrei." Respondeu Inuyasha com a voz tremida, ainda sem distinguir se aquilo era real ou uma ilusão.

"Eu não estou falando do colar..." Disse a jovem aproximando-se mais do hanyou sentindo as batidas de seu coração acelerarem e a respiração ficar alterada.

Inuyasha deixou que a jovem se aproximasse até que seu corpo roçasse no dele. Sentia o hálito quente dela em seus lábios e esperou ansiosamente o inevitável, que não tardou a acontecer. A garota beijou-o como se esperasse toda sua existência apenas para isso, sentia as pernas pouco firmes e um desejo desesperado de ter aquele hanyou junto de si. O rapaz sentindo a suave pressão em seus lábios e o sangue correr quente por todo o seu corpo entregou-se a aquele momento que sempre sonhara desde a primeira vez que a viu, estava no céu.

"Meu céu..." Balbuciou ele fitando os olhos azuis dela.

"De que é o céu, sem o sol para iluminá-lo." Disse ela sorrindo mirando os olhos dourados do rapaz.

"Sinto como se em toda a minha vida estive a sua procura e eu não sei o seu nome." Disse Inuyasha encabulado acariciando os cabelos negros da jovem.

"Ficaria feliz se me chamasse sempre de "Meu céu"... mas se preferir pode me chamar de Kagome." Respondeu ela divertida.

"Eu sou Inuyasha, a não ser que queira me chamar de "Meu sol"." Declarou ele sorridente.

"Apelido bem pertinente para o "astro rei" do meu coração." Concordou Kagome, sendo beijada em seguida por Inuyasha.

Dois anos depois

A pequena casa havia sido reformada. O jardim agora cuidado por Kagome era cheio de vida, que também possuía belas árvores de cerejeira que estavam em flor. O ambiente tornou-se familiar e acolhedor, e as risadas do primogênito completavam a atmosfera de felicidade.

Kagome tinha o filho em seu colo, Souta que já estava com nove meses. A criança herdara os olhos azuis como os dela e sua pele alva, já os cabelos eram prateados como os do pai. Tirando as raras madeixas que eram idênticas as de Inuyasha, o pequeno parecia humano pois não possuía garras nem caninos.

Inuyasha arrumava suas tintas e pincéis em sua valise, apesar de ser tarde da noite o pintor insistia ir ao ateliê para terminar a tela que lhe fôra encomendada. Ele sabia que essa criação lhe abriria as portas do mundo da arte, mas precisava entregá-la no prazo, caso contrário perderia a chance de ser reconhecido por suas obras.

A jovem mãe estava com um aperto em seu peito, algo lhe dizia que o marido não deveria sair de casa hoje, por mais que significasse sacrificar a carreira dele. Seu sexto sentido lhe implorava que o fizesse mudar de idéia. Não lhe importava que estavam passando por dificuldades financeiras, mas ela sabia que se Inuyasha saísse de casa suas vidas mudariam para sempre.

"Kagome, isso é um absurdo! Eu sou um hanyou e sei me defender!" Exclamava o pintor nervoso, evitando olhar nos olhos da esposa.

"Meu sol... por favor, me escute. Não posso deixá-lo ir, preciso de você ao meu lado e do nosso filho... haverá outras oportunidades de alcançar o sucesso." Disse ela entre lágrimas. Seus olhos azuis agora pareciam o oceano em uma grande tormenta.

No fundo Inuyasha sentia que ela estava certa, por mais que não quisesse admitir também estava com o coração pesado. Fitou os orbes da esposa e tocou sua pele aveludada. Kagome fechou os olhos e sentiu as mãos do esposo acariciar-lhe gentilmente o rosto, descendo até o pescoço onde o pintor pegou a pequena esfera rosa servia de adorno a bela mulher.

"Como soube?" Indagou ele ainda com a mão sobre a jóia, tirando-a do transe.

"Soube do que?" Retrucou ela olhando-o curiosa

"Que nós nos reencontraríamos." Disse ele com voz rouca roçando os lábios dele de leve nos dela.

"O quartzo rosa é a pedra do amor. Sabia que um dia essa esfera me traria o meu verdadeiro amor. Soube que era você no momento que o vi, mas estava comprometida a outra pessoa. Fugi com medo de trair a confiança de uma pessoa que até aquele dia era tudo para mim, apesar de sentir que não estava destinada a ela. Terminei o relacionamento naquele mesmo dia, não poderia ficar com Houjo pensando em você. Sabia que o veria novamente, o nosso amor era simplesmente..."

"...Inevitável" Concluiu Inuyasha, beijando-a em seguida. Após o provar dos lábios da esposa deu um leve beijo na testa do filho e abraçou-os.

Naquela noite Inuyasha cedeu aos apelos de Kagome e ficou ali, no seio de sua família. O sucesso nunca chegou, mas apesar disso o pintor não se queixava, pois no dia seguinte soubera do tiroteio que havia acontecido naquela noite. Seu "céu" que pertenceria ao mundo através de suas telas agora era só dele, seu paraíso particular, sua musa inspiradora, seu eterno e inevitável amor.

Recado da Nand

Primeiro de tudo, muito obrigada por lerem! Estou muito feliz que estão acompanhando essa pequena fic, que foi feita de coração!

Lady Gi : Fico feliz que tenha gostado, espero que você também curta o capítulo 2! Tá bem meloso, bem água com açúcar... mas é assim que eu estou me sentido no momento . Mas como vc pode ver dessa vez Inuyasha teve a família, e não o sucesso. (ás vezes não se pode Ter tudo, né?)

Tamaga: Aqui está o inevitável! Sei que o inaceitável foi triste... tanto que o título disse tudo! Essa é mais feliz, apesar de não fazer muito o meu estilo, curti fazê-la. Não sou muito dada a finais felizes com tudo perfeito, então tive que tirar alguma coisa, mas sabe que agora até gostei do resultado? Hehe . Diga o que achou desse capítulo, talvez eu me anime a escrever mais romances romanticos!

Nika: Pekenuxa! Fiquei realizada quando você disse que curtiu esse capítulo! (que foi escrito graças a persistência dessa minha querida mami ) mas no fim, eu tenho que admitir que foi bom demais para mim! Espero melhorar as minhas fics com o passar do tempo, e seu apoio tem sido crucial para mim (tanto para minha primeira e xodó "Sussurro na Alma" quanto para essa Segunda short fic). É bom que todos saibam que foi graças à você que eu me aventurei no site! Obrigada por tudo, Miga!

LP Vany-Chan: Oi! Eu infelizmente ainda não vi "A dona da História" mas verei, verei! Boa narração? O. O íxi, eu me esforço bastante... obrigada! Tenho muito que melhorar, ainda... mas esse é um apoio fenomenal, sem dúvida! Me critico bastante antes de postar alguma coisa, nunca está bom o suficiente, na minha opinião... mas é sempre ótimo quando as pessoas percebem que a gente tá dando o melhor de si. Valeu pelo comentário, beijão!

Tenshi- Yuki: Amiga! Você veio me prestigiar! Tou tão filiz!

Estranhou a fic? Não tem nada a ver com a minha personalidade... mas foi um surto positivo, hehe. Quem sabe (quando eu tiver na TPM denovo... - - ) eu faça mais romances? Me diga o que achou e sugira coisas também! Kissus!

Ps: Por favor, sugiram, briguem, façam tudo o que tiverem vontade! Mas me deixem saber o que acharam, tá? Se disserem : Fernanda, tá uma m! Fiquei à vontade, mas me digam aonde eu errei para que eu possa melhorar, se disser que tá ruim mas não disser o porque eu não vou aprender...

Valeu pela paciência, kissus da Nand