Capítulo 2 – Nas Assas do Corvo

Foi nesse momento que eu o vi, Harry Potter.

O moreno de cabelos revoltos que era o grande herói do mundo mágico, sentado ao meu lado. Eu não notara sua entrada, nem que ele sentara-se à mesa, ao meu lado. Estivera tão hipnotizada pelos olhos prateados e a voz de Draco Malfoy, mas agora eu notava um certo antagonismo entre os dois e me perguntei se o amor que os unia realmente havia desaparecido. Apagado pelas artes negras de Voldemort.

Malfoy se levantou e foi falar com Roserna, mas antes me deu um sorriso e uma sexy piscada de olho. Suspirei como uma adolescente e foi ai que Harry Potter começou a falar:

- Relaxe, ele seduziria até uma pedra!

A voz dele era profunda e aveludada. Olhei em seus olhos, aquele verde garrafa profundo que eram os olhos daquele moreno forte.

Não restava nada do menino pequeno e franzino. Ali estava um homem jovem, forte e orgulhoso. Alto e ágil, ali estava o salvador do Mundo Mágico, então ele sorriu e eu vi o menino por quem Draco Malfoy se apaixonou.

"Agora é minha vez de narrar para você e tentarei trazer luz a uma historia cheia de trevas.

Só recentemente eu consegui lembrar de tudo o que aconteceu naqueles três anos que Voldemort tentou me roubar.

Eu acordei do coma mágico com a voz dela, foi ela dizendo: 'Anda dorminhoco, é hora de ver o mundo'.

Engraçado, não? Meus amigos tentaram de todas as formas me acordar e depois disso me fazer lembrar, mas foi ela, a voz de uma pessoa morta que desencadeou o processo.

Depois que eu acordei, ainda sem saber de nada, depois de tudo, foi isso a voz dela falando comigo! Só depois eu lembrei daquela detenção, de sentir o corpo de Draco ao meu lado, exausto e machucado como o meu, e do sabor daquele beijo, nosso primeiro beijo.

Por que correspondi? Não sei, só sei que eu o queria. Descobri que o desejava quando ele parou de me perseguir.

Foi estranho, ele sempre esteve ali, me provocando, instigando e repentinamente não estava mais. Ficava a distancia como se eu não existisse, como se eu não importasse. Eu agüentei calado durante todo o sexto ano. Ele desistira do Quadribol, mas eu o via voar relaxado pelo campo quando achava que ninguém via.

Eu ouvia as acusações e deboches que a sonserina fazia por causa da mudança de comportamento dele, e eu o vigiava pelo Mapa do Maroto e esperava.

Durante todo o sexto ano eu esperei pela volta de meu inimigo, meu contrario. Iludindo-me, achando que era só um plano para se aproximar, mas ele nada fez para chegar perto de mim ou dos meus. Quando o sétimo ano começou, eu não agüentei, ele me ignorava completamente e então foi minha vez de fazê-lo me notar, de infernizar sua vida para provar que eu estava lá.

Eu revidei seis anos em apenas um. Até Rony e Mione me repreendiam algumas vezes quando eu pegava pesado demais. E isso me dava ainda mais revolta, pois meus melhores amigos se punham contra mim e a favor de Draco.

E toda a raiva e revolta que eu sentia acabou naquele beijo no chão da sala de Poções.

Quando fomos interrompidos, eu temi que fosse Snape e confesso que não fiquei nada feliz ao ver Draco ser abraçado por alguém com tanta emoção, ou falar com voz tão amorosa. Claro que eu não sabia que a mãe dele tinha desaparecido, nunca seria insensível a ponto de usar isso para machucá-lo.

Mas deixe-me contar o que aconteceu quando ele saiu da sala.

Ela, Ana, me olhou longamente e curou meus ferimentos. Eu não esperava isso de alguém tão próxima há Draco, da idéia que eu fazia de Draco naquela época.

Ela baixou o capuz da capa, deixando cair seus longos cabelos negros e sorriu para mim, era linda, e me olhava com desconfiança.

- Quem começou os socos?

- Ele.

- O que você fez? – ela parecia desnudar minha alma – você falou da mãe dele? Você o provocou com Narcisa?

- Sim. Eu não sabia, se eu soubesse, eu nunca...

- Eu sei, você não faria de propósito.

Eu tinha começado a arrumar as coisas, constrangido demais para olhá-la e ela fez um simples gesto com a mão, arrumando tudo.

Eu ia agradecer e perguntar como ela me curara e arrumara tudo sem usar a varinha, quando Snape entrou falando:

- Anastácia, ele já está com a mãe, mas ela não vai agüentar muito mais. Vá até lá, ele precisa de você. Você é tudo o que restou para ele agora!

- Sim, Severo, eu já vou até ele!

- Potter, acompanhe-a. Lupin está na enfermaria também e quer falar com você.

- Sim, professor.

Ela parou para abraçar Snape e eu pude ver o prazer com que Snape recebeu esse gesto, confesso que fiquei muito chocado em ver Snape tendo prazer em algo que não fosse atormentar alguém. Depois ela se afastou, e começou a andar apressada, quase correndo. A capa e os longos cabelos dela pareciam às asas de um corvo.

Ela entrou apressada, abrindo a porta da enfermaria. Ai a postura dela mudou. Toda a pressa foi esquecida na porta. Ela entrou calma, exalando um perfume floral que eu só associo a ela. Ela andou até Draco, tocando-lhe as costas, mostrando que estava ali.

Eu vi a mulher deitada na cama, ela não lembrava nada da imagem que eu tinha de Narcisa Malfoy. Parecia mais humana e muito, muito doente.

Aproximei-me de Lupin, mas ele nada me falou, parecia tão fascinado quanto eu no que se desenrolava na cama ao lado.

Draco chorava, apertando a mão da mãe, e sorria também, parecendo um menino feliz. Narcisa sorria com felicidade fraca, e pegou a mão de Ana também.

- Você me promete, Ana. Promete que vai protegê-lo? – Narcisa perguntou.

- Sim, Narcisa, com minha vida se for preciso – Ana respondeu.

- E que vai apoiá-lo e que vai estar ao lado dele sempre? – tornou a perguntar a enferma.

- Sim.

Narcisa sorriu e uniu as duas mãos. A de Ana e a de Draco, morreu com um suspiro de contentamento nos lábios. Draco olhou diretamente para Ana e perguntou:

- Isso é uma promessa? – perguntou o loiro

- Não, é um juramento!

Eu sei que ela falou aquilo para ele, mas foi pra mim também, em minha mente eu lembrei desse juramento. Estranho não?

Nunca tinha visto ela antes, mas foi como seu eu lembrasse de algo a muito esquecido. Aquele juramento, aquela voz.

Na minha cabeça, enquanto Lupin me olhava, eu ouvia a voz dela dizendo:'Eu juro que sempre vou estar com você, mesmo depois do fim dos tempos. Eu vou estar com você', estranho, não?

Só mais tarde, na batalha em que nós a perdemos, foi que eu entendi o que ela estava dizendo".

- Há quanto tempo ele está chorando? – Draco perguntou, interrompendo Harry.

- É minha vez de contar a história – respondeu o moreno.

- Como se alguém confiasse na versão de uma pessoa que esqueceu do próprio filho! – o loiro espetou.

- Draco, não enche! – Harry se virou para mim – ele adora apelar para isso! Sabe, no fundo ele nunca deixou de ser aquele menino mimado, sedento por atenção. Completamente egocêntrico.

- Ele fala isso por que Sírius gosta mais de mim do que dele – replicou o loiro.

- Viu, egocêntrico. Não consegue ver a verdade – o moreno falou rindo.

- Que verdade? – perguntou o loiro.

- Que todos me amam! – replicou Harry.

- E eu sou o egocêntrico – resmungou o loiro.

Eles me fizeram rir, e eu pude ver que era isso que eles pretendiam. Eu estava chorando também, pois entrara na história. Eu vira Anastácia Donovan, que tão tragicamente caíra em batalha. Caíra defendendo Sírius, o filho do amor de Harry Potter e Draco Malfoy.

- "Deixe-me falar o resto da história, Draco. Depois você volta a falar, como se alguém conseguisse impedi-lo de falar sua parte dessa história.

Lupin queria me falar sobre Ana. Sobre Narcisa e Draco Malfoy. Eu fiquei ali, ouvindo Lupin falando sobre o comportamento de Narcisa e a punição que ela tivera e enquanto o ouvia, eu via Draco abraçado Ana, como se toda a força que ele precisasse estivesse nela.

Minha mente só conseguia gritar que era a mim que ele estivera beijando até alguns minutos atrás. Fora a mim que ele agarrara. Foi a minha boca que ele explorara. Mas agora ele parecia só precisar de Ana, e eu tive raiva disso, muita raiva.

Foi então que a voz de Lupin chegou até mim, falando daquele jeito calmo dele:

- Anastácia Donovan é como uma irmã para Draco. Os Malfoy a criaram e ela viu Draco crescer. É bom esse rapaz ter ao menos uma pessoa para se apoiar, agora que os pais morreram pelas mãos de Voldemort. È bom que ele tenha alguém tão poderoso ao seu lado para protegê-lo da fúria de Voldemort.

Eu olhei para Lupin. Mortos pela mão de Voldemort, como os meus. Só que os pais de Draco eram seguidores de Voldemort.

Voldemort os traíra e matara, descartara-os sem piedade alguma. Olhei novamente para Draco, e notei que Ana não chorava, eu nunca a vi chorar, ninguém nunca a viu chorar. Só uma lagrima, a ultima e derradeira lagrima. Aquela que ela deixou cair quando a morte chegava veloz.

Mas isso é mais tarde. Naquele dia eu voltei para o salão comunal e puxei Rony e Mione para perto de mim. Contei a eles o que eu vira na enfermaria e o que acontecera na sala de poções, omitindo a parte do beijo, claro. Não ia falar para Rony e Mione que eu havia beijado Draco Malfoy e que tinha adorado isso!

Mione pareceu pensativa, analisando todos os dados do que eu falava, fazendo perguntas pertinentes. Rony já não era tão perspicaz, na verdade, ele foi até meio obvio demais.

- Ela deve ser uma Comensal, o braço direito de Você-sabe-quem – falou Rony convicto – por isso pode fazer magia sem varinha! Por isso pode curar com um toque. Ela deve ter te passado uma maldição. Ela...

Sorte a minha que Mione foi mais rápida e deu um cascudo em Rony, fazendo ele se calar. Pois contra sete anos de amizade, eu estava a ponto de socar Rony por falar assim de Ana. Eu mal a conhecera, mas ela me passara apenas bondade.

- Cala a boca Rony – Mione falou – Donovan, você disse, não?

- Sim – eu respondi.

- Os Donovan eram conhecidos por terem dons especiais com a magia. Uma familia muito antiga na comunidade bruxa. Parece que tinham sangue dos elfos.

- Elfos domésticos? Então ela deve ser muito feia – Rony falou.

Isso lhe custou mais um cascudo.

- Elfos, idiota. O Povo Antigo, você não lê não? – ralhou Mione.

Ela deu um suspiro desesperado quando notou que eu também não sabia do que ela estava falando.

- O Povo Antigo é o povo que estava aqui antes mesmo dos bruxos. Dizem que foi com esse povo que os bruxos aprenderam a magia. Os Donovan eram conhecidos por terem sempre uma ligação muito forte com o Povo Antigo. Eles são parentes dos Black, eu vi o nome de Kassandra e de Morgana Donovan na arvore da família Black.

Eu pensei sobre isso, Ana era parente de Sírius.

- Os Donovan também são conhecidos por sempre lutarem do lado do bem comum nas guerras mágicas. Uma família realmente interessante. Adoraria conhecer essa garota.

Eu vi o interesse de Mione, a sede por saber em seus olhos e vi que Rony também parecia querer conhecer Ana.

- Eu também quero ver quem é essa garota!

Eu remoí essa história por três dias, o tempo que foi dado a Draco para o luto e funeral de sua mãe. Quando ele voltou ao castelo, eu estava pronto para ele.

Pelo Mapa do Maroto, eu vi que ele estava na torre de Astrologia e fui até lá, queria muito falar com ele.

Não me importou que era noite, que eu não tinha permissão para andar no castelo naquela hora, nem de mentir para Rony. Eu queria e precisava falar com ele.

E foi nessa noite que eu me descobri completamente apaixonado por meu inimigo de longa data.

Ele estava na torre, em pé e orgulhosos. Ele olhava as estrelas, como eu muitas vezes fizera. Parecia uma estatua vestida. Belo e pálido ao luar.

Ele sabia que eu estava lá, só não se dignou a olhar para mim.

E eu me vi mais uma vez com raiva. Vi nas mãos dele uma carta. Uma carta que mudara seu conceito sobre seu pai.

Ele não me olhou, só estendeu a carta para que eu lesse.

Ainda me recordo daquela letra, a letra de um morto, um morto que eu odiava! Que ele amava tanto quanto odiava. Era uma carta de Lucio Malfoy.

Caro Draco.

Se essa carta chegar em suas mão, isso só pode dizer que tanto eu quanto sua mãe morremos, e diante de nossos atos, morremos pela mão do Lorde das Trevas.

Não quero que você comece uma cruzada por isso.

Não quero que você deseje vingança, quero que você ouça Ana.

Ouça aquele anjo que o destino pos no nosso caminho. Ouça-a.

Ela tentou de todas as formas nos fazer melhor, e quase conseguiu. Se não fossem os anos de trevas que nos corromperam a alma, ela teria conseguido.

Ainda posso ver os olhos enevoados dela cheios de lagrimas por causa de minhas ações. Ainda posso ouvir a voz dela dizendo que mandou o elfo domestico avisar Potter. Me desafiando pela primeira vez. Sim, foi o que ela fez.

Ainda posso sentir a decepção dela, a forma como ela me evitava, evitava minha maldade. Ainda posso sentir sua calada reprovação.

O que ela fez, fez por você. Foi há você que ela amou, foi por você que ela ficou entre nós, mesmo quando nossas trevas feriam seu coração.

Foi somente por você, e isso sempre me magoou.

Eu sempre quis que ela me amasse como lhe amava, sempre quis que ela me protegesse como te protegia, que ela me guiasse pela vida como te guiava. Sempre pronta para te amparar, encorajar e apoiar. Mesmo me amando, ela escolheu você.

Eu te achei fraco, e me enganei profundamente nisso. Eu achei, em minha cegueira, que o amor que você sentia por Ana o transformaria em um fraco marionete, em um homem que não fosse digno do nome Malfoy. Tolo eu, pois foi justamente esse amor que lhe transformou no mais forte e digno dessa casa e desse nome.

Fui eu quem desonrou nossa casa. Fui eu quem traçou o caminho de trevas e dor que eu e sua mãe trilhamos. Eu, e somente eu sou o responsável por todas essas mortes.

Agora eu me arrependo de não ter lhe mostrado meu amor e apreciação, agora quando já é tarde demais, quando você já é um homem, quando meus sentimentos e opiniões já não interferiram no seu destino.

Ana poderia te falar que eu não fui educado para mostrar sentimentos, e você diria que eu fui educado para não tê-los. Mas isso é mentira. Eu te amei, meu filho. Eu tive orgulho de ti. Eu fui um pai afortunado, e se não estivesse tão obcecado em te fazer uma cópia perfeita de mim mesmo, eu teria visto a pessoa incrível que você é, seu próprio brilho e gloria, seu próprio poder.

Você é o mais digno de nós, a perfeição de nossa estirpe. Olhando agora, quando meus dias são contados, eu vejo que não foi Ana a luz da nossa casa, foi você!

Minha vida, e a dos que vieram antes de mim, só tiveram um significado, criar você. Da nossa pura linhagem, fizemos você, com nossos erros e acertos, criamos você. O Dragão dos Malfoy, o orgulho de nossa linhagem.

Você meu filho é e sempre será a luz que iluminara as trevas do nosso nome. E foi por isso que Ana foi nos confiada, mesmo tendo outros parentes, mesmo tendo quem dela cuidasse e amasse, foi por você que ela nos foi confiada. Para poder criar você, para educar você.

Eu e sua mãe sabíamos disso, sempre soubemos. A certeza de que Ana estava conosco, não por nós mas por você, já foi discutida muitas vezes. Desde que ela deixou a escola e voltou para a Mansão, desde que ela escreveu a primeira carta para você. Desde que ela pediu a Severo que o protegesse.

Mas Ana não é o motivo dessa carta.

A carta de um morto chega a suas mão para lhe dizer o que esse covarde não pode lhe dizer em vida.

Eu te amo, meu Dragão. Sempre o amei, desde seu primeiro sopro de vida e o amarei até o ultimo e alem.

Deixo-o nas mãos de quem o amou mais do que eu.

Deixo-o nas mãos daquela que o protegera com a própria vida!

Amor,

Lucio Malfoy.

Eu olhei para ele. Ele não chorava, parecia estranhamente em paz.

- Ele me amou, nunca conseguiu falar, mas me amou – ele falou num sussurro – e só me fez saber agora, quando já não importa mais.

- Eu queria ter essa certeza – falei – a certeza de que meus pais me amavam.

Ele olhou para mim pela primeira vez e eu vi um certo divertimento naqueles olhos.

- Potter, eles deram a vida por ti. Como você acha que alguém da a vida por outro sem amá-lo?

- Ninguém mais me amou depois dele.

- Idiota. Acha que te seguem por que?

Ele deslizou até mim, silencioso. Agarrou-me pela nuca, como fizera na sala de Poções, e eu rezei para que me beijasse novamente.

- Por que eu sou o único que pode matar Voldemort!

- Não idiota, você só pode derrotar Voldemort porque desperta o amor de todos os que lhe seguem. Isso é um dom e um poder. Acima de tudo, um poder que Voldemort não possui e nunca possuirá!

E ele me beijou, como se o mundo fosse acabar se não o fizesse".

- Não se espante, ele é sempre dramático assim! Nada na vida dele pode ser simples e enfadonho, tudo tem que ter sentimentos transbordantes – Draco falou, interrompendo Harry mais uma vez.

Eu olhei para Harry, esperando sua resposta, mas ele simplesmente sorriu para mim como se disse-se: "E eu não mereço isso?".

Nota da Autora:

Ana-Malfoy: Harry não morreu, como esse cap. fala! Esse é mais um pra ti! Obrigado pelo apoio!

Maripottermalfoy : Não, Harry e Draco ainda tem alguma história. Não posso prometer o felizes para sempre porque é Harry e Draco! Beijos e obrigado.