Ela estava agora no quarto de Julien. As horas haviam se arrastado, mas finalmente o sol começara a se pôr.

E nem Alex e nem Julien estavam de volta. Sentada na cama, ela olhava uma foto em que ela e o filho sorriam. Decidiu sair do quarto. Quando estava no corredor, um estalo se fez ouvir às suas costas. Ela voltou-se rapidamente. Antes que a porta fosse violentamente batida, ela pôde ver de relance os cabelos loiro-platinados de Julien.

-Julien!

-Deixe-me sozinho, mãe.

-Tem certeza?

-Só deixe-me sozinho.

Parte da tensão que se acumulara durante o dia se esvaíra. Mas Alex ainda não voltara. O que a estava deixando angustiada. A tempestade parara de rugir. Um estrondo se fez ouvir.

Ela correu para o jardim. O encontrou sobre a mesa. Inconsciente. Quase gritou. Pousou a mão na testa dele. Ela xingou mentalmente. Ele estava queimando. Era surpreendente que ele não estivesse delirando.

Mas as mãos dele estavam frias. Algo viscoso e quente escorria pela mesa, em fios estreitos e curtos. Sangue.

Com um feitiço, ela o levou até o quarto, onde se trancou, para que Theo não entrasse inesperadamente no quarto. Não se importou se os lençóis estavam se manchando de sangue. Rasgou as roupas dele, para que pudesse ver os ferimentos.

Diversos riscos, de comprimentos e profundidades diferentes, corriam pelo peito e abdômen dele. O que diabos acontecera? Os elfos já haviam trazido água e o que mais seria necessário.

Molhando um pano branco na água, ela começou a limpar os cortes gentilmente. Finalmente, ela jogou o pano agora avermelhado na bacia. Alguns dos cortes voltavam a sangrar. Embebeu rapidamente várias compressas em poções que parariam a hemorragia e as pôs sobre os cortes. Então ela percebeu um corte no rosto dele. Fechou o corte com um feitiço e limpou o sangue coagulado.

Então voltou sua atenção para a febre dele. Fez com que ele engolisse uma poção para que sua temperatura abaixasse.

Agora só lhe restava esperar.

Após algumas horas, que lhe pareceram a eternidade, ela viu novamente a prata empoçada dos olhos dele.

A princípio, ela não percebera que ele acordara, por estar ocupada correndo os dedos levemente pelo peito e abdômen dele, chegando novamente os curativos. Fizera isso repetidamente, eventualmente correndo os dedos pelas antigas cicatrizes que ele já possuía.

E então, movimento. Olhou rapidamente para o rosto, aproximando seu rosto do dele, para se certificar de que não era uma ilusão. E era verdade. Ele se moveu novamente, fechando os olhos e sufocando um gemido na garganta, enquanto ela ajeitava os travesseiros.

Ele abriu os olhos, a prata chamando-a, afogando-a. Aquelas íris subitamente ficaram mais claras, como se em choque.

Lábios nos seus. Ele erguera a cabeça e unira seus lábios aos dela. Ele a beijou com paixão, trazendo-a consigo ao voltar a se apoiar nos travesseiros. Era como se ele quisesse afogar algo naquele beijo. Algo que ela não sabia o que era. Algo que a amedrontava. Mas ela se deixou perder no beijo, deixou-se absorver pelas mãos que se enterravam em seus cabelos.

Ela sentiu algo úmido em seus dedos. Afastou-se, baixando rapidamente o olhar. E praguejou. O branco novamente havia se tingido de vermelho. Tratou novamente os ferimentos, se perguntando uma vez mais o que diabos acontecera. E ela descobriria. E havia aquele risco tênue, que se enfraquecia a cada vez que recebia poção. Não haveria cicatriz ali.

-O que exatamente causou esses ferimentos?

-Uma esmeralda em um anel de prata.

-Como assim? Ele te bateu?

-Sim e não.

-Se você puder ser mais claro eu agradeço.

-Só uma vez. Uma bofetada. E então aquela maldita esmeralda se estilhaçou.

-Mas...

-Agora não. Por favor. Agora eu só quero esquecer.

Correndo os dedos pelo risco tênue no rosto dele, ela pôde ver outro risco exatamente abaixo. Havia tanto sobre ele que ela nunca saberia.

Finalmente, ela deixou toda a tensão que acumulara se descarregar.

E você acha que eu não? Você acha que eu não quero esquecer quando ouvi aquele estrondo e te achei em cima da mesa, gelado como um cadáver, com as roupas empapadas de sangue?

Ela sentia lágrimas quentes escorrendo pelo rosto, levando consigo a tensão, a angústia, o desespero, o medo e o pânico daquele dia. Como se tivesse lido os seus pensamentos, ele a puxou para si, aproximando-a dele, fazendo com que ela pudesse ouvir o compasso ritmado que vibrava em seu peito.

O que aconteceu?- ela soluçou contra seu peito.- Quando ouvi o Julien batendo a porta do quarto dele eu achei que tivesse te perdido.

Ele ergueu o rosto dela, fazendo que ele pudesse vê-la. Com o polegar, enxugou as lágrimas que deslizavam pelo rosto dela.

-Ele sabe.- ele suspirou.

-Sabe?- ela o olhou, sem querer acreditar.- Como?

-Ele viu. E eu também.

-Onde? Como?

-Não importa. Como ele está?

-No quarto. Não sai mais de lá.

-Durma um pouco.

Ela não queria. Precisava dormir, mas não queria. Mas ele a persuadiu, afagando lentamente seus cabelos, como sempre fizera. Envolvida pelo calor reconfortante dele, ela adormeceu.

Frio. Estava frio, a cama estava fria e ela estava sozinha. Alex! Onde ele estava agora? Será que se fora novamente? Será que não entendia que tinha de ficar na cama?

Procurou-o pela casa, indo até as cozinhas, indo até a sala, procurando pelos corredores. E então uma porta entreaberta. Uma porta que desde que aquele pesadelo terminara, estivera fechada. E vozes conversavam. Uma voz infantil com vestígios de choro. E uma voz que lhe trazia conforto, embora soasse desgastada. Pôde ouvir o último comentário de Alex antes de entrar no quarto.

-Bem, acho que sua mãe acordou. Lá vem sermão...

-Alex! Ficou doido de vez? Olha só! Está sangrando de novo! Vou ter que trocar tudo de novo...

-Sinceramente? Eu não me importo...

Ela o escoltou até o quarto, suspirando irritada atrás dele. Precisava trocar novamente os curativos.

Ele o convenceu a deixá-lo tomar banho antes de trocar os curativos. Ela concordou, após protestos veementes de ambos os lados. Deixou apenas quando cansou-se de apresentar argumentos contra, enquanto ele os rebatia. Era evidente que ele ainda fazia jus à Sonserina.

Ela o deixou, com a condição de que depois ele se submetesse aos cuidados que ela julgasse necessário, sem protestos. E ele, sem saber o que lhe aguardava, concordara.

N/A

nuss, finalmenti, u penultimo cap dessa fic estah prontu!

soh falta o epilogu...

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Eternal Requiem