Capítulo 5
Ela precisava dar um nome a ele. Mas qual? Não queria se referir a ele, mesmo que em pensamento, como Malfoy ou herdeiro dos Malfoy. Ele próprio já demonstrara a ela, inconscientemente, que não gostava. Alex. Ele tinha porte de Alexander. Ela não iria cham�-lo em voz alta de Alex, mas sim em pensamento.
Ele não saía mais do apartamento. Ao contrário dela, que saía e passava horas fazendo compras com o dinheiro que ele lhe dava. Comprava presentes de Natal para todos os que conseguia se lembrar. Até para ele. Para ele, ela havia comprado um livro de Poções. Também fazia compras para a ceia. E comprara também um berço para seu filho.
No dia 24 de dezembro, o apartamento fora novamente invadido por corujas. Presentes de pessoas que ela não via desde a formatura em Hogwarts. De seus pais. De Lupin. De Tonks.
Após abrir os presentes, ela foi até a cozinha. Precisava preparar a ceia. A tarde corria. E ele fora atrás. Não sabia por quê. Ela o expulsara da cozinha. Já havia deixado o livro em cima da mesinha de centro.
Fechou a porta da cozinha. Não queria que os aromas escapassem. Sabia que não adiantaria, mas ajudaria.
Finalmente, estava tudo pronto. Ela abriu a porta e o viu no sof�, lendo o livro que ela lhe dera. Visivelmente, fora o único presente que ele ganhara.
As únicas coisas que permitiam que ele, vestido de negro, fosse distinguido do sof�, eram o cabelo e a pele. Aproximou-se dele. Ele não percebeu a sua presença. Estava absorto no livro. Ela tocou seu ombro suavemente. Ele ergueu imediatamente os olhos prateados. Puxou-o pela mão até a cozinha.
-Venha. É hora da ceia.
Ela viu que ele olhava o peru. Ele se sentou. Ela também. Continuava olhando-o, esperando que ele cortasse o peru.
-Você não vai cortar o peru?
Ela viu que ele ficou confuso novamente. Ela se esquecera. As ceias de Natal dos Malfoy deviam ser apenas ostentação.
-Ah, esqueça. Deixe que eu corto.
Ela começou a cortar o peru, sabendo que ele a observava. Pôs uma fatia da carne no prato dele e outra no seu. Ao terminarem, ela limpou os pratos e os guardou.
Em seguida, puxou-o pela mão até a sala, onde ele sentou-se novamente no sofá. Havia agora uma pilha de presentes no chão da sala. Ela sentou-se no chão e começou a abrir afoitamente os presentes. Entre um pacote e outro, ela o olhava. Estava visivelmente perdido em recordações.
Ela havia terminado. Com um aceno da varinha, fez com que os papéis dos embrulhos sumissem. Com outro aceno, fez com que os presentes fossem para o quarto. Bocejou. Estava com sono.
-Eu estou indo dormir. Boa noite.
Ele apenas assentiu. Ainda estava perdido em meio às memórias. Ela foi até o quarto. Sem pensar, deitou-se na cama e cobriu-se com o cobertor negro.
Beco Diagonal. Ela passeando pela alameda de lojas. Apreciando as vitrines. Feliz. Aproveitando o sol fraco de fim de outono. E então foi puxada para um beco. Em seguida, uma masmorra de pedra. Passos ecoando nos corredores. Ela se debatendo e gritando. Os gritos abafados pela tempestade que rugia. A porta se abrindo com um rangido. Olhos prateados na escuridão.
Ela acordou. Até quando seria perseguida por aquele pesadelo? Limpou as lágrimas que haviam escapado de seus olhos. O que faria? Estava com medo. Não queria ficar sozinha. Tomou sua decisão.
Foi até a sala. Ele estava acordado. Olhando as estrelas. Ela ajoelhou-se ao lado do sofá.
-Malfoy- sua voz saiu engasgada.
Ele virou a cabeça. Aqueles olhos prateados a miravam. Mas afinal, o que ela esperava? Que ele fosse como seus irmãos e aceitasse dividir a cama com elaÉ. Era isso o que esperava. Os olhos dele estavam embaçados, meio desfocados, como se ele estivesse em um torpor.
-Eu sei que não deveria pedir isso, mas será que você poderia dormir comigo?
Ela percebeu que os olhos dele focaram-se imediatamente. Ela achou melhor explicar-se.
-É que eu tive um pesadelo horrível.
Ela precisou lutar contra as lágrimas que insistiam em querer escapar.
-Tudo bem.
Ele dissera que sim? Quase deixou escapar um suspiro de alívio. Ele levantou-se e foi para o quarto. Ela o seguiu. Ao chegar no quarto, ele já estava deitado, por cima dos lençóis.
Ela deitou-se na cama. Encolheu-se contra ele. Não pôde evitar. Afundara o rosto contra o pescoço dele. Passara o braço pelo peito dele.
Não demorou a dormir. Dormiu tranqüilamente, sem sonhos.
Ao acordar, ele dormia. Algumas mechas lhe caíam por sobre o rosto. As feições relaxadas. O cabelo levemente bagunçado. Ela não conseguiu resistir. Pôs-se a correr os dedos pelo cabelo dele. Era fino e sedoso.
Ele puxara seu pulso. Provavelmente um reflexo. Ela ofegava. Se assustara. Agora fixava diretamente aqueles olhos prateados. Aqueles olhos, no rosto de outra pessoa, um dia lhe causaram pânico. Agora lhe intrigavam. Estavam próximos. Muito próximos. Ela acalmava-se.
Ela agora começava a apreciar as feições dele. Ele ergueu a cabeça. Ela manteve-se onde estava. Não tinha certeza do que queria. Ele colou os lábios dele nos seus. Ela não se afastou. Ela correspondeu. Voltou a correr os dedos pelo cabelo dele. Ele era tão delicado. Ao menos naquele momento. Não possuía a fúria de Lúcio Malfoy. Foi então que ela teve certeza. Ele era diferente do que se mostrava.
Afastou-se lentamente. Mas manteve-se próxima.
-Você é diferente, não é?
Ela perguntou delicadamente. Os olhos dele lhe diziam que ela estava no caminho certo. Decidiu continuar, vendo que ele não responderia. Ele talvez não soubesse responder.
-Você só precisa ser salvo de você mesmo, não? Você precisa de alguém que o ensine a viver novamente. Que te ensine a ver as coisas boas que a vida nos oferece.
Provavelmente ele não conhecia as alegrias. Afinal, convivendo no meio dos Comensais desde que nascera, quem conheceria? Ela pôde ver pelo olhar dele que ele finalmente havia percebido isso.
-E quem faria isso?
Ela viu receio. Receio em meio à prata. Provavelmente receio de ser obrigado a voltar para uma vida sem alegrias depois de ter suas esperanças destruídas. Ela faria isso. Ela o ajudaria. Assim, ajudaria a si mesma.
-Eu.
Não conseguiu evitar o suspiro. Ele a olhava como se tentasse descobrir o que ela ocultava.
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desculpa pela demora, mas naum deu pra postar...Mas tá aqui! Desculpa tb não estar respondendo às reviews, mas é que eu tô atolada de liçaum...No próx cap eu juro que respondo todas! Jinhus
G.W.M.
