Capítulo Sete
-ARGH! Não, eu já disse que não quero! Se afastem de mim AGORA!
-Mas, Nayouko-sama, olhe só para você...Está precisando disso! Vamos lá -Sango implorava.
-Eu sei exatamente quando preciso disso ou não! E agora eu não quero! Entenderam? Não quero!
-Mas, Nayouko-cham... -Kagome era a única que a tratava por este nome, além de Shippou. Sango e Miroku utilizavam-se do sama, e InuYasha se referia a ela apenas como hanyou insuportável. Isso era recíproco entre eles -A Sango tem razão, você está irreconhecível deste jeito, e, além do mais, nós precisamos relaxar um pouco. -enquanto falava, Sango e Kagome empurravam Nayouko por entre as árvores, que esta ia despedaçando com suas garras, para impedi-las de prosseguir.
-Não preciso, nem disso, nem de relaxar! -A hanyou gritava -Estou completamente bem, e decididamente não vou...
-Tarde de mais -anunciou Sango, com um sorriso vitorioso. Elas foram-na empurrando floresta adentro, até que chegaram num trecho de grama mais baixa: na margem de um rio. Nayouko, distraída com o que Sango dissera, não teve tempo de defender-se quando as duas garotas empurram-na dentro do rio.
-ARGH! -Uma Nayouko debatendo-se emergiu de um grande "Splash!" -Ora, suas...Suas...Como foi que vocês tiveram coragem? Ora, eu vou retalhar vocês até que... -parou, com uma grande gota de decepção na cabeça, pois as garotas não estavam nem aí, ocupadas em rir do episódio, despir-se de suas roupas e pularem no rio.
Enquanto elas ainda estavam submersas, Nayouko ficou parada, flutuando de braços cruzados. "Ninguém me joga no rio sem mais nem menos, aquelas duas...aquelas duas humanas impertinentes vão me pagar, e..."
Ela interrompeu o fluxo de seus pensamentos quando virou a cabeça e viu que as duas meninas já tinham emergido, e estavam cochichando uma no ouvido da outra, afastadas, observando a hanyou emburrada:
-Eu aposto que ela está pensando algo como "Elas vão me pagar..." -disse Sango num sussurro.
-Será? Mas nós todas realmente precisávamos de um banho, não dava para continuarmos sujas e cansadas daquele jeito...-Kagome retrucava -Mas parece que a Nayouko não está se divertindo, nem relaxando...
-Huhuhu...-a menina se espantou ao sentir o riso sombrio de Sango -Podemos dar um jeito nisso, Kagome-cham. Escute só...
Nayouko já estava se aproximando disfarçadamente, para escutar o que as duas garotas conversavam, inclinando-se na direção delas, quando, de repente, elas afastaram-se, e Nayouko, descoberta a quase um palmo de distância, perdeu o equilíbrio e caiu na água.
-Nayouko-sama, quer nadar conosco? -perguntou Sango, com todo jeitinho, quando a hanyou voltou à tona.
-É, Nayouko-cham! -incentivou Kagome.
-De forma alguma! Eu não queria estar aqui, foram vocês que me arrastaram! -a hanyou, irritada com a proposta, e ainda furiosa com o que as garotas fizeram, virou-se de costas e deixou sua cauda a tremular na água, subindo e descendo. O veludo negro de que parecia ser formada ficou mais brilhoso ainda, legítima pele de pantera quando aproveita a água, retida em pensamentos.
-Bem, então...Tudo bem. Nós vamos nadar um pouco, depois voltamos -declarou Sango. E afastou-se mais uma vez com Kagome.
Nayouko achou estranho que aquelas duas desistissem assim, tão fácil, mas enfim... Já que estava ali mesmo, ela resolveu se deitar e ficar flutuando na água límpida do rio. Estavam, para ser exata, num pequeno desvio que havia formado um lago, quase que completamente encoberto pelas copas salientes das árvores ao redor. Nayouko apoiou a cabeça nos braços, e ficou a observar, batendo os pés da água ocasionalmente para movimentar-se. Como era muito leve -qualidade que permitia uma grande agilidade nas lutas, mas não queria saber disso agora- conseguia flutuar na água sem dificuldade. Observou os pequenos vestígios de céu azul, que as copas cor de laranja das árvores antigas deixavam escapar. Deveria ser outono. As folhas laranjas e marrons que caíam formavam pequenas ilhas instáveis aos seu impulsos com os pés. Ela continuou a se mover vagarosamente pela superfície resplandecente em torno. Fechou os olhos. Apurou os sentidos para toda e qualquer sensação que estivesse presente ali. Os sons do pássaros...O farfalhar agradável das folhas, ao sabor do vento, e o perfume que exalavam, deixaram o semblante da hanyou, antes enfurecido e irritado, numa reconhecível expressão de paz.
Ela quase sorriu. Embora resistisse com todas as suas forças -mais até quando se via encurralada por um youkai particularmente poderoso-, ela apreciava momentos assim. Faziam bem...Embora não soubesse nem reconhecesse isso, exatamente.
Então, enquanto observava uma folha embalada pelo vento, para cá e para lá, cair harmoniosamente na superfície do lago, ela sentiu uma presença perturbar a paz que aquele ambiente proporcionava. Uma ondínula moveu a folha mais para perto dela, e Nayouko percebeu, alarmada, que algo estava se aproximando pelo seus dois lados. Levantou-se bruscamente e, preparando suas garras -um som metálico cortou o lugar- ela esperou o que quer que fosse que perturbasse sua paz aparecesse.
O movimento sob a água aumentou, e quando ela estava prestes a atacar, duas cabeças e dois pares de braços emergiram de súbito, e quando Nayouko deu-se por si, já havia sido mergulhada bruscamente na água, sem chance de defender-se.
Depois de engolir dois ou três goles de água forçados, ela emergiu, sem fôlego, e ainda mais ao dar-se conta de que as duas garotas estavam espalhando água para todos os lados, rindo como loucas, da peça pregada à hanyou. O som dos risos foram diminuindo gradativamente, enquanto as meninas reparavam melhor nas feições, antes serenas de Nayouko, começando a transformar-se num vermelho muito intenso, e a hanyou começava a tremer de raiva. Finalmente, quando ela levantou a mão, Sango e Kagome decidiram que era a hora exata de afastar-se dali o mais rápido possível, antes que ela gritasse "Lâminas Exterminadoras!", e as garras metálicas cortassem a superfície do lago em busca delas, despedaçando também alguns galhos de árvores. As duas garotas foram encurraladas quase na margem do rio, vendo Nayouko se aproximar perigosamente.
-Foi uma brincadeira, Nayouko, nós queríamos que você nadasse conosco...-Sango negociava pausadamente, tentando deter com palavras a meia-youkai.
-Me lembre de nunca mais fazer esse tipo de brincadeira com uma hanyou desprevenida! -Kagome disse, com uma nota de irritação, já que a idéia havia sido de Sango.
-Ah, pode apostar que não - A hanyou, que até agora aproximara-se calada, porém com uma expressão assassina, finalmente acabou com a distância que as separava. Mas contrariando o que elas imaginavam, Nayouko apenas colocou uma mão na cabeça de Sango, e outra na de Kagome, e afundou as duas meninas debatendo-se na água. -Vocês vão pensar duas vezes antes de tentar afogar outra hanyou, meninas. -ela disse, sorrindo, enquanto as duas se contorciam submersas.
Ainda no lago...
Nayouko, Sango e Kagome nadavam agora tranqüilamente. A menina-hanyou percebera que ainda nadava com a roupa negra, e decidiu livrar-se dela. Infelizmente, ao fazer isso, atrapalhou-se de novo com a sua cauda. Ficou com uma gota de irritação na cabeça, e agradeceu por as duas outras garotas não terem reparado. Isso sempre acontecia quando usava aquela roupa justa de batalha: fora ela própria quem fizera a abertura na parte de trás para libertar sua cauda negra. Mas, sempre que ia tirá-la, havia essa complicação - ela odiava isso. Quando não estava na frente de estranhos, lutando contra youkais, ou mesmo treinando, ela preferia o quimono simples cor de creme que tinha na sua antiga cabana, antes de sair na sua jornada. Pena não tê-lo trago consigo, lamentou, enquanto retirava as luvas.
Finalmente, mergulhou o mais fundo que pôde no lago, de um pulo só. Instantaneamente, todo o som produzido pelas árvores na floresta e da balbúrdia aquática de Sango e Kagome transformou-se no mais profundo silêncio e paz. Ela sorriu. Passou por entre algas e cardumes de pequenos youkais-peixes, rodopiou, e tirou o laço que prendia seu longo rabo-de-cavalo na nuca. A onda comprida de cabelos negros soltou-se nas suas costas, e ela continuou seu mergulho. Foi até onde as maiores algas nasciam, e onde o Sol tocando a água parecia fazer parte de outra dimensão, muito distante e silenciosa. Depois desse agradável passeio, foi à tona, para respirar.
As outras meninas estavam recostadas nas rochas mais próximas, conversando. Ela aproximou-se.
-Oi.
-Mas todos nós sabemos disso, Kagome...O problema não é com você, e sim com ele. Entenda isso.
-Sango, não faz sentido algum. Eu não quero pressioná-lo...E, além do mais, ele já tomou a sua decisão...
-Oi! - que conversa maluca é essa, Nayouko pensou. Não tinha visto as feições da humana de chamada Kagome tão tristes assim desde que a conhecera. Ela se aproximou mais, um tanto irritada por não notarem a sua presença.
-Ele é um idiota, Kagome-cham. Pensa que o que está fazendo é certo, que está em dívida com uma pessoa que já morreu...Ele mesmo não entende nada disso, apenas acha que o que faz é o mais correto. Não preste atenção quando diz que...
-Eu disse OI! Vocês ficaram surdas? Que conversa maluca é essa? - disse, em voz mais alta. Não que realmente se importasse, mas não seriam humanas quaisquer que iriam ignorá-la, ora se não iriam...
-Bem...desculpe, Nayouko - a exterminadora se ocupara de responder -É um assunto um tanto quanto...Complicado.
-Do que se trata? -ela perguntou, indiferente, recostando-se também na pedra.
Sango olhou para Kagome, que abaixou levemente a cabeça.
-Você já gostou muito de alguém, Nayouko? A ponto de amar essa pessoa?
-O quêê! - ela enfim se ligou totalmente no que diziam -Mas que raio de pergunta é essa?
-Bem...na verdade, não precisa responder, Nayouko. Isso costuma incomodar muita gente -a colegial disse, de seu lugar. De repente, lembrou que a hanyou agira exatamente como o InuYasha agia, quando lhe era perguntado sobre seus sentimentos. "Eles são mesmo muito parecidos...", pensou, movendo a água devagar com os pés.
-Por que me perguntaram isso?
-Porque é disso que se trata -Sango respondeu, encarando tanto a hanyou quanto Kagome. -Se você já amou alguém, Nayouko-sama, irá entender melhor.
Nayouko ficou em silêncio por um minuto, antes de dizer:
-Quero saber por quê ela está assim -fez um aceno de cabeça para Kagome -E de que idiota estavam falando? O "indeciso"?
-Do InuYasha...
-Eh! Quem mais poderia ser, tratando-se de "idiota"? -a hanyou sorriu, superior -Ele é, verdadeiramente, um grande no baka.
-Não brinque assim, Nayouko, o assunto é sério! Kagome está apaixonada por InuYasha! -interrompeu Sango, em voz alta.
-Sango! -a colegial repreendeu, corando violentamente.
Elas ficaram em silêncio por um longo tempo. Kagome ainda não sabia por quê era incomodada sempre que mencionavam isso. Era a verdade. Pura e simplesmente.
-Ora -a hanyou quebrou o silêncio -Isso qualquer um sabe.
-É tão óbvio assim? -a colegial perguntou baixinho.
-Ainda pergunta? -ela riu, e cruzou os braços -Mas qual o problema nisso, afinal? É um sentimento humano que, embora completamente ridículo, foi correspondido. Está na cara que o focinho-de-cachorro também gosta desta mesma forma de voc...
-Não, ele não gosta! -Kagome interrompeu bruscamente a fala da hanyou, e bateu com os punhos da água. Acalmando-se, ela disse: -Ele não gosta de mim.
-Mas como não! Você é uma boba, está na cara dele, é só reparar como vocês conversam ou brigam que...
-Ele gosta da Kikyou. Ele...ama a Kikyou...-ela respondeu. Somente ela mesma sabia o quanto doía e dilacerava seu coração admitir isso.
-Vocês não estão falando da...Não...Da sacerdotisa Kikyou? Aquela que prendeu o focinho-de-cachorro na Árvore Sagrada?
-Essa mesma. -disse Sango.
-Mas ela não havia morrido? Eles não se odiavam?
-Ela morreu, mas uma feiticeira que desejava a Jóia a ressuscitou. -Sango respondeu. Aos poucos, com as explicações, Nayouko foi entendendo toda a história que afligia a colegial. E achou aquilo um tremendo absurdo!
No final, após longo silêncio, ela simplesmente disse:
-Você tem razão, exterminadora. Ele é um IDIOTA! -ela gritou. Nayouko levantou-se da pedra, ficando de pé na parte mais rasa do lago -Eu nunca vi, hanyou ou humano, mais no baka do que ele! Como é possível, que goste de uma pessoa, que, além de ser uma sacerdotisa morta, ainda o odeia até depois de saber toda a verdade de sua morte!
-Eles têm uma história juntos, Nayouko... -Kagome continuou, baixinho, de seu lugar. Uma lágrima começava a nascer em seus olhos -O InuYasha continuou amando a Kikyou durante todo esses anos, então não será agora que ele deixará de amá-...
-E você cale a boca! -a hanyou continuou, aumentando a voz e apontando um dedo para a colegial -Você é outra baka! Como pôde deixar seus sentimentos à mercê da decisão de um focinho-de-cachorro como ele e de uma sacerdotisa morta? Se você gosta dele, deve lutar por isso, e não aceitar a decisão dele assim, como uma perdedora!
Ela falava isso com tanta ênfase, que Kagome interrompeu o início de seu fluxo de lágrimas. Olhou atentamente para a hanyou, imperiosa acima delas, apontando o dedo com toda a convicção na direção do que achava certo. Sua cauda balançava atrás de si com o mesmo furor com que sua dona discursava. Ela sorriu, melancólica.
-Você não entende, Nayouko-cham...Não é tão simples assim, eu não posso obrigar o InuYasha a sentir o mesmo que sinto por ele , e...
-Deixe de ser boba, ele já gosta! Só precisa que tomem uma decisão por ele, por que parece que o cabeça-dura não pode...
-Você não entende NADA disso! -ela gritou de súbito, levantando-se também, deixando as lágrimas escorrerem. Por que tinham que insistir neste assunto? Ninguém ali sofria mais por isso do que ela... -Não entende!
Nayouko ficou furiosa por uma reles humana ter gritado com ela. Respondeu no mesmo tom:
-MAS TAMBÉM NÃO QUERO ENTENDER! Isso que vocês chamam de Amor é o mais inútil de todos os sentimentos humanos, e se você ama o idiota do InuYasha sem ser correspondida, o problema é todo SEU, e...
-Vocês duas, parem de gritar! -Sango interpô-se entre elas -Não tem nada a ver brigarem por causa dos sentimentos do InuYasha pela Kagome, e...
Um farfalhar de folhas silenciou a todas.
-Senhorita Sango!
-Ei, vocês aí! Por que gritam como se estivessem morrendo? Alguém disse o meu no...
-...
-...
-...
-OSWARI!
-HIRAIKOTSU!
-LÂMINAS EXTERMINADORAS!
-AAII!
-MALDIÇÃO!
Do nada, enquanto a discussão entre as duas era apaziguada por Sango, surgiram de entre os arbustos próximos à outra margem do rio, correndo, InuYasha com o Monge atrás de si, preocupados pela gritaria das moças. Os dois pararam apalermados quando viram...bem, o estado em que as três estavam, do outro lado do rio. Todos os cinco começaram a corar, corar, até que, quando a linha de tensão já estava quase arrebentando, Kagome quebrou o silêncio desferindo o primeiro "Oswari!" e se abaixando de novo na água, com as mãos cobrindo os seios, seguida de Sango, que agarrou o seu Hiraikotsu deixado em cima da pedra e o lançou no monge, e de Nayouko, que, mais vermelha que todos eles tanto de raiva quanto de vergonha por ter sido vista na ausência completa de seus trajes, aumentou sua garras e destruiu boa parte da copa das árvores ao redor com as Lâminas Exterminadoras, quase acertando em cheio o monge, que se abaixava para proteger-se do Hiraikotsu.
Enquanto Miroku e InuYasha tentavam entender o que estava acontecendo ali, abrigados nas folhas do arbusto mais próximo, as moças vestiam-se apressadamente, e Nayouko, já na posse de seu traje de guerra, mesmo molhado, quis partir para cima dos dois, ativando as garras novamente quando Sango e Kagome seguraram seus braços.
-Me larguem! Quem é que aqueles dois pensam que são, eles estavam nos espionado, vocês não viram? Me larguem agora, ou vou despedaçá-las!
-Eles sempre fazem isso, Nayouko-cham. São dois pervertidos -explicou Kagome.
-Aquele monge safado... -Sango estava com os punhos totalmente fechados, ainda vermelha -Ele bem que merecia que soltássemos Nayouko-sama! Aposto que foi tudo idéia dele! - Kagome concordou com a cabeça, e, neste instante de distração, Nayouko livrou-se das duas e foi andando bruscamente na direção dos dois. Ela parou em frente a InuYasha, que estava ainda se levantando do "Oswari!" poderoso de Kagome. Apoiando-se na bainha da Tessaiga, viu a forma pequena e Nayouko aumentar conforme a hanyou se aproximava. Ele levantou-se por completo, e, encarando a outra meio-youkai, pronto para pedir explicação sobre o que fora aquilo, calou-se, quando a garota apontou um dedo direto para o seu rosto.
-Eu sempre pensei que você fosse um hanyou sem caráter e cruel, mas, quando descobri que o que me fazia odiar você eram razões falsas, cheguei a pensar o contrário, graças àquela humana. Aquela humana -e girou o dedo para apontar Kagome, voltando-o depois novamente para InuYasha- Ela, sim, é a única que acredita plenamente em você! E até mais do que isso! Então, InuYasha, depois de perceber que pelo menos um assassino frio você não é, vi que apenas isso não adianta para mudar minha opinião a seu respeito, por que você continua sendo um grande IDIOTA, que não enxerga quem realmente gosta de você sem exigir nada em troca, e fica pensando em pessoas que já não podem mais fazer nada por você! -ela deu uma pausa, ofegante, encarando os olhos perplexos do hanyou à sua frente -Isso não faz de você, InuYasha, um hanyou menos cruel, por que ainda machuca as pessoas. Pode não ver, por ser o baka que é. Mas sabe que machuca, e não faz nada.
Ela percebeu que ele já não sustentava mais aquela expressão de surpresa. Tão pouco de raiva. O que realmente parecia, era que...Ele estava triste. Ela, de alguma forma, sabia que tinha tocado numa ferida que não lhe pertencia, e tão pouco, conforme dissera, a importava. Nayouko largou de sua posição de batalha, de súbito, ao notar que estava falando de sentimentos. Sentimentos humanos! Por um segundo, ela vasculhou dentro de si mesma, num assalto de pânico, de onde viera aquele seu suposto entendimento no assunto. Como, oras, se nunca sentira o que aquela humana idiota sentia por ninguém?
Abaixou os olhos, para disfarçar aquela indagação. Viu que o monge ainda continuava no chão, com uma perna dobrada e a outra apoiando o braço. Ele estava com a mesma expressão que InuYasha, apenas um pouco mais amena. Ela não precisava interrogar-se para saber que ele pensava naquela outra humana, a Sango. Parecia que todos ali tinham suas pontas sentimentais para serem resolvidas. Todos eles foram unidos pelas desgraças espalhadas pelo Naraku, mas parecia que tinham descoberto algo muito mais importante do que isso entre si mesmos. Ela sentiu-se confusa. Amor. Se esse sentimento era capaz de causar tantas dúvidas e discórdias assim na cabeça de humanos, ela, hanyou, não queria entender o que era!
Nayouko empurrou Miroku e InuYasha para o lado, e saiu correndo em direção à floresta, cortando os galhos e arbustos que ficavam no seu caminho. Se ela parasse para analisar a reação do hanyou e da humana um segundo atrás, teria visto em suas expressões que finalmente rompera com a linha de um assunto inacabado, de algo que fora há muito decidido ignorar-se e que agora seria esclarecido.
Ainda no lago...
Kagome olhava completamente aturdida para InuYasha. A colegial observava cada vestígio de expressão do hanyou, ao mesmo tempo em que desistia de prender a vergonha e as lágrimas.
Por que tudo era sempre tão complicado com ela? Por que essa parte da sua vida não podia ser boa e calma como as outras? Por que sempre que seus sentimentos mais íntimos vinham à tona, era dessa forma brusca e dolorosa? Por que seu amor não podia ser correspondido com a mesma intensidade que ela o dava?
-Chega... Já chega, para mim já chega! Eu...cansei de sofrer com esse sentimento entalado dentro de mim... - ela murmurava para a própria água abaixo do seu corpo -InuYasha, eu não quero mais sofrer por sua causa...Eu...Eu te amo! - Kagome levantou o rosto cheio de lágrimas para o hanyou, que arregalou os olhos com a súbita explosão de sentimentos da colegial, enquanto esta corria para fora do lago, pegava suas roupas e adentrava na floresta.
"Mesmo
que eu queira esconder
O que sinto aqui dentro de mim
Meus
olhos não param de dizer
Que te amo tanto assim"
-Ka...Kagome...- ele apenas viu a menina sumir por entre as árvores de copas fechadas, rápida como a confissão do fundo de sua alma que fizera.
Ele sabia. Sempre soubera. E, por mais que negasse, por mais que seu instinto arrogante, solitário e egoísta insistisse no contrário, naquele momento ele admitia mais que nunca, que sentia o mesmo por Kagome.
"Nos
meus sonhos eu sempre vou te procurar
Pra poder te falar
Que
sem teu amor
Não há luz, calor
O meu mundo é
frio"
E a fizera sofrer tanto...
Lembrou-se dos momentos que tivera com Kikyou, e que em todos eles, Kagome se fazia presente, de uma forma ou de outra. Às vezes nas proximidades. Porém, sua presenca sempre fora mais nítida em seu pensamento...Ou no seu coração...
O hanyou deu um passo à frente, desorientado, estendendo a mão como se pudesse alcançar a menina com a mesma força com que pensava nela. Uma brisa abrandou o ambiente, trazendo-lhe mais lembranças enquanto fazia as folhas das árvores que testemunhavam todo o momento farfalherem.
...ela sempre soube que ele gostava de outra. Vira, comprovara com seus próprios olhos, imagens que no coração puro de Kagome produziram a única e maior escuridão que já teria na vida.
Ele deu outro passo, pouco se importando de que molhava seu quimono com a água límpida do lago, a esta hora, refletindo triste e mórbido os primeiros vestígios do anoitecer, na parte em que ele o tocara. Por onde Kagome fugira, os últimos raios incandescentes do Sol ainda podiam ser vistos. Ele avançou mais.
Se dizia para si mesmo que ainda amava Kikyou, então por quê aquela confissão o pertubava tanto? Não quisera sempre ser um youkai frio e poderoso como seu irmão, ou qualquer outro de sua linhagem?"Esta é a hora", sua parte youkai falava, mais forte que nunca, dentro de seu peito, "Esta é a hora de você não mostrar fraqueza perante os sentimentos de uma reles humana".
Queria poder? Sim, queria. Queria ser frio e calculista? Pois também. Ao menos até...Conhecer aquela colegial alegre e extrovertida, que veio como um raio de Sol na sua alma sem calor.
"Ela não é um reles humana!" respondeu, caminhando mais rapidamente sobre o solo úmido do lago, "Ela é mais do que isso...Ela é Kagome...Minha...Minha Kagome!".
"Peço
pro vento te levar
Meu beijo
E te contar
Que te amo
O
meu maior desejo"
Ele saiu correndo até onde a água alcançava seus joelhos, e a partir daí pulou nas rochas no meio do lago, até chegar ao outro lado da relva, onde recomeçou a correr.
"Humana ou não, ela é a pessoa que eu... que eu amo!"
"KAGOMEEE..." o hanyou soltou o grito que há muito estava preso na sua alma "KAGOMEEE...ME PERDOE! EU...EU...",ele correu ainda mais, pulando entre as árvores para encontrar a colegial, brandindo suas garras contra as folhas e tudo o que encontrava pela frente, assim como cortava toda aquela barreira de indiferença que o impedira de realmente aceitar o que sentia. O que o fazia viver, acima de qualquer outra motivação.
"Ah, Kagome...Eu te amo!".
E de volta ao lago...
Miroku ainda estava repassando todos os fatos rapidamente, enquanto mantinha a cabeça abaixada. Tudo o que Nayuko disse foi verdade, ao menos na parte de InuYasha não enxergar de uma vez que Kagome o amava, e que ele não podia fazê-la sofrer com tanta indecisão, sobre ela e a Kikyou. Afinal, a sacerdotisa estava morta, e não fazia mais parte daquele mundo. Querendo ou não, InuYasha teria que esquecê-la, e, insistindo num amor já perdido e desgatado por demais, apenas fazia com que Kagome ferisse seus sentimentos cada vez mais.
Porém, não era aquilo que incomodava o monge. O jeito com que a hanyou o olhara, antes de fugir pela floresta, parecia muito que ela quisera dizer: E isso serve para você também.
Ele olhou para Sango.
A exterminadora de youkais o observava, serenamente, sem saber pelo que esperar. Os dois se encararam por um longo tempo, antes que o monge tomasse a primeira reação:
-Sango... -e parou por aí.
Ambos se sentiam muito tocados pela quebra sa indiferença entre InuYasha e Kagome. Mas, ao contrário do que se esperava, não pensavam exatamente em declarar-se um para o outro naquele momento. Sango apenas disse:
-Senhor monge...
Ela sorriu. Miroku também. Um sorriso apaziguador, que acalmou aquele ambiente tenso. Os dois estavam bem assim. Sabiam dos sentimentos que nutriam um pelo outro. Não precisavam de mais nada além dessa certeza, pelo menos até que a guerra pela Jóia de Quatro Almas tivessem um fim, e pudessem realmente acertar-se definitivamente. Por enquanto, bastava saber que o que sentiam era algo forte e especial. E recíproco.
-Acho melhor a senhorita sair da água. Está começando a anoitecer, e a senhorita pode se resfriar.
-Ah...Tudo bem. -ela estava prestes a seguir o conselho de Miroku, quando uma idéia ocorreu-lhe: -Pode virar o rosto para o outro lado antes, senhor monge?
-Ah...Certo -ele pareceu um tanto decepcionado, o que não surpreendeu Sango. Ela nadou para a margem do lago, e lá chegando, secou-se com uma tira de pano que servia de cinto para sua roupa de batalhas, e depois colocou seu quimono. Recuperou seu Hiraikotsu, abandonado a curta distância, e caminhou para perto do monge, ainda com o rosto virado para a floresta, evitando ver a exterminadora antes nua. Isso, sim, me surpreende, pensou Sango.
-Deveríamos procurar Nayouko-sama, Sango? Penso que InuYasha saberá se cuidar muito bem. Idem Kagome-sama, se ele estiver atrás dela. -ele disse, quando ela chegou.
-Sim -a exterminadora respondeu.
Os dois caminharam sem pressa atrávés da trilha aberta pelas garras da hanyou. Era uma cena interessante, se comparada ao últimos acontecimentos turbulentos. Por que, enquanto caminhavam lado a lado, e se olhavam se esguelha, sorriam.
Pelo menos foi assim, até que Miroku pôs a mão disfarçadamente nas costas de Sango, o que levou a exterminadora a ordenar-lhe que parasse imediatamente de descer a mão pelas suas curvas e a retirasse daquele local proibido. O monge, constrangido, obedeceu. No entanto, por trás de sua expressão irritada, Sango ocultava um riso. Não fazia sentido tentar mudar algo entre os dois: eram assim que as coisas deveriam ser.
Continua...
N/A: E aí, o que acharam? Gostaram da música que coloquei? Achei perfeita para aquela cena, é o tema do primeiro encerramento de InuYasha, My Will. Escrevi boa parte deste capítulo escutando a música. É linda: recomendo!
Aproveitei para estraçalhar a preguiça com as Garras Retalhadoras de Almas (o InuYasha me fez esse favor ), e passar a fic no corretor ortográfico. Fiquei realmente pasma com a quantidade de assassinatos ao Português que tinha cometido, sem perceber! U.U"" Nossa, que vergonha... Isso me fez tomar uma decisão: estou à procura de uma beta-reader. Alguém que evite que minha professora de Português me ponha algemas antes de digitar mais capítulos na fic, caso ela venha a ler meus pequenos deslizes...Rsrsrs...
Alguém se voluntaria?
Abraços da Carol S.M. D
