Capítulo Seis - Nayouko não está sozinha
Você tem um irmão?
Um raio de poderosa energia explodiu na árvore em que Nayouko estivera poucos segundos atrás, antes de pular e cair na mesma árvore de InuYasha e Kagome.
Vai dizer que não sabia? -respondeu o hanyou, ainda com o braços envolvendo a colegial, e o outro empunhando a espada -Não nos observou o suficiente para saber? -outro raio de energia veio na direção deles, os três pularam para a árvore mais próxima.
Se eu soubesse, não perguntaria, hanyou no baka! -Nayouko desviou o rosto de uma lâmina de energia que saiu cortando os galhos atrás dela -Eu suponho que vocês não tenham a melhor das relações fraternais!
Aquele maldito do Sesshoumaru...Ele é meu meio-irmão, e vive de se gabar por ser um youkai completo, e eu não!
Ahh, confidências de um hanyou com orgulho ferido! -ela sorriu, quando InuYasha olhou-a com pura fúria -Vai me dizer que ele também tem focinho de cachorro, focinho de cachorro?
Ora, sua...Isso não é hora para me ofender, sua gata de lixo idiota! Você não conhece o Sesshoumaru, ele tem o caráter bem pior que o das suas piadas baratas!
O que ele diz é verdade, Nayouko, é melhor você não subestimar o Sesshoumaru...-Kagome respondeu, enquanto olhava o monstro gigante seguir para mais perto deles -Cuidado!
Mais uma mudança súbita de árvores.
Sesshoumaru, seu covarde, apareça! -InuYasha subiu para o topo da árvore mais alta, e gritou provocando seu irmão.
Nayouko apenas observava, junto com Kagome no galho mais baixo, quando uma aura intensa de poder sobrepôs as duas. Ela pôde sentir. O poderoso youkai flutuava lentamente de trás do monstro, que aparentemente controlava; até estar em cima do ombro da criatura. Lá de cima, seus longos cabelos cor de prata voavam. Ele estava vestido como um samurai: roupas largas, brancas, armadura, e em sua cintura repousava a Tesseiga. Isso ela sabia. A lenda da Tessaiga e Tesseiga...Ela iria presenciar aquilo! A excitação corria pelo seu corpo. Veria pessoalmente o embate entre as duas espadas mais poderosas já forjadas naquela era.
E, disse para si mesma, vou participar. Aquilo não era uma contestação, nem uma hipótese. Era uma certeza.
Mesmo de longe, ela podia ver os olhos cor de mel brilhantes do youkai reluzindo em direção à árvore em que os três estavam. Ele aparentemente não diferia muito fisicamente do irmão. Apenas não tinha as orelhas de cachorro, e...Fixou o olhar. Algo ali, em sua expressão, lhe deu a total certeza de que ele e o irmão eram muito diferentes.
InuYasha. Finalmente nos encontramos de novo...Irmão -disse o youkai, baixa e lentamente. De trás dele, um pequeno youkai com cara de lagarto surgiu, empunhando um báculo de duas cabeças.
O ssssenhor vai acabar com elessss, não vai, ssssenhor Sssssesssshoumaru? -dizia o pequeno youkai. Ou não? Parecia mais ser um simples lacaio do meio-irmão de InuYasha.
Jaken, volte para a carruagem. Certifique-se de que a Rin não vai se intrometer como da outra vez.
Esssstá ccccerto sssenhor Sssessshoumaru! -o pequeno sejá-lá-o-que-for saiu correndo do ombro do enorme monstro. Quem seria Rin, Nayouko se permitiu pensar.
Agora, vamos ao nosso pequeno acerto de contas..InuYasha. Você já sabe o que eu quero.
Sesshoumaru, seu metido! Eu vou acabar com você se não tirar essa cara convencida da minha frente!
O que ele quer, InuYasha? -perguntou Nayouko, levemente aflita por não estar entendendo nada naquela situação. Vendo que o hanyou continuava calado, aumentou o tom: -Diga logo, não se faça de surdo!
Cale a boca! Será possível que eu só me cerco de youkais metidos? -ele ficou com aquela marquinha de nervos estourando na cabeça.
Youkai? -Nayouko sentiu que o meio-irmão de InuYasha voltava sutilmente o rosto para ela, e pronunciou aquela única palavra baixo o suficiente para que só ouvidos de hanyou captassem. Voltou-se para ele, ergueu a cabeça:
Sou uma meia-youkai Pantera Negra! E você, quem é? -achou que aquela seria a melhor abordagem contra alguém que os tentara estraçalhar três vezes seguidas.
Ele continuou a observá-la silenciosamente. Enfim, disse, ainda impassível:
É verdade, é mesmo uma hanyou Pantera Negra. Você é filha de Maetsa. -disse aquilo com tanta certeza, que não havia ali dúvidas de que fosse uma indagação. Levantou o tom de voz: -Sou o Lorde das Terras do Oeste, Sesshoumaru! Entregue-me o fragmento que Jóia que você possui.
O...O quê? Ma..Mas como você...
InuYasha olhava interrogativamente para Kagome. Como ele sabia? Como ele sabia? A mesma expressão aflorava nas feições de Nayouko.
Eu não sei como você sabe que possuo um fragmento, mas uma coisa é certa: Nunca irei entregá-lo para você! -Como é que ele ousava impor-lhe uma ordem como aquela? Detestava admitir, mas InuYasha, tinha razão: aquele youkai era mesmo muito convencido.
Sua tola. Terei então e tomá-lo à força -ele recomeçou a flutuar, em sua direção, cada vez mais próximo. Ao invés de qualquer sinal de pânico, Nayouko abriu um sorriso. Aquele seu sorriso de pantera.
Será divertido vê-lo tentar.
Dito e feito. Sesshoumaru, da sua lenta descida, passou para um borrão de luz que desapareceu e apareceu em frente a Nayouko. Ela pôde ver a lua crescente em sua fronte. Por um segundo fixou os olhos nos dos hanyou, parecendo um lago banhado pelo luz do pôr-do-Sol, brilhantes e profundos. Ela sorriu mais. A emoção de tudo aquilo valia mais que um par de olhos bonitos.
Assim como Sesshoumaru sumira e aparecera na sua frente, ela fez o mesmo, aparecendo desta vez atrás do Lorde das Terras do Oeste. Ele sentiu sua presença rápida ali, e ativou suas garras venenosas. Nayouko fez uma acrobacia que aprendera ainda quando criança. Nunca havia utilizado-a antes, mas parecia perfeito para desbancar aquele youkai tão seguro de si: ela rodopiou o corpo, e, de cabeça para baixo, mas ainda encarando o youkai, prendeu o pulso que desferia as garras venenosas de Sesshoumaru com os pés. Riu. Ele fora pego de surpresa. Num rápido movimento dos pés, atirou o youkai de encontro à árvore em que estivera.
Sesshoumaru apenas teve tempo de rodar o braço no tronco da árvore que quase encontrara de frente, retomar o impulso e atacar a meia-youkai, com sua frieza predominante nas batalhas seriamente alterada.
Como ousou, hanyou maldita! -disse ele, mirando seus rápidos ataques venenosos na garota, que desviava com facilidade. Ela voltou a movimentar-se com extrema rapidez, e colocou-se de novo atrás do youkai. Sesshoumaru apenas viu o longo rabo-de-cavalo da hanyou circundando-o, como uma enorme e fina cobra, e enquanto seguia o sentido dos fios para encontrar sua dona, sentiu um forte impulso nas costas. Fora de novo apanhado de surpresa.
Você terá que ser mais rápido do que isso, Senhor Das Terras do Oeste -zombou a hanyou.
Eu não acredito...Ela acertou o Sesshoumaru! -Kagome disse, boquiaberta, da árvore onde ela e o hanyou se encontravam.
Grrr...Aquela intrometida...GAROTA! SAIA DAÍ AGORA! ESTA LUTA É ENTRE MIM E O MEU IRMÃO! -ele brandiu a espada e pulou para onde Sesshoumaru se encontrava. Súbito: Slapt! Fora atingido pelo chicote de luz do youkai, ainda caído na relva. Ergueu o braço para proteger-se.
Não se meta, InuYasha. Fique fora. -ao deparar com o rosto de inacreditável surpresa do meio-irmão, ele levantou-se rapidamente e olhou para a garota no topo da árvore à frente -Eu não deixarei alguém da raça inútil dos hanyous me vencer, muito menos uma descendente das Panteras como você, sua maldita! Imagino que também tenha envergonhado a sua linhagem nobre ao nascer, estou certo? Os hanyous envergonham tanto a humanos quanto a youkais nobres. Vocês se merecem.
InuYasha, ao ouvir mortificado o comentário do irmão, olhou para Nayouko. A menina, que até agora sustentava um sorriso de vantagem, ficou sombria. Pulou, indo parar no meio dos dois irmãos:
Pois se é o que pensa, venha lutar comigo. Terei prazer em mostrar-lhe que mereço tanto quanto qualquer outro o sangue das youkais Panteras Negras que corre em mim. VENHA! -e sacou suas espadas de três pontas.
Sesshoumaru impulsionou-se para cima da garota, e brandiu seu chicote contra ela. Nayouko defendeu-se com as duas espadas cruzadas, e resistiu aos golpes furiosos do youkai. Ela já estava ficando cansada daquelas chibatadas que bloqueava com certa facilidade. Porém, num segundo em que distraíra-se pensando nisso, o youkai investiu com mais força, e sua espadas voaram longe. Ele pareceu sorrir, quando girou o braço para a chibatada final, porém...
...Nayouko não era o tipo de pessoa que se deixava intimidar assim tão fácil. Com certeza não seriam alguns golpes de chicote que iriam derrotá-la. Então, agarrou a ponta do chicote que seu inimigo brandia, enrolou-o no pulso ciente de que a energia da arma queimava suas luvas e vestes e que em breve chegariam na carne, puxou com mais força o chicote para si, e quando o seu dono veio junto, desferiu-lhe um tremendo soco no rosto.
Sesshoumaru foi arremessado novamente para a árvore, desta vez abrindo uma cratera até que chegasse ao seu destino. Nayouko arfou por um momento, e sacudiu o chicote para longe do braço. Haviam agora marcas vermelhas em seu pulso, mas que valeram a pena para ver a expressão atordoada que o imponente youkai demonstrava.
Ele se ergueu, não com dificuldade física, mas sim por não compreender como uma simples hanyou poderia tê-lo acertado daquele jeito. Uma simples hanyou...Mas não, ela usava um fragmento da Jóia! Era isso que lhe dava poder, só poderia ser. Senão como uma criatura tão inferior poderia acompanhar seus movimentos e ainda despistá-lo assim?
Talvez seja isso mesmo...-murmurou para si.
SSSSENHOR SSSESSSSHOUMARU! SSSSENHOR SSSESSSHOUMARU! O SSENHOR ESSSTÁ BEM, SSSENHOR SSSESSSHOUMARU? -Jaken se aproximava correndo tanto quanto suas pequenas pernas permitiam, sacudindo o Bastão de Duas Cabeças pelo ar.
O que esssa hanyou impressstável fezzz com o ssssenhor, ssssenhor Sssessshoumaru?- o pequeno youkai pulava em torno do seu mestre. Acabou por levar um tapa certeiro.
Eu mandei que você ficasse vigiando a Rin! Onde ela está?
A..li...Sssenhor...-o pobre lacaio apontou seu fino dedo verde na direção oposta à que ocorria a batalha. A menininha estava cantarolando uma de suas muitas infantis canções, rodopiando em torno do manto de flores que nascia no leito do riacho próximo à batalha. Quando Rin viu, por entre as árvores que cobriam a luta que estava ocorrendo, ela sorriu mais ainda e correu em direção a Sesshoumaru.
Senhor Sesshoumaru! Tudo bem com o senhor? Me desculpe por ter saído, mas estava tão tedioso dentro daquela carruagem, e eu vi aquele monte de violetas e margaridas ali perto do riozinho, que decidi vir buscar algumas para o senhor...
Todos estavam com uma grande gota da cabeça, menos InuYasha, Nayouko e Sesshoumaru. Este já estava acostumado com as atitudes da criança. Provavelmente o vira ali e pensara que estava descansando um pouco, deitado à sombra de uma árvore.
Continuou seguindo a pequena com os olhos, enquanto ela corria de um ponto a outro da clareira, distribuindo flores àqueles humanos aliados do seu irmão que estavam escondidos, assistindo tudo, prontos para atacarem também a um sinal do hanyou. A exterminadora ficou surpresa quando a menina passou correndo por ela e deixou uma flor em suas mãos. O mesmo aconteceu com o monge, que deu a flor depois para a exterminadora. Ela ficou levemente vermelha. Sentimentos humanos...Sesshoumaru meneou a cabeça.
Rin continuou, deixando duas flores ao pé da árvore onde InuYasha e Kagome estavam empoleirados. Acenou para eles. Passou correndo por Jaken, e deixou uma violeta numa das orelhas répteis do pequeno youkai. Enfim, chegou à vez de Nayouko.
Ah, você é uma moça muito bonita! E que linda a sua cauda, preta e brilhante! Tome, fique com duas -deixou uma violeta e uma margarida nas mãos vermelhas da hanyou -Esta combina com seus olhos, e esta, você pode pôr no cabelo! Tchau!
Nayouko viu a criança afastar-se, parando antes perto de Sesshoumaru, para o qual fez uma reverência de cabeça e largou o restante do buquê que tinha feito no colo de seu protetor.
Rin...Volte para a carruagem-ele murmurou, olhando neutramente para a criança. Ela respondeu com um sorriso:
Sim, senhor Sesshoumaru! -e, assim como veio, saiu cantarolando bosque adentro.
Assim que Rin sumiu das vistas de todos, Sesshoumaru tornou a olhar para o campo de batalha. Ou o que antes fora um. Rin, com sua ingênua e singela alegria de criança, deixara todos estonteados. Nayouko ainda olhava as duas flores que a menina deixara em suas mãos. InuYasha e a garota humana olhavam-se, e depois para ele, Sesshoumaru, ainda sem saberem o que fazer. Não era todo dia que uma luta violenta entre dois seres muito poderosos era interrompida por uma menininha que distribuía flores. Era vergonhoso admitir, mas Rin e sua boa-vontade e alegria retiraram todo aquele espírito de luta presente no local há poucos segundos atrás.
Ele se levantou, com a Tesseiga em mãos. Ao ver isso, a hanyou ficou em alerta e colocou as duas flores na fita vermelha que lhe servia como cinto. Em posição de batalha.
Porém, ao que menos esperavam, ele olhou pela última vez o campo de batalha, e, num gesto rápido, guardou a Tesseiga na bainha e deu as costas a todos os presentes.
Ei...Aonde você vai! Volte aqui! Temos de continuar a luta, eu ainda tenho que vencer você!-ela dizia em voz alta, do local onde estava. Ele não poderia abandonar a luta assim! E quem era aquela menininha humana? O que ela estava fazendo com um youkai frio e calculista como o meio-irmão do InuYasha? Por que ele parecia ser...uma espécie de...Protetor dela? Uma coisa ocorreu-lhe subitamente: será que o youkai não era tão frio quanto parecia? Ficou a observar-lhe, enquanto ele continuava a sua lenta caminhada pelo mesmo caminho do riacho.
A luta ainda não acabou. Eu voltarei. -disse ele, com a voz sem o menor vestígio de alteração.
Ei...Espere! -tarde demais, a presença do youkai já tinha sumido de perto deles. E ela ficou ali, parada, com a mão estendida na direção do youkai, buscando em vão uma explicação.
Vocês podem me explicar o que raios aconteceu hoje? -ela perguntava, pela milésima vez, num vestígio de irritação, para os outros humanos ao redor da fogueira. Já amanhecera desde o ocorrido na madrugada passada. Eles passaram o restante da noite comentando a aparição de Rin e a reação de Sesshoumaru, mas Nayouko não se conformava de ter de interromper uma luta da qual estava ganhando.
Pela última vez, garota: Aquela menina, a tal de Rin -respondia InuYasha, encostado na árvore mais próxima, limpando a Tessaiga em seu colo -Ela é uma espécie de protegida do meu meio-irmão.
Mas ela não é humana? Se o Sesshoumaru não suporta nem hanyous, como é que ele pode proteger uma humana? Você não disse que ele detestava humanos e hanyous, era um youkai cruel e coisa e tal?
Disse! E não sabemos por quê ele adotou aquela menininha tagarela.Ora, isso também não me importa!
E como não? E se ele a estiver mantendo à força com ele? -ela perguntou, enquanto deitava-se na grama, ondulando sua cauda acima do corpo.
Costumava ficar nessa posição quando lhe era permitido um intervalo em seus treinos, ainda criança. Mas mantinha seus sentidos bem atentos: aos oito anos, depois de uma batalha simulada, Richard chegou-lhe por trás das costas enquanto estava deitada na relva e atacara-lhe com um bastão de madeira. Ela rodopiou o corpo para o lado, mas sua cauda não escapou do golpe: fora acertada bem na pontinha, o que, para uma hanyou-pantera de oito anos de idade, fora natural um grito agudo de dor. Recuperou-se rápido do choque de ter sido atacada desprevenida, mas, enquanto ainda segurava a pontinha dormente de sua cauda negra, lançou um olhar sombrio para Richard, que, de um sorriso rápido e vitorioso por tê-la pego despreparada, passou para um risco de preocupação. O menino sabia muito bem o quanto a amiga meia-youkai ficava irritada quando pisavam em sua cauda, por assim dizer...E, ao receber o olhar mais que intimidador que a menina lançava...Foi a deixa! Largou a espada acima do ombro e saiu correndo, enquanto a hanyou de orgulho e cauda ferida lançava-se atrás dele, ativando as pequenas garras, mas que já podiam fazer um bom estrago...
Nayouko sacudiu a cabeça, e voltou ao presente. Pegou suas espadas, e começou a poli-las também.
Não me pareceu que ela estivesse ali obrigada, Nayouko...Parecia mais ser muito...Grata ao Sesshoumaru. -Disse Kagome, passando o pingente de fragmentos a Jóia delicadamente entre os dedos. -Como foi que o Sesshoumaru sabia que você possui um fragmento, Nayouko? Ao que eu saiba, ele não pode detectá-los...
A hanyou ficou pensativa. Não sabia muita coisa ao respeito daquele youkai de poucas palavras, e nem como ele poderia saber sobre seu a mão de leve abaixo do seio esquerdo. Podia sentir o fragmento irradiando-lhe vida. Perdera a conta de quanto tempo o tinha ali. A colegial fora a primeira criatura que reconhecera sozinha a presença de um fragmento em seu corpo, fora ela...Quem mais sabia? Eis uma das perguntas para a qual ainda não tinha resposta. Pensamentos incompletos eram uma das muitas coisas que a conseguiam deixar irritada. Não saber o motivo de por quê uma coisa acontecia a tirava do sério. De sua expressão serena, emergiu a hanyou mal-humorada de sempre.
Vamos continuar! Quanto mais cedo encontrarmos o Naraku, mais cedo poderei acabar com ele e vingar a morte de minha família! -ela se levantou bruscamente, deixando InuYasha e Kagome sozinhos. Enquanto se afastava, comentaram:
A Nayouko parece estar muito decidida do que quer...
Ela é apenas mais uma hanyou metida à besta, Kagome.
Mas você também é metido, InuYasha...-respondeu a colegial,com uma grande gota na cabeça.
Ora, fique quieta! Estávamos falando dela, não é? Nunca vi uma hanyou tão irritante.
Raramente você vê hanyous, InuYasha...E, na verdade, vocês são muito parecidos, por que ela é tão irritante quanto você está sendo agora! -a colegial respondeu, com os pulsos esticados nos lados do corpo.
Ora, cale a boca, Kagome! Eu não sou parecido com aquela gata de lixo! -o hanyou se levantou.
OSWARI! Não me mande calar a boca!
Plaft!
Humpf! -a menina seguiu o seu caminho, atrás de Nayouko.
Mulheres...Parece que tanto as hanyous quanto as humanas são difíceis para você, InuYasha -o monge, que chegara agora, agachou-se ao seu lado, e observava calmamente o hanyou de cara enterrada no chão. Infelizmente (para ele), não percebeu quando o meio-youkai ergueu um dos braços e deu-lhe um bom murro na cabeça.
Cale a boca, Miroku! -ele respondeu, com uma veia estourando nas têmporas. Em seguida, ergueram-se, e partiram atrás das três mulheres do grupo.
Quando o Sol do meio-dia já despontava alto, eles decidiram parar para comer alguma coisa. O encarregado da caça, desta vez, foi Nayouko, por escolha própria. InuYasha não concordou muito com isso:
Sou eu quem sempre busco comida! Por que agora é ela quem vai se encarregar disso?-perguntava ele, irado, enquanto a hanyou colocava os protetores de ombros.
Eu aposto que posso caçar melhor do que você, InuYasha. -disse ela, calmamente.
Sonhe, gata de lixo, sonhe!
Já disse que não quero que me chame disso, focinho de cachorro!
Gata de Lix...
InuYasha, deixe de ser mal-educado! Nayouko, não é seguro você sair sozinha por aí -ao dito da colegial, a hanyou soltou um suspiro de desprezo : "Não preciso de conselhos de uma humana!". A menina ignorou -InuYasha, você já caçou anteontem, por que não deixa a Nayouko fazer isso hoje?
Não-respondeu simplesmente o hanyou.
Então por que não vai com ela, InuYasha? Assim, não haverá o risco de Nayouko ser atacada, e você não vai ficar nos enchendo a paciência aqui -disse Sango, de seu lugar na fogueira.
O quêêê? Está insinuando que eu por acaso vá precisar da proteção de um hanyou focinho de cachorro como ele? -Nayouko largou suas espadas e apontou pasma para InuYasha, sem querer acreditar no que a humana com uniforme parecido com o seu dizia. -Mas que disparate! Não viram o que eu acabei de fazer com o irmão dele? Posso acabar sozinha com qualquer youkai que tiver na floresta, com uma mão nas costas!
Convencida! Não foi por acaso que eu te acertei uma espada no ombro! -ele respondeu. Não seria ignorado e submetido à uma hanyou irritante como aquela!
Não me lembre disso, InuYasha...-ela respondeu perigosamente. E antes que os dois pudesse se atracar de novo, diante dos rostos pasmos de todos ao redor, Miroku se interpôs entre eles.
Acalmem-se, os dois...Nayouko, é melhor você ouvir o que a Kagome disse, senão daqui a pouco ela levará à sério a ameaça do Kotodama. E, quanto a você, InuYasha...Vá andando antes que torre o que nos restou de paciência com estes chiliques de vocês dois.
Socos duplos na cabeça do monge. InuYasha e Nayouko estavam com os pulsos bem esticados na cabeça de Miroku, que caíra, com uma gota nos olhos prestes a cair.
Eu não dou chiliques, monge pervertido! -Nayouko deixou os dois homens, e tomou distância deles com um salto para a árvore mais próxima -Me acompanhe de puder, InuYasha! -gritou de lá, correndo e saltando ainda mais rápido.
GGRRRRR...Maldição! VOLTE AQUI! -ele saiu em disparada também, atrás das gargalhadas da hanyou.
"Até que eles não parecem ser tão maus quanto eu imaginava..." Nayouko pensou, enquanto trocava de árvore a cada segundo. Depois, sacudiu a cabeça: "O que raios eu estou imaginando?". Ela se lembrou do conselho principal do pai: Nunca confie em ninguém. Jamais, por que isso pode custar-lhe a vida. Aprendera isso muito cedo. Seu pai não gostara quando iniciou a amizade com Richard, mas, ao ver que era apenas um menino, permitira-lhe a companhia dele...Afinal, se não fosse por Richard nos seus poucos anos de infância, teria passado-os completamente sozinha e triste, apenas dedicada ao treinamento. Ela lembrou saudosamente do menino. Sorriu de leve, há muitos anos ele não deveria mais ser o garoto em que ela corria para bater quando lhe irritava. Como estaria agora? Silenciosamente, parou num dos galhos baixos de um pinheiro. Colocou a mão dentro de suas vestes pretas, e puxou um cordão simples, de fio de lã verde, mas do qual pendia um pingente prateado, com contornos de uma meia-lua...Esfregou-lhe cuidadosamente entre os dedos, enquanto lembrava das horas em que o único ser humano que ela pudera chamar de Amigo a acompanhava. Recordou as várias batalhas simuladas que tiveram, em que, quando ela caía, Richard colocava sua espada de madeira do lado e estendia a mão para puxá-la. Orgulhosa, a pequena hanyou recusava a ajuda, mas quando tinha realmente dificuldades, o menino não pensava duas vezes e a puxava pela mão, sorrindo. Antes que a menina pudesse demonstrar qualquer reação, ele empunhava novamente a espada de madeira e recomeçava os ataques. Era uma forma dela sentir que não deveria ficar grata pela ajuda.
AHAHÁ! TE ENCONTREI! -ela ouviu um borrão vermelho gritar atrás de si, enquanto disparava na sua direção. Ela curvou o corpo o máximo que pôde para trás, junto ao tronco da árvore, e o borrão vermelho (que ela descobria agora, pelo cheiro, ser InuYasha), passou direto por onde há meio segundo atrás estivera. O hanyou, com essa ação inesperada, atravessou os troncos das duas árvores que ficaram em seu caminho, antes que pudesse realmente parar.
Eu deveria ter sentido o seu cheiro se aproximando, seu hanyou traiçoeiro! -ela disse, enfurecida por quase ser pega desprevenida. Depois, olhou melhor o meio-youkai estatelado na base do tronco de uma árvore, com uma mão na cabeça, tentando parar o rodopio causado pelo choque. Ela se aproximou com um salto, e ficou observando.
Ai...Sua...Maldita...-ele disse, enquanto reordenava a mente. Ela, apenas olhando-o ao seu lado, com os braços esticados em cima dos joelhos, subitamente começou a rir.
Ele se recuperou mais depressa. Ficou vermelho de raiva ao ver a cena.
Do que você está rindo, sua no baka? Pare! PARE AGORA DE RIR!
Mas nada funcionava. Nayouko agora rolava pela grama, agarrando-se à barriga, sem conseguir parar. Seu rabo-de-cavalo fora estendido pela grama, e se contorcia conforme ela virava e revirava. Parecia realmente uma longa e fina serpente, agora. InuYasha anotou mentalmente que nunca vira ninguém rir tanto como aquela menina ria. Nem humano, nem hanyou, e muito menos youkai! Ele observava pasmo: nem de longe parecia aquela garota fria, com sentimentos amargos por ter presenciado tanta desgraça durante a vida...Sem vestígios de ódio ou sentimento de vingança, que ele mesmo conhecia tão bem...Ele nunca admitiria, mas Kagome tinha razão: eles eram, sim, em alguma coisa, parecidos. E, vendo a hanyou, uma hanyou como ele, com sentimentos como os dele, se contorcer de rir, uma risada sem desprezo ou sarcasmo, ele lembrou de que era bom se ver livre por alguns segundos da tensão que carregavam. A imagem de Kagome veio em sua mente, sorrindo...
"Na verdade, vocês são muito parecidos, InuYasha..."
Olhou de novo a hanyou à sua frente. Ela era simplesmente uma garota que estava se divertindo, agora, pensou, já quase sorrindo.
E isso o fez lembrar do motivo da diversão: ele. Aquela menina estava se divertindo às suas custas! Ferozmente, com várias marquinhas de veias estourando nas têmporas, apertou os dedos num punho bem fechado. "Dane-se se somos parecidos ou não, ninguém ri de mim!"
"PAAARE AGORA MESMO!" Ele gritou, ao que a hanyou, tomada pelo susto, realmente parou de rir. Os dois se olharam por um instante. Ela disse:
Você não me mandaria parar de rir, se tivesse visto a sua cara quando caiu. -falou simplesmente. E já iria iniciar uma nova crise de gargalhadas, quando o meio-youkai reparou no pingente que saía de suas vestes.
O que é isso? -ele pegou-o habilmente. Nayouko, rápida, tentou tomá-lo de volta das mãos do hanyou, mas ele afastou os braços.
Me devolva isso! Não é seu! Exijo que me devolva agora!
Primeiro me diga o que é -ele respondeu, olhando-a de soslaio. Levantou-se e esticou o braço acima da cabeça, quando ela tentou pular para pegá-lo. O palmo e meio de altura que os diferenciavam ajudou muito nessa hora.
Não, não digo! ME DEVOLVA! -ela gritou.
Por quê não pode me dizer, hanyou irritante? -ele pulou num galho próximo, para observar o cordão. Um pingente de meia-lua prateado, com finos ornamentos, na ponta de um fio de lã verde. Rodava o pingente entre os dedos, quando a hanyou enfurecida atacava-o com suas garras. Ele pulou para o chão de novo.
Me devolva agora, InuYasha, senão vou despedaçar você! -ela ameaçou, partindo para cima dele de novo. Mas, antes que desferisse suas garras, o hanyou jogou-lhe o cordão de volta. Ela amparou-o no ar.
O que ele significa?-perguntou simplesmente o hanyou. Ela abaixou a cabeça alguns centímetros, e virou-a para o lado.
Por que quer saber?
Por nada -ele respondeu, também virando a cabeça -Apenas responda se quiser. Parece ser muito importante para você, esse pingente.
Depois de uma pausa, analisando fixamente o pingente na palma da mão, ela disse:
Meu amigo me deu.
Amigo! -ele perguntou, uma nota perplexo. Não era comum hanyous ter amigos.
Sim, um amigo. Você não têm amigos? Aqueles humanos, e aquele youkai? Então, eu também tinha um amigo! -ela respondeu, também com uma nota de irritação.
Ele parou para pensar. Miroku, Sango, Shippou...Kagome...Estavam juntos há tanto tempo, depois de uma vida de solidão, que nem se dera conta de que eles realmente eram amigos. Resolveu mudar o rumo da conversa dele de volta para a hanyou:
Por que tinha? Ele morreu?
Não! Quero dizer...Eu...não sei. -ela abaixou a cabeça. Há muito vinha cogitando essa hipótese, mas sempre que lhe vinha à cabeça, tratava de afastá-la. Não sabia por quê, mas não queria raciocinar sobre a possibilidade de Richard ter morrido... -Há muitos anos que não o vejo. Desde que parti do vilarejo, decidida a matar você...-ela dizia, num tom de voz baixo.
Hum...-Ele prestava atenção aos fatos da história. Então Nayouko tinha um amigo, não era tão fria quanto pensava. Aquela hanyou que parecia ter nervos e vontade de ferro (incandescente, por causa do temperamento) tinha uma parte que sentia dentro dela. Ele pensou que poderia estar acontecendo o mesmo com ele. Ou já teria acontecido? "Amigos...", ele pensou novamente.
Nayouko, ao escutar o "Hum..." de InuYasha, recebeu a ficha de que estava fazendo confissões para o hanyou que há dois dias atrás queria matar! Ela sacudiu a cabeça fervorosamente.
Já chega desse assunto! Eu..Nós...Temos que caçar. Pode voltar para o acampamento, que eu me encarrego disso sozinha. -ela disse, dando as costas ao meio-youkai pensativo.
Ele acordou das divagações.
O quê! Pode ir parando aí, já disse que quem caça aqui sou eu! -ele correu atrás dela, ultrapassando-a.
AAAhhh, seu no baka! -ela acelerou e ultrapassou-o.
Os dois continuaram apostando uma corrida interminável pela floresta, desviando de árvores e arbustos, regozijando quando conseguiam ultrapassar o outro, e sofrendo dura decepção e reânimo quando eram passados.
Finalmente, quando InuYasha passava outra vez à frente de Nayouko, viu um vulto passar correndo entre eles. Nayouko foi a primeira a perceber, e disparou atrás do cheiro da criatura.
Ei, o que você está fazendo! -ele gritou.
Estou fazendo o que o grandessíssimo no baka deveria fazer: Caçando! -Ela riu, enquanto perseguia a presa. De salto em salto, conseguiu avistar um coelho branco, encurralado contra o tronco de uma árvore. Quando ela pulou mais alto, e já ia preparando as garras; InuYasha surgiu atrás dela, e a desviou em pleno ar.
POR QUE VOCÊ FEZ ISSO? Eu iria pegá-lo! -ela gritou furiosa, do arbusto onde caíra.
Feh! -ele tornou a saltar em busca do coelho.
GRRR...Raios...No Baka! No Baka, No Baka, No Baka! -ela repetia, enquanto tornava a busca atrás do hanyou. Encontrou-o. Desviou-o do ataque assim como ele fizera. Mais à frente, ele mergulhara no chão agarrando o coelho, fazendo com que ela apenas acertasse o tronco. Logo depois, o coelho fugiu de seus braços, e os dois retomaram a busca.
Não acham que a Nayouko e o InuYasha estão demorando demais? -perguntou Miroku, ao redor da fogueira assim como o restante do grupo.
O que será que deve ter acontecido? -murmurou Kagome.
Eu acho que o InuYasha não resistiu aos encantos daquela hanyou -disse o monge, com uma pequena risada maliciosa. Sango acertou-o com o punho direito, enquanto Kagome levantava a cabeça ao pensar no que o monge dissera.
Isso foi apenas uma brincadeira desse pervertido, Kagome -Sango falou, reparando na expressão da amiga. -Você sabe muito bem que o InuYasha...
Ele nunca trocaria as brigas com você pelas brigas com a Nayouko, Kagome -Shippou dissera, do colo da menina.
Shippou! Eu não estou pensando nisso, em nada disso, Sango! -ela ficou vermelha, enquanto abaixava a cabeça. "Ai, Buda vai me castigar por essa mentira..."
Ela mal concluíra seus pensamentos, quando as árvores e arbustos ao redor deles começaram a farfalhar, e de dentro deles surgiram dois hanyous arranhados e mal-humorados, discutindo; cada um com uma bolsa cheia de frutas, e segurando, os dois, um coelho. Nayouko puxava o pequeno animalzinho branco pelas orelhas, e InuYasha pelos pés.
Me devolve! Fui eu quem encontrei, eu que consegui pegá-lo! -ela reclamava.
Você! Fui eu! Me devolva isso aqui! -ele tornava a puxar os pés do coelho.
Eles largaram as cestas diante de quatro pares de olhos espantados, cada um com uma gota, e continuaram a briga pela reivindicação do coelho. Shippou foi o primeiro a acordar do transe.
Comiiidaa! -ele pulou no meio dos dois, e puxou o coelho para si. Correu até Sango, do lado da fogueira -Você pode prepará-lo, Sango?
Claro, Shippou...-a exterminadora ainda olhava abismada para os dois à sua frente. Eles se encararam com raiva no olhar, saindo faíscas, e viraram ambos de costas ao mesmo tempo.
Kagome ainda os observava, mas Miroku cochichou-lhe no ouvido:
Eles são iguais demais para combinarem, srta. Kagome. -o monge deu uma risadinha -Sem problemas para a srta.
Kagome entendeu perfeitamente o que ele quisera dizer. E como fora exatamente o que estivera pensando naquele momento, corou e abaixou a cabeça.
Continua...
