CAPÍTULO 3

Após uma longa busca pela localização da sala do Professor Milton Fine, Lois finalmente a encontrou, e ao colocar a chave na fechadura, olhou para os lados, na certeza de não ser vista ou reconhecida. Entrou rapidamente, fechou a porta e a trancou pelo lado de dentro. Deu uma boa olhada à sua volta. Era uma sala limpa e organizada. Mas também era meio vazia. Havia poucos livros na estante, e poucos papéis sobre a mesa. E o mais estranho, não havia computador.

Lois largou a valise ao chão e correu para a mesa. Sentou-se à cadeira, e revirou os papeis à sua frente. Não havia nada demais por ali. Apenas planos de aula, horários, nada mais. Ela então começou a abrir as gavetas, e só encontrou prospectos do curso, cópias reprográficas de trechos de livros a serem distribuídos aos alunos em aula, e nada mais.

Angustiada, Lois viu os livros na estante. Tirou-os um a um, e folheou, freneticamente, todas as suas paginas, virando-os, inclusive, para ver se não caía nada de dentro deles. Quando se deu conta, não havia mais livros na estante.

Olhou novamente à sua volta. Não havia mais lugar onde procurar. Desanimada, Lois imaginou se Milton Fine estava mesmo escrevendo um livro a respeito de Lex Luthor, e se o teria levado para onde quer que fosse. Foi então que Lois viu a maleta de Fine num canto escuro da sala, bem debaixo da janela. Correu até ela e a abriu, na esperança de encontrar o que procurava. Sabia que ele carregava aquela maleta para onde quer que fosse, e que se ele levava tão a serio seu estudo sobre Lex Luthor, devia haver alguma coisa ali dentro. Contudo, qual não foi sua surpresa ao abrir a maleta e encontrá-la vazia.

De repente, alguém mexeu na maçaneta. Lois se desesperou. E se fosse Milton Fine? Mas não era.

"Dra. Kidder?", chamou Desirée.

Lois pensou em ficar quieta, mas tratou de pensar depressa. Foi até a janela, mas a mesma não abria. Pensou em quebrá-la, mas havia muita gente do lado de fora. Notou então que Desirée abria a porta pelo lado de fora, provavelmente usando uma chave mestra.

Ao conseguir abrir a porta, Desirée ficou pasma com a bagunça. Havia papéis por toda parte, livros ao chão, tudo desorganizado. Viu então Lois, a quem julgava ser Noel Kidder, renomada professora de historia mundial pela Universidade de Harvard, parada, ao lado da mesa, segundo uma folha de papel numa mão e a valise na outra.

"Finalmente encontrei o plano de aula do Professor Fine", disse ela, saindo da sala, com ar imponente, ignorando a bagunça e a expressão da funcionária.

Antes, porém, que Lois atravessasse o corredor, Desirée a chamou:

"Dra. Kidder!"

Incrédula, imaginando qual mentiria teria que inventar agora para se livrar da garota, Lois se virou, e cruzou as mãos uma sobre a outra, esperando que ela dissesse qual era o problema da vez.

"Sua turma fica do outro lado".

"Como?", perguntou Lois, inoperante.

"Sua turma fica do outro lado", repetiu.

"Bem... eu, eu não fui informada que teria que começar a lecionar hoje", disse Lois, sem saber o que fazer.

"Se olhar o plano do Dr. Fine, vai ver que a primeira aula de hoje é a dele", disse Desirée.

Lois olhou o plano. Notou que não enxergava direito por causa do aro grosso dos óculos, e aproximou mais o papel, sob o olhar atento da funcionária. Realmente. Milton Fine lecionaria sobre a Segunda Guerra Mundial naquele dia, naquele exato horário. Lois ficou pensativa. Sabia que, para todos os efeitos, Milton Fine estava desaparecido, então, concluiu, certamente, não haveria aluno algum na sua aula.

"Os alunos do Dr. Fine estavam tendo aula de língua inglesa no horário das aulas dele, para não atrasarem a grade, mas como a Dra. veio substituí-lo, pedi ao professor da matéria liberar os alunos para sua aula. Eles já a estão aguardando no auditório", comentou Desirée, com um sorriso no canto dos lábios, na certeza de ter cumprido bem seu papel.

Lois sorriu. Desejou que um míssil atravessasse aquela garota naquele exato instante. Olhou novamente o plano. Segunda Guerra Mundial. Bom, não seria dessa vez.

"Onde fica o auditório?", perguntou ela.

"No final do corredor. Venha, eu a levo até lá", respondeu Desirée.

"Não é necessário", retrucou Lois.

"Imagina, Dra. Kidder... Eu insisto!", insistiu ela, caminhando à sua frente. Lois pensou se poderia escapar enquanto Desirée lhe dava as costas, mas esta se virou e esperou que ela a acompanhasse. Lois relutou. Mas seguiu em frente. Pior do que estar com aquelas roupas ridículas, pensou Lois, era ser desmascarada e até mesmo acabar presa por falsidade ideológica.

"Pronto", disse ela, depois de alguns passos. "É aqui".

Lois olhou a porta. Olhou a maçaneta. E se desesperou. Olhou novamente para Desirée que acreditava estar fazendo seu trabalho, e sorriu.

"Muito bem", disse Lois, finalmente, com a mão na maçaneta. "Lá vamos nós".

Ao abrir a porta, viu que Desirée lhe sorriu. Provavelmente esperaria até ela entrar. "Será perseguição?", pensou Lois. Foi então que ela entrou no auditório. Virou-se para fechar a porta, vagarosamente, e viu que Desirée finalmente lhe deu as costas e foi embora. Lois virou-se para a platéia de cerca de vinte alunos. Todos estavam na expectativa. Todos a observavam, meticulosamente. Lois deu um sorriso nervoso. Ajeitou os óculos que não paravam no lugar e até pensou em se apresentar à turma, quando então viu Clark Kent entrar atrasado na aula. Antes, porém, que ele se sentasse, Lois se virou, abriu a porta, saiu e fechou.

Clark se sentou, mal viu a professora, e todos os alunos começaram a falar entre si, tentando entender o que aconteceu. Clark, como havia acabado de chegar, entendia menos ainda.

Continua...