SWEET DREAMS

Capitulo II:

As três amigas chegaram em casa com uma pressa inacreditável, graças à loira que dirigia o veículo. Esperavam Akane, a quarta amiga, com os outros convidados misteriosos que ela trazia. Ambas estavam quase prontas, quando a campainha toca.

"- Alguém vai atender a porta."- diz Camille, ocupada em arrumar as alças do vestido vermelho que usava, e acentuava ainda mais suas belas curvas, deixando-a com um ar altamente perigoso e sedutor.

"- Melissa, a casa é sua! Vá atender!"- diz Juliane, tomando nas mãos o estojo de maquiagem para começar o trabalho.

"- Droga, sempre eu..."- resmunga a loira.

Ela caminha através da sala e do corredor, até chegar na porta da frente, e então abre a porta. Sua visão não foi nada agradável: Akane estava do lado de fora, com um sorriso costumeiro, e atrás dela e de seu lado, alguns rapazes, um mais belo que o outro, sorriam também. Um deles chamou a atenção de Melissa: o mesmo idiota do shopping. Sem pensar em Akane ou nos outros, ela bate a porta na cara deles e retorna ao quarto.

"- Quem era?"- pergunta Camille.

"- Era engano. Entrega de pizza em condomínios é um saco..."- diz ela, com um ar emburrado.

"- Por que está tão emburrada?"

"- Não é da sua conta!"

A campainha toca novamente, desta vez em períodos mais curtos, mas muito insistentemente. As moças olharam para o corredor e, em seguida, para a loira, que ajeitava os cabelos para fora do vestido.

"- É o homem das pizzas de novo?"- pergunta Juliane, com sarcasmo.

"- Atenda e descubra."

"- Deixa que eu vou desta vez..."- suspira Camille.-"Enquanto eu estiver fora, as duas parem de brigar, está bem?"

Camille vai caminhando com passos um pouco apressados através do corredor e da sala, até chegar na porta de entrada. Esquecendo-se de olhar pelo visor, assim como a loira que atendera a porta fez antes, abriu-a direto. E deu de cara com Akane e mais um bando de rapazes. Entre eles, estava Milo, aquele mesmo rapaz que lhe pagou a bebida no shopping, e com o qual conversou animadamente.

Ela não notou o semblante encantado que ele fez quando a olhou tão sedutoramente linda, pois também estava muito feliz de tê-lo encontrado novamente.

"- Oi Akane. Esses são os seus... Amigos?"- pergunta, não conseguindo esconder um certo embaraço na voz.

"- São sim, Camille, podemos entrar?"

"- Claro, entrem."- ela lhes dá passagem, e a oriental e seus convidados entram, observando a casa de cima a baixo.-"Esperem um pouco, eu já irei chamar as meninas!"- a morena sai correndo pelo corredor, em direção do quarto.

"- O que houve, Camille? Viu um fantasma?"- pergunta Juliane, ao ver a amiga com um sorriso bobo no rosto, e tremendo.

"- Meninas... É um harém!"

"- Hã? Como assim?"- pergunta novamente a ruiva, parando de pentear os cabelos lisos e olhando atentamente a amiga.-"O que quer dizer com 'harém'?"

"- Ai meninas... Um mais lindo que o outro! É incrível!"- ela dava saltos de alegria.-"Estaremos muito bem servidas essa noite!"

"- Nossa, você achou eles bonitos?"- pergunta Melissa, com desdém.

"- Não me diga que você bateu a porta na cara deles!"- Camille e Juliane perguntam, olhando para a loira que deu um suspiro zombeteiro.

"- É, algo contra? A casa é minha e faço dela o que bem entender."

"- Você é tão prendada que me assusta às vezes..."- Camille dá um longo suspiro, voltando a se sentar na cama fofa.-"Precisamos ir logo, não podemos deixar visitas esperando."

"- Por mim eu enxotava todos pra fora!"- Melissa diz, irritada.

"- Ué, por que fazer isso? Não é todos os dias que encontramos caras tão lindos assim!"- Juliane dá uma risadinha.

"- Fale por você."

"-Melissa está brava porque algo deu errado no shopping."

"-É, eu já disse Camile, os homens tem esse efeito nela." – a ruiva sorriu e abriu a porta do quarto lentamente, dirigindo-se para a sala.

Camile encarou a loira e suspirou.

"-Melissa, me deve uma, e vai me pagar hoje mesmo."

"-O quê! Eu nunca te pedi AQUELE favor! Você fez porque quis!"

"-Não se faça de inocente. Vai ter que atura-los e ser amigável... E então, não me deve mais nada."

"-Ótimo. Só faço isso pra não te dever mais nada, que fique claro. Odeio as malditas dívidas, e ainda mais os malditos favores."

"-Ah, sossega!" – a morena abriu a porta do quarto e saiu de lá, com um sorriso vitorioso. Até que não tinha sido tão difícil enrolar a amiga... Só esperava que ela não se lembrasse tão cedo que 'AQUELE' favor já havia sido pago duas vezes. Contando com aquela, a terceira. O saldo devedor de Camile estava aumentando... E isso não era bom, se tratando de 'dever' para Melissa.

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Akane serviu algumas taças com vinho enquanto Juliane conversava animada com os rapazes. Mas a japonesa não pode deixar de notar que o olhar da amiga dirigia-se a um deles em especial.

Fazia tempo que ela não a via daquela maneira, conversando normalmente, sorrindo de tempos em tempos. Normalmente o tédio era nítido na face da ruiva, e ela deixava isso transpassar claramente durante a conversa. Mas ali ela parecia estar, de maneira estranha, entretida.

Deixou as taças sobre a mesinha e voltou a sentar-se em uma poltrona qualquer, perto de Shaka. Ele estava contando para ela algo sobre seu trabalho, mas para ser sincera, Akane pouco estava ligando para o assunto. Analisa-lo já estava sendo interessante o suficiente... Não era todo dia que se esbarrava em um homem como aquele.

Juliane voltou os olhos para o corredor, de onde surgiu uma Melissa visivelmente irritada. Ela sentou-se ao lado de um rapaz moreno, e Milo deu uma risadinha discreta.

"-Então..." – Aioros retirou do bolso o seu celular novo, um gesto provocante aos olhos da loira. – "Como se sente, tendo pago um celular novo para um querido amigo?"

"-Muito bem."

"-Como assim?" – ele a encarou curioso. Aquela não era a garota explosiva que havia conhecido mais cedo no shopping. Assim não teria graça provoca-la...

"-Se o dinheiro fosse meu, talvez eu estivesse me lamentando." – murmurou a loira baixo, sorrindo discretamente.

"-O que! Não pagou com o seu dinheiro?" – o rapaz parecia indignado e decepcionado com o que havia acabado de ouvir.

"-Achou que uma mulher como eu fosse pagar um celular para um cara como você?" – ela sorriu falsamente. – "O cartão é do meu pseudo-namorado."

"-Você é completamente anormal." – ele suspirou pesadamente antes de sorrir e balançar a cabeça negativamente.

"-O que foi?"

"- Esse cartão... É do seu namorado mesmo?" -perguntou Aioros, encarando a loira curiosa. Não havia acreditado muito na aparente 'amizade' que ela estava tentando estabelecer com ele desde que haviam chego ao apartamento da mesma. Parecia algo... Forçado.

"- Bem, essa é uma maneira de olhar as coisas. E a mesma moeda tem duas faces, certo? Ele me deu, virou meu. Tem duas maneiras de se olhar... Uma de lá pra cá e outra de cá pra lá. Entendeu?"

"- Não..."

"- Não vale a pena explicar. É uma questão de...Troca de favores."

"- Troca de favores? Deve algo a alguém?"

"- Ou vice-versa. Quem precisa saber? Além do mais, senhor estranho, detesto gente querendo saber da minha vida pessoal."- bebe um gole da taça.

Enquanto Shaka falava, a oriental entretinha-se em olhar cada detalhe seu. Mais precisamente, amava ver as variações do rosto dele quando falava de seus altos e baixos na empresa onde trabalhava.

"- E você, gosta dela?"- ele pergunta, vendo que ela mal estava prestando atenção nele. Parecia até alcoolizada.-"Hei, senhorita, falei com você."

"- Hã, o que?"- ela pergunta, acordando do transe.

"- Perguntei se você gosta da empresa onde trabalho. Quero dizer, ela é famosa... Já deve ter ouvido falar dela."- ele diz.

"- Sim... De que empresa estamos falando?"

Shaka deu um longo suspiro, limitando-se a fechar os olhos, controlando-se para não rir. Aquela realmente era uma qualidade ou defeito que ele apreciou nela: sua incrível capacidade de sair da realidade para o sonho num piscar de olhos.

"- A minha, a Empresa Gale."- ele diz, pausadamente, refrescando a mente dela.

"- Aaahhh, sim, sim, ela é muito legal! Confesso que, quando eu era um pouco menor, meu sonho era trabalhar nela... Mas daí, sei lá... Minguou, sabe..."- Akane dá um sorrisinho.

"- Sim, eu entendo. No começou eu odiava trabalhar lá, mas depois me acostumei e... Bem, conheci pessoas legais."

"- Seus amigos?"

"- Não só eles, há muitas outras pessoas lá, homens e mulheres, muito legais mesmo. Eu gosto de lá."- ele sorri lindamente, derretendo ainda mais a oriental. Mas ela, de repente, parou de sorrir e adquiriu um semblante sério.

"- Tem alguma pessoa lá que te interessa...?"

"- Bem, como assim?"- pergunta Shaka, confuso.

"- Você sabe, alguma mulher que você goste... Tem alguma?"- ela pergunta, mas rapidamente disfarça.-"Digo, porque ela deve ser uma tremenda sortuda... Um cara tão legal como você..."

"- Na realidade eu estou gostando de alguém, mas não é da empresa."

"- Ah... Tudo bem... Que legal! Ela sim é uma garota de muita sorte!"- Akane dá um longo sorriso, escondendo sua frustração.-"Quer mais vinho?"

"- Por favor."- sorri.

Enquanto isso, entretidos em uma conversa bastante intima, como se fossem velhos amigos, Camile e Milo pareciam muito animados.

"- Então, eu fui ano retrasado numa apresentação de Within Temptation, e..."- foi subitamente interrompida por um animado Milo.

"- Não! Você curte Within também!"- ele pergunta, incrédulo.

"- Sim, é uma de minhas bandas preferidas desde os meus quatorze anos!"- ela dá um sorriso animado.-"Você gosta deles?"

"- Se gosto? Amo! Mas nunca fui a nenhum show... Bem, você sabe... Pais muito chatos, não me deixavam sair nem da esquina quase..."- suspira.

"- É, eu sei o que é isso..."

"- Os seus coroas eram assim também?"- ele pergunta, com uma pontinha esperançosa na voz sedutora.

"- Nossa... Não chegavam a ser tão assim, mas eram meio chatos."- fala com naturalidade Camile.-"Pra falar a verdade, todos os pais são."

"- É por isso que eu não sou muito de me casar."

"- Por que? Pra não fazer isso?"- ela pergunta, escondendo uma certa frustração também, assim como a oriental, momentos atrás.

"- Também. Sei lá, tenho um pouco de receio, sabe. Além do mais, é capaz de eu me tornar um velho chato como o meu pai, e acabar fazendo com meu filho o mesmo que meu pai fez comigo."- ele diz, afundando na cadeira.-"Então, sei lá... Mulheres me são um problema às vezes..."

"Todas elas...?"

Milo percebeu a certa frustração na voz dela, e rapidamente sentiu-se mega culpado.-"Não, você não! Você é uma pessoa muito maneira! Ó, vou te contar uma coisa..."- ele se aproxima do ouvido dela, fazendo-a estremecer.-"Você é a única que sabe que eu não sei escalar árvores."

Camile dá um sorrisinho, vendo a sua tentativa quase sucedida de faze-la sentir-se melhor, e deu um sorriso.

"- Está certo. Seu segredo tá bem guardado comigo..."

"-Fico mais aliviado..."

"-Claro que... Nada que cem reais não resolva."

"-Ei, ta brincando não é!" – ele ficou sério por um instante, e a morena não pôde conter a risada. – "Essa não teve graça."

"-Pois eu achei bem engraçada..." – murmurou ela, tomando um gole de vinho.

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Juliane apontou mais uma estrela no céu e sorriu. Aquela noite estava sendo agradável. Estar ali na sacada, com aquele homem que podia chamar de 'estranho' também estava sendo agradável.

"-Realmente bonitas..." – ele olhou para o horizonte, observando alguns prédios impedindo sua visão completa do mesmo. Olhou para baixo, o trânsito estava completamente normal... Um tanto agitado, mas dentro dos padrões. Olhou para a garota novamente... Era ela, não tinha dúvidas.

"-Então, quer mais vinho?" – ela pegou a taça dele nas mãos e fez menção de entrar. – "Deixa eu pego mais."

"-Não precisa." – ele a segurou. – "Quero dizer... Se quiser pode pegar mais para você."

"Não... Eu já bebi o bastante." – ela suspirou antes de olhar para dentro, onde as amigas pareciam animadas conversando com os outros rapazes. – "É um tanto irônico, não?"

Ao não obter resposta, ela voltou a atenção para o rapaz. Ele continuava olhando as estrelas, o horizonte, o movimento. Parecia tão alheio aos acontecimentos externos, e tinha um semblante tão doce, que Juliane quase desistiu de chama-lo para a 'Terra' novamente.

"-Ei... Saga." – ele encarou a ruiva rapidamente, e sorriu.

"-Disse algo?"

"-Nada..." – murmurou, pegando o copo. – "Vou pegar mais vinho para mim."

Ele a segurou pela mão, fazendo-a encara-lo. Ficaram em silencio, apenas se fitando, o polegar de Saga alisando a pele de sua mão,provando a sua maciez.

"Por que tem um olhar tão triste?"-ele perguntou.

"Acha meu olhar triste?"-espantou-se, corando.-"Eu ia perguntar a mesma coisa para você. Por que você também tem um olhar triste?"

"Talvez porque eu ainda não houvesse encontrado você antes."-murmurou abaixando a cabeça lentamente e beijando-a com delicadeza.

Juliane podia ter o empurrado, ou simplesmente o afastado. Mas algo não a permitiu fazer isso... Então simplesmente deixou-se levar pelo momento, enquanto as mãos deles deslizaram gentilmente por suas costas e pararam em sua cintura. Ele parou de beija-la e a abraçou de súbito, como se a conhecesse há tempos.

A garota arregalou os olhos, mas não falou uma palavra se quer. Aquilo tudo era inexplicável

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Akane sorriu, já havia perdido a conta de quantas vezes já havia feito isso para ele. E também já havia perdido a conta de quantas vezes se perdera no meio do assunto, enquanto seu pensamento voava para longe. Simplesmente não conseguia conter-se, encarando fundo àqueles estranhos olhos azuis. Era um rapaz lindo, tinha que admitir.

"Eu sempre quis trabalhar nessa empresa." -Murmurou. Ele a encarou, antes de começar a rir. –"Qual o problema?"

"Bom... Já saímos desse assunto há tempos. Onde você esteve esse tempo todo?" – ele achou mais graça ao vê-la corar violentamente. – "Mas não tem problema, posso abstrair isto, antes que me processe por danos morais."

"Você é bobo." – Akane falou baixinho, cruzando os braços em sinal de irritação.

"Desculpe-me."-Miro se manifestou, querendo sair dali e parar de segurar vela.-"Vou ver se a Camile precisa de ajuda na cozinha."

Ao se levantar, viu Saga e Juliane abraçados e sorriu, fazendo um gesto para que todos olhassem. Imediatamente pararam o que faziam para apreciar a cena.

"Alguém se deu bem."-disse Melissa sorrindo maliciosa e voltando a sentar-se.

"Sempre tem quer soltar seus comentários ácidos?"-indagou Aioros, numa nova tentativa de provoca-la, e pelo olhar mortal que ela lhe lançara, conseguiu.

Miro foi para a cozinha, onde Camile se ocupava em arrumar alguns petiscos.

"Precisa de ajuda?"-ele perguntou, encostado no batente da porta, com as mãos nos bolsos da calça.

"Não obrigada." A morena sorriu, pegando o prato nas mãos e passando por ele. "Ou melhor... Quero sim. Pode levar isso ali na sala, enquanto ajeito as coisas aqui pra Melissa?" – pediu.

"Claro." – Miro pegou o prato das mãos da garota e caminhou até a sala, tranqüilamente. Parou em frente à Melissa e Aioros, que pareciam estar prestes a se matarem. – "Que linda a amizade de vocês."

"Ah, sim." – a loira apontou Aioros. – "Esse cachorro leproso, está tentando me arrancar pedaços para ver se consegue se remontar!"

"Tudo isso por um mísero celular! E nem foi você que pagou!" – revidou o moreno, suspirando.

"MÍSERO!" – Melissa parecia indignada. – "Ah, pelo amor de Deus."

"Bom... Vou deixa-los a sós." – Miro voltou para a cozinha, rindo da cena.

Shaka e Akane acompanhavam a discussão sem entender nada.

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Apesar do calor gostoso que sentia nos braços dele, Juliane começou a se desvencilhar daquele abraço, e o encarou sem graça.

"Por que me beijou?"

"Porque você é linda."-ele tocou o rosto dela.-"E...bem...você acredita que duas pessoas, possam estar destinadas?"

"Eu não acredito nessas lorotas."-ela riu, como sempre fazia quando se sentia nervosa, e levou a mão ao cabelo, pegando uma mexa e mexendo nela, tentando não olhar para ele.

Aquele gesto tão simples teve um efeito de um choque em Saga. Imagens de seu sonho somadas com outras invadiram sua mente. A menina...ela ria e mexia nos cabelos daquela forma quando ficava nervosa com alguma coisa...Não era um sonho...eram lembranças?

Talvez aquilo fosse apenas algo da cabeça dele. Mas... No fundo, sabia que já a conhecia. Suspirou pesadamente antes de apoiar-se no parapeito da varanda e observar o céu.

"Desculpe." – murmurou, sem encara-la. No momento... Não sabia o que mais poderia falar.

Continua...