Entrando no Livro 6…
Quando peguei no livro 6, no meio da multidão da livraria, à meia-noite do livro 16 de Julho de 2005, a sensação que me invadiu foi muito mais estranha do que eu poderia imaginar: senti o livro tremer nas minhas mãos… ou seriam as minhas mãos que estariam tremendo por ter agarrado um livro que eu tinha medo de ler? Inspirei fundo, segurando o livro com todas as minhas forças e saí do meio da multidão de gente querendo pegar um livro, de câmeras de televisão e de flashes de fotógrafos ávidos por uma imagem para colocar nas páginas dos jornais e revistas.
Sai dali sem nem olhar para os lados. O meu coração batia a mil por hora… e foi então que abri o livro no final. Eu não queria acreditar no que estava lendo. Era ruim demais! A J. K. Rowling não faria isso com a gente… ou faria? As lágrimas encheram os meus olhos, mas eu não podia dar parte de fraca. Não pude evitar uns comentários chocados, mas contive-me o máximo que eu pude. Hoje, acho que alguém no mundo mágico – provavelmente Dumbledore – me lançou um obliviate, para eu esquecer o que tinha lido enquanto estivesse lá.
Quando cheguei em casa, o livro voltou a tremer nas minhas mãos… e eu tive certeza que era o próprio livro que estava tremendo, sim. Assim que abri a primeira página, fui sugada para dentro daquelas páginas com cheiro de livro novo. Me senti "Alice no País das Maravilhas", ao cair por um túnel invisível. Tentei gritar, mas não saiu qualquer som. Andar de montanha-russa, comparado com aquilo, era como andar de bicicleta: uma coisa simpática e meiga.
Caí no escritório de Dumbledore, com um tombo que machucou as minhas costas. Olhei em volta, meio perdida… E lá estava ele, com a sua longa barba prateada, parecendo um Papai Noel, principalmente pelo sorrisinho de satisfação que bailava em seus lábios.
- Mary! – Exclamou ele, pegando a minha mão e ajudando-me a me levantar. – Você sempre veio!
Sorri, sem jeito, e só consegui murmurar:
- Sim, Diretor…
Só então lembrei que eu não era mais eu. Era… Seria? Teria mudado mesmo? Dumbledore soube o que eu estava pensando. Imediatamente, me apontou um enorme espelho, que conjurou com uma varinha, e disse, sem perder o sorriso:
- Veja você mesma.
Mesmo tendo certeza quase absoluta que aquilo ia acontecer, foi um choque para mim me olhar no espelho e não me ver… ou melhor, ver uma pessoa totalmene diferente da imagem que costumo ter. Ergui uma mão… e o reflexo no espelho ergueu-a também, na frente da minha. Ergui a outra e o reflexo fez o mesmo. Olhei as minhas roupas… Não havia dúvida: eu era Nymphadora Tonks… mas uma Tonks meio diferente daquela que eu havia conhecido: o cabelo colorido havia sumido e dado lugar a um cabelo curto, sim, mas bem fino com um ar bem menos punk e, acima de tudo, sem cor chamativa: estava castanho… e aquele cabelo castanho, curto e fino, me lembrou demais uma garota que fez teatro comigo e que dizia que tinha cabelo de rato. Soltei uma pequena gargalhada ao me lembrar dela e presumi logo desde então que teria que me esforçar para por em prática os "meus" poderes de metamoformaga; foi então que reparei, pelo reflexo do espelho, que Dumbledore me estendia alguma coisa. Virei-me para ele: era uma capa bruxa e uma varinha de condão.
- A capa e a varinha de Tonks… - Ao ver o meu ar interrogativo, ele continuou – Não se preocupe, tenho certeza que você vai saber como usar a varinha. Mas não esqueça: quanto menos gente souber quem você é, melhor. Agora, vá.
Olhei-o, confusa.
- V… vou? – Gaguejei – Vou para onde?
- Para a Toca. – Ele replicou. - É lá que está todo mundo.
- E… e vou como? – Inquiri.
Dumbledore não respondeu. Limitou-se a jogar um pozinho na lareira e o lume, que crepitava alegremente, como se estivesse me saudando, assumiu um tom verde-esmeralda, que me fez ter certeza do que iria acontecer: eu iria viajar pela rede de Flú.
- Bom… - Começou Dumbledore, piscando para mim. – Acho que você sabe o que fazer.
Anuí com a cabeça, sem conseguir articular uma única palavra e, a medo, coloquei uma perna na lareira. Tenho pirofobia – um medo enorme de fogo -, o que, como é óbvio, não tornou as coisas mais fáceis, mas eu tinha chegado até ali e não ia voltar atrás. Queria estar com Lupin, vê-lo de novo… mesmo que ele não soubesse quem eu era de verdade. Dumbledore não me proibira de contar para ninguém, mas me pediu discrição… Mas com certeza isso não incluiria Lupin. Afinal, era por ele que eu estava ali, disposta a viver uma vida que não era a minha, num mundo que não era o meu, ainda por cima um mundo em plena guerra.
Senti o calor do fogo verde me invadir, enquanto passei a outra perna e o corpo inteiro para dentro da lareira. Lembrando intensamente de Harry no livro 2, fiz questão de mastigar bem as sílabas, ao dizer: "A To-ca".
