CAPÍTULO 2

Na manhã seguinte, Lois chegou à Universidade Central do Kansas, e notou como parecia outro lugar comparado à noite anterior. O estacionamento estava praticamente lotado. Havia estudantes por todo lado. E ainda nem era oito horas. Enquanto observava o movimento, Lois respirou fundo. Imaginou que não seria tão difícil. Já havia passado por coisa pior no Windgate Club de Metropolis, quando fez um striptease para dezenas de pessoas. Lois nem gostava de lembrar da situação. Pegou os óculos de grau de aro escuro e grosso no banco do carona e vestiu-os. Felizmente, conseguia enxergar. Deu uma olhada no espelho.

"Abominável", disse. "Mas convincente".

Pegou sua valise e saiu do carro. Deu mais uma olhada no seu reflexo na lataria. Vestia um terno cinza grande e cafona que havia alugado dois dias antes, sapatos sociais, cabelos presos num coque, óculos horrorosos e, para completar, carregava uma valise muito sem graça e completamente vazia.

"Eu acho que vai dar certo", sussurrou, ainda impressionada com a transformação.

Lois estufou o peito e seguiu em frente, caminhou com cabeça ereta em direção à entrada principal da Universidade Central do Kansas. Nada podia detê-la. Contudo, logo ao começar a subir os degraus, viu ninguém mais ninguém menos do que Lex Luthor, que descia imponente a escadaria, abotoando o paletó. Ela não sabia se virava ou se prosseguia. E quanto Lex olhou na sua direção, Lois simplesmente decidiu fingir que era outra pessoa, e continuou a subir as escadas, indiferente. Ao passar por ele, descobriu que não foi reconhecida, e sorriu, mais do que satisfeita. Porém, olhou para trás, e o viu entrar no seu possante Jaguar estacionada em vaga preferencial, e ficou preocupada, imaginando o que ele estaria fazendo por ali.

"Noel Kidder", repetiu ela.

"Pois é, Dra. Kidder, eu encontrei seu nome na lista, mas aqui consta que a senhora começaria só no semestre que vêm", disse a moça por trás do balcão na secretaria geral da Universidade, conferindo os dados no computador.

"Bom, se você olhar direito, vai ver que o Reitor mandou me chamar para substituição do Professor Milton Fine, e a menos que ele tenha mudado de idéia a ponto de deixar a turma do primeiro ano mais uma semana sem aulas de história mundial, tudo bem, volto para Harvard, sem problemas", disse Lois Lane, ajeitando os óculos.

"O problema é que não temos nem o seu cadastro ainda, Dra. Kidder. Todos os professores têm cadastros no website da Universidade, inclusive com fotos. O dos professores que começam no ano que vêm ainda não está no portal", tentou justificar a moça.

"Bom, nunca imaginei que a ausência de uma foto num estúpido cadastro online pudesse impedir um professor de dar aulas", comentou Lois. "Será que posso falar com o Reitor logo ou vou ter que ficar plantada aqui o dia inteiro falando com você? Sabe, o tempo é muito precioso para ser desperdiçado com bobagens assim".

A garota mordeu os lábios, ficou pensativa, e disse:

"Tudo bem, Dra. Kidder, vou ver o que posso fazer".

A moça se levantou e foi para os fundos da secretaria, onde quem estava ao balcão não podia ver. Lois sorriu, vencedora. Sabia que a garota não podia confirmar com o Reitor a informação porque àquela exata hora ele estava num congresso em Connecticut, tal como havia visto no jornal de alguns dias atrás. Também sabia que, mesmo que a moça se certificasse dos dados de Noel Kidder junto ao banco de dados do centro universitário de Harvard, como ela própria o faria, encontraria uma fotografia tão horrorosa quanto ela sabia que estava com aquele disfarce.

De repente, a garota voltou, muito mais atenciosa do que antes:

"Dra., vou lhe dar esse passe para livre acesso ao campus", disse, entregando um cartão magnético.

Lois o pegou e perguntou:

"Ele me dá acesso ao gabinete do Professor Fine? Sabe, eu preciso ver em que rumo estão as lições dele. Deve haver anotações a respeito sobre a mesa dele".

"Ah, não acho prudente entrar na sala de outra pessoa quando ela não está por aqui", respondeu ela.

Lois fez seu olhar de incrédula.

"Há quanto tempo você trabalha aqui... Desirée?", perguntou, vendo pela primeira vez o nome da garota no crachá, achando que já era por demais de absurdo funcionários de uma universidade usar crachás com seus nomes pendurados nas lapelas de seus casacos bem engomadinhos.

"Bem...", ela ficou pensativa, até que viu um grupo de estudantes enfileirar-se frente ao balcão. "Vou fazer o seguinte, vou lhe dar as chaves da sala dele, mas, por favor, não conte a ninguém, certo?"

Lois sorriu, enquanto Desirée foi ao balcão, abriu uma portinha trancada com chaves que provavelmente somente ela e o Reitor possuíam, e pegou a chave do gabinete de Milton Fine.

"Muito obrigada, Desirée", disse Lois, pegando as chaves e caminhando em direção à catraca que dava acesso ao campus.

Continua...