Capítulo 7

Ela esperava que ele acordasse. Era o que ela podia fazer, além de tentar baixar a febre dele. E estava conseguindo. Mas tinha suspeitas, quase certezas. Ela tinha quase certeza de que ele era um deles. De que ele era um dos Comensais. Mas por que ele a tirara dali? E não voltara para a batalha depois?

Inclinou-se novamente sobre ele. Precisava molhar novamente o lenço. Quando o pôs de volta, ele se encolheu ligeiramente. Havia acordado.

Você acordou.

Ela disse, apenas para confirmar. No entanto ele não respondeu. Tentava recostar-se na cama. Ela percebeu que ele evitava apoiar o peso no braço esquerdo. Ela tinha cada vez mais certeza. Mas eram perguntas para outra hora.

Estendeu-lhe um copo de água. Ele a bebeu rapidamente, sem tirar os olhos dela.

O que aconteceu?- a voz dele saiu rouca.

Bem, houve uma batalha. Os aurores venceram. Ele foi morto.

Isso eu sei.

Sabe como?

Sabendo.

Não teve nada a ver com...

Teve.

Você...Você é um deles!- Começou a afastar-se. Ele a segurou pelo pulso. Delicadamente.

Não havia mais dúvidas. Ele era um Comensal. Mas, ao olhar para ele, não viu ressentimento. Apenas uma súplica. Apenas desespero. De alguma forma, ele era inocente.

Me escute. Por favor. É a única coisa que eu te peço. Depois, se você quiser me entregar para julgamento, tudo bem. Mas apenas me escute. Você disse que ia me ajudar. Eu preciso de ajuda. Eu quero ajuda.

Tudo bem. Mas me solte.

Ela ainda estava receosa. Ele a soltou. Então começou a falar.

Eu nunca quis isso. Eu fui atirado nesse inferno e não tinha ninguém que me motivasse a lutar contra ele. Eu fui atirado nesse universo pelo meu nome. Eu não tinha ninguém que me mostrasse o que realmente valia a pena. Eu simplesmente permiti que esse inferno me arrastasse. Além disso, a minha história não ajuda muito. Eu apenas nasci porque ele precisava de um herdeiro, de um sucessor.

Seu pai?- ela tentava compreender.

Não. Voldemort. Por causa disso, eu sempre ficava fora das missões. Sempre tinha que ficar naquele cemitério, treinando as Imperdoáveis em ratos e escorpiões. Não posso negar que torturei. Não posso negar que matei. Não posso negar que destruí famílias. Mas isso me corroia. Era como veneno me corroendo lenta e silenciosamente. Eu nunca vi o outro lado da vida. Nunca soube o que era ter alguém zelando por mim. Nunca soube o que era amar e ser amado. Dizem que o amor é a capacidade de se chorar por alguém. Aí é que está. Eu não choraria por alguém. Nem mesmo por Narcisa e Lúcio.

Então ele não fora para a batalha por isso? Apenas porque Tom Riddle quisera proteger o herdeiro de seu império?

Mas são seus pais.

Ela estava chocada. Ele não choraria por seus pais?

Eu sei. Mas nunca tive motivos para chamá-los assim. Afinal, que pai trancaria seu filho em uma masmorra? Que pai descontaria a sua frustração em cima de um filho? Que mãe chamaria seu filho de "ruína de sua beleza"? Aí é que está. Como eu poderia lutar contra as trevas sem conhecer a luz? Como poderia lutar contra o desespero se não conhecia a esperança? Foi então que te vi. Em um beco escuro em uma Londres arruinada. Sangrando. A princípio, você seria apenas um espetáculo para mim. Mas algo em você fez com que eu te levasse para o hospital. Até hoje não descobri o quê. Mas não me pareceu justo que um anjo, como você, tivesse de cair. Era o que você era para mim. Um anjo arrancado de seu paraíso. Eu ia até o hospital apenas para ver e ouvir o sofrimento de outras pessoas. Depois, percebi que era apenas por você. Por que eu tinha, perdida em algum lugar, a esperança de que você pudesse me ensinar a viver de novo. E você fez isso. Você está fazendo isso. Sabe como eu a chamo?

Não.

Sua voz saiu embargada.

Eu te chamo de Angel. Por que é isso o que você é. Um anjo. Um anjo que, um por um, está destruindo meus infernos. Infernos que eu mesmo criei. Por isso eu te pedi para não me chamar de Malfoy. Eu sei, é meu sobrenome. Mas foi ele que me condenou. Ele atemoriza. Ele impõe respeito na sociedade. Mas não passa de um carrasco. Não passa do meu carrasco. Não me traz orgulho. Apenas me condena. E então? O que você vai fazer? Me entregar ao Ministério?

Não! Ela não o entregaria ao Ministério. Sabia o que o Ministério faria. Simplesmente o entregaria aos dementadores.

Não.

Não?- ele parecia surpreso.

Não. Você só precisa de alguém que te salve de você mesmo. Eu disse que faria isso, não disse? Então é o que farei. Eu sempre soube que você era um deles. Era o que todos diziam pela escola. Que você nascera como um deles e que você morreria como um deles. Você teve tudo. Teve dinheiro. Teve fama. Apenas não teve a escolha. Apenas não teve o controle sobre sua vida. Mas devo lhe dizer que fiquei assustada.

Com o quê?

Quando estávamos em Londres. Dois dias atrás. E você simplesmente aparatou comigo para cá. Quando você caiu de joelhos na sala, trincando os dentes para não gritar. Apertando o antebraço esquerdo. Quando você tombou naquele tapete. Inconsciente. Queimando de febre. Eu não quis te levar ao Saint Mungus. Sabia que você seria preso. Então te trouxe aqui para o quarto. Não queria que você fosse preso. Quando você me beijou, eu percebi que você era diferente do que aparentava. Foi então que eu percebi que se você quisesse fazer algo comigo, já teria feito. Foi então que eu percebi que você estava em algum lugar, lutando para vir à tona. Apenas não sabia como. Só uma pergunta. O Profeta Diário disse que todos eles tiveram suas identidades apagadas quando ele foi destruído. É verdade?

Em parte. Em todos eles sim. Menos eu. Eu ainda a tenho. Tenho certeza.

Então ele teria aquela maldita marca para o resto de seus dias? No entanto, a mesma curiosidade que um dia a levara para as garras de Tom Riddle falou mais alto.

Posso ver?

Ele apenas deu de ombros. Ela então desabotoou delicadamente o punho da camisa que ele usava. Em seguida, dobrou lentamente a manga da camisa até um pouco abaixo do cotovelo.

Ali estava. A Marca. Ela deslizou os dedos suavemente por sobre a Marca.

Dói?

Ela perguntou enquanto corria os dedos pelo antebraço dele, contornando a Marca.

Não. Apenas quando me apóio no braço.

Não há jeito de tirá-la?

Não. Ela só sumiria quando ele morresse.

Mas por quê ela não sumiu no seu caso?

Por quê a minha foi gravada muito mais a fundo.

Como assim?

Os outros puderam escolher se queriam entrar nesse inferno. Os outros tiveram uma escolha que nunca me foi dada.

E qual é a diferença?

Quando uma pessoa não tem a escolha sobre determinado assunto, as seqüelas disso são muito mais profundas do que em quem teve a escolha. As conseqüências penetram muito mais. No meu caso, essa marca.

Bem, acho que já falamos demais nesse assunto. Você deve estar com fome, não? Eu fiz carne assada com batatas.

Carne assada com batatas seria ótimo.

Tudo bem. Já volto. Não pense em se levantar.

Ela foi até a cozinha enquanto refletia sobre o que acabara de ouvir. Como alguém poderia ser tão cruel? Como alguém poderia forçar uma pessoa a servi-lo?

Com certeza ele seria acusado pelo Ministério. Ela duvidava que ele pudesse escapar sem uma acusação. Ela temia. Não queria perdê-lo.

Pôs o prato com a carne e as batatas já cortadas e um copo de água em uma bandeja.

Voltou para o quarto. Ao entrar no quarto, ela o viu sentado na cama, os dentes trincados. Apressou o passo e depositou a bandeja na mesa de cabeceira da cama. Ajeitou os travesseiros nas costas, enquanto ralhava com ele.

Você enlouqueceu? Você está doente! Não pode ficar se esforçando!- ela ralhou com ele, enquanto ajeitava os travesseiros nas costas dele.- Agora, deixe eu ver esse braço!

Pegou o antebraço dele delicadamente e pôs-se a correr novamente os dedos sobre a Marca. Enquanto corria os dedos, percebeu que ele relaxava os músculos antestensos, devido à dor.

Não tem nada de anormal. Dói?

Não. Agora não mais.

Que bom. Aqui está sua comida.- ela parecia aliviada.

Ele começou a comer. Era visível que estava faminto. Ao terminar a refeição, ele quebrou o silêncio.

E os outros, Angel? O que aconteceu com eles?

Eles, ah bem, alguns morreram, outros estão em Azkaban e outros no Saint Mungus. Na verdade, só há um no Saint Mungus.

Quem?

Lúcio Malfoy.

Lembrar do causador de seu pesadelo lhe causava raiva. E era tão óbvio que Lúcio Malfoy apenas encenara loucura. Não que realmente não fosse. Mas era uma insanidade mais sutil e fria.

Por quê?

Foi considerado louco. Está na ala psiquiátrica. Em uma solitária. Vigilância constante.

E Narcisa?

Ela...Ah...Bem, ela acabou morrendo.

Era tão estranho contar a ele a morte da mãe dele e não ver reação alguma. Mas depois de tudo o que ele havia passado, era compreensível. Mas era graças ao sangue de sua mãe que ele tinha aquelas feições, aquele porte. Mas talvez ele nunca houvesse percebido.

E ela lhe mostraria isso. Não agora. Algum dia.

N/A

bem, apesar de não ter tido mtas reviews, eu decidi ser generosa e postar o cap.

Quero reviews, hein?

Para quem mandou reviews, valeu mesmo! Acho q esse cap eh maior q o outro!

Jinhus

G.W.M.