Capítulo Nove: Retomando caminhos

Sango e Miroku caminhavam tranqüilos pela floresta, mais aproveitando a calma de que desfrutavam do que realmente interessados em encontrar InuYasha ou Nayouko. Sabiam que eles poderiam defender-se muito bem de qualquer tipo de adversidade que por acaso do destino os atacasse durante a noite. Mesmo assim, devido aos fatos recém-ocorridos, acharam melhor prosseguir a busca.

Decidiram dar tempo para InuYasha e Kagome. Os dois nutriam esperanças de que, desta vez, ele e Kagome pudessem se acertar. Não era justo para com a colegial que InuYasha mantivesse aquela indecisão, pouco interessado que Kagome ainda sofresse com isso. Ambos concordavam que a melhor escolha de InuYasha seria mesmo a menina, pelos mesmos motivos que Nayouko-sama apresentara. Até mesmo Miroku, que levava a sério a política masculina de "Quanto mais, melhor", aceitava de bom gosto a idéia de que Kikyou não nutria mais nenhum senimento por InuYasha, e que queria eliminá-lo.

Tendo isso em mente, os dois seguiram floresta adentro, na busca pela hanyou. Esperavam encontrá-la sozinha, admirando a Lua Cheia, regente de sua raça de youkais. Esperavam que ela descontasse sua raiva acumulada em árvores, youkais menores, ou qualquer outra distração. Esperavam qualquer tipo de cena, menos a que testemunharam quando afinal encontraram a hanyou.

Boa parte do cenário realmente combinava com a imaginação da exterminadora e do monge pervetido. Boa parte das árvores ao redor estavam estraçalhadas, provavelmente por culpa das Lâminas Exterminadoras. Uma trilha meio que aberta à força de golpes, enfim, o cenário de devastação que supunham. Mas o que não esperavam, mesmo, era ver no meio daquela trilha de desvastação, Nayouko sendo abraçada de uma forma aparentemente muito gentil, por um samurai alto, de bom porte, com cabelos claros como uma plantação de trigo e quimono branco ornamentado de estrelas azuis nas mangas; que apoiava a cabeça de Nayouko em seu tórax com uma mão, e a outra mantinha ao redor das costas da hanyou.

O monge e a exterminadora, ao darem de cara com essa cena, caíram no chão de tanta surpresa, bem no meio dos arbustos, e rezaram com todas as forças à Kami para que não tivessem feito barulho.

-Vo...vo...você está vendo o mesmo que eu, senhor monge? -perguntou Sango, oculta pelas folhas do arbusto, mas ainda espiando de olhos muito abertos a cena iluminada pela Lua.

-A...acho que estou, Sango. -respondeu Miroku, sem piscar. "Que sorte esse cara tem! Que sorte!" Essa era a única frase que corria pela mente do monge. Pelo olhar que Sango o lançou, pareceu que ela tinha lido muito bem seus pensamentos, e Miroku voltou a prestar atenção. -Quem será ele?

-Eu não sei... É a primeira vez que vejo um homem chegar perto da Nayouko-sama e não ser repelido bruscamente com Lâminas!

-Então ele deve ser especial para ela.

-Será que ela vivia com ele antes de nos conhecermos?

-Quem sabe?

Os dois conversavam em cochichos, especulando quem seria aquele misterioso rapaz que parecia ter alcançado o coração inexpugnável da hanyou.

Nayouko, envonvida nos braços de Richard, e sentindo-se pela primeira vez em muito tempo livre da tensão que a pressionava, sentiu que seus reflexos a avisavam, mais uma vez, que não estavam sozinhos ali. Afastando-se centímetros de Richard, farejou quem eram os seres que os acompanhavam.

-Nayouko...O que foi? -ele perguntou, ao sentir o afastamento da hanyou.

-Psss...Não estamos sós. Sinta. -ela respondeu num sussurro, virando-se lentamente, ao que Sango e Miroku começavam a suar no abrigo de seu arbusto. "Kamiiiiii! Ela nos viu!"

-Ah... -Richard também avistou os dois humanos que os estavam espiando. Lentamente, puxou a espada da bainha, e já estava em posição quando Nayouko fez-lhe um sinal para que parasse.

-Eu os conheço. Ah, desgraçados! -ela acelerou os passos, e Sango e Miroku, já cientes de que a hanyou notara sua presença, levantaram de seu esconderijo e canalizaram todas as suas forças para as pernas. Sabiam que precisariam muito delas num momento como esse.

-Aonde pensam que vão? -Nayouko, já disparando atrás deles, saltou para uma árvore, indo aterrisar bem na frente do monge e da exterminadora. Exibia um olhar frio, que era ao mesmo tempo pura energia e repreensão. Enquanto isso, analisava as feições aterrorizadas dos dois humanos à sua frente.

-Nayouko-sama, nos desculpe, nós não sabíamos, foi sem querer, estávamos procurando-a, ficamos preocupados por... -eles gesticulavam e falavam tudo isso muito depressa, numa confusão em que palavra nenhuma podia ser distinguida da outra, tentando desesperadamente explicar o porquê de estarem espiando um momento íntimo da hanyou.

-Ora, seus... -Nayouko, furiosíssima por ter sido vista com Richard, num estado de intimidade que não lembrava-se de permitir nem a si mesma, ergueu lentamente a mão.

Tencionava claramente ensiná-los a nunca mais espionarem uma hanyou em seus momentos particulares, quando foi interrompida por Richard. Suas garras anda começavam a recender a prata das Lâminas, quando este chegou por trás dela, como uma cobra, e segurou-lhe o braço junto a si.

-Por favor, perdoem a Nayouko-kun... Ela fica meio nervosa quando a pegam desprevinida -disse ele, oferecendo um sorriso apazigador aos dois. Já notara que ele não deveriam ser más pessoas. O Monge emanava uma energia benéfica, e não havia sinal de energias malignas na mulher que carregava um bumerangue gigante. Pela confusão deles, supôs que deveriam estar mais apavorados com a reação de Nayuko do que se vissem um youkai salamandra-do-fogo gigante em sua frente. Mas achava que Nayouko não estava muito aí para o que eles sentiam naquele instante.

-Richard...Me solte agora! Eles merecem uma lição, ninguém me espiona e sai intacto! -ela optou por dizer isso pausadamente, com os olhos fechados. Não gostava nada dessa liberdade de Richard para deter os seus ataques, pelo menos não nessa hora. E daí que ele tinha ferronhos princípios pacíficos? E que passara toda a sua convivência dizendo que era prefirível uma boa conversa à ação da luta, propriamente dita? Ela achava muito mais prático partir a cara de quem a desafiasse do que argumentar com essa pessoa o porquê de querer brigar com ela.

-Eu sou Richard McLain, e vim da direção do feudo Sul. Suponho que já conheçam Nayouko-kun. Mas e vocês, quem são? - perguntou, alegremente, ainda exibindo um simpático sorriso. Os dois humanos á sua frente pareceram acalmar-se um pouco, já que a hanyou parecia estar tendo sua fúria controlada, embora ainda arfasse com muita raiva.

-Sou Miroku, monge - ele cumprimentou Richard com uma reverência -Esta é Sango, ela é uma exterminadora de youka...

Miroku não terminou sua frase. Reparando que Sango estava muito quieta, virou-se para olhar o que havia acontecido, e por um triz não despencou no chão quando viu que a sua querida exterminadora olhava fixamente para Richard, com as faces levemente coradas, e as mãos unidas junto ao peito. Quase podia-se ver as estrelinhas que cintilavam em volta dela, quando inclinou-se meio sem jeito:

-Sa...San...Sango -disse, por fim, ainda admirando o sorriso amistoso e ao mesmo tempo com alguma coisa de mistério, de Richard.

-Sango! - Miroku falou, o nome saindo como um trovão de sua garganta. Isso era tudo que ele não podia acreditar que tinha: concorrência! Algumas lágrimas pendiam de seus olhos, enquanto olhava desoladamente para Sango.

-Hajimemashite -Richard respondeu, educadamente. Bem que notou a olhar envergonhado de Sango, e a reação de Miroku. Era óbvio que havia algo de mais entre aquele estranho casal de humanos, e ele não pensava em interfirir em nenhum sentido. Na verdade, a única coisa que passava por sua mente era o que acontecera para que Nayouko se envolvesse com pessoas que pareciam ser tão... contrárias à sua filosofia de auto-suficiência?

Cumprimentou Sango, reparando de soslaio no olhar que enfurecido que o monge lhe lançava. Nem teve tempo de rir, pois Nayouko, cuja cena de Sango não passara despercebida; não perdera tempo em lacrimejar nem lamuriar-se. Após uma série de marquinhas de veias estourando em suas têmporas, ela pegou Richard pela gola do kimono e o empurrou para trás, interpondo-se entre ele e Sango.

Miroku aprovou e muito a ação da hanyou.

-Exijo que me contem porquê estavam me espionando, sem que eu soubesse - impôs. A exterminadora pareceu sair do transe.

-Bem, Nayouko-sama... - Sango explicou-lhe tudo o que acontecera depois que a hanyou fora embora do lago. -Então nós viemos procurá-la, e encontramos você com o Richard-sama. - ela concluiu, com as faces corando um pouquinho novamente, mas desta vez já sabendo como disfarçar.

-Sei... - Nayouko olhou desconfiada para Richard, que apenas sorria para elas -E InuYasha? Onde ele está agora?

"InuYasha?" Richard pensou "Mas ele não era...? Eles são amigos de InuYasha? Mas então por quê...?"

-Não sabemos -respondeu o monge, já recuperado -Ele se embrenhou na floresta atrás de Kagome, e nós resolvemos vir procurá-la primeiro...Achamos que eles precisavam de algum tempo sozinhos.

-Certo. Acredito que já tiveram tempo o suficiente, vamos atrás deles -decidiu a hanyou, já farejando o ar em busca do rastro do outro hanyou. Enquanto corriam, a hanyou pensava com fervor, olhando para a Lua:

"No baka... Se demorar a aparecer, não sei se poderemos encontrá-los a tempo..."

Eles corriam através da floresta, seguindo Nayouko, a única que podia detectar o cheiro de InuYasha. Mesmo declarando-se repugnada por ter que selecionar aquele "cheiro de cachorro molhado" no ar, ela continuava dando curvas, voltas, seguindo em linha reta, para onde o cheiro do hanyou estivesse mais próximo.

Finalmente, parecia que haviam alcançado seu objetivo. O rastro de InuYasha e Kagome chegava ao fim exatamente no ponto onde ficava um poço de madeira, com aparência muito antiga; numa clareira. Nayouko não sabia que aquele era o Poço Come Ossos.

-Chegamos. O rastro dos dois termina aqui.

-No Poço Come Ossos? - perguntou Miroku -Isso significa que a senhorita Kagome foi para a Era dela. E se o de InuYasha também termina aqui, quer dizer que ele foi junto!

-Poço Come Ossos? - indagou Nayouko, dando um leve arquear de sombrancelhas, indicando que estava intrigada.

-Sim...É o poço que transporta a Kagome para a Era das Guerras, e vice-versa... Foi por ele que ela veio parar aqui, e conheceu o InuYasha -Sanog encarregou-se de explicar.

"Uma garota de outra era, envolvida com um hanyou?" Richard já estava a par da história, principalmente do fato que quem cometeu a chacina das youkais Panteras-Negras foi um outro meio-youkai, extremamente poderoso, chamado Naraku. E sabia que InuYasha lutava junto com a exterminadora, o monge e a garota que detectava fragmentos; para derrotá-lo. Mas ocultaram-lhe o fato de que ela vinha de outra Era.

Ele olhou para Nayouko, mantinha o raciocínio rápido e fugaz.

-Não podemos acompanhá-los. Só quem possui os fragmentos ou tem sangue de youkai pode atravessar o Poço-Come-Ossos.-declarou Miroku, para depois completar -Se Kagome decidir nunca mais voltar para a nossa Era, não veremos mais InuYasha também. Hoje é o primeiro dia do mês, e, na forma de humano, ele não pode atravessar o poço.

-E como saberemos que eles estão bem? -disse Sango, aflita.

O silêncio pairava sobre a clareira. Apenas ouvia-se o ruído descompassado dos grilos, e um ou outro farfalhar de folhas. A Lua já estava alta no céu, mais algumas horas e os tons dourados e lilases das nuvens anunciariam que iria amanhecer. Nayouko vasculhou todo o seu cérebro em busca de alguma solução, e só encontrou uma.

Sem dizer nada, começou a caminhar na direção do poço. Os três rostos que deixara para trás demonstraram alguma surpresa, mas a primeira reação foi de Richard, que foi rápido até ela e a segurou pelo braço, enquanto a hanyou ainda colocava um pé na borda do poço.

-Você não vai. Nunca esteve em qualquer outra Era; o que antigir InuYasha e a mulher Kagome também poderá atingir você, lá. -disse, seus olhos acinzentados gélidos, com um brilho de preocupação. Nayouko observou-os bem, antes de sorrir e dizer:

-Não é sempre que podemos andar sozinhos, Richard. Isso implica em nos preocuparmos com os outros com que caminhamos -respondeu ela, num tom de voz baixo -Assim como você se preocupa agora -Richard encarou um brilho diferente naqueles olhos cor de ametista, diferente daquele que impunha solidão e individualismo à sua dona -Vou ficar bem.

Dito isso, ela se libertou da mão de Richard e pulou na escuridão do poço.

O jovem samurai apenas observou a luz que se formara no interior do Hone Kui no Ido, pensando no que a hanyou dissera.

Kagome não pôde ver nenhum lugar mais seguro do que o seu quarto. Por mais que pensasse em se embrenhar naquela floresta densa, e sumir, simplesmente desaparecer do mundo sem deixar vestígios, ainda assim pensaria nele. Aquele lugar refletia ele, recendia ele, lembrava ele de todas as formas possíveis.

Então, sua única opção foi voltar para a sua Era, o seu lugar, onde ninguém parecia querer magoá-la, e todos a deixavam quieta com seus sentimentos, e não pareciam querer remexê-los como numa sopa de letrinhas.

Chorara, sim, e daí? Qualquer pessoa que passasse por isso derramaria no mínimo uma lágrima. Uma lágrima até era pouco para representar a explosão de coisas que dissera e ouvira. Mas, para quem escutara pela milésima vez o que já sabia, até que estava lidando com isso muito bem.

Claro que talvez entrar chorando em casa, toda arranhada por galhos e árvores, passar como uma raio por seu avô e sua irmão fosse uma atitude meio dúbia, mas ela tinha seus motivos.

E talvez também não fosse o mais correto trancar-se em seu quarto, enquanto seus já citados avô e irmão batucavam a porta, quase derrubando-a, querendo saber o que aconteceu, até que sua mãe os expulsasse dali com uma vassoura (Que Kami a abençoasse!), mas ela tinha esse direito, não tinha? Por ela, a legislação japonesa deveria incluir um artigo que proibísse qualquer pessoa de fazer a maldita pergunta "O que aconteceu com você?", quando a pessoa estivesse visivelmente em seu abismo emocional.

Não esperava mesmo que fossem compreender isso, e exatamente por essa razão que ela ignorou os gritos. Afinal, nenhum deles fora posto de lado pela pessoa que ama, no lugar de uma pessoa morta. Ninguém ali nunca passara por isso.

Se pelo menos algum deles já tivesse passado pela experiência de sentir que entrava de penetra num suposto romance que ultrapassava as décadas e até mesmo a morte; fosse obrigado a pensar que não tinha sequer o direito de reclamar o seu amor, por ter chegado em último lugar, e ainda por cima ouvir dessa pessoa que você ama que ele havia escolhido outra, uma pessoa que por sinal morrera; ela aceitaria ouvi-los. Mas já que esse não er ao caso, preferia ficar sozinha.

Simplesmente sozinha.Não tinha a menor intenção de sair daquele quarto, pelo menos não nos próximos cinqüenta anos. Não enquanto ainda pensasse nele e no que sofrera.

E não importava nem um pouco que seu coração parecia querer sumir, transbordar lágrimas até a exaustão; nem que seus olhos já não encontrassem mais fonte dentro do corpo para as lágrimas. Não importava que se sentisse assim.

Só queria ficar sozinha.

Mas parece que até na Era atual era difícil ganhar um pouco de privacidade. E se ele viesse? Como poderia encará-lo?

Kagome foi até a janela, olhou para a Árvore Sagrada que era levemente embalada pelo vento; e fechou o vidro, juntando as cortinas logo depois. Ele não viria. Era melhor se convencer disso logo, antes de magoar-se mais uma vez.

Pensando nisso, a colegial deitou-se, e decidiu dormir. Quem mais uns quinhentos anos o faria sumir de sua mente e de seu coração?

Não havia lugar para indecisão ali. InuYasha sabia que a magoara, Kami, como ele sabia! A explosão dos sentimentos de Kagome fizeram surgir um clarão em sua mente, e que lhe revelou o que verdadeiramente sentia:

Amava Kagome. Não sabia quando isso começara, mas simplesmente sabia que a amava, mais do que qualquer outra pessoa na sua vida. A força daquilo o apertava, liberava, comprimia; a imensidão daquele amor era tanta, que parou num segundo de choque ao pensar porquê não percebera isso antes.

E saber que magoara a pessoa que mais amava da pior forma possível o consumia por dentro, como ácido, como mil golpes de espada.

Naquele momento, ele poderia suportar todos os seres cruéis e poderosos que existissem no Sengoku Jidaii. O Exército dos Sete, Kagura, Sesshoumaru, Naraku. Nenhum deles poderia provocar-lhe dor tão grande quanto a de saber que magoara Kagome.

Não se importou quando duas lágrimas desceram por seu rosto. Ninguém estava ali para ver. Ninguém iria indagá-lo sobre elas. A única que poderia indagar seria Kagome, mas ela mesma não estava ali, e poderia nunca mais estar.

Só este pensamento fazia com que mais lágrimas rolassem, pesadas, expressivas.

Por que sempre fora assim? Por que fora tão... Tão baka a ponto de não perceber como Kagome era sensível com o que ele fazia, como agia? Deveria saber que todas aquelas cenas, todos aqueles momentos em que ela presenciou seus encontros com a Kikyou, ficaram guardados em algum lugar de si, e que uma hora

o coração puro de Kagome não poderia mais agüentar. Chegara esse dia.

Como fora tão baka a ponto de deixar Kagome sofrer com a sua estúpida indecisão! Estava em dúvida se amava Kagome ou amava a mulher queria ver a sua morte, mesmo depois de saber que era inocente!

Na próxima vez em que voltasse ao Sengoku Jidaii, deixaria que Nayouko o chamasse de baka o quanto quisesse.

InuYasha pulou dentro do poço uma hora depois que Kagome o deixara no lago. Ela fora rápida, e parecia que tinha pedido para seu avô lacrar novamente a entrada do poço porque, quando chegou na outra Era, encontrou a abertura fechada com tábuas e pregos, e alguns daqueles pergaminhos inúteis. Passou como uma bala por tudo aquilo, antes de adentrar na casa de Kagome.

A família estava jantando. Mãe, avô, irmão... Mas ela não estava ali.

-Aonde está Kagome? -ele perguntou, vasculhando com os olhos os outros cômodos.

Nnguém lhe respondeu. Ao contrário do que esperava e do que sempre acontecia, todos o olharam da forma mais gélida possível. Souta expressou seus sentimentos atirando a bola de futebol para InuYasha, cujos rreflexos rápidos impediram que levasse uma bolada.

-Moleque, o que foi isso... -ele começou com seu tom rude.

-Você magoou a minha irmã! -o menino gritou, abandonando a mesa do jantar -Você não é mais o meu irmão-cachorro! -disse por fim, subindo as escadas correndo, na direção do seu quarto.

InuYasha, sem palavras pela explosão de Souta, olhou para o avô de Kagome.

-Seja lá o que fez, InuYasha, deixou a Kagome muito, muito triste. Sei que não tenho muitos dos poderes dos meus antepassados, mas quando a Kagome entrou aqui, percebi claramente que a sua aura de alegria dissipara-se. Você deve saber melhor do que eu o porquê. - e ele também retirou-se para o seu quarto, murmurando alguma coisa sobre uma dor nas costas.

Sobrara a mãe de Kagome. Ele olhou-a, suplicando silenciosamente.

-Ela está no quarto -disse, simplesmente. Depois, chegando perto do hanyou, colocou a mão levemente no braço dele -Confio que você possa consertar qualquer coisa que tenha acontecido. Confio em você -e, depois, com um leve sorriso, se retirou, levando os restos do jantar da mesa.

InuYasha, sozinho na sala, pensou em tudo que lhe disseram. E, mas decidido do que nunca, rumou para o quarto de Kagome.

Estava sonhando. Sonhando novamente com aquilo, com o significativo beijo que salvara a vida do hanyou, no Castelo das Ilusões. Porém, ao contrário do sonho que precedeu muitos dias depois desse, este era um pesadelo. Kagome estava entre os braços do hanyou, pensando em como poderia impedir a sua tranformação. Foi quando ocorreu-lhe a idéia. Ela olhou para a face de fera de InuYasha. Mesmo naquele rosto disforme, ela sabia que ele ainda estvaa ali, em algum lugar, e que, mesmo que não pudesse ouvi-la, podia senti-la. Ela colocou-se na ponta dos pés, ainda incerta, mas alguma coisa mais forte a impulsionava... o seu próprio coração.

Ela foi se aproximando cada vez mais... E, finalmente, seus lábios tocaram os dele. A transformação começou a recuar. Ele estava voltando a si, e, quando finalmente recobrou a consciência, aprofundou o beijo e apertou Kagome em seus braços. Passado o mágico instante, InuYasha olha no fundo dos seus olhos e diz:

-Kikyou...

Kagome acordou de um pulo, ofegante, respirando com dificuldade. De novo, de novo esse pesadelo! Dobrou as pernas, até que seus joelhos tocassem sua fronte, e assim ficou por cinco minutos, recuperando o ritmo cardíaco normal.

Foi quando ouviu uma gritaria súbita na sala. Ela surpreendeu-se, nesta hora sua família deveria estar jantando tranqüilamente. Foi quando escutou a voz dele.

Já de pé, Kagome perdeu o eqüilíbrio e caiu sentada na cama novamente. Então ele viera.

Engoliu o ímpeto de chorar. Não seria magoada novamente. Ele não iria lhe dizer tudo o que já dissera uma vez. Mesmo que despedaçada, esperava conter nas mãos o que restou de sua dignidade.

Passaram-se mais dez minutos. Silêncio. Ela aproximou-se da porta, tentando escutar alguma coisa, quando, num sobressalto silencioso, viu a maçaneta mover-se, e a voz do hanyou que conhecia tão bem chamar, pausadamente, talvez até com um tom de súplica.

-Kagome...Eu estou aqui -começou ele -Vamos conversar...por favor.

"Por favor?" Kagome, atrás da porta, pensou se havia escutado direito.

-Kagome, eu... Me deixe entrar. Eu preciso falar com você. Por favor, eu preciso muito falar com você.

Por um segundo ela vacilou, colocando a mão na maçaneta. Mas, mudando de idéia, retirou-a rápido.

-Não. Eu sei o que você vai dizer. Vá embora, InuYasha. Me deixe sozinha. - respondeu, dando as costas para a porta.

Pareceu a InuYasha que sua determinação havia escorrido por seus dedos, ao ouvir a voz baixa e entrecortada de Kagome. Podia sentir o forte cheiro salgado do outro lado da porta. Ela chorara. Droga, ela chorara por ele!

-Kagome, por favor, não é o que você está pensando, eu preciso mesmo falar com você...Preciso olhar para você... Kagome, por favor, me escute! -pediu, encostando a cabeça na porta, enquando batia com o ounho fechado na madeira.

-Não, InuYasha. Eu não quero mais sofrer. Por favor, me deixe só... -ela pediu. "Por favor, me deixe só. Me deixe só, agora. Eu não quero chorar, não perto de você. Por favor, vá embora..." ela pedia, mentalmente.

-Me desculpe...- a voz dele, ainda mais baixa, deixou passar a frase para o outro lado da porta. Kagome a escutou. Quantas vezes ele já lhe pedira desculpas? Não desta vez, desculpas não seriam o suficiente para levá-la de volta.

-Kagome, abra a porta. Eu quero, eu preciso falar com você -ele parecia ter recuperado a força para persuadi-la. -Abra a porta, Kagome, ou então afaste-se dela.

-InuYasha, não faça isso! -ela pediu, com uma nota de pânico na voz -Não faça iss...

-Afaste-se -ele disse, simplesmente - Garras retalhadoras de Almas!

Kagome pela primeira vez no dia, deu razão a InuYasha. E foi bem feliz nessa decisão, porque, enquanto comprimia-se contra a parede oposta, pedaços de madeira e farpas voavam para todos os cantos do seu quarto.

-Você vai ter que arrumar tudo isso! -ela disse, enquanto ele entrava sem lhe dar ouvidos, puxava-a pela mão e a abraçava, enterrando seu rosto em seu quimono.

-Me perdoe.

Kagome não teve tempo de dizer mais nada. Apenas sentiu que InuYasha a abraçava como se temesse perdê-la, como se, mais que nunca, temesse que ela se afastasse dele para sempre.

-InuYasha...

Ele afastou-a o suficiente para que pudesse encarar seus olhos castanhos, no momento brilhantes e esperançosos, mas que antes haviam derramado tantas lágrima por sua causa.

-Eu te amo -disse ele, em alto e bom som, ainda encarando-a -Eu sempre te amei. Ah, Kagome, me perdoe por não ter percebido isso antes, por não ter admitido para mim mesmo! Me perdoe por tê-la feito sofrer... -ele tornou a abraçá-la.

-InuYasha...

Mas ele apenas murmurava, quase que inaudivelmente, as palavras "Eu te amo, eu te amo" repetidas vezes, enquanto apoiava a cabeça de Kagome em seu peito, e sentia o aroma dos cabelos da colegial.

Ele afastou-a, mais uma vez. Olhou nos olhos da garota, e viu que ela sorria. O véu da felicidade pareceu cobrir-lhes naquele momento. Ele aproximou seu rosto devagar na direção do rosto da colegial. Kagome não precisava mais abrir os olhos, podia apenas sentir. Sentir não mais precisaria chorar naquela noite. Sentir que estava tudo bem. Sentir que InuYasha, sereno, sem dúvida alguma para separá-los, aproximava-se dela, e tocava-lhe os lábios, ternos, doces, gentilmente. Sentir que ele apoiava as mãos na sua cintura, como para impedir que ela fosse embora novamente. Sentir que retribuía o ato abraçando-o. Sentir que, enfim, seu sentimento era aceito. Sentir que estava feliz.

Continua...

N/A: Capítulo nove quentinho, acabou de sair do forno! É isso aí, aproveitei que hoje é sexta-feira para colocar o capítulo em dia! Parece que Nora Roberts destravou mesmo a criatividade, agora ela está fluiindo com água, que bom! \o/

Acabei ontem de ler "Nudez Mortal", o primeiro livro da Trilogia Mortal, de Nora Roberts, escrevendo como J.D Robbs. Ela não decepciona, o protagonista deste história também é irlandês! Aaah, essa autora é demais!

Recomendo o site dela, Está em inglês, mas dá para saber muitas novidades da maior romancista norte-americana dos últimos tempos. Sabiam que ela já escreveu cerca de 141 romances? E cada um melhor que o outro, vamos confessar...

Estou esticando essa nota da autora demais! "" Ok, fico por aqui. Na próxima nota, vou colocar os casais de Nora Roberts que mais gostei.

Ah, amanhã vou na bienal! (leitores: "Ei, vc não disse que ficava por aqui? Que que é isso? ) Tá bom, tá bom, só para registrar! Vou caçar a editora Bertrand, Rocco, Globo, JBC, BestSellers... Já viram, né? Aquilo é meu paraíso!

Pena que tudo custe uma nota... ç.ç Muitas, por sinal.

Agora sim, itterasshai!

Abraços da Carol S.M. )

Vocabulário:

Kami:Deus

Hajimemashite: Prazer em conhecê-la (o)

Hone Kui no Ido: Poço Come Ossos

Itterasshai: Até logo!

Próximo capítulo: A tranformação de Nayouko