Capítulo três - Revelando o segredo: A Meia-Youkai Pantera

Flashback

No meio da clareira, ela viu InuYasha levantando-se com dificuldade, seu corpo sangrando muito, e a lâmina da Tessaiga que ele atirara incrustada no ombro do youkai desacordado.

Fim do Flashback

I...Inu...InuYasha... -parecia que toda a floresta havia silenciado-se por aquele momento. Kagome, com as mãos caídas dos lados do corpo, sentia o sangue do ombro do Youkai derramar-se pela grama verde da estação. Por mais humanitário que fosse o instinto que isso lhe causava, ela não se importou. Todo o seu ser concentrava-se na figura em meio à clareira, que se apoiava com dificuldade na bainha de uma espada, com o corpo também jorrando sangue, tentando estancá-lo com um dos braços. Ela andou dois sôfregos passos na sua direção antes de exclamar, com o sopro de ar que lhe fora reposto: -InuYasha!

Correu, com todas as forças, as lágrimas de alívio, felicidade, temor, medo, voando à vontade do vento.

Ka...Kagome...-essa foi porém a única palavra que InuYasha dissera. Ela estava viva...Ela estava viva, e era isso que importava. Quase morrera tentando defender a Jóia, mas estava viva...Com este pensamento, ele desmaiou.

InuYasha! -Kagome foi mais rápida e amparou-o em seus braços. Ele gemera, pressionara o ferimento. Desculpou-se, e, ainda abraçada ao hanyou, como se pudesse impedir que sequer uma fagulha da sua vida fosse embora, ela murmurava, mais para convencer a si mesma do que a ele.

Você...Você vai ficar bom, InuYasha! Vamos levá-lo para o vilarejo... Agüente firme...Kirara!

Virando o pescoço para trás, viu a youkai transformar-se, e quando ela se aproximou, pôs InuYasha com extremo cuidado em cima dela.

Kirara...Vá para o vilarejo...Tome, leve isso -ela colocou seu lenço no focinho de Kirara -Isso deve bastar para que ela entenda a situação de perigo -percebendo que a youkai olhava tristemente para Sango, Kagome falou: -Não se preocupe, Kirara, ela está bem...Eu vou cuidar deles, agora, vá!

E assim dito, a youkai levantou vôo, rumando para o vilarejo.

"Pelo menos assim InuYasha poderá se salvar", pensou. E lutando para afastar isso da mente, foi socorrer Sango e Miroku.

Os dois já estava acordando, gemendo levemente pela força do golpe a que foram submetidos. Miroku disse primeiro:

Kagome...O que foi...Que aconteceu?

Aquele...aquele youkai maldito...! -disse Sango, segurando a barriga com o braço, e, quando deu com os olhos no corpo estendido à sua frente, elevou a voz.

Céus! O que aconteceu com ele? Kagome...O que você...O que você...

Eu não fiz nada...-tranqüilizou a amiga -Foi o InuYasha -e recomeçou a chorar, nos braços de Sango.

O InuYasha...o que aconteceu com ele, Kagome? Onde ele está? -perguntou Miroku.

Ele está gravemente ferido -respondeu Kagome, com a voz embargada -A Kirara levou-o para a senhora Kaede...Ela saberá como curá-lo...Ela vai curá-lo, não vai, Sango? Por favor, me diga que vai! -implorou Kagome, voltando às lágrimas.

Ela vai Kagome...-concordou Sango, sabendo que todas as suas forças queriam acreditar nisso. -Ele não vai morrer. Aquele cabeça dura não morreu até hoje, por que morreria justamente agora? -sorriu a guerreira, tentando acalmar a amiga.

Neste momento, a triste consolação foi interrompida pelo gemido do Youkai.

Ele ainda está vivo! -exclamou Miroku.

Não por muito tempo, se depender de mim!- disse Sango. Ela ainda estava possessa. Seu antigo instinto de exterminadora falava mais alto, somado ao soco que levara no estômago, aos golpes físicos e emocionais de seus amigos...Ela não esperou mais, pegou a sua espada largada ao lado e, quando já desferia o golpe fatal sobre o youkai, Miroku segurou-lhe o pulso.

Não, Sango. Nós queremos respostas. Não vamos matá-lo.-ponderou calmamente o monge.

Ele não terá este pensamento quanto à nós, Miroku!

Não será obrigado a ter -disse o monge, e, aproximando-se do corpo do youkai, que mexia-se levemente, recitou um mantra que imobilizou-o de vez.

O que foi isso?

Este mantra o manterá imóvel até que possamos responder às nossas perguntas. -disse ele, seriamente, olhando para o youkai agora em novamente desacordado -Vamos...A senhora Kaede irá curá-lo, e aí então poderemos esclarecer algumas coisas. -ele retirou um longo lenço de suas vestes, e, depois de retirar cuidadosamente a Tessaiga encravada no ombro do inimigo, estancou-lhe o sangue com o lenço. Colocou-o nos ombros e começou a caminhar.

"Ele deve ser um youkai muito resistente... Poucas pessoas, e até mesmo youkais resistiriam a esta perda de sangue" lembrou-se do InuYasha, a exceção nesta regra. "E mesmo assim... Por que será que ele nos atacou? Disse que o InuYasha iria pagar-lhe... O que quis dizer com isso?"

Ruminando esta dúvida, ela seguiu ao vilarejo com Sango, Miroku, e o youkai desacordado.

No vilarejo...

Pare de reclamar, InuYasha...Nem parece aquele meio-youkai irritante e convencido que você sempre foi! -dizia a velha Kaede, enquanto colocava mais um pouco de ungüento na ferida de InuYasha, e dava mais uma volta à atadura. -Pronto. -concluiu, dando um tapinha no curativo recém-feito.

AAAII! Sua velha idiota, por que fez isso? -respondeu o hanyou enfurecido, no momento em que Kagome entrava pela cortina de palha que funcionava como porta.

"É, ele parece já estar curado", pensou. E por dentro sorriu. Era muito mais reconfortante ver o InuYasha novamente irritado com Deus e o mundo, do que à beira da morte...Enfim, disse:

Então, você já está melhor? -perguntou, aliviada pela resposta:

O que te parece?

Me parece que você voltou a ser o mesmo irritante e mal-agradecido de sempre. Fui eu quem colocou você na Kirara para vir até aqui, sabia? -disse ela, já começando uma pequena ebulição de nervosismo dentro de si.

Claro, para compensar a burrada que a senhorita "Eu faço a ronda sozinha" cometeu. Ou por que mais acha que estou enfaixado agora?

Kagome corou, de raiva e de vergonha, e respondeu:

Mas eu só queria ajudar! Não quero me sentir uma inútil neste grupo!

Sendo uma inútil você causa menos prejuízos. Principalmente quando eles são físicos. -o hanyou virou a cara para a garota, e ficou sentado admirando as paredes da casinha.

InuYasha! Se você não estivesse tão ferido eu diria para você sent...

Kagome, não! -interromperam todos ao mesmo tempo, sacudindo os braços para calar a amiga.

Ufff... Tudo bem! Mas você bem merecia.-disse a colegial, também sentando-se no lado oposto.

Além do mais -continuou o meio-youkai -Eu não sou mal-agradecido coisa alguma! Fui eu quem te livrou de ter o pescoço estilhaçado por aquele maldito youkai!

Depois de três segundos de um constrangedor silêncio, os dois disseram, cada um do seu lado:

Obrigado.

E, percebendo a pequena rachadura na fortaleza de cada um, voltaram-se tímidos a se encarar. Encarar entre aspas. Ambos desviavam o olhar. O primeiro a quebrar o silêncio foi InuYasha, quando, rodopiando pela sala, seus olhos pousaram no corpo do youkai desacordado.

O quêêê? O que este maldito está fazendo aqui?-gritou, automaticamente levando a mão à cintura, em busca de sua espada.

Se é isso o que procura...-disse Kagome, estendendo a espada para o hanyou. Mal este pegou no cabo da Tessaiga, já estava a brandi-la para o youkai deitado.

Não, InuYasha!-Miroku interpôs-se ao hanyou, usando o seu cajado para aparar a Tessaiga -Ele ainda não morreu, vamos mantê-lo vivo para responder às nossas perguntas! Precisamos saber por quê ele te atacou, e por que disse que iria pagar pelo que lhe fez...E se ele for um enviado de Naraku? Poderá saber onde ele se localiza!

O hanyou ponderou um segundo sobre o que o monge disse, e, fazendo com que a Tessaiga voltasse para sua forma normal, colocou-a de volta na bainha.

Você tem razão, Miroku. Vamos deixá-lo vivo para responder a tudo isso...E depois...Ele vai pagar por ter me acertado de qualquer forma. Mas antes, vamos ver quem é esse guerreiro.

E, aproximando-se lentamente do guerreiro desacordado, estendeu a mão e retirou-lhe a máscara.

Mas...Mas... É uma garota! -exclamou o hanyou, mais indignado do que surpreso, afastando-se da garota como se fosse tóxica.

Uma...garota?-murmurou Kagome. Ela aproximou-se mais para ver o rosto inerte da menina que estava a sua frente.

Nossa...que menina bonita!-disse Shippou, pulando mais para perto, segurando nos cabelos de Miroku para ver.

Eu não acredito...Como pode uma garota lutar assim?-perguntou Sango, olhando atentamente para a outra guerreira desacordada à sua frente. Estava ajoelhada ao lado do corpo da menina, fazendo curativos nos profundo ferimento que ficara em seu ombro.

InuYasha, você está perdendo o jeitinho! Até uma garota conseguiu ganhar de você! -disse Miroku, até agora calado e sério, mas, ao dizer essa frase, InuYasha ficara vermelho e mirava-o com profundo ódio -E que garota! Aaaiii! -Sango dera-lhe um belo beliscão nas costas, deixando o monge com uma gota na cabeça.

Isso não é hora para gracinhas, seu monge pervertido -concluiu a guerreira.

Ela não é uma simples garota -sussurrou InuYasha. E, aproximando-se da menina, sentiu o cheiro que exalava -Tem cheiro de youkai.

Uma youkai?

Sim, Kagome.

Mas por que uma youkai iria querer matar você, InuYasha? Você conhece ela? -perguntou enfim, não totalmente convencida do que sentia. Lembrou-se de Kikyou. Afastou esse pensamento mau da cabeça, isso não era hora, como Sango dissera.

Não, eu não conheço. Eu nunca vi essa menina na vida! -disse, irritado -Mas para ela querer me matar, deve ter tido algum bom motivo! Eu acho...Que isso é obra do Naraku.

Possivelmente -disse Miroku -E só tem um jeito da gente saber.

Ele virou cuidadosamente a menina, e, devagar, abriu suas vestes negras exatamente no meio das costas. Todos estavam em silêncio quando falou:

Nada. Nenhuma cicatriz com o formato de aranha. -murmurou, voltando a cobrir as costas brancas da garota.

Então ela não era uma enviada do Naraku -disse Sango. E, virando-se para a amiga -Kagome...Aquele fragmento de Jóia que você pressentiu...Vem dessa garota-youkai, não vem?

Sim. -murmurou a colegial.

Por que você não disse isso logo, Kagome!-gritou InuYasha -Pelo menos conseguimos mais um fragmento! Vamos, tire-o de onde quer que esteja no corpo dessa youkai nojenta!

Ele está nervoso só por que apanhou de uma garota -murmurou Shippou para Miroku.

Eu ouvi isso, seu pirralho!

AAII, Kagome, ele me bateu! -Shippou pulou no colo de Kagome, que se ocupou em massagear o galo que ficara na cabecinha do filhote de raposa.

Nós não podemos tirar o fragmento dela, InuYasha...Pelo menos não ainda.-concluiu a colegial, olhando para o hanyou.

Ora, e por que não! Deixe de enrolar!

Por que, se tirarmos o fragmento, ela irá morrer -disse por fim a estudante.

Todos ficaram em silêncio, enquanto o hanyou mal-humorado processava a idéia. Maldita youkai! Maldita, maldita! Além de quase matá-lo, ela ainda não merecia morrer, pois tinha de dar-lhe muitas explicações. Por que raios o atacara no meio da noite? E, além do mais, não poderia deixá-la morrer ainda por outro motivo...Ela não morreria assim tão fácil, teria de enfrentá-lo novamente quando ficasse melhor. Ele queria revanche.

Pois bem. Mas não me chamem se ela acordar e quiser atacar novamente -disse, dando as costas aos seus companheiros, deitando e finalmente rendendo-se ao sono.

Kagome ficou a observar a menina. Não parecia ser tão má...Tinha os traços finos e angelicais, que nem o corte de cabelo curto (n/a: como o de uma das amigas da Kagome, que tem o cabelo curtinho) conseguia rustificar, com um rabo-de-cavalo muito longo e fino, na base da nuca, vestígios do que fora um comprido cabelo em outros tempos. Kagome reparou que ela tinha uma meia-lua tatuada na fronte, como a de Sesshoumaru, mas...negra. Ela não achou que isso fosse bom.

A garota não parecia ser muito mais velha do que ela. Talvez uns três anos. Quantos teria, pensou, lembrando-se agora de que os youkais vivem muito mais tempo do que os humanos, e que se ela fosse mesmo uma youkai, seria dezenas de anos mais velha do que ela. Isso não importava. Via os detalhes da roupa negra da menina, justa ao corpo, adequada para combates que exigissem agilidade, como a de Sango, porém sem os detalhes coloridos e com ligeiras alterações. Ela não parecia incitar vida, pensou Kagome. Parecia triste, mesmo inconsciente. Que mágoas guardava no íntimo de seu coração?

Deixando a menina-youkai convalescendo, ela deitou-se em sua esteira de palha, soprou as chamas das velas, e foi dormir, assim como os outros.

No meio da noite...

Ah...ai...o...o que...houve? -dizia uma voz muito baixa na escuridão da cabana. -O que será que...AI!

Ela tentou levantar-se, mas no primeiro movimento, sentiu uma dor lacerante no ombro direito e tombou de volta. Depois, tentou novamente. E de novo. E de novo. Mas, quando foi tentar pela quinta vez, além do ombro queimando da dor que se alastrava, sentiu que não conseguia mais se mover. Tombou outra vez, e desta forma ficou, inspirando e expirando fortemente por cinco minutos, antes de conseguir forças para dizer:

Raios...Onde será que estou?

Não adiantou olhar muito em volta. Mal conseguia ver à sua frente. Na posição em que estava, seria mais fácil contemplar as goteiras do teto daquele casebre antigo do que descobrir de uma vez aonde se encontrava.

Baixando os olhos o mais que pôde, viu quatro seres ressonando na escuridão apenas interrompida por algumas velas. Seriam humanos? Provavelmente. Raciocinou dolorosamente que teria perdido a batalha. A batalha...As lembranças começaram a surgir pouco a pouco na sua mente, e a cada cena parecia sentir mais e mais a dor, o triunfo, a conquista, o alívio e tristeza de finalmente ter conseguido a sua chance, e a desperdiçado...Se o tivesse matado quando o encontrou adormecido na clareira da floresta...Mas não. Queria enfrentá-lo. Queria que ele sentisse tudo aquilo que sentiu durante toda a sua vida. Toda a dor e humilhação.

Aquele hanyou maldito...Era culpa dele! Era tudo culpa dele! Desde que nascera, vivera sobre a ameaça deste maldito InuYasha, e, quando finalmente encontrava a sua oportunidade de matá-lo, pelo o qual se preparou a vida inteira, ela não conseguia. Perdera. Perdera, e agora estava provavelmente na casa de alguma família humana, desfrutando da compaixão de alguém que a encontrara ferida e quase morta na floresta.

Estava tão próximo...Achava que tinha matado o hanyou, e, quando estava prestes a conseguir os fragmentos da Jóia...Iria matar dois coelhos com uma cajadada só, já dizia o ditado humano que escutara uma vez. E quando iria conseguir...Sentiu uma dor alucinante no ombro, e desmaiou, para só acordar no casebre onde era acolhida com compaixão.

Isso fê-la revirar por dentro. Que sentimento mais idiota, este, de compaixão! Nunca servira para nada em sua vida. Ou quase nunca..., pensou, com remorso. Mas os fatos eram que agora devia a sua vida a esse sentimento.

Mas isso não iria ficar assim. Iria embora dali. Caçaria alguns cervos e alguns javalis e daria de presente para a família que a salvara. Poderia não ser recíproca ao sentimento de compaixão, mas sabia que ingrata não era.

Tentou levantar-se. Raios! De novo, não conseguia! E não entendia porquê. Ainda tinha as suas pernas, em perfeito estado, pelo que parecia. Seu corpo ainda estava inteiro, com exceção do furo aberto em seu ombro. A única questão era a que não conseguia se mover.

"Mas se estou bem... Será isso... Um feitiço?"

Sua mente trabalhava depressa. Uma família que quisesse apenas cuidar dela e curar-lhe os ferimentos não iria enfeitiçá-la. Sua situação deveria ser bem mais complicada do que imaginava.

O fragmento...A idéia do fragmento de Jóia veio como um raio na sua cabeça. Ainda podia senti-lo, pulsando vida, abaixo do seu peito. Seria aquilo que ainda a mantinha viva? Mas então, por que alguém que não fosse uma família caridosa e que não quisesse um fragmento de Jóia iria deixá-la viva e enfeitiçá-la? Agora sim, pensou. Estava confusa.

Só restava uma coisa a fazer: procurar respostas.

Reuniu a toda a força que pôde, experimentando mexer a boca. Perfeito estado. Bastaria um som, um simples chamado. Uma pessoa capaz de enfeitiçar alguém não seria tão desprevenida a ponto de dormir pesado com um estranho em casa.

A...Al...Alguém...

Deu certo. Cinco vozes levantaram o silêncio da noite. Uma delas era de um ser pequenino, que seu olfato ainda vacilante avisou ser um filhote de youkai raposa. O que ele também estaria fazendo aqui?

Gritos de "O quê?", "Aonde?", "O que foi?", "Acordem!" foram despertando todos os habitantes da cabana.

-Pessoal, levantem, ela acordou! -ela escutou uma voz masculina dar o alerta. Tentou farejar. Este era humano, mas tinha uma energia diferente rondando-o.

O quê? Ela já acordou, Miroku? Que bom!

Desta vez era a voz de uma menina. Humana também, mas com outro tipo de energia rondando-a...Farejou de novo...e teria um sobressalto, se não estivesse imobilizada:

Eram eles.

Ela ouvira o nome Miroku e sentira este cheiro antes, na batalha que tivera antes de desmaiar e acordar ali. Eram eles, só podiam ser! E por que eles teriam salvado-a e ainda conservado o fragmento da Jóia que lhe mantinha a vida? Por quê? Por quê?

Estava ainda mais confusa e, com um apertar de olhos, pensou que seria melhor ter ficado calada, enquanto escutava o rebuliço causado por ela na cabana.

Ela acordou, Miroku? E está bem? Acendam as velas! -era a voz daquela garota com a arma feita de ossos de youkai falando -InuYasha! InuYasha! Acorde!

Ele! Ele também estava ali! Rangeu os dentes, e remexeu-se ainda mais no lugar onde estava, pouco se importando com a dor que recomeçara a aumentar em seu ombro, pouco se importando com o que poderia acontecer.

Está se mexendo...Calma, fique quieta, isso só vai aumentar a sua...Aaaaiii!

O monge retirou rapidamente a mão de seu rosto, quando ela o mordeu.

Sorte sua que minha mordida não é venenosa, seu monge de araque! Foi você quem colocou este maldito feitiço em mim, não foi? Responda!

Agora toda a cabana estava iluminada com as velas acesas rapidamente, e bons quatro pares de olhos estavam fixados nela. O monge olhava-a com um misto de medo e repulsa. Ela era recíproca ao segundo sentimento.

Mas o que mais lhe causou revolta foi o dono do quinto par de olhos, que se levantou e ficou a olhá-la sério e analisadoramente.

Você! -ela gritou -Eu vou matar você! ME TIREM DAQUI! -e recomeçou a se mover contra a barreira invisível que a imobilizava.

Não adiante se revirar, o mantra do Miroku e o adesivo do Shippou deixam youkais imobilizados. Você é uma youkai, não é, menina? -perguntou o hanyou. Estava-a olhando controladamente e de má vontade. Ela olhou-o atentamente e, ao analisar a expressão do hanyou...Uma luz se fez na sua mente recém-clareada, e não resistiu:

Está com raiva por que perdeu para uma garota, InuYasha?-disse, desta vez sorrindo maldosamente. Sabia que estava sem sua máscara, e que eles haviam descoberto sua identidade de garota. E um vestígio de felicidade mesquinha transpassou-lhe o corpo ao ver que o hanyou havia ficado furioso por ter perdido para uma garota, ou uma youkai fêmea, conforme eles imaginavam. Tcs, tcs...Orgulho masculino era uma das coisas que ela mais achava no baka no mundo.

O quêê? -ela alargou o sorriso quando viu o meio-youkai ficar vermelho e crescer de raiva -Sua youkai maldita, eu vou matar você!- ele avançou ferozmente para ela, porém foi detido pelos companheiros e pela garota que tinha os fragmentos. Ela continuou rindo.

Puxa, até uma "garota youkai" como eu posso vencer você, Focinho de Cachorro. -ela riu.

FOCINHO DE CACHORRO! Agora chega! Me larga, Kagome, essa youkai não merece viver nem mais um segundo! Me larguem, todos vocês!

A confusão estava armada. Enquanto InuYasha era detido com muita dificuldade pelos amigos, bradando as mais terríveis maldições para a "misteriosa youkai", esta cantarolava movendo a cabeça de um lado para o outro, no seu lugar estável: "Focinho de cachorro, focinho de cachorro, focinho de cachorro..."

Chega, InuYasha! SENTA!-Gritou Kagome, quando a situação já estava fugindo do controle. O hanyou estava de cara no chão, e antes da youkai começar uma risada, Sango virou-se para ela, estendeu o dedo e disse:

Você aí! Pare de provocar o InuYasha! Já não basta o que fez para ele hoje? Ele quase morreu, e saiba que você também teria morrido, se nós não tivéssemos trago-na para cá! Fique quieta, você não está em condições de fazer gracinhas, perdeu muito sangue e pode voltar a desmaiar se continuar assim, youkai ou não!

Quem você pensa que é, humana, para falar comigo assim? E, ei...-ela tornou a olhar para todos eles, um por um, e começou a rir. Ria baixinho no começo, mas depois sua risada foi aumentando, e enchendo cada centímetro daquela cabana. Os humanos e o hanyou mostravam desagrado e espanto diante desta sua reação. Quando Sango já estava ficando irritada novamente, ela cessou a torrente de risos e disse:

Vocês... vocês pensam que sou uma youkai?

Por que? E não é?

Quem disse para vocês que sim?

O InuYasha.

Ela olhou para o hanyou, que havia levantado o rosto e olhava-a com fúria.

Eu retiro o que disse sobre os seus sentidos serem muitos bons. Cometeu uma falha, Focinho de Cachorro.

Como uma falha? O que quer dizer com isso? -respondeu o hanyou, aproximando-se da garota, e pondo de lado por um instante a ofensa aos seus sentidos e a seu rosto. Sentiu o ar dos pés à cabeça da moça, o que causou a ela uma cara de desprezo. Por fim, disse, muito baixo:

Ela tem razão.

Como! Ela não é uma youkai? Mas, InuYasha...-contestou Miroku, em nome de todos os presentes.

Ela não é totalmente uma youkai -ele disse, desta vez levantado e olhando para a garota estendida no chão -É uma hanyou.

Continua...