Laços de Sangue

Capítulo 1

Decidindo Destinos

Vi Lúcio Malfoy se aproximar com toda sua pose aristocrata e senti minhas pernas fraquejarem quando ele disse "Podemos conversar em particular, Artur? Negócios."

Foi um momento de tensão, já que a maioria das pessoas ainda observava meu pai - que ainda não dera seu discurso bem pensado. Vi meu pai sorrir polidamente antes de afirmar com um leve gesto de cabeça e depois se dirigir à multidão. "Peço desculpas, caros convidados, mas o dever me chama." E para mim, uma piscadela simpática e três palavras: "Me aguarde, querida."

E eu aguardei sabendo o que viria a seguir. Tentei respirar novamente com o falso sorriso nos lábios, mas este foi desaparecendo tão rapidamente que fui obrigada a fazer uma mensura rápida antes de sair do salão em direção aos jardins principais.

Eu precisava respirar ares menos artificiais.

O

Ele viu o movimento dos cabelos flamejantes irem em direção à porta que levaria aos jardins; andava ainda com delicadeza, apesar de serem passos rápidos e ágeis. Acompanhou com os olhos quando Lúcio Malfoy deixou o salão seguido por Artur Weasley, ambos com expressões peculiares nos rostos. Draco soltou um muxoxo, descansando sua taça na mesa próxima a ele e olhando em seguida para sua mãe que se mantinha ao seu lado.

-Uma aproximação seria perfeita neste momento. – ela disse, vendo a atenção do filho voltada para si.

Ele sabia perfeitamente que uma aproximação só pioraria as coisas; talvez a Weasley se lembrasse do incidente de dois anos atrás, e falar com ela só serviria para que ela tivesse mais raiva dele.

Bem, o que isso me importa? Dane-se a repulsa dela. Ela terá que se casar comigo mesmo, odiando-me ou não.

Fez um gesto de cabeça antes de deixar o salão e ir na mesma direção da Weasley.

O

Lúcio olhou atentamente a mobília nobre do escritório de Artur e deixou um sorriso escapar. Não um sorriso puro e franco, mas um que dissesse "será um bom negócio", com um quê de satisfação estampado.

-Bem, Lúcio. Estamos aqui. – disse Artur sentando-se na sua cadeira de couro de dragão irlandês; Lúcio sentou-se em uma confortável cadeira também do mesmo couro em frente ao Ministro, separados apenas por uma escura mesa de carvalho. Tudo de muito bom gosto, pensou satisfeito.

-Andei ouvindo rumores. – Lúcio começou com seu tom cortez. –Pretende arranjar um casamento para sua filha, huh?

-Ela já está na idade de casar, você sabe. E Virgínia sempre foi muito espirituosa. Mas creio que não seja esse o assunto.

-Está enganando, meu amigo. É exatamente esse o assunto que quero lhe tratar.

Artur franziu suas espessas sobrancelhas vermelhas.

-Tenho um filho, mais ou menos da idade de sua filha, creio eu. Draco, ele se chama. Conversamos e ele me mostrou grande interessa pela jovem Virgínia.

-Draco Malfoy? Ele freqüentou Hogwarts com meu filho Ronald. Os dois não eram os amigos mais íntimos. – comentou ironicamente. –Me diga, Lúcio, em que me serviria essa união?

Foi à vez de Lúcio sorrir ironicamente. Os olhos azuis cinzentos brilharam em expectativa.

-A rainha morreu não deixando herdeiros. Você sabe tanto quanto eu que minha esposa Narcisa era neta de segundo grau da rainha e, portanto, Draco tem o sangue azul. Há muitas chances de meu filho tornar-se rei, já que é o único próximo ao trono. Mas para isso ele deve se casar com uma boa moça, que tenha uma família de longa linhagem e boa reputação. Não vejo melhor pessoa que a senhorita Virgínia.

Artur refletiu cerca de dez segundos, analisando o porte nobre de Lúcio Malfoy. Sem dúvida aquele era um bom negócio. Sua filha teria dinheiro, poder e realeza. De certo aquilo colaboraria para que sua família se tornasse ainda mais respeitável.

Um sorriso pálido se iluminou no rosto de Lúcio.

-E então, Artur? Não quer que sua filha se torne uma rainha?

Virgínia já era uma rainha para o coração de Artur. Sua única filha mulher que parecia ser iluminada por sua vitalidade e alegria. Uma rainha nata, com seus cabelos vermelhos que significavam poder.

Ele balançou sua cabeça distraidamente.

-Sim, Lúcio. É o que eu mais quero na vida. Estas noites darão um jantar para os principais nomes do reinado. Certamente eu estarei lá com minha família por seu o Ministro, e você por ser marido da parenta mais próxima da falecida rainha. Nesta noite, Draco terá minha permissão de pedir a mão de minha filha em casamento.

O

-Como a vida é irônica. Justamente você e eu. – ela ouviu uma arrastada voz dizer atrás de si, arrepiando-a. O jardim era iluminado por fadinhas que dançavam e cantavam tolamente; ela voltou-se para o rapaz que sorria sarcasticamente.

-Malfoy. – disse numa voz fraca e sem emoção.

-Futura Sra. Malfoy. – Draco fez uma mensura extremamente exagerada que chegou a ser cômico. Ela riu sem sentimento, o mais friamente que conseguiu.

-Você acha que meu pai vai aceitar isso? – ela perguntou, cruzando os braços e ficando na defensiva. –Eu já tenho um noivo. – mentiu.

-Pois seu noivo nunca chegará aos meus pés. Eu tenho uma razão muito forte para estar confiante. – ele acrescentou vagarosamente. –Você está bonita, Weasley.

-Ah, poupe-me! Como se isso me convencesse a aceitar me casar com você.

-Não aceita um elogio? Engraçado...- ele segurou a risada maliciosa, deixando apenas um sorriso dizer o quanto aquilo o estava divertindo. –Você parecia aceitar realmente bem os elogios do Potter.

E com isso ela empalideceu, sentindo suas forças deixarem-na. Cambaleou para trás, sentando-se num banco de pedra.

-Por favor, saia daqui. – mas ele não se moveu. Continuou olhando-a com seu olhar frio e calculista, sem se importar com ela.

-Eu também não estou feliz por se casar com você, Weasley. – o admitiu. –Mas nem por isso fico fingindo que estou quase morrendo.

Ela não respondeu. Levou até a testa suas mãos cobertas por uma luva curta feita de renda, tentando fazer com que as imagens não rodassem tanto.

-Muitas famílias se formam por casamentos arranjados. Ou você achava que se casaria por amor?

-Por favor... – ela pediu, fechando os olhos. Sentia frio, tontura.

Draco a observou perder a cor do rosto pouco a pouco, até que este ficasse tão pálido quanto cera. Revirando os olhos, pegou sua varinha, conjurou um copo de água e foi até ela, sentando-se ao seu lado e estendendo o copo.

-Tome. É água.

A garota não pareceu hesitar. Pegou o copo das mãos do rapaz e bebeu tão rapidamente a água que num instante já estava mais calma e corada.

-Eu não sabia que Potter tinha esse efeito nas mulheres... – comentou casualmente, girando a varinhas entre seus pálidos e finos dedos.

-Obrigada – ela sussurrou sem olhá-lo. –Apesar de poder perfeitamente me virar sozinha.

O olhar azulado dela o fez perder a pouca calma que lhe restava. Draco levantou-se de imediato e deu as costas, pisando duro. Pôde ouvir a risada divertida atrás de si e cerrou os punhos. Quem aquela Weasley pensa que é?

Sua futura esposa, Malfoy. Sua futura esposa, disse para si mesmo nervosamente.

O

Gina estava sentada na penteadeira enquanto Hermione lhe penteava gentilmente os cabelos, quando tudo o que Gina via era seu reflexo no espelho. Os lábios vermelhos naturais, carnudos e convidativos estavam entreabertos. Os olhos em si mesma, apreciando sua imagem refletida. Seu corpo ainda tremia quando se lembrava do terrível encontro com seu futuro marido e sentada ali, lembrando-se de Draco Malfoy, Gina perdia toda e qualquer vontade de ir ao jantar em homenagem a falecida Rainha Adélia.

-Estamos sozinhas, Gin. – murmurou Hermione absorta em sua tarefa. Não que ela fosse uma criada, mas elas se penteavam desde sempre, quando eram crianças e dormiam no mesmo quarto todos os verões. –Você sabe o que isso significa.

Gina virou-se para encarar a amiga com seus olhos arregalados.

-Você tem visto Harry? Ele nunca mais me visitou.

-Ainda está fora do país. Acho que ele não gostará nada de saber que você se casará.

-Se eu me casar.

Hermione a encarou confusa.

-O que quer dizer com isso?

-Eu vou fugir com Harry, Mione. Ninguém pode me obrigar a casar com alguém que não amo.

-E você ama Harry?

A pergunta que a muito tempo ela tinha medo de responder. Sempre desviava seus olhos quando alguém lhe perguntava a mesma coisa; ela já não sabia o que sentia pelo antigo namorado de escola. Dois anos sem vê-lo tinham lhe afastado do rapaz que antes desejava com todo o entusiasmo que julgava ser capaz de sentir. Mas ali, naquela situação horrível em que se encontrava, deu-se conta de que estar com Harry seria mil vezes melhor do que se casar com alguém que abominava.

-Sim, eu o amo.

-Engraçado... – a amiga comentou não tirando seus olhos negros dos olhos de Gina. –Você demorou tanto para responder uma coisa tão simples...

-Não vejo Harry a dois anos. Eu não sei como ele está.

-Se quer saber, ele continua o mesmo por dentro. As pessoas raramente mudam sua personalidade num tempo tão curto. Mas se você está querendo saber como ele está fisicamente, eu não poderia dizer.

-Ele vinha me mandando cartas até o ano passado. Depois disso parou de escrever.

-E você continua escrevendo para ele?

Gina balançou a cabeça negativamente.

-Então como pode pensar em fugir com ele? Será que você ainda o ama?

-Eu não sei. Mas posso descobrir se eu escrever.

Hermione balançou a cabeça.

-Isso é loucura, Gina. Sabe o que eu penso a respeito. Você não pode ter certeza de algo se seu pai nem ao menos lhe falou a respeito. Talvez Malfoy esteja blefando.

-E se não estiver?

-Você conhece Malfoy, ele gosta de provocar. Vai ver você vai ter uma prazerosa noite e nem ao menos desconfia.

Gina suspirou, voltando a ficar de costas para a amiga, que continuou a penteá-la. Se a noite seria boa ou não, ela não sabia, mas a julgar pela fina garoa que umedecia os campos lá fora, ela sabia que não poderia ter muitas esperanças.

O

I close my eyes

(Eu fecho meus olhos)

Only for a moment

(apenas por um momento)

And the moment's gone

(e o momento se foi)

All my dreams

(todos os meus sonhos)

Pass before my eyes, a curiosity

(passam diante dos meus olhos curiosamente)

Dust in the wind

(poeira ao vento)

All they are is dust in the wind

(tudo o que eles são é poeira ao vento)

O vestido da Weasley agora era de um vermelho escuro, quase no tom vinho. Os cabelos estavam presos delicadamente num penteado complexo; várias mechas rubras se desprendiam displicentes, caindo por cima dos ombros e rosto. Uma fina e delicada camada de maquiagem estava em seu rosto. Uma sombra dourada pálida, um batom cor de pele.

Ele viu um colar pender o pescoço alvo da garota. Era dourado e reluzente, em formato de um coração cravejado por um rubi.

-Draco, querido? Vamos cumprimentar os Weasleys?

Ele afirmou com a cabeça apesar de ranger os dentes. Sua mãe estendeu sua mão para que ele a pegasse e desse seu braço; foram até a porta onde a família do Ministro – responsável pelo jantar em homenagem à rainha morta – recebia os convidados. Sem dúvida um dia cheio para os convidados. Lúcio estava ao lado de Narcisa, segurando o braço esquerdo da esposa. Ostentava um esnobe olhar, apesar de discreto.

-Ministro! – exclamou polidamente Lúcio Malfoy, fazendo uma discreta curvatura. –Sem dúvida um prazer revê-lo. E sua encantadora mulher, Molly. Permita-me dizer, Sra Weasley, que a cada dia fica ainda mais bela. – a Sra Weasley deu um pequeno sorriso e estendeu sua mão para ser beijada por seu pai. –E agora, a pequena Weasley.

Draco viu Gina erguer as sobrancelhas em deboche e viu ainda seu pai cerrar os punhos, apesar de ainda sorrir.

-É um prazer revê-lo, Sr. Malfoy. – disse a garota, estendendo sua mão para ser beijada. –Aposto que meu pai tem novidades para contar, não? Afinal, lembro que o senhor o roubou bem na hora do discurso.

-Oh, Merlin sabe o quanto Artur se empolga nos seus discursos... – comentou Sra. Weasley. –Bem, é um prazer vê-la, Sra. Malfoy. Tão bonita como sempre, na verdade.

-Obrigada, querida. Você não fica atrás.

-E este é seu filho, creio eu. – Artur Weasley olhava agora para Draco, como se o avaliasse. –Um prazer recebê-lo em minha casa. – disse e estendeu sua mão para ser apertada.

E Draco assim o fez, apertou fortemente a mão do Sr. Weasley e respondeu, tão cortez quanto o Ministro:

-Igualmente.

-São crianças lindas, esses dois, não acha Artur? – Draco teve que fazer um esforço para não rir. Criança! Quem aquela velha gorda acha que é para chamá-lo de criança?

-Sim, naturalmente. Acho que seria conveniente um passeio pelos jardins, não é Virgínia?

-Claro, mamãe. – respondeu ela com o rosto vermelho, mas séria. Estendeu seu braço em direção a Draco, que se afastou gentilmente de sua mãe e foi ao encontro da mão estendida de Gina. Ele tocou o braço da jovem com cautela. Não por ser suja, mas por não gostar do contato que era impossível não ter. –Não demoraremos. – ela falou, dando um passo em direção a Draco.

-Claro que não. – respondeu seu pai bem humorado. –Ou vamos achar que Draco fugiu com minha doce filha...

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Ela se virou rápido antes que seu pai visse o mau agrado que estar tão próxima ao Malfoy podia lhe proporcionar. Ela já não sorria, mas mostrava calma quando não a tinha.

Gina os guiou até o jardim mais iluminado e sentou-se num banco de pedra. Não haviam trocado uma única palavra desde então.

-Uma noite boa, a considerar a chuva que caiu pela manhã. – ele quebrou o silêncio fazendo um comentário casual sobre o tempo. Gina tirou as luvas curtas e pôs-se a contorcê-las nervosamente. –Não precisa ficar assim por minha causa, Weasley.

-Se fosse por sua causa, eu já teria morrido, Malfoy.

Ele sorriu, arrogante.

-Esse é o efeito que faço nas mulheres...

-Não sabia que era tão desagradável para fazê-las morrer de desgosto, Malfoy... – ela retrucou, marota. –Mas o caso é, você sabe o que diabos seu pai falou com o meu?

-Como eu poderia saber? Não estava lá.

-Mas você deve saber. Afinal, é tão igual ao seu pai...

-Não sei. E se soubesse, não contaria a você. – Gina o olhou por um momento. Os olhos cinzas como os do Sr. Malfoy e os cabelos platinados como os da Sra. Malfoy. Ele era bastante bonito a considerá-lo ali, sentado sob o luar. As vestes negras e caras lhe davam a certeza de quão rico os Malfoy eram. E ainda tinha os rumores de que o jovem Malfoy tinha sangue-azul; ela estremeceu só em pensar no que aquilo poderia significar, mesmo que o pensamento lhe parecesse remoto.

-Você faria o que ele mandasse? Até se casar comigo?

Draco sorriu de lado, mais arrogante do que nunca.

-Isso é um pedido de casamento, Weasley?

Gina revirou os olhos, irritadíssima. Esse idiota não pode me levar a sério nem um instante?

-Estou falando sério, Malfoy. Você não tem uma vida lá fora? Uma namorada ou qualquer coisa que possa te impedir de se casar comigo?

-Você já sabe. – ele resmungou. –Então porque perguntou se eu sabia?

-Não fuja da minha pergunta. – ela sussurrou entre os dentes.

-Uma vida? É claro que eu tenho. Mas certas coisas podem ser deixadas de lado quando há assuntos mais importantes para serem tratados.

Gina olhou para as próprias mãos. Não valia a pena tentar convencê-lo a não pedi-la em casamento. Pois Draco Malfoy parecia ser exatamente como o pai: movido a interesses, e não por amor.

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Same old song

(A mesma velha música)

-Vamos entrar. – ele a ouviu dizer, sem esperá-lo levantar-se para estender seu braço. Ela foi caminhando por conta própria, ignorando-o. Draco ficou vendo-a desaparecer e perguntou-se porque ela tinha que ser a filha do Ministro da Magia. Tudo seria tão mais fácil se fosse Pansy e seu corpo volumoso cheio de curvas bem intensas e seu gênio calmo, tão calmo quanto o de sua mãe; mas era com a Weasley que, apesar de ser bonita com seus cabelos vermelhos e seus olhos azuis, ele deveria se casar.

A pequena Weasley parecia ter tudo o que ele nunca quis em alguém com quem conviveria anos a fio. Mas essa era sua realidade e, sem querer, se pegou pensando se seria interessante viver com aquele gênio difícil.

Balançando a cabeça, Malfoy se levantou e foi traçando o mesmo caminho feito pela Weasley.

O

Just a drop of water

(apenas uma gota d'água)

In an endless sea

(em um mar sem fim)

Várias pessoas riam e brindavam quando Gina chegou, seguida logo após por Draco. A garota certificou-se de que estaria o mais longe o possível do insuportável rapaz e se aliviou em constatar que ele não fazia nenhum esforço para se aproximarem.

Ele não quer se casar comigo, pensou, um pouco mais calma. Talvez ele não peça minha mão. E se pedir, com certeza vou dizer não.

Foi quando sentiu alguém pousar as mãos em seu ombro, levemente. Ela se virou para ver Lúcio Malfoy com o sorriso mais largo que se lembrava ter visto. Ela forçou-se para não afastá-lo bruscamente; ao invés disso, correspondeu ao sorriso, mesmo que falso.

-O Senhor está gostando da nossa humilde festa, Sr. Malfoy?

-Naturalmente. Os Weasleys sempre tiveram bom gosto. Não deixaria por menos esta noite tão...especial.

Gina engoliu em seco.

-Eu gostaria de lhe informar, Srta. Weasley, que dentro de alguns minutos meu filho Draco lhe pedirá em casamento.

Ela sentiu seu mundo rodar muito forte. Agora ela tinha total certeza de como sua noite seria terrível. Graças aos Malfoys e suas tradições hipócritas. Graças aos interesses ridículos. Ela olhou bem fundo no cinza dos olhos de Lúcio e, com um sorriso desafiador, respondeu:

-Eu nunca aceitaria.

-Acho que o nunca já chegou, Srta. – ele retorquiu suavemente. –Mas antes disso, tome um pouco de champanhe. Você parece estar pálida demais.

Ela não protestou, pegou a taça e bebeu daquele líquido espumando, fazendo uma careta logo depois de beber tudo. Eu odeio álcool, pensou, ríspida.

Então ela ouviu alguém chamar a atenção de todos e percebeu que os minutos se arrastavam. Aquele maldito devia ter colocado alguma coisa na sua bebida, pois tudo o que sentia era peso, um enorme peso e uma vontade de sair correndo. Ela ouviu aplausos e várias pessoas pararem para olhá-la.

Ela queria xingá-los, todos eles. Queria que todos fossem embora e que pudesse desabar em algum lugar confortável.

Mas tudo o que fez foi andar até onde estava Draco Malfoy - com um falso sorriso nos lábios finos - e seu pai, tão feliz e radiante como nunca tinha o visto antes. Ela ouviu soluços e percebeu que sua mãe chorava emocionada.

Não sabia porque estava indo na direção deles quando o que mais queria era sair correndo.

A maioria das suas atitudes ela não conseguia entender. E quando se viu ao lado de Malfoy, sorrindo e parecendo sincera, de mãos dadas com ele, ela entrou em pânico. Principalmente quando ouviu sua própria voz dizer:

-Aceito.

All we do

(tudo o que fazemos)

Crumbles to the ground

(cai em pedaços)

Though we refuse to see

(embora nós nos recusemos a enxergar)

Dust in the wind

(poeira ao vento)

All we are is dust in the wind

(tudo o que somos é poeira ao vento)

Muitas pessoas sorriam, outras riam. Seu pai murmurou mais algumas palavras e Gina viu os convidados erguerem suas taças lentamente, satisfeitos com o que aquele fim de noite havia lhes proporcionado.

- Você aceita as coisas rápido, hm? – ela ouviu a voz de Draco dizer perigosamente perto da sua orelha. Um calafrio percorreu seu corpo.

Parecia intenso, mas irritante. Ela não gostava da sensação.

Sua garganta estava fechada, não conseguia dizer o que queria.

Dando-se por vencida, apertou um pouco mais a mão de Draco - que estava entrelaçada com a sua - e percebeu que no seu dedo da mão direita tinha um anel de noivado com uma grande esmeralda cravada nele.

Agora ela era a Futura Sra. Malfoy, possível rainha da Bretanha.

O

Draco não precisou passar horas na frente do espelho para saber – sem errar um único detalhe – o que fazer naquele momento. Afinal, ele fora criado como um Malfoy, alguém que sempre tinha boas saídas gesticuladas na cabeça, e quando ouviu um chamado a certa altura, ele sentiu seu estômago revirar. Mas ainda que sentisse que a qualquer momento vomitaria, ele manteve sua pose e seu sorriso. Era importante sorrir naquele instante.

Ele caminhou até o centro das atenções e se postou ao lado de Artur, que tinha uma expressão peculiar no rosto. Uma alegria preocupada; Draco não sabia dizer ao certo o que era aquilo.

-Nesta magnífica noite, quero dar aos meus queridos convidados uma excelente notícia. Hoje, caros amigos, o jovem Sr. Malfoy pediu a mão da minha querida filha Virgínia.

Houve uma explosão de vivas e palmas seguidas por vários cochichos. Draco forçou-se para não revirar seus olhos.

A sua única esperança era a de que a garota estúpida – que ironicamente seria sua esposa – fugisse dali e desaparecesse. Certamente isso traria meses de rumores e seria como jogar o nome da sua família na lama. Mas, pela primeira vez em sua vida, ele pouco se importava com aquilo. Queria fugir da realidade, mas no entanto, permaneceu ali, sorrindo tolamente, esperando alguém que não queria esperar.

Foi então que a viu caminhar até ele, sorrindo francamente, como se estivesse feliz por tudo o que estava acontecendo. Gina caminhava um tanto lentamente, como se tivesse problemas para se locomover, mas num piscar de olhos ela já estava ao seu lado, olhando-o nos olhos.

Draco procurou em seus bolsos uma caixa aveludada e quando achou-a, abriu, retirando dela um anel de esmeraldas. Ele viu Gina erguer a mão em sua direção.

Faltava pouco para que tudo aquilo acabasse onde ele não gostaria. No dedo da mão direita.

Relutante, ele colocou o anel no dedo fino e pálido, sendo observado pela garota atenta. E quando viu, seus olhos estavam novamente no colar que ela usava. De perto parecia mais ofuscante, atraia seu olhar como se fosse um tipo de ímã. E pouco a pouco seus olhos desceram até a curva sutil dos seios dela. E quando notou que estava observando os seios de Virgínia Weasley na frente de todas aquelas pessoas, ele desviou os olhos rapidamente.

-Você aceita as coisas bem rápido, hm? – ele segredou, chegando o mais perto que conseguiu. Sentiu-a estremecer, e um novo sorriso nasceu nos lábios irônicos de Draco Malfoy.