O guia da coleira
por A. Black

(com comentários absolutamente necessários de T. Potter)


Sabe, Andie, eu ainda estou tentando entender como você conseguiu aquela façanha...

Por favor, não me lembre daquilo. Eu nunca mais vou conseguir encarar o Ted nos olhos.

Quando o Sirius me disse que você era a pessoa mais distraída da face da Terra, eu tinha duvidado... Mas depois de ver o que você fez com aquele restaurante... Sério, Andie, aquilo foi demais...

Tiago, o que foi que eu disse? Esse assunto está morto e enterrado. Não precisa continuar a me lembrar que eu sou uma louca perigosa, uma incendiária irresponsável que deveria ser trancafiada em alguma ala psiquiátrica do St. Mungus por danos irreversíveis na minha pobre cabecinha.

Veja pelo lado bom, Andie...

Há um lado bom? Engraçado, eu pensei que ele tinha queimado junto com o meu pouco respeito próprio...

...o Ted tentou te proteger.

Sim, claro, e pagou por todo o prejuízo que EU causei. Ele vai me reprovar em estudo dos Trouxas. Eu tenho certeza que ele vai...

Você pode parar de drama por dois minutos e acompanhar meu raciocínio?

Você ainda é capaz de raciocinar? Pois eu não sou. Estou morta. O mundo acabou pra mim. Vou me exilar no Kilimanjaro. Vou virar uma monja budista e raspar o cabelo. Vou...

Andie, por favor?

Certo, Tiago, qual o lado bom de eu ter colocado fogo no restaurante do irmão do Ted?

Simples. Raciocine comigo. Quando você fez aquele escândalo todo no Três Vassouras, ele podia simplesmente ter saído e deixado você lá. E o que ele fez? Ele ficou do seu lado, te consolou, passou a maior vergonha, mas não deixou você sozinha. E ainda te chamou para jantar a fim de fazer você se sentir melhor.

Ele é um cara legal...

Sim, mas ele não é santo, Andie. E ele não teria passado por tudo aquilo se não gostasse de você. E, no jantar, ele parecia estar fascinado contigo. Se não fosse aquela cortina ter pego fogo, ele teria se declarado.

Bem, e depois da cortina ter se incendiado, ele nunca mais vai se declarar, certo?

Não. Ele vai se declarar quando tiver uma oportunidade. Veja que ele ficou do seu lado durante todo o tempo, se responsabilizou por todos os danos e ainda ficou preocupado com você. Agora, é só esperar o próximo passo dele.

Eu espero sinceramente que você tenha razão, Tiago...


Capítulo 03: Um escândalo de cada vez


- Andie, será que você pode sair dessa cama de uma vez? Vamos perder o café da manhã... – a voz de Marlene veio detrás das cortinas.

Eu rolei na cama, perguntando por que deveria me levantar. Depois da noite passada, eu deveria ser tirada do convívio humano.

- Ela chegou bem tarde ontem. Provavelmente teve um encontro. Vocês sabem de alguma coisa? – a voz melodiosa de Blenheim soou um pouco distante.

O que essa idiota está querendo saber? Sim, eu tive um encontro ontem. Quase matei todo mundo queimado. Que tal publicar essa manchete no jornal da escola? "Estudante tem encontro com professor e põe fogo em restaurante trouxa". Seria perfeito. O clímax da minha vida social.

- Não, não sabemos de nada, Stalk. – foi a vez de Adriane responder – Aliás, você não tinha uma reunião agora de manhã com o pessoal do jornal?

- É verdade... Bem, se souberem de alguma coisa, me avisem. Tchauzinho!

O mais bem acabado exemplar da falsidade humana deixou nosso dormitório. Um silêncio reconfortante preencheu o ambiente e eu quase cheguei a pensar que iam me deixar em paz e que eu poderia passar a manhã dormindo.

Quase...

- Levanta logo dessa cama, Andrômeda Black. – Marlene falou com a voz imperiosa, abrindo o meu dossel, deixando uma réstia de sol ferir minhas pobres retinas.

- Não, obrigada, eu prefiro ficar aqui mesmo. – respondi.

- Isso não é uma sugestão, Andie... – Adriane observou por cima do ombro de Lene.

Eu me sentei mal humorada e encarei as duas. Pelas olheiras que ambas tinham, eu não fora a única a ter uma péssima noite.

- Aconteceu alguma coisa? – perguntei, assim que me senti um pouco mais apta para articular palavras humanas.

- Seu adorável primo. – Adriane respondeu, cruzando os braços, sentada na cama dela, que era ao lado da minha.

Marlene deu um suspiro cansado.

- Ele pediu para conversar comigo ontem, lembra? Bem, ele realmente queria conversar. Não tive sequer que usar minha varinha...

- Isso não é bom? – perguntei um tanto idiotamente.

- Ele propôs uma trégua a Marlene. E me pediu desculpas. – Adriane respondeu.

- Ele está planejando alguma coisa. – Marlene completou.

- Pobre Sirius... Tantos anos como um maroto inconseqüente... Nunca vai conseguir convencer ninguém de suas boas intenções... – observei, me espreguiçando e finalmente colocando os pés para fora das cobertas.

- Você acha mesmo que ele pode ter feito isso sem uma segunda intenção? – Adriane perguntou, arqueando uma sobrancelha.

- Dri, estamos falando de Sirius Black. Ele sempre pode nos surpreender. – dei de ombros – Ou se esqueceu que ele passou os últimos quatro meses sendo o "namorado perfeito"?

- Seja como for, eu não tive como implicar com ele depois das tais desculpas. – Marlene interrompeu, parecendo agora um tanto aflita.

Foi a minha vez de arquear a sobrancelha.

- Você está tentando arranjar uma desculpa para brigar com meu primo ou é só impressão minha?

- É mais fácil repeli-lo quando eu não estou "amiga" deles. Tudo bem que eu gosto dos marotos, mas... – Marlene suspirou – Isso não vai dar certo.

- Ela está começando a se deixar enganar pelos encantos da sua família. – Adriane resmungou, um tanto ciumenta.

- Receio que os encantos sejam próprios do ramo da família do Sirius. – suspirei – Não recebi minha cota quando nasci...

Minhas duas amigas, que conheciam grande parte das minhas desventuras amorosas, sorriram solidárias e se sentaram junto de mim.

- Como foram as coisas ontem? – Marlene perguntou em um tom quase gentil.

- O de sempre. – suspirei – Eu coloquei fogo no restaurante do irmão do Ted.

As duas se entreolharam, surpresas.

- Você está falando sério? – Adriane perguntou.

Assenti com a cabeça, incapaz de fazer algum som.

- Não, Andie, isso só pode ser brincadeira... Você não pode... – Marlene escondeu o rosto nas mãos – Eu não acredito nisso.

- Acho que fui adotada... Meus pais, num rasgo de solidariedade, com a finalidade de purgarem todos os seus pecados, adotaram a filha de um trasgo manco com uma giganta. Como é que eu consigo ser tão...

- Distraída?

- Desnaturada?

- Desastrada?

- Obrigada pela ajuda. – resmunguei, me levantando e seguindo para o banheiro.

- E o que aconteceu depois? – Marlene perguntou, vindo atrás de mim.

- Alguém se machucou? – foi a vez de Adriane se manifestar.

- Ninguém se machucou. E o Ted assumiu todos os prejuízos.

- Ai, que fofinho! – Marlene exclamou, pulando do meu lado – E ele falou mais alguma coisa?

Com a escova de dentes a meio caminho da boca, observei meus olhos arregalados no espelho.

- Meu Merlin! Não, não faça isso comigo... Isso é um pesadelo...

- O que aconteceu? – Adriane perguntou, aproximando-se, preocupada.

- Hoje é segunda-feira. – eu respondi, ainda de olhos arregalados – Primeira aula do dia... Estudos dos Trouxas...

Nos próximos trinta minutos, Adriane e Marlene tentaram me convencer de todas as maneiras a me despregar da coluna da cama, onde eu tinha me abraçado quase chorando. Pelo amor de Merlin, elas têm que entender meu estado psicológico! Não faz nem doze horas que eu fiz toda aquela bagunça no restaurante do Tod... Encarar o Ted agora é muita crueldade!

Infelizmente, as duas juntas tinham mais força que eu e, conseqüentemente, fui arrastada pelo chão (e quebrei uma unha tentando me agarrar desesperadamente ao tapete), colocada à força sob o chuveiro e praticamente carregada para minha primeira aula do dia.

Marlene me empurrava, enquanto Adriane passava pelo Salão Principal para pegar alguma comida e eu fazia todo o esforço do mundo para criar raízes e ficar presa ao chão. Como eu não tenho parentescos arbóreos, nenhum poder da mente conseguiu fazer com que eu criasse raízes.

- Por favor, Lene, não faz isso... – eu pedi, tentando escapar mais uma vez das mãos da minha amiga.

Adriane enfiou um pedaço de bolo pela minha goela abaixo e voltou a ajudar Marlene a me empurrar.

- Vamos lá, Andie, você precisa ser forte, precisa encarar seus medos de frente.

- Eu não quero encarar meus medos de frente! Se eu tenho medo dos meus medos, pela lógica, eu vou me esconder deles, não sair à cata deles!

- Acho que entendi porque você não caiu na Grifinória, priminha...

Nós três imediatamente nos viramos, encontrando Sirius de braços cruzados, encostado à parede. Tiago e Lily estavam junto dele. A ruiva sorriu para mim com compreensão.

- Tenha calma, Andie... As coisas vão melhorar. Se até esse seu amigo... – ela apontou para Tiago – conseguiu me dobrar, por que você não seria capaz de enfrentar o professor Tonks?

- Obrigada pela parte que me toca, Lily... – Tiago observou, abraçando a namorada pela cintura.

Ela fez uma careta para ele, mas ela não estava nem um pouco assustadora como eu fiquei no segundo seguinte.

- Você contou para eles? Tiago Potter, eu vou...

- Colocar fogo em mim? – ele respondeu marotamente.

Senti um frêmito em meus dedinhos, prontos para avançar no pescoço daquele que se dizia meu amigo. Eu o esganaria com um prazer quase sádico e depois daria um jeito de não deixar que sobrassem nem os restos mortais dessa... dessa... dessa coisa!


Os olhos de Andie pareciam soltar chispas de fogo, mas eu não estava me importando muito. Não depois que minha adorável namorada tinha finalmente se lembrado de mim.

Afinal, ser acordado com beijos e café na cama é realmente uma dádiva divina. Se quem faz isso é Lílian Evans, então... Eu morri e fui para o Paraíso. Nada, absolutamente nada, conseguiria estragar meu dia.

Estávamos em frente à sala de Ted e, quando finalmente Andie parecia disposta a pular em cima de mim, a porta se abriu e a face do nosso querido professor – mais querido pela Andie, é claro – apareceu.

- Vocês estão atrasados. – ele observou com um sorriso um tanto divertido – A senhorita Levian já chegou.

Andie, muito vermelha e dura como se tivessem atado uma vassoura às suas costas, entrou quase marchando na sala. Eu sorri de leve.

- Eu já volto, professor. Vou só escoltar minha namorada até a sala dela. Afinal, não me arrisco a deixá-la sozinha com esse cachorro que eu tenho como amigo, sabe como é...

Sirius coçou o nariz, sorrindo um tanto maliciosamente enquanto Ted assentia com a cabeça, rindo. Adriane se despediu com um aceno da cabeça e saiu praticamente chispando. Assim, ficamos só eu, Lily, Sirius e Marlene.

- Vocês três têm aula juntos agora, não é? – eu perguntei, enquanto começávamos a andar.

- Trato de criaturas mágicas. – Lily respondeu, enlaçando minha mão direita.

Eu assenti, sorrindo e a trouxe mais para perto. Marlene estava a uns dez passos a nossa frente, enquanto Sirius vinha logo atrás de nós. Só percebi que tinha alguma coisa errada acontecendo quando Marlene parou subitamente de caminhar, arregalando os olhos.

- Ai, meu Merlin! Minha calça está se desmanchando!

Sirius sorriu de lado, escondendo a varinha de volta na capa e aproximando-se dela.

- Sabe, Lene, eu até de daria a minha se não estivesse sem cueca.

Ao meu lado, Lily prendeu o riso. Marlene, por sua vez, cruzou os braços, observando a face de cachorro pidão do Almofadinhas.

- Muito obrigada pelo seu esforço, Black, mas não é preciso. A propósito... - ela tirou a própria varinha do bolso - Seu cadarço está desamarrado.

- Meu cadar...

Sirius não terminou sua fala. De repente, os cadarços do tênis dele pareciam ter adquirido vida própria e estavam se enrolando em torno do seu corpo, como se comandados por uma mão invisível.

Marlene desapareceu no segundo seguinte e Lily foi quem tirou a própria varinha do bolso para ajudar meu amigo, que a essas alturas tinha virado uma múmia. Eu, obviamente, estava muito ocupado rindo da cara do Sirius.

- Acho que ela não entendeu o significado da palavra trégua... – Sirius observou após alguns instantes recuperando o fôlego.

- Bem, você tentar fazer a calça dela se desmanchar realmente não foi muito legal... – Lily respondeu, voltando a caminhar – Tiago, nós podemos ir daqui. Vá para sua aula ou vai chegar muito atrasado.

- Eu tenho mesmo que ir? – perguntei com meu melhor olhar de pidão.

Sirius tossiu de lado para disfarçar uma de suas inconfundíveis risadas caninas enquanto Lílian colocava a mão no queixo, ficando por alguns instantes numa pose pensativa.

- Hum, deixe-me ver... – ela sorriu, me dando as costas – Sinto muito, Tiago, mas vai ter que melhorar esse bico se quiser me convencer a faltar aula às vésperas dos N.I.E.M.s.

E logo ela também tinha desaparecido. Com um suspiro resignado, eu me preparei para também seguir para minha aula. Sirius ainda sorria de lado.

- O que foi, Almofadinhas?

- O amor é lindo, não? Acho que vou ter um ataque de diabetes se continuar perto de vocês... Muito açúcar para mim...

- Ah, não enche, cachorrão.

- Melhor ser cachorro que veado... – Sirius observou, começando a correr para alcançar as garotas na aula.

Senti ânsias de soltar um palavrão, mas decidi que era melhor dar uma de CERVO amestrado e ir para a minha aula. Talvez, se eu me comportasse direitinho, ganhasse afagos e colo no final do dia...

Assim, segui para a sala do Ted e passamos o restante da manhã discutindo sobre os perigos de tomadas e fios desencapados numa casa trouxa... E sobre as possibilidades de causar um incêndio no processo de ligar uma torradeira.

Por que eu desconfio de que essa aula foi uma espécie de doutrinação para a Andie? Para, quando ela for preparar os cafés da manhã do marido, depois que eles se casarem, não correr o risco de queimar a casa como fez ontem com o restaurante?

Sabe, acabo de perceber uma coisa... Eu tenho pensado muito em casamentos ultimamente... O que será que isso significa?

Bem, esqueçamos isso por um momento. Minha aula de Estudo dos Trouxas hoje está se resumindo a tentar não rir de todas as caras e bocas que a Andie faz a cada palavra do professor. Ou, eu deveria dizer, a cada indireta?

- Por isso, para podermos fazer tudo em segurança, devemos nos certificar que estamos ligando o aparelho na voltagem certa ou ele vai queimar e estourar toda a fiação da casa, podendo causar um incêndio.


Aquela era a décima terceira vez que Ted mencionava a palavra fatídica e, a cada vez que ele a repetia, eu sentia vontade de sumir por debaixo da carteira. Ainda faltavam dez minutos para o final da aula. Quanto mais ele queria me torturar?

Tudo bem, tudo bem, eu sei que eu mereço cada uma dessas indiretas diretíssimas, mas ainda assim...

Finalmente o sinal que anunciava o almoço tocou. Sorri aliviada, embora não sentisse qualquer apetite. Enfiei pergaminhos e livros de qualquer jeito na bolsa. Levian tinha acabado de sair e Tiago me esperava à porta para irmos almoçar.

- Senhorita Black, pode ficar mais um pouco, por favor? Eu gostaria de conversar com você.

A voz de Ted não tinha nem um único tom de reprimenda ou riso. Era a mesma voz calma de sempre. Mas então, por que eu senti um arrepio quando o ouvi me chamar?

- Pois não, professor. – respondi meio trêmula, sem me voltar para ele – Te vejo depois, Tiago.

Tiago assentiu, sorrindo e eu girei nos calcanhares tão logo me vi sozinha com Ted. Larguei a mochila sobre uma das carteiras tomei assento na primeira carteira, de frente para a mesa sobre a qual ele estava sentado.

- Você está bem, Andie? – ele perguntou com um sorriso.

Senti minhas bochechas arderem. Essa não era a hora de dar um baile por tudo o que eu aprontei ontem?

- Estou sim, professor.

- Ted. – ele me corrigiu, pulando para o chão e sentando-se do meu lado – Eu fiquei preocupado. No final das contas, não consegui fazer nada do que pretendia.

- O que você pretendia? – eu perguntei, arregalando um pouco os olhos. Será que Tiago estava certo? Será que ele vai se declarar agora?

- Animar um pouco você. Por conta do seu namorado. – ele respondeu – Sabe, Andie, você me lembra um pouco minha irmã caçula, que mora nos Estados Unidos.

- Você tem uma irmã caçula? – e eu lembrava a ele uma irmã caçula? Isso não é muito bom... – Qual o nome dela? Hum... Peraí, deixe-me adivinhar... Você é Ted, seu irmão é Tod... Ela é Tid?

Ele sorriu.

- Quase. O nome dela é Tyra. Acho que minha mãe fez alguma promessa...

Inexplicavelmente, eu comecei a rir. Acho que o nervoso do dia anterior e a estranheza da situação – quer dizer, eu estou apaixonada pelo meu professor, que me vê como uma irmã caçula e quer tomar conta de mim – fundiram meu cérebro. E eu, simplesmente, tive uma crise de riso na cara dele.

Só que era uma risada tão estranha que parecia que eu estava soluçando. E o Ted pensou que eu tinha rompido no choro. E me abraçou, murmurando para que eu tivesse calma, que tudo ia dar certo, que o idiota que tinha "quebrado" meu coração não me merecia. E eu comecei a rir ainda mais.

Realmente, essa foi uma cena antológica. Digna de ser contada aos meus filhos. Eu, com o rosto escondido junto ao peito do Ted, rindo compulsivamente, com ele tentando me consolar por um namoro terminado que nunca chegou a existir!

Eu não sei exatamente como foi que no meio do riso eu simplesmente apareci no meio do chão, praticamente no colo do meu professor... Tudo o que eu consigo me lembrar da estranha situação foi que, de repente, não mais que de repente... Eu senti os lábios dele colarem-se aos meus.

Sim, eu não estou louca. Ou melhor, não cheguei ainda ao nível de insanidade em que o paciente começa a apresentar alucinações. Ted estava me beijando. De verdade. Na boca. E, a não ser que eu esteja muito enganada, esse não é o tratamento que se dispensa às irmãs, certo?

Entreabri os lábios devagarzinho, sentindo as pernas bambas. Se eu estivesse em pé, provavelmente tinha desabado no chão devido ao meu desconcerto. Como eu já estava desabada no chão mesmo, não precisei me preocupar com esse detalhe.

Ted me abraçou mais fortemente pela cintura e eu senti como se fosse as nuvens. Só que, no segundo seguinte... Eu fui diretamente e sem escalas para o último círculo do Inferno.

A porta bateu estrondosamente e eu praticamente pulei para longe do meu querido professor. Só que o estrago já estava feito. Diante de nós, em pé, e com o semblante contorcido em uma careta de vitória, estava Blenheim Stalk.

- Com a boca na botija! – ela exclamou, sorrindo e, em seguida, bateu novamente a porta ao sair da sala.

- Ai, meu Merlin. – foi só o que consegui responder.

Dessa vez, eu não apenas tinha me metido em maus lençóis, como ainda enfiara Ted Tonks em uma enrascada das boas...


Nenhum dos marotos estava à vista quando me sentei para o almoço à mesa da Grifinória no salão principal. Nem Lílian. Conhecendo meus amigos como eu conheço, Remo deve ter dado uma passada rápida na biblioteca para conferir se está com algum livro atrasado, Pedro está na cozinha com Magdalene, provando todas as iguarias do dia e Sirius está correndo atrás de um rabo de saia. Especificamente a saia de Marlene McKinnon.

E Lílian, para variar, está fazendo uma de suas super revisões de meia hora sobre algum assunto de absoluta importância para os malditos N.I.E.M.s.

Assim, sem muita opção, acabei almoçando sozinho e estava sentindo o tédio aproximar-se sorrateiramente da minha mente quando vi Severo Ranhoso Snape levantar-se da mesa dos sonserinos com um sorriso muito suspeito.

Foi minha deixa para sorrir. Fazia muito tempo que eu não tinha uma troca de amabilidades com meu amigo de cabelos ensebados. Assim, logo me levantei também e segui atrás do Ranhoso.

Mais ou menos à altura das masmorras do Slug, meu insuportável professor de poções, eu decidi que só seguir o narigão não tinha graça. E, tirando a varinha do bolso, apontei para Snape.

- Hei, Seboso! – eu chamei, um segundo depois de murmurar meu feitiço.

Um brilho amarelado atingiu Snape na altura da cintura e ele esbugalhou os olhos, tentando desesperadamente se mexer.

- Eu não estou sentindo minhas pernas! O que diabos você está fazendo, Potter!

Eu apenas sorri, misterioso.

- Engraçado, Ranhoso... Eu também não sinto suas pernas...

Ele rilhou os dentes.

- Quando eu sair daqui, eu mato você! - Snape vociferou.

- Ui! Tô tremendo de medo!

- TIAGO POTTER! – outra voz muito conhecida vociferou atrás de mim.

Perfeito. Era tudo o que eu queria. Tudo o que me faltava. Lílian Evans estava bem atrás de mim. E ela tinha a desculpa perfeita para me fazer arder no fogo do inferno. Eu tinha prometido a ela, pouco depois de começarmos a namorar, que ia tentar deixar o Snape em paz. Que só ia aprontar com ele se ele me provocasse antes.

Bastou uma tarde de tédio que eu quebrei a promessa. Ela vai comer meu fígado.

Quando eu me virei para ela, sem perder o Ranhoso de vista – afinal, com o berro da minha doce namorada, eu tinha achado melhor findar a azaração e não era seguro ficar de costas para um Snape furioso e armado - percebi que não havia raiva nos olhos verdes de Lílian. Havia algo muito pior.

Decepção.

Ranhoso sorria de lado enquanto eu tentava encontrar uma desculpa convincente para amenizar a situação.

- Hum... Oi, Lily...

Ela estreitou perigosamente os olhos.

- O que ele fez dessa vez?

Snape pigarreou.

- Provavelmente servi de obstáculo à passagem do todo-poderoso rei da Grifinória. Ou talvez tenha poluído o preciso ar que ele respira. Ou ainda, tenha...

- Eu já entendi, Snape. – ela o interrompeu, sem deixar de me encarar – Não preciso da sua ajuda para entender o que está acontecendo aqui.

Senti ganas de torcer o pescoço do Ranhoso. Ele definitivamente não tinha ajudado. Não que eu devesse esperar que ele me ajudasse...

- Lily, eu... – comecei, tentando desesperadamente arranjar uma maneira de consertar aquela burrada.

- Nós conversamos mais tarde. – ela resmungou, dando uma volta em si mesma e preparando-se para deixar o corredor.

Hora de o lado maroto se manifestar. Incrível como ele consegue ser tão inconveniente... Se eu não tivesse aberto a boca naquele momento, provavelmente não estaria agora aqui, com essa cara de tacho...

- Se eu levar chocolates, você me perdoa?

Ok, foi uma tentativa tola de subornar o senso de justiça da Lily. Ela estava vermelha até o último fio de cabelo quando se virou para mim pela última vez.

- Nem que você fosse uma barra de chocolate ao leite gigante com pedacinhos de biscoito e recheio de marshmallow. Eu nunca mais quero olhar na sua cara! Aliás... – ela retirou o aro dourado que lhe adornava o dedo, que eu tinha dado a ela de presente de aniversário, e jogou aos meus pés – Esqueça que eu fui um dia sua namorada.

Aqui se abre um parêntese. Quando a Lily está muito nervosa, ela começa a ter alucinações chocólatras. Eu só vim descobrir isso depois que começamos a namorar, já que antes eu era até mesmo indigno de ser comparado ao (salve, salve) chocolate. Que outras surpresas me esperam quando formos casar?

Ah, perdão, me esqueci de um detalhe... Não vai haver casamento. Porque não há noiva, sabe como é. A Lily acaba de me dar um belo pé na bunda. Na frente do Ranhoso, que está se deliciando com a situação. E eu, em vez de tomar alguma atitude, estou aqui, feito idiota, tendo pensamentos idiotas e, esperando idiotamente que aquela ruiva que está correndo lá no fim do corredor perceba que está sendo idiota e volte para esse idiota que vos fala.

Eu confesso. É uma situação muito idiota. Então, eu não deveria estar rindo? Por que quem está rindo é o Ranhoso? E por que eu estou sentindo uma vontade MUITO idiota de chorar?


Sabe, eu gosto muito desse capítulo... De verdade... Uma confissão... As alucinações de chocolate são coisas que realmente acontecem comigo (pelo amor de Merlin, porque ainda não me internaram em um hospício?).

Bem, como alguns de vocês podem ter visto em NdJ, eu estou sem computador. Ele está - com o perdão da expressão - uma grandissíssima merda. O provedor particamente não se conecta, e, quando ocorre um milagre, a conexão é mais lenta que lesmas em corrida.

Estou então no escritório dos meus pais, usurpando o computador da minha mãe enquanto ela está trabalhando em outra coisa, e estou postando logo esse capítulo hoje para não correr o risco do pc me deixar na mão amanhã...

Vamos aos agradecimentos então... Rapidinho, porque uma prova de comercial me espera... Beijos para Dynha, Moony Ju, Lily Dragon, Paty Felton, Bia Black, krol, Lisa Black, Gabrielinha Granger, Elyon Somniare, Nany Potter, Paula Dani, Carol Previtalli, Belle Lolly, Helena Black, Andy Black, Mimi Granger, Thaisinha Black Potter, Bebely Black, Mirtes, Ana e todo mundo que está se divertindo com o que eu ando aprontando com a Andie...

A propósito, o próximo já é o penúltimo capítulo. Chama-se Ou vai, ou racha! e, acreditem, vocês vão dar muitas risadas, especialmente na cena da PROVA. HUAHUAHUAHUAHUAHUA... Acho que eu posto entre dia 19 e 20... Depois da prova de comercial e antes da de penal... Tudo depende do meu computador e dos meus queridos professores...

Beijos!

Silverghost.