Porque
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
( Sophia de Mello Breyner)
A semana tinha demorado a passar, pelo menos era o que Ron pensava. Hogwarts parecia mais cheia que nunca, principalmente comparada com o ano passado. Os professores eram todos os mesmos menos o professor Lupin, e a professora Clarkson, que ensinava poções. Não era tão talentosa comoSnape, que tinha morrido durante a guerra, ao ajudar Harry a chegar a Voldemort, para supresa de todos, quejulgavam que Snape estava do lado do mal.
No entanto,Clarkson ensinava muito melhor que Severus alguma vez ensinara.Além disso,estava a fazer os alunos do sexo masculino entrarem em rebuliço, devido aos seus cabelos negros e brilhantes e o seu sorriso irresistível.. Ron tentava não olhar muito para ela.
Naquele sábado, Ron levantara-se cedo, mas não tão cedo como Ginny, que já estava a tomar o pequeno almoço, quando ele chegou ao Salão Principal.
- Bom dia! – desejou Ginny, enquanto barrava manteiga numa torrada
- Bom dia…! Estou esfomeado! Passas-me as salsichas?
- Então, e a que horas vais visitar a Hermione? – disse a irmã enquanto lhe passava as tão cobiçadas salsichas – Eu também gostava de ir, mas com a quantidade de trabalhos de casa extra que a Clarkson me marcou! Vou ficar o dia todo a fazê-los!
Ron riu-se da careta que Ginny fez.
- Também, Ginny! Tinhas que lhe dizer que pedias desculpa por não te estares a babar para cima dela, como todos os meninos da turma estavam, só porqueela te pediu educadamente que parasses de falar com a Luna?
Ginny fungou depreciativamente, enquanto sacudia os cabelos:
- Ela irrita-me, o que é que eu posso fazer? É mais forte que eu. Acha-se tão boa!
- Bem, é melhor controlares-te se não te queres meter em problemas. Eu vou indo, disseà Hermione que estava em casa dela às onze. – Ron levantou-se apressadamente com duas torradas na mão– E já agora Ginny, eu sei que não tenho nada haver com isso, mas tu não podes evitar o Harry por muito mais tempo. Ele quer falar contigo sobre a vossa… er… relação.
Ron esperava ouvir a irmã dizer para ele ir dar uma volta, ou paranão se meter navida dela, mas ela apenas disse, com uma expressão triste:
- Sim, eu sei.
Harry acordara tarde, naquele sábado. Ron até já tinha ido embora e o dormitório estava vazio: Nem Simas, nem os dois alunos do primeiro ano, Richard Key e Cristian Margulis estavam.
Vestiu-se e dirigiu-se ao salão-comunal. Foi então que viu Ginny a brincar com o seu Pigmeu Penugento, o bichinho de estimação que comprara na loja de Fred e George, há dois anos. Estava muito quieta, de testa franzidae parecia pensativa.
"Vai ser hoje" pensou Harry dirigindo-se à ruiva
-Ginny… Precisamos de falar. Vamos para uma sala de aula para podermos falar mais à vontade, ok?
Ginny assentiu com a cabeça seguiu-o para fora do salão-comunal.
"Vai ser hoje" pensou Ginny.
A campainha dos Grangers tocou duas prolongadas vezes.
"É ele! Finalmente chegou!" pensou o Dr. Granger enquanto se dirigia a passos largos para a porta e a abria.
- Bom dia Sr. Granger! A Hermione est… - Ron interrompeu-se ao ver a expressão de aflição no pai de Hermione – O que é que se passa? Por favor, diga-me!
- É a minha filha, Ronald! Ela está outra vez a ter uma daquelas crises…
Ron não quis ouvir mais nada. Subiu as escadas e dirigiu-se ao quarto de Hermione, onde já tinha ido algumas vezes. Bateu à porta e entrou: Em cima da cama, Hermione chorava abraçada à mãe. Porém, ao avistar Ron, soltou-se do abraço e correu para o namorado, ainda de lágrimas nos olhos.
Ron abraçou-a com força, ao mesmo tempo que lhe beijava a testa. A Sra. Granger fez sinal a Ron e saiu do quarto, para que os dois pudessem falar à vontade.
Quando Hermione já se tinha acalmado um pouco, Ron começou a falar, muito baixinho.
- Hermione… O que se passa? Por favor, diz-me! Andas outra vez a pensar… naquilo?
-Sim, Ron! Ando…! Não me consigo esquecer do que fiz! Por mais que tu, o Harry, a Ginny e até o Ministério da Magia me digam que a culpa não foi minha… Eu não consigo! Não consigo deixar de me sentir culpada!
- Mas a culpa não foi mesmo tua, Hermione olha! – Ron arregaçou a manga do braço direito e mostrou-lhe a enorme cicatriz, que Hermione já conhecia, em todos os pormenores, de cor – Há alturas em que não temos tempo para pensar!É agir ou ficar a olhar impotente! Hermione, eu faria o mesmo que tu fizeste.
- Ron, eu matei uma pessoa, um dos nossos… Se ao menos eu pudesse falar com a família dele… Se eu pudesse explicar! Mas não posso!
- O Ministério ainda está à procura deles. Mas ao que parece, os familiares refugiaram-se fora do país… Ainda não os conseguiram encontrar.
Hermione ficou calada. Ron limpou-lhe as lágrimas que lhe escorriam dos olhos, com cuidado.
- Já passaram três meses. Hermione, tu tens de te tratar. Tens de ultrapassar isso. Prometes-me que vens comigo a Sto Mungus, para falarmos com ummedi-bruxo sobre o teu problema? Ginny acha que é a solução. Quem me dera que ela estivesse aqui… Ela sabe sempre como te consolar.
- Não Ron… Tu sabes sempre como me consolar – Hermione passou levemente os dedos sob a cicatriz do braço deRon e inspirou fundo – Eu vou a Sto Mungus. Está prometido.
Abraçaram-se, comovidos e beijaram-se, transmitindo tudo o que sentiam. A saudade, a tristeza, o amor.
- Bem, acho que é melhor descermos – disse uma Hermione afogueada – O papá e a mamã devem estar preocupados. Já agora, quero contar-te as ultimas novidades do Departamento de Regulação eControlo deCriaturas Mágicas. Sei que sou apenas uma novata mas acho que já estou a começar a ser respeitada por lá. Estou a ficar com uma ideia muito mais clara de como ajudar os elfos! Já te conto melhor: Almoças connosco, claro! Depois podemos ir dar uma voltinha ao Beco Diagonal. O teu pai conseguiu que a Floo Network instalasse uma ligação à nossa lareira.
Ron sorriu, aliviado. Conseguia ver o olhar vivo e determinado de Hermione, outra vez. Voltara ao normal, felizmente. Ron apenas desejava que não fosse temporário. Ele amava-a tanto! Só tinha pena de não conseguir dizer-lho como deve ser. Nunca tivera jeito com as palavras. E enquanto desciam as escadas, disse, sem pensar:
- Hermione, eu gosto tanto de ti…
- Porquê? – perguntou a namorada com um sorriso maroto, embora os olhos ainda estivessem vermelhos.
- Porque… tu és tu.
