Capítulo 1 - O Seqüestro
Seu maldito! Volte aqui!
Eis que um vulto vermelho e prateado corre floresta adentro, em busca de sua presa, enquanto esta, temerosa pela sua vida e já alerta pelo instinto natural, foge com todas as forças que lhe restam.
Você não vai escapar de mim! - o vulto salta para o galho mais alto de umas das árvores que os cercavam, e de lá, toma outro impulso, desta vez caindo bem na frente de sua caça -Garras Retalhadoras de Almas! - E ZÁS; num segundo o vulto, agora já identificado por ser um garoto de longos cabelos prateados com vestes vermelhas e olhos dourados volta tranqüilamente para a clareira na floresta.
Até que enfim, InuYasha! Queria matar a todos nós de fome?-diz Miroku, levemente irritado, mas prestando maior atenção na perdiz que o hanyou trazia sobre o ombro, e também ao grande peixe, maior até que o próprio carregador, às frutas frescas e outros alimentos.
Aaaiii...Minha barriguinha...Tá doendo de fome!...Kagome!
Calma, Shippou! O InuYasha já chegou com a comida, espera só mais um pouquinho! - a colegial tentava conter o pequeno filhote de youkai, que revirava em seu colo abraçando a barriga, isso há uma hora.
Feh! Parece que vocês não sobrevivem um minuto sem mim! Até para comer precisam que eu ajude! -riu superiormente o meio-youkai, enquanto jogava o grande cesto no chão, deixando esparramado tudo o que havia conseguido.
COMIIIIDAAA!- Shippou levantou-se num pulo do colo de Kagome, correndo com toda a força de suas perninhas e mergulhando no cesto que InuYasha havia deixado, começando a comer as frutas que encontrava e sumindo dentro do cesto, semelhante a um trator na colheita de trigo; deixando a colegial com uma grande gota na cabeça.
EEEIII, seu pirralho! Caia fora daí, eu também quero comer! -InuYasha puxou o pequeno youkai pelo rabo, enquanto este se agarrava a uvas e maçãs.
Nham, nham, chomp, slept...Ahhhh, InuYasha, me solta!
É isso mesmo, Shippou. Todos nós aqui estamos com fome, você terá que dividir -ponderou Sango, de seu lugar perto da fogueira em que adicionava lenha, para cozinhar a perdiz.
Escute o que a srta. Sango está dizendo, Shippou. Esta comida é para todos nós, e...
Shippou finalmente consegue se soltar das mãos do hanyou, e, olhando reprovadoramente para Miroku, puxa a manga de suas vestes, desequilibrando-o. Em conseqüência, umas dez frutas e um pequeno peixe caem dos braços do monge.
Bem...Eu...-Miroku, vermelho, tenta se explicar, com a mão na nuca.
gota na cabeça de todos
Seu monge safado! Saia daí! -InuYasha o afasta de perto do cesto, enquanto Sango começa a pegar a perdiz e os peixes, irritada com o monge.
Depois de uma farta refeição (Shippou agora repousava feliz no colo de Sango, ainda mastigando algo imaginário, nos seus sonhos), todos resolveram que já era a hora de dormir. Conforme o combinado, esta noite Kagome ficaria de guarda na orla do acampamento, e a qualquer sinal de perigo, avisaria InuYasha. Sendo assim, enquanto todos se ajeitavam em suas esteiras de palha, a jovem encostava-se numa árvore com seu arco-e-flecha nas mãos, e em seguida rondava o acampamento.
Kagome tentava espantar o sono como podia, porém a erva que InuYasha lhe dera justamente para isso não estava funcionando muito bem. Ainda lembrava as palavras ríspidas do hanyou:
"Isso é para que você não durma no seu posto de guarda, Kagome. Que droga, por que você insiste nisso?" perguntou ele, mal-humorado. Não entendia por que raios ela sempre inventava coisas assim! Poderia aparecer qualquer tipo de ser perigoso no meio da noite, ela deveria achar incrível arriscar a vida deste jeito, quando poderia estar dormindo segura!
"Isso não é justo com os outros, InuYasha! Só você, o Miroku e a Sango fazem a guarda, eu me sinto inútil! Também quero contribuir com alguma coisa!"
"Você já detecta os fragmentos, e eu posso perfeitamente fazer esta guarda SO-ZI-NHO! Vá dormir que é o melhor que você faz!"
"O QUÊ? Então você está dizendo que eu só presto para ver um monde de estilhaços cor de rosa no corpo de youkais, e nada mais? Faça-me o favor, InuYasha! Passe agora essa erva, quem vai fazer a guarda esta noite sou eu!"
"Não" Teimou o hanyou, virando as costas e rumando para perto das árvores.
"OSWARI!" Grita Kagome, furiosa com o hanyou, que caiu dramaticamente de cara no chão.
"Eu faço a guarda" diz a colegial, passando perto do hanyou ainda imóvel, e pegando a erva de sua mão "E não ouse contestar!" Ela mastigou a erva e ficou a postos.
Mas agora a idéia não parecia ser assim tão boa. Os ventos que batiam nas copas das árvores de noite eram horripilantes. Fora os muitos sons da floresta ao seu redor. Ela riu. Para quem já estava acostumada a matanças de youkais, lutas de vida ou morte quase diariamente, sono ao relento das matas, e crueldades cometidas por aquele maldito do Naraku, ficar com medo de sons numa noite na floresta era algo bem estranho.
Parou para observar os companheiros. Todos dormiam na paz que lhes era concedida provisoriamente. Shippou aproveitava o colo de Sango, enquanto Kirara dormia sob o braço deste. Miroku, no lado oposto, sonhava com algo que o fazia sorrir e estender as mãos como se estivesse apertando alguma coisa. "Tcs, tcs... pervertido..." Kagome sorriu. E este sorriso tornou-se contemplação ao dar com seus olhos no outro lado, onde dormia o hanyou.
"Ele fica lindo quando dorme". Este foi o primeiro pensamento de Kagome, acompanhado logo em seguida de uma enérgica sacudida de cabeça. Estou ficando doida, pensou fervorosamente. Só pode ser isso. Doida. Maluca. Não deveria estar pensando isso, não entendia por que isso passara pela sua cabeç...
"Mas ele fica realmente lindo nesta expressão serena, sem aquela tensão e mal-humor do dia-a-dia. Você reparou isso quando ele te abraçou" insistia uma vozinha irritantemente certa na sua cabeça.
"Cale a boca! Eu não devo pensar isso. Se ele não pensa isso de mim... Que absurdo!" respondeu para ela mesma.
"Ah, não?" a vozinha já começava seu discurso inflamado "E o que você me diz do que ele achou do seu cheiro? Ou já se esqueceu disso?" concluiu ela, triunfante.
Não, ela não havia esquecido. Pelo contrário. Lembrava bem daquele dia em que InuYasha estava entre a vida e a morte (n/a: Episódio 13: O Segredo do Primeiro Dia - InuYasha de cabelos pretos) e pedira-lhe colo...Logo em seguida dissera que seu cheiro era muito bom, e que ele havia mentido nas vezes em que dissera que não...
Com estas lembranças, Kagome corou, e ainda mais irritada com a vozinha persistente em sua cabeça, sentou-se no chão e respondeu, ainda irritada:
"Tá, tá, eu lembro sim! Agora quer fazer o favor de me deixar em paz? Preciso fazer a... - um leve bocejo -... ronda."
"Como quiser" respondeu a irônica voz da sua consciência.
"Que voz mais intrometida..." pensou, enquanto encostava-se à árvore. "Eu não preciso de conselhos de... -um bocejo mais profundo-... uhaaa... Ninguém."
Dito isso, caiu no sono encostada na árvore.
Passado algumas horas...
Subitamente, Kagome levantou:
"Estou sentindo... A presença de um fragmento de Jóia!"
Olhou em torno, aturdida. A presença ficava cada vez mais forte, e estranho, parecia que vinha na direção deles, com uma velocidade surpreendente. Levantou-se de um pulo, enquanto corria de volta para o acampamento. Iria chamar o InuYasha, avisar os outros. Não tinha um bom pressentimento.
"InuYasha, InuYasha! Acorde! Estou sentindo a presença de um..."
Súbito, estancou no mesmo lugar.
InuYasha não estava ali.
-Ah, meu Deus... INUYASHAAA! ONDE VOCÊ ESTÁ? INUYASHAA!
-KAGOME...UFF!- ao longe, o grito abafado do hanyou transpôs as folhagens das árvores.
O grito acordou os outros, que já estavam a seu lado perguntando o que havia acontecido.
-O InuYasha sumiu! Levaram ele! Foi por ali! Vamos! -disse, enquanto empunhava seu arco-e-flecha e saía em disparada na direção do grito do hanyou.
-Mas quem foi que fez isso, Kagome? Como conseguiu entrar aqui? Você não estava de guarda? -perguntavam aflitos seus companheiros, floresta adentro, sem senso de direção, apenas guiados pelo som do grito de InuYasha.
-Eu...Eu... -Kagome não sabia o que responder. Sim, ela deveria estar de guarda, não deveria? Pois eis os fatos: ela dormira. Deixara a segurança de todos à mercê de acontecimentos como este.
Ela ia se desvencilhando das árvores e dos espinhos, não se importando com os arranhões.
"Se alguma coisa acontecer com InuYasha... Eu nunca vou me perdoar!"
Continua...
