Saint Seiya e seus personagens pertencem a Masami Kurumada. Reviews não matam.
-Memórias-
O silêncio dominava o ambiente tenso. As paredes lisas e altas erguiam-se formando uma sala grande, ampla e quase vazia, o frio se alastrava pelo local enregelando o corpo desprotegido que se ajoelhava encostando a cabeça na pedra a sua frente. Desolado. Largado em abandono, os cabelos escuros embaraçados e sujos escorrendo pelas costas curvadas. Os joelhos doloridos e vermelhos agüentando o peso por horas a fio na incomoda posição.
Ele levanta o rosto. Os olhos escuros, quase negros, mareados.
Milo, cavaleiro de ouro do signo de escorpião. As lágrimas escoriam manchando sua face bronzeada.
-Por quê?- sua voz soava como um lamento fúnebre, um gemido rouco. –Por que agora? Quando finalmente tudo estava perfeito...
Milo encosta a testa no bloco de pedra a sua frente deixando as lágrimas fluírem livremente, fechando o punho com força, tanta força, que suas unhas feriam sua pele num ato de autopunição fazendo-a sangrar lentamente gotejando no chão de mármore tingindo-o com pequenas gotas rubras.
Em um momento de lucidez ele abre os olhos e dirige a vista para suas próprias mãos feridas dolorosamente.
-Essa dor nem se compara com a que me corrói por dentro.
Olhando para o chão ele vê as pequenas gotas vermelhas espalhadas ao seu redor, e encostando a ponta do dedo indicador em uma delas ele escreve no chão de mármore, deslizando o dedo em um gesto quase automático:
"Kamus".
A palavra ressona em seus pensamentos e com a voz rouca ele fala:
-Meu amor, meu amado...
Mais lágrimas caem de seus olhos opacos se voltam para dentro de si mesmo em busca de respostas.
-Milo! Bom Dia! –Kamus o abraça falando seu nome com um sotaque francês que o faz abrir os olhos sonolentos para enxergar uma das cenas mais belas de sua vida.
Seu amado, sentado ao lado na cama macia e quente. Nu, se cobrindo com um lençol translúcido, com o peitoral a mostra num descuido sensual e os belos e longos cabelos bem cuidados cobrindo suas costas. Tão belo.
-Kamus, me deixe dormir. – o cavaleiro diz fingindo estar bravo com o aquariano, puxando os cobertores e tampando quase todo rosto, deixando apenas os olhos descobertos para poder observar seu belo amante.
-Precisamos treinar Milo. – Kamus apóia a mão na cama e toma impulso se levantando rapidamente, mas caindo logo em seguida com o puxão de Milo que segura seu pulso o impedindo de levantar.
-Fique... só mais um pouco. – ele o abraça pelas costas colando propositalmente os corpos nus.
-Me solte...uhum...Milo!- ele tenta se soltar do abraço, mas Milo passa um dos braços pelo seu pescoço o segurando firmemente e apertando seu sexo contra o corpo de Kamus, fazendo-o gemer pelo contato.
-Vamos, deixe de ser tão sério, não precisamos treinar agora.
-Claro que precisamos, como cavaleiros devemos cumprir nosso dever com a Deusa Atena e nos tornarmos fortes o suficien... –Milo interrompe o discurso tedioso com um beijo.
-Chega dessa besteira, eu não vou deixar de viver por causa daquela garota mimada, e você faz parte da minha vida por isso você vai ficar aqui comigo nem que tenha que amarra-lo nessa cama!
-Milo...- o aquariano fica dividido entre brigar com ele pela insolência de chamar a Deusa de 'garota mimada' ou o beijar pela confissão 'você faz parte da minha vida' e indeciso se põem a rir pelo modo impulsivo e adorável de seu amante.
-Do que está rindo? Você duvida de mim...acha que não vou te amarrar nessa cama se você resolver me deixar?- ele olha bravo.
-Não é isso, é que você é tão exaltado, parece uma criança.- diz Kamus voltando a rir
-Ora seu...- Milo levanta e fingindo estar nervoso e se afastar do francês. Kamus o segura.
-Onde pensa que vai? Achei que queria ficar aqui comigo. Não disse que até me amarraria se fosse necessário? –ele diz com um sorriso divertido.
Milo senta emburrado, puxando o lençol do chão e se cobrindo.
-Então me diga porque está rindo de mim.
-Milo, querido, não estava rindo de você.
-Sei...- o escorpiano o olha desconfiado.
-Estava rindo por estar feliz. –diz Kamus abrindo um sorriso sincero.
-Pois eu não acredito em você. Nem um pouco!
-Então vem cá.- Kamus o abraça beijando seu rosto.
-Você vai ficar aqui hoje? – Milo sorri e seus olhos brilham em uma alegria infantil.
-Vou. – ele o beija novamente, dessa vez nos lábios avermelhados. –Vou ficar com você e dane-se a garota mimada.
-Kamus? – o cavaleiro de escorpião se surpreende ao ouvir aquele o termo desrespeitoso da boca de seu amado sempre tão sério e correto.
Após um longo beijo que aos poucos se torna cada vez mais ousado Milo pergunta com uma voz doce:
-Você vai estar sempre comigo?
-Sempre. –diz Kamus querendo conforta-lo com seu amor.
-Você mentiu para mim!Mentiu! –Milo sussurra amargurado, olhando o grande bloco de pedra a sua frente.
-Eu acreditei em você...todas as noites ouvia juras de amor eterno e no entanto... o que resta agora? –ele levanta se apoiando na pedra fria e olha para a inscrição esculpida:
"Kamus, Cavaleiro de Aquário".
-Você me abandonou, você morreu e me deixou aqui sozinho. –Milo grita para o túmulo de seu amado, como se ele pudesse ouvi-lo.
-Você não tinha o direito de fazer isso!
Seus brandos e maldições continuam até a exaustão e sentindo a garganta dolorida e a voz rouca ele para se aquietando novamente e voltando a olhar a inscrição ele pergunta baixinho.
-Por quê?
O eco repete a pergunta a estendendo por longos instantes e no silêncio que se segue ele ouve dentro de seu coração entristecido a voz doce e calma de Kamus.
-Sempre estarei ao seu lado. Nosso amor é eterno.
Milo sai do templo e olha para o céu estrelado.
- Eu te amo Kamus, e é apenas por isso que vou seguir em frente.- tendo certeza de que ele o está ouvindo ele limpa as lágrimas do rosto e volta para casa de Escorpião.
FIM.
