Capítulo 11: Conturbações

De manhã...

-Um novo dia, uma nova busca. -essa foi a primeira coisa que o monge disse, ao levantar a cortina de palha que servia como porta da cabana, provocando um farfalhar agradável.

-Você está filosófico demais, Miroku. -Sango observou, logo atrás do monge. Já estava pronta, com o hiraikotsu às costas.

-Andei me inspirando. -o monge sorriu significativamente.

-Sei...

-Acho melhor você acordar a Kagome. O InuYasha não precisa, ele foi o último a fazer a quarda mesmo. Além do mais, preferiu zelar pelo sono da senhorita Kagome pessoalmente, a noite inteira.

-Não diga bobagens, Miroku! Ele está no telhado. Eu vou acordar Kagome.

-E a senhorita Nayouko? -ele perguntou, já fora da cabana, sacudindo com uma mão estendida InuYasha, que estava logo acima no teto de palha da cabana.

-Eu estou aqui - Nayouko apareceu do nada na frente de Miroku, fazendo com que o monge sentisse um arrepio. O tom de voz da hanyou não era dos melhores -Vamos logo com isso? Focinho-de-Cachorro, acorde de uma vez, senão você vai desperdar à base de uma chuva de lâminas!-ela ameaçou, tirando o monge do lugar e sacudindo ela mesma o meio-youkai, vigorosamente -Acorde!

-Você vai ver quem é focinho de cachorro, sua gata de lixo... -ele resmungou, saltando do telhando ainda meio adormecido, e preparando-se para encarar a hanyou enquanto coçava um olho com a outra mão.

-Bom dia para você também. E a Kagome? Onde ela está? -Nayouko ignorou a provocação do hanyou, passou direto por ele efoi até o outro lado da cabana. Encostou na parede, dobrou uma perna como se formasse um "4" e começou a polir suas espadas enquanto esperava.

-Ela está irritada hoje, InuYasha... Não seja idiota a ponto de comprar briga com a Nayouko-sama agora.

-Ora, Miroku, foi ela quem me provocou! E não tenho medo de enfrentar essa gata-de-lixo a qualquer hora e em qualquer...

-Eu ouvi isso, InuYasha. -Nayouko respondeu, sem erguer os olhos da lâmina.

Miroku tratou de afastar-se com o meio-youkai.

-O problema não é exatamente a Nayouko-sama -ele disse, em tom baixo e preocupado.

-Então o que é? Ah, não... -InuYasha fez fez uma expressão incrédula -Não vá me dizer que é o tal do...

-Isso mesmo -Miroku confirmou com a cabeça.

-Fale sério, Miroku! Acha mesmo que eu teria medo de lutar com aquela hanyou irritante só porque uma espécie de guarda-costas dela chegou? A sério, hanyous sabem muito bem se cuidar sozinhos, ela é independente e mesmo que quisesse não aceitaria ajuda. De qualquer forma, ele não é páreo para a minha Tessaiga -InuYasha estufou o peito e, para demonstrar, sacou a espada com um ritinir agudo de aço raspando em aço. A Tessaiga refletiu a luz do Sol e quase ofuscou Miroku.

-Isso é o que você pensa -o monge rebateu, em voz baixa -InuYasha, eu não detectei nenhuma energia maligna no amigo da Nayouko, Richard. Ele tem a aura boa. Mas nunca se sabe. É só notar como ele olha para a Nayouko -e não estou falando do mesmo jeito que eu olho para as outras mulheres, seu idiota, é algo mais profundo- Miroku completou diante do olhar de quem já sabe tudo de InuYasha -Ele sente algo pela Nayouko-sama, e não é difícil ver que, se for preciso, não medirá esforços para protegê-la. Pense no que você faz pela Kagome, InuYasha. -o hanyou desviou o olhar para o chão, pensando que os sentimentos que nutria por Kagome valiam mesmo a pena arriscar a vida -Não conhecemos muito sobre o poder de Richard. É melhor evitar confrontos agora.

-Feh... -foi a única resposta do hanyou -Você me olha como um encrenqueiro, Miroku. Mas raciocino, esqueceu? Pode deixar que eu tenho controle. Mas ela não deixa de ser uma gata-de-lixo irritante -o hanyou devolveu a Tessaiga à bainha, e deu as costas ao monge, no mesmo tempo em que a voz da hanyou dizendo "Se me chamar disso mais uma vez, InuYasha, eu vou partir a sua cara ao meio! E não estou brincando!" podia ser ouvida, e a resposta "amável" do hanyou também: "Não enche, sua hanyou irritante!"

Miroku suspirou e seguiu o meio youkai.

Nayouko terminou de polir suas espadas e voltou para dentro da cabana, onde encontrou as duas outras garotas. Kagome terminava de ajeitar o alforje com flechas ao ombro, e Sango esperava na porta. Kagome disse alegremente: "Bom dia, Nayouko-cham! Que bom, o céu está sem nenhuma nuvem! Será um dia lindo!"

Às vezes Nayouko se perguntava de onde aquela humana tirava tanto otimismo. Que diferença fazia o céu claro ou as nuvens de chuva? Se houvesse uma tempestade com tai-fungs e geada, era possível que ela colocasse a cabeça para fora da cabana e dizesse: "É uma bela oportunidade para secar as roupas, quem sabe, patinarmos no gelo. E é bom o vento, os dias estavam muito quentes. Vamos fazer bonecos de neve?"

Ela deixou a garota passar enquanto pensava se Kagome tinha alguma preocupação, agora que seus problemas com InuYasha fora resolvidos. Talvez a questão da Jóia e Naraku, mas assim que tudo isso terminasse, ela voltaria a viver num mar de rosas.

Já a exterminadora encarava um problema maior, assim como o monge. Esses problemas não terminariam com a eliminação do Naraku, pelo menos não as lembranças deixadas por ele. Familiares que não estariam mais ali, seqüelas a serem remediadas. Kagome foi posta naquilo tudo, e ainda encontrou alguém para amar.

A verdade era que Nayouko estava procurando defeitos em alguém ou alguma coisa. Qualquer tipo de problema para não ter que pensar nos seus próprios. Olhando bem por cima, a situação parecia estar saindo dos eixos. Queria matar InuYasha, certo? Não, não, de uma hora para a outra descobrira que quem na verdade era seu alvo chamava-se Naraku. Juntou-se ao grupo do meio-youkai que pensara por tanto tempo em se vingar. Confirmou a certeza de que um fragmento de Jóia lhe mantinha a vida, e que não poderia se desfarzer dele simplesmente por isso. E descobrira que seu amigo, que a pessoa que sempre estivera junto com ela na maior parte das situações difíceis de sua vida voltara. E, desta vez, algo mais forte que amizade acolhia seu coração. Era um lampejo cortante, quente, rápido e que deixava marcas, acelerando as batidas do coração e fazendo-a sentir-se mais segura, mesmo com todos esses problemas; de alguma forma fazendo-a sentir... Melhor.

Não sabia se isso era o problema ou a solução. E caso fosse a segunda alternativa, o que isso significava?

Confusa, com a cabeça latejando pela noite mal-dormida, Nayouko esfregou o ponto logo acima de seu pequeno e delicado nariz, entre as duas sombrancelhas. Pretendia diminuir um pouco a tensão que se concentrava ali. Então viu que as garotas já estavam quase saindo.

-Você não vem, Nayouko-cham? -perguntou Kagome, com metade do corpo para fora da cabana.

-Claro -ela respondeu apressadamente. Sacudiu a cabeça para livrar-se de todas as preocupações, ou pelo menos para afastá-las um pouco no momento.

-Onde está o Richard-Sama? Ele não dormiu na mesma cabana que o Miroku? -perguntou Sango, subindo na Kirara.

-Ah, ele disse que preferia fazer a guarda junto com InuYasha...Passou a noite ao lado da cabana -Miroku encarregou-se de responder.

-Eu disse a ele que não precisava, mas como insistiu... -InuYasha deu de ombros, tomando a frente do grupo. Ao escutar isso, Nayouko vasculhou com os olhos todas as redondezas num segundo. Richard costumava acordar cedo, muitas vezes para testemunhar o nascer do Sol. Por questões disciplinares, Nayouko também acordava muito cedo, mas ela gostava de poder dormir até quando quisesse. Pena que nos últimos tempos não houveram muitas oportunidades para isso.

Ele estava sentado ao pé de uma árvore de sakura, a mesma da qual InuYasha pegara uma flor para Kagome. O Sol despontava no horizonte, grande e majestoso astro que parecia fazer de Richard seu príncipe, doando-lhe luz, iluminando seu rosto com mantos quentes e dourados. Ele apoiava um dos braços estendidos sobre um joelho que estava dobrado. Displicente, pensativo, misterioso. Não havia como se decidir entre um dos adjetivos.

Nayouko parou, evitando olhá-lo. Os movimentos ao redor da cabana chamaram a atenção do jovem samurai, que saiu de seu posto e foi ao encontro dos companheiros.

-Ei, Richard-sama! Como foi seu turno de guarda? -perguntou Miroku.

-Foi tudo bem. Bom dia a todos -ele cumprimentou. Em seguida, virando-se para a hanyou: -Bom dia, Nayouko.

Seus olhos se encontraram, e a única coisa que ela pôde dizer foi:

-Vamos em frente.

Seguiram. InuYasha e Kagome correndo na frente, Nayouko e Richard logo atrás, Sango e Miroku voando na Kirara. Shippou ia no ombro de Kagome, e Richard corria por conta própria, sem nenhum sinal de cansaço.

Aquele clima o desagradava profundamente. Não queria pressionar Nayouko, nem forçá-la a tomar decisões ou dar explicações. Optou por dar o tempo suficiente para que a hanyou pudesse organizar melhor seus pensamentos, sem sentir-se encurralada. Richard lembrava-se da expressão serena de Nayouko na noite anterior, quando os dois ficaram tão próximos, e lembrava também da consternação da hanyou depois. O melhor seria mesmo dar tempo ao tempo. Até que o momento certo chegasse.

Enquanto isso...

Não era justo que o clima ficasse tão pesado entre os dois, era?

-Nayouko -ele disse, chamando atenção. Ela parecia absorta demais em seus devaneios.

-Sim? - ela despertou, virou a cabeça para o lado, mas não encarou totalmente o samurai.

-Podemos conversar? -ele disse, num tom de voz calmo, porém firme.

-Imagino mesmo que devemos conversar -ela respondeu.

-Mas não aqui. À noite, quando todos acamparmos. Será o ambiente ideal, sabe. Aqueles dois sempre colocam muita graça nas histórias, e as discussões entre o Inuyasha e a Kagome-Sama com certeza não me fazem dormir de tédio. E, claro, eu posso contar sobre como você reage quando pisam na sua cauda. É que eu ainda tenho as cicatrizes que você causou nas minhas costas, sabe. Não faria mal avisá-los...

-Richard! -Nayouko arregalou os olhos, diminuiu a corrida e ficou aterrorizada com a idéia de InuYasha, Kagome, Sango e Miroku escutando suas pequenas "façanhas" de quando era chibi, ao redor de uma fogueira como se fossem histórias comuns! Isso a enfureceu tamanhamente que de brusco encarou Richard, disposta a oferecer-lhe mais algumas cicatrizes em troca do silêncio.

Novamente encontrou a frustração naqueles olhos cinza, ao notar outro brilho de divertimento. Ele sorriu, não tendo medo de mergulhar na imensidão da alma de Nayouko, pelas orbes cor de violeta. Sacudiu os cabelos que o vento insistia em colocar na frente dos seus olhos para longe do rosto, e encarou o céu casualmente.

-.. Ou então eu posso guardar apenas entre nós, para que possamos dar boas risadas quando estivermos velhinhos numa cabana da floresta. -ele completou.

-Eu nunca vou ficar velhinha assim! Vou ser jovem por muitos anos, esqueceu? E vou contar histórias das minhas batalhas, e não de quando você pisava na minha cauda. -Nayouko sentia uma comichão abaixo dos pulmões, sinal de que resistia a uma boa risada. Conhecia Richard. Ele estava apenas querendo abrandar a situação. Esse era o seu jeito de ser engraçado: sem querer ser.

Ele sorriu. Conseguira, enfim, tirar um sorriso da hanyou. Pelo menos até que eles viessem a conversar sobre o ocorrido, ficariam em paz. Aliviado, viu que ficaram para trás, e continuou a corrida até alcançar o restante do grupo, ao lado de Nayouko.

O Sol já estava alto, e todos diminuíram o ritmo. Estavam correndo há quase seis horas, parando apenas duas vezes para descansar. Revezavam a carona da youkai de Sango, correndo quatro de cada vez, e uma dupla ia montada na Kirara. Passaram por diversos vilarejos, sem encontrar nenhum vestígio da presença maligna de Naraku. Continuaram na única pista que tinham: um castelo pertencente a uma família de youkais do continente que fora saqueado. Porém, quando os moradores do vilarejo verificaram, perceberam que tudo estava lá, no entanto, destruído. Não sobrou nada intacto, tudo no castelo fora danificado, desde o menor hashi até os quadros e pinturas desconhecidos. Para que uma fatalidade dessas acontecesse, a hipótese de permissão dos donos do castelo não podia ser cogitada. Eles deveriam ter sido mortos para que invadissem seu castelo assim. Mas então, para onde foram os corpos? Não eram youkais fracos. Por que desapareceram do nada?

Era o que pretendiam descobrir.

A tarde começava a esquentar, e como nenhuma nuvem encobria o Sol, eles admiraram a zona de lagos à direita da estrada. A luz do Sol refletida na água poderia ofuscar olhos mais fracos. Porém, para aqueles experientes guerreiros, bastou parar e admirar a natureza. Foi o que fizeram.

À esquerda, uma floresta densa e impenetrável se destacava. Era um contraste com todo aquele ambiente explodindo na luz do meio-dia: as copas das árvores, grandes, majestosas, repousavam na sua própria paz, verdes, calmas, o leve farfalhar do vento que parecia murmurar canções misteriosas nas mentes dos passantes. Era realmente um quadro muito bonito.

-Acho que teremos um bom dia pela frente. Ao menos, sem tempestades. -observou Miroku -Realmente, precisávamos de paz.

-Sim... Paz -respondeu Sango, pensativa. Olhou para a hanyou -Não acha, Nayouko?

No entanto, Sango ficou sem resposta. Nayouko havia estancado no meio da estrada. Ignorando a suave brisa, a hanyou mantinha-se atenta. De súbito, estendeu o braço, impedindo Richard de passar.

-Mas o que... -ele começou, surpreso. Ambos trocaram um olhar veloz. Richard pareceu entender, e também colocou-se em posição de alerta. Sango observou quando Inuyasha também fincou os pés da estrada, acompanhado de Miroku e Kagome, uma sombra de preocupação tomando os olhos de todos. Ela foi a última a perceber, mas a sensação de que algo ruim acontecia estava no ar. Kiraka arqueou-se, arrepiando o pêlo, sua típica posição de batalha. A paisagem já não era mais o foco da atenção de ninguém.

-Maldição... -InuYasha sussurrou, empurrando Kagome com o braço, para trás de si -Energia maligna -trocou um rápido olhar com Miroku -Muita. E muito forte.

-Um youkai, com certeza -disse Miroku, varrendo a área com os olhos e já levando sua mão às contas que lacravam o Kazaana. A a aura maligna parecia aumentar cada vez mais. Gritou para todos: -Mantenham-se em guarda! Seja lá quem for, ele pode atacar a qualquer...

Não completou seu alerta. Uma pequeniníssima borboleta, brilhante e graciosa, passou frente à seus olhos, deixando atrás de si um vestígio de pólen dourado, brilhante; e uma voz melodiosa que ecoou em cada um deles.

-Oh, vocês me descobriram! -uma risadinha fina e doce -Bem, suponho então que esteja na hora de eu me apresentar!

Eles trocaram olhares breves, enquanto a borboleta que acabara de aparecer dava voltas no ar.

-Quem é você? -InuYasha colocou-se costa a costa com Miroku. A borboleta passou por cima de seus cabelos, voou em círculos por alguns momentos e depois a doce voz recomecou a falar, num tom de reprovação:

-Nayouko, querida... Você nunca falou de mim? Mau, isso é muito mau, tcs, tcs... - e riu, outra vez. Todas as faces ali presentes voltaram-se para a hanyou, que permanecia imóvel e silenciosa.

-Quem está falando? -Miroku exigiu, um ponto de urgência na voz..

-Nayouko, você a conhece? Diga! -Inuyasha gritou, seu olhar voando da singela borboleta até a hanyou. Ela não fez sequer um movimento. Quando levantou o rosto, que permanecera abaixado, sua expressão não poderia ser mais dura e determinada. Ele calou-se, ao perceber o frio daqueles olhos violetas, mas a tensão encravou-se na pergunta.

Arqueando levemente as sobrancelhas, ela respondeu ao anseio de todos, numa palavra:

-Sakurako.

Richard parecia o único, além da hanyou, a compreender o sentido do nome. Olhou-a, agora, num misto de surpresa e alerta.

-Sakurako? -Kagome perguntou, olhando para o pólen deixado pela borboleta, que dissipava-se antes de chegar ao chão.

-Muito bem! -a voz, agora mais alta e vibrante, acordou todos -Obrigada, Nay-cham! Ah, puxa, isso economizou boas explicações! -ela continuou, num tom quase infantil.

-Apareça duma vez, sua youkai fútil! -Nayouko disse, sua voz controlada e fria.

-Se você quer assim... Mas você sabe que eu detesto que me chamem de fútil -a voz incorpórea respondeu, ainda infantilmente. Porém, agora, sua última frase teve um tom leve de perigo... Estava claro que tanto ela quanto o surpreendente poder maligno eram oriúndos da pequena borboleta. Quase inacreditável, pensou Kagome, que uma criatura tão pequena concentrasse tamanha energia... Chegava a ser assustador. Até para ela, que já passara por tantos perigos naquela Época de guerras e youkais cruéis, aquilo significava algo surpreendente... E perigoso.

Mas Nayouko era um contraste em meio aos outros. Sua calma era ainda mais amedrontadora do que a raiva que sentia. Ela parecia estar mergulhada num mar de calma, ainda com o braço estendido, barrando a passagem de Richard, sem dizer uma palavra. Apenas a expressão dura em seus olhos poderia denunciar exatamente o contrário do que sentia: ali, uma sombriedade reinava, persistente, enquanto a hanyou não desviava a visão da pequena borboleta.

E todos esses pensamentos foram varridos da cabeça de InuYasha e os outros, quando um novo ser materializou-se num dos galhos da árvore mais próxima.

Não havia como evitar que seus queixos caíssem. Em meio à escuridão da floresta, onde somente os raios de sol mais tenros penetravam, surgiu uma belíssima youkai. Sim, porque com certeza uma mulher, humana e comum, não poderia servir como descrição para aquele ser: pouco a pouco, formada pelo pólen que ela mesma exalara, uma das mais lindas criaturas surgiu. Uma cascata de cabelos louros e brilhantes cobria as costas nuas, e a pele, branca, era oculta apenas por um tipo de roupa, muito curta e brilhante, que apenas Kagome foi capaz de reconhecer: era uma espécia de maiô tomara-que-caia, um corpete, típico da sua era, porém rosa-claro, da cor... da cor das pétalas de sakura. Num breve intervalo, uma bota negra, sépia, cobria toda a extensão de suas longas pernas, terminando somente na metade das coxas.

Ela cruzou as pernas com elegância e apoiou-se com as duas mãos no galho da árvore. Isso permitiu que vissem, ainda deslumbrados, o par de braceletes pretos que cobriam seus pulsos e iam até um pouco abaixo do cotovelo. Finalmente, asas, translúcidas, com pequenos pontos que piscavam a cada hora em um lugar, e uma fina borda negra; completavam o quadro perfeito de uma legítima youkai-borboleta.

A aura ao seu redor acabou com todas as dúvidas de onde era originada a energia maligna. A youkai era extraordinariamente bela -mas também poderosa. A despeito de sua aparência doce, a ar vibrava, em reação às ondas de energia numa cor rosada que vinham dela.

-Sakurako. Há quanto tempo -repetiu Nayouko, quebrando o transe em que todos se encontravam. O sangue corria absurdamente mais depressa pelas suas veias, e ela sentia que, no seu recanto mais íntimo sua parte youkai começava a pulsar. Segurou com mais firmeza os cabos das espadas de três lâminas. Por mais que seus instintos ordenassem que destruísse a youkai à sua frente naquele instante, ela conteu-se. Deixou apenas que um sorriso escapasse por seus lábios. Um sorriso mortal.

-Seus instintos continuam bons, Nay-cham -a youkai, agora podendo ser identificada como jovem -parecia ter quase a mesma idade que Nayouko-, sorriu, em descaso com o tom frio da hanyou, e olhou para as unhas compridas e decoradas, enquanto balançava-se levemente no galho onde sentou.

-Nay...Nay-cham? - Kagome, que ainda observava atentamente a youkai, já de posse de seu arco-e-flecha, teve sua atenção abalada depois de escutar o apelido, que supostamente deveria ser "carinhoso". Nay? E cham? Kami-sama, quem nesse planeta teria a coragem de chamar Nayouko assim? Se nem o próprio Richard se atrevia... Ao invés de consolá-la, aquilo apenas deixou Kagome mais apreensiva. Céus... Aquilo não era bom...

-Quem é ela, Nayouko? Se você a conhece, fale de uma vez! -Inuyasha exigiu, sem sequer mover os olhos da youkai. -Eu não acho que...

-Cale a boca! -a hanyou ordenou, um rápido esbravejo de raiva na voz. Não moveu-se do lugar, apenas fechou os punhos em torno do cabo da espada, com força o suficiente para que o sangue não circulasse -Cale a boca. Isso não é da sua conta -ela disse com mais calma, levantando a cabeça bruscamente para encarar a youkai. -O que você quer, Sakurako?

-Ai, ai, Nay-cham, sempre com este seu temperamento dócil! -a youkai-borboleta suspirou, mas mudou de atitude velozmente: sorriu, encantada, cruzando as mãos e pressionando-as contras as bochechas -Como eu senti saudades!

-Não me chame de Nay-cham! -Nayouko falou, sua voz ficando perigosamente mais alta a cada frase, enquanto seu rosto impassível já ia dando sinais de raiva contida.

-Ai, tá bem! Se você quer assim, Nayouko -ela inclinou-se par a frente e sacudiu a cabeça, num ato de concordância teimosa, fazendo com que seus cabelos louros balançassem, como uma cortina de dourada que a cobria. Deu de ombros, as linhas impecáveis de suas sombrancelhas arqueando-se num sinal de desagrado -Não vejo por quê. Se nos conhecemos há tanto tempo...

-Idiota -Nayouko sussurrou, interrompendo a youkai.

-Para você também. -ela sorriu, maliciosa. Depois, seu olhar deu outro estalo de empolgação, e ela balançou suas pernas ainda mais rápido -Ah, é mesmo! Você não vai me apresentar seus novos amigos? Nayouko, Nayouko, onde está a educação que seu pai lhe deu? Aff, vamos lá!

Dito isso, ela tomou impulso e saltou do galho. Com um lento bater de asas, que espalhou brilho para os lados, ela pousou no chão, na ponta dos pés, com extraordinária leveza.

Deu dois passos, ao longo de que suas asas sumiam em outra nuvem de pólen. Agora era possível reparar que seus longos cabelos iam até a altura dos joelhos, e nos olhos surpreendentemetne azuis, com longos cílios que piscavam, encantados com a visão de InuYasha e o grupo. Ela andou, devagar, fazendo com que Nayouko tomasse a frente de todos, tirando as espadas cinco centímetros das bainhas. Ela posicionou-se à frente do grupo, esperando, sem fazer nenhum outro movimento.

Kagome posicionou uma flecha em seu arco e mirou na youkai. InuYasha puxou a Tessaiga, com um ruído de aço contra aço, e colocou-se em caráter de batalha. Sango também levou a mão ao seu Hiraikotsu, enquanto Kirara tranformou-se. Miroku, estranhamente, não fez nada.

-Nossa, que povinho mais hostil! Bem a seu tipo, Nayouko -Sakurako não interrompeu sua curta caminhada, em passos lentos e sensuais, que faziam seus cabelos balançarem. Ela arqueou um pouco as sobrancelhas, num desagrado infantil. Quando estava quase diante de Nayouko, e a tensão ameaçava ser palpável, a youkai arregalou os olhos azuis, abriu a boca coberta por uma película rosa, e espalmou uma mão da bochecha, enquanto estendia o braço apontando à sua frente, chocada de surpresa. Tudo isso foi em segundos, antes que ela abrisse um sorriso e gritasse, impulsionando-se para a frente e empurrando Nayouko de lado:

-RIIIICHAARRRDD! QUE SAUDAAADEE, QUERIDO!

Todos observaram, chocados, a belíssima e espalhafatosa youkai correr rapidamente e jogar-se sobre Richard, enlaçá-lo pelo pescoço e prender-se à ele. O samurai, assombrado pela atitude súbita da youkai, não soube o que fazer, e sua única ação foi afastar os braços, longe do corpo da youkai, arregalar os olhso cinza e encarar, desesperado, Nayouko.

Esta foi a única que apresentou uma atitude. Seu choque também durou cerca de dois segundos, nos quais o ar foi expulso de seus pulmões e ela pareceu ser engolfada numa atmosfera diferente daquela em que estava. Mas tudo isso aconteceu muito antes dos seus olhos serem tomados por chamas de revolta e raiva, uma raiva que queria cortar seu interior como um raio verde e noscivo, e o calor dessa nova energia moveu-a a atirar-se contra Sakurako, agarrar-lhe pelos ombros e lançá-la dois metros longe de Richard, que, estupefato pela reação da hanyou, apenas pôde respirar quando a youkai desprendeu seus braços de seu pescoço.

Quando deu por si, viu apenas uma Nayouko enorme em fúria à sua frente, cujo peito subia e descia em arfadas profundas, e rosnava baixinho, como suas ancestrais Panteras; fuzilando-o com luminosos olhos cor-de-violeta, numa intensidade que beirava o mortal. Ele não queria, mas viu-se obrigado a engolir o que restou de qualquer frase em sua boca.

-Ui... - Sakurako cambaleou dois passos para trás, mas, antes que caísse, abriu as enormes asas e sobrepô-se ao chão, numa altura de um metro -Eu deveria prever que você continua ciumenta, não é, Nayouko? Nossa, eu só queria cumprimentá-lo... -deu de ombros, um gesto gracioso, e cruzou as pernas no ar -Não é mesmo, Richard, querido? -seu rosto iluminou-se com um sorriso, enquanto inclinava-se para frente.

-Você não é "querida" dele, sua maldita... -Nayouko respondeu, sua voz saindo entrecortada, enquanto mirava a youkai, em fúria. -Suma daqui, ou então eu mesma vou acabar com sua miserável vida! - ela disse, a voz alta e ameaçadora, impondo-se na frente de todos.

-Até que para uma meia-youkai você é muito arrogante, sabia? Acho que uma hanyou deveria ser mais humilde diante de uma youkai pura como eu, mas enfim...-ciente de que esse era um ponto que rachava os muros de ódio e orgulho da hanyou, e ia além do que sua dignidade poderia ignorar, Sakurako riu, voou mais alto e encarou a todos com olhares minuciosos.

-Deixa eu ver o que temos por aqui... -ela começou, seus lábios rosados contraindo-se num beicinho, enquanto, dobrava o corpo e apontava com o dedo esticado para a cabeça de cada um -Um inu-hanyou com orelhas muito fofinhas! -ela apertou os pulsos contra as bochechas, num sinal de encantamento -Uma garota com um quimono super-estranho... -apontou, batendo os cílios enquanto olhava para Kagome -Um youkai-raposa criança, que lindo!-fechou os olhos graciosamente, simpatizada pela figura de Shippou -Uma exterminadora de youkai, com uma roupa justa super-fashion -Ela apoiou o queixo sobre o pulso, analisando bem o uniforme de Sango. Devagar, suas sombrancelhas contraíram-se, num sinal de desagrado infantil, enquanto sua voz saía magoada e sua lábio inferior formava um beicinho: -E um monge que não pára de me olhar com uma cara pervertida! -ela completou, enquanto que, para Miroku, nenhuma palavra fazia sentido desde que vira a youkai. Sango, ignorando a situação, rodou o Hiraiktsu, nem desviar os olhos, e este atingiu em cheio a cabeça de Miroku, que abaixou a cabeça em razão de força maior. Sakurako olhou por um segundo a cena, e depois planou, até chegar a dois metros do solo:

-É... São mesmo um grupinho muito simpático -ela fechou os olhos, e deu de ombros. Súbito, sua expressão mudou para algo muito mais perigoso, e pela primeira vez, um brilho maligno surgiu em seus olhos quando ela voltou a abri-los: -Pena que eu tenha que matá-los.

Continua...

N/A: Aaaleeluuiaa! Depois de muito tempo, de muito ruminar... Saiu o caítulo 11! \o/ Cara, que pressão! Bia, aí está! Céus, estou rezando a Kami para que a Sakurako esteja de acordo com o que você me passou, eu passei este intervalo todo num corre-corre para arrumar tempo, você sabe como andam as coisas no colégio... Mas agora... Finalzinho de bimestre, última semana der, tempo, você sabe como andanm as coisas no colégio... Mas agora... Finalzinho de bimestre, última semana de aulas... Vou ter tempo para escrever o quanto quiser!

E desenhar, também. Ontem, dia 30/06/05, eu pude fotografar os últimos desenhos que tenho feito... Não digo que seja algo assim, maravilhooosooo, mas teve gente que gostou \o/. Então, está na hora de saber a opinião do povo on-line. Pra quem quiser, eu pretendo postar os desenhos nos meus blogs, www.nayoukohanyou. e www.ideiasamil. . Lá tem o endereço do meu flog, também, para quem quiser dar uma espiada, ok?

Eu tenho andado boba com os comentários que minha fic vem recebendo. A sério, eu tive uma crise de riso quando, uma semana depois de publicar a história da Nayouko, vi uns cinco comentários assim, logo de primeira! Nem acreditei, fiquei tão feliz . . Eu quero muito muito agradecer ao pessoal que dá opinião nas minhas histórias, isso é mais que do que ótimo como incentivo V

Ah, e só para avisar... Eu costumo escrever as Notas da Autora assim que termino os capítulos. Então, se para quem ler, elas parecerem desatualizadas, esse é o motivo, ok?

Agradecimentos à:

-Bia Potter

-Nora Roberts

-Dirk Struam, protagonista de Tai-Pan, maior comerciante da China antiga e que me fez aprender uma porção de palavras em chinês. Ayee Yaah!

-Ao Gabriel Moreira, que me emprestou a câmera digital dele V

-E ao Roarke. QUE SAUDADES DE VOCÊ! Carol com uma expressão chorosa

Abraços! D

Caroline Sango Maciel.

o Vocabulário o

Tai-fungs: furacões, tempestades geralmente em alto mar.

Ayee Yah! : Expressão utilizada para expressar alegria, raiva, tristeza, exaltação; dependendo da forma como é pronunciada.

Próximo capítulo: A Transformação de Nayouko