Laços de Sangue

Capítulo 4: O Mistério, Plano e Fuga.

Parecia haver sombras que invadiam as tardes de Outono; eu sabia que logo seria inverno e com o natal, meu suposto casamento. Mas como mudar algo que até ali não parecia haver escapatória? Todas as tardes eu me sentava no peitoral da janela e observava os pontos luminosos se formarem no céu escurecido. Elas brilhavam para mim como se rissem do meu dilema.

Eu gostaria de saber como seria se eu não fosse filha do Ministro da Magia. Como seria se eu fosse tão pobre que nunca passaria na cabeça de Lúcio Malfoy casar seu filho com uma Weasley pobretona. Seria isso a situação mais adequada? Se fosse, eu nunca poderia saber, já que eu não deixaria de ser quem sou numa simples noite de Outono...

(------O------)

"Então é essa garota que roubou Harry de mim", Gina pensou instintivamente quando pôs os olhos em Marie Potter. Ela parecia ser bem tímida e amuada; os olhos eram castanhos como seus cabelos longos e ondulados. Não parecia com Gina em nada que pudesse ser visto aparentemente e quando Gina a abraçou, sentiu o corpo delicado e frágil da garota estremecer. "Deve ter mais ou menos minha idade"

-Seja bem vinda, Marie. Ficaria encantada se fôssemos como irmãs já que você se casou com um irmão meu...

Durante toda a sua vida ela sabia que aquele momento chegaria. Mas nunca pensou que pudesse agir tão cordial e tão natural como estava agindo. Se fossem alguns dois anos atrás, ela teria morrido ao falar aquelas palavras, mas ali, vendo-a esboçar um tímido sorriso, tudo o que conseguiu pensar foi em como Harry escolhera alguém improvável para se casar.

-Obrigada. – ela murmurou. –Harry sempre diz coisas incríveis de você, Virgínia. Eu realmente espero que nos demos muito bem nesse tempo em que ficarei aqui.

Gina apertou carinhosamente as mãos de Marie enquanto a guiava para a sala de visitas.

-Acho que você vai gostar de ficar aqui. Fazemos muitas festas e elas quase sempre acabam no dia seguinte. Daqui a dois dias teremos o Festival do Dias das Bruxas, você já deve ter ouvido falar...

-Ouvi. Mesmo que eu não goste muito de festas... – ela torceu as mãos nervosamente. –Mas Harry gosta tanto... E realmente fez muita questão para que eu o acompanhasse nessa visita. Vocês são a família que ele sempre quis ter.

-E ele é o meu irmão predileto. – Gin comentou casualmente.

Estavam sentadas nos sofás vermelhos frente a uma lareira apagada. Mesmo que o vento fosse cortante e gélido, as grossas e impenetráveis paredes não deixavam que o frio ultrapassasse. Ela olhou mais uma vez para Marie e constatou que era mesmo uma mulher bastante tímida. Suas vestes eram sóbrias e escuras, tais como as de sua mãe. Seus cabelos pareciam ser a única fonte de charme genuíno naquele corpo; eram lindos, Gina reparou, batiam mais ou menos na cintura extremamente fina. E os olhos... Pareciam ser vazios demais...

O silêncio entre elas se quebrou instintivamente quando a porta rangeu levemente. Gina virou a cabeça rápido demais, tão rápido que sentiu dor no pescoço.

E quando viu quem era, arregalou os olhos.

-O que diabos você está fazendo aqui? – ela perguntou sem hesitar ou se importar com a presença de Marie na sala.

-Andando? – ele retrucou ironicamente antes de dar uma olhada ao redor. Gina viu o olhar cinzento de Draco repousar em Marie por um tempo considerável, o bastante para fazer a garota se encolher no acolchoado.

-Você é a esposa do Potter?

-É. – Gina respondeu rápido. –E nós estamos conversando agora. O que você quer?

-Dar uma volta. – ele respondeu olhando fixamente para Gina.

-Alguém está lhe impedindo? – ela perguntou arqueando as sobrancelhas de maneira bem sugestiva. Normalmente as pessoas tomavam aquele gesto como um "vá embora" educado; no entanto ele permaneceu ali, encarando-a como se esperasse alguma coisa.

-Ninguém. Estou só te esperando.

-Eu não quero nem tentar entender o que isso pode vir a significar...

-Você não vai negar dar uma volta com seu noivo, vai?

Gina abriu a boca umas três vezes, mas as palavras não saiam. Draco esboçou um sorrisinho enfezado antes de andar até ela.

-Seu pai sugeriu que seria agradável.

-Desde quando você o ouve?

-Desde que ele aceitou meu pedido de casamento? – ele arriscou. –Acho que uma hora de descanso para a Sra Potter seria a melhor coisa a fazer... Ela parece estar doente. Nesse meio tempo...

-Nós poderíamos passear. – ela acompanhou o raciocínio. –Marie, você quer descansar ou está bem assim?

Por um momento, Gina temeu a resposta. Ela não estava disposta a ouvir a voz daquele rapaz nem por um minuto que fosse, mas se estava disposta a fugir, teria que, pelo menos, ter o apoio dele.

Ela respirou fundo quando Marie agradeceu a atenção e se retirou para seu quarto, alegando estar mesmo cansada e que seria outra se dormisse algumas horas.

-E então? – ele perguntou impaciente. –Vamos ou não?

-Vamos.

(------O------)

Desde que o inverno chegara, Draco não via o sol nem tão pouco seus raios quentes e luminosos. Na realidade, detalhes como aquele não importavam muito desde que a última festa na casa dos Weasleys havia terminado em um roxo na região dos seus olhos e uma certa conversa sem objetivos. Ou pelo menos quase.

Draco sabia intimamente que seu plano havia demorado todos aqueles dias – mais precisamente desde a última festa dada pelos Weasleys – para ser elaborado justamente por ser complexo demais. Afinal, como ele, Draco, poderia do nada querer mudar a relação Weasley e Malfoy da noite para o dia?

Ele se pegou pensando muito naquele "probleminha" técnico e percebeu que só teria uma solução: Ele deveria mudar tão imperceptivelmente a ponto de Gina nem ao menos perceber. E aquilo ele estava fazendo aos poucos; bastava perceber que os olhares dirigidos a Gina já não eram tão vazios assim e demonstravam um pouco de interesse. Ou os pequenos gestos gentis que ele direcionava a ela, como sempre abrir a porta da sala do jantar para que ela passasse, ou como ele esperava que ela se sentasse primeiro para depois ele se acomodar em seu lugar à mesa.

Mas tudo aquilo não colaborou em nada para que Gina pudesse mudar de idéia. Ele mesmo sabia que devia ficar de olho na Weasley, principalmente quando ela estava sozinha ou muito calada. Geralmente quando isso acontecia ele sabia perfeitamente o que significava; enquanto ele trabalhava em seu plano para mantê-la ali para se casar com ele, ela mesma trabalhava em seu próprio plano de fuga.

Ele sabia que todas as noites ela ficava debruçada no peitoral da janela, olhando os jardins e as possíveis saídas estratégicas para seu meticuloso plano.

Mas foi naquele final de Outubro que ele se deu conta que deveria se arriscar mais um pouco se queria que seu plano desse certo. Foi quando ele começou realmente a agir.

Ele sempre gostou de mulheres com roupas curtas o suficiente para ver o corpo escultural que elas possuíam. Talvez aquilo fosse o principal motivo para que ele se aproximasse do sexo oposto. Talvez fosse por aquilo que ele sentia-se perdido.

Tudo era bem mais fácil se tivesse um belo decote que mostrasse a curva dos seios e uma mini saia que pudesse mostrar as pernas bem torneadas. No entanto, tudo parecia ser bem mais complicado com as roupas simples de Gina Weasley. Ela vestia um vestido branco leve e rendado, que esvoaçava suas saias com os ventos que passavam pelos jardins.

Ele se perguntava se ela não sentia frio com aquele vestido.

-Eu queria mesmo conversar alguns minutos com você. – ela quebrou o silêncio afoitamente enquanto colocavam os pés no gramado do jardim. –É sobre nosso... huh, casamento.

-O que? Você desistiu da idéia de fugir?

-Não. É justamente disso que quero falar.

Draco deu de ombros enquanto chutava uma pedra do chão.

-Você ainda pensa em fugir?

-Penso. Para falar a verdade, tenho gastado um tempo considerável para solucionar os problemas que terei se eu simplesmente fugir.

-E qual conclusão você chegou?

-Que não vai adiantar se não tiver a sua ajuda. – Draco a olhou sem entender durante uma fração de segundos. E então ele riu. –É sério, você não pode estar querendo se casar comigo!

-E porque não, Weasley? Francamente, você não tem autoconfiança?

-Não é essa a questão. – ela disse esforçando-se em manter a pouca calma que tinha. –Esse casamento é uma péssima idéia para ambos, você sabe disso.

-Acho que não, Weasley. Você já parou para avaliar o que eu ganharia se me casasse com você?

-Na verdade não. – ela deu de ombros. Estava sentada no nada confortável banco de pedra-sabão do jardim. O tempo dava sinais de que mudaria drasticamente. –Me fale sobre você. – ela disse abruptadamente.

-Desculpe?

-Me fale sobre você. Sobre o que você gosta e... bem, o que não gosta. Coisas assim.

Draco a olhou desconfiado.

-Aonde você quer chegar com isso?

-Em lugar nenhum. Apenas quero saber com quem vou me casar se todos os meus planos não derem certo.

Foi a vez de ele dar de ombros.

-Bem, eu não sei o que pode te interessar.

-Como era sua vida em Hogwarts? Quero dizer, gastava metade do seu tempo xingando meu irmão e Harry? Ou você seduzia garotinhas para passar o tempo.

-Você quer que eu seja sincero? – ele perguntou contendo uma vontade louca de rir. Aquela era uma ótima oportunidade para começar seu plano...

-Sincero, sempre. Pode começar, estou ouvindo.

-Eu ficava olhando você andar rápido pelos corredores. – ele parou deliciando a sensação de vê-la arregalar seus olhos azuis. –Você sabe, quando você anda rápido, seus quadris balançam mais do que o normal. Não, não me olhe assim. Isso não é um insulto, pelo contrário.

-E você quer que eu acredite nisso? Hogwarts tinha muitas garotas lindas para você observar, Malfoy. Porque você olharia justamente para mim?

-Na época você era do Potter. Eu me lembro de ter visto vocês se agarrarem. Desde aquele momento eu olhei para você diferente. De um jeito que nem eu gostaria de olhar, afinal, você era só uma Weasley.

Gina revirou os olhos.

-Quer dizer que você olhava quando eu passava. Mais alguma surpresa, Malfoy?

-Houve uma época em que eu seguia você. Por onde quer que você fosse, eu estava atrás.

-Nunca reparei que alguém me seguia.

-Eu não deixava que você notasse.

-Mesmo assim, um pouco improvável, não acha?

-Acredite se quiser, só estou sendo sincero. Você já ouviu falar que as pessoas procuram alguma coisa que não podem ter?

Gina revirou os olhos.

-Não, Malfoy, eu não acredito em você.

Ele sorriu desmanchando qualquer previsão que Gina tinha feito sobre sua reação.

Mas o sorriso não foi como os outros com que ela estava acostumada. Ele sorria como se esperasse por aquilo. Ela não teve tempo para perceber o que aquilo poderia significar. Talvez porque no instante seguinte, ela sentia que o rosto dele se aproximava mais do que deveria.

O hálito dele saia pela boca fina e bem desenhada, entreaberta e convidativa. Gina ia fechar seus olhos – se perguntando intimamente onde estava seu autocontrole – quando sentiu algo diferente.

Era como se seu corpo fosse atingindo um calor insuportável. Uma temperatura quase febril. Ela constatou em alguns segundos daqueles minutos, que o corpo dele parecia aquecê-la de alguma forma; e teve a sensação de que seu sangue iria virar vapor se ele continuasse a se aproximar.

-Você quer que eu prove? – ele perguntou perigosamente perto, a boca dele quase tocando na sua.

Gina abriu os olhos.

(------O------)

Ele ficou esperando que ela falasse alguma coisa. Possivelmente um dos insultos que ela geralmente lhe direcionava. Mas ela abriu os olhos e o olhou durante uns poucos segundos; e durante esses segundos ele pode olhar seu rosto refletido naqueles olhos azuis. Era violeta, vários tons de azuis escuros misturados até que formava aquela cor quase lilás.

-Quero. – ela respondeu com a voz falhante, voltando a fechar seus olhos. Ele levou segundos consideráveis para entender o que aquilo significava.

Ela estava permitindo que ele a beijasse.

Talvez não seja o momento certo, ele pensou se afastando levemente. Se fosse agora, seria só mais um. Eu preciso ter exclusividade.

-Está ficando frio. – ele disse pegando seu próprio casaco e o colocando nos ombros dela. Gina abriu os olhos e o fitou.

-Você consegue ser um grande idiota às vezes, sabia?

-O que eu posso fazer se eu sou um cavalheiro? – ele perguntou ironicamente, afastando os cabelos do rosto.

-Toda essa história de me observar quando estávamos em Hogwarts. Agora você diz que quer provar que fala a verdade e me da o casaco porque "está ficando frio". O que você quer com tudo isso, hein, Malfoy?

Ele estava pasmo. Não era exatamente essa a reação que ele gostaria de provocar. Ela parecia muito mais irritada do que frustrada.

-Se você quer eu te agarre agora mesmo é só dizer, Weasley.

Mas ela deu as costas e foi pisando duro até o castelo, como se aquilo fosse à última coisa que queria para aquela tarde.

E realmente era.

(------O------)

Harry esperava sentado naquela cama extremamente confortável, enquanto batia os dedos cruzados na barriga.

-Você pode demorar mais um pouco, querida. Na verdade, eu não estou nem aí.

Ele viu a cabeça castanha aparecer na brecha da porta de cascalho.

-Vai à merda, idiota.

Mas ele riu, contrariando qualquer expectativa.

-Se continuar me chamando assim, nós não vamos convencer ninguém que somos felizes...

-Porque você nunca me leva a sério? – ela perguntou dramaticamente. –Eu nunca quis vir para cá, só para começar. Você disse que é importante e tudo o mais, mas eu nunca consegui entender porque toda essa necessidade de ficar nessa casa.

-Você não gostou dos móveis?

-Não é isso. – ela abanou as mãos colocando-as para o lado de fora por alguns segundos. –Está certo que a casa é grande demais. Só que a única coisa que mais me incomodou foi a garota.

-O que tem Gina dessa vez? – Harry perguntou revirando os olhos. –Na primeira vez que você a viu semanas atrás você disse que ela parecia ser fácil demais. Agora qual é a reclamação?

-Ela me abraçou. Como se nós fôssemos amigas.

-Ela sempre foi acolhedora. – ele observou.

-E também tem o modo com que ela o olha. Como se esperasse alguma coisa.

-Impressão sua.

Marie fechou a porta soltando um sonoro muxoxo. Depois Harry a ouviu dizer alto, sua voz sendo abafada pelo barulho do chuveiro.

-Vocês dois não me enganam. Se eu fosse ela, tomaria cuidado para o noivinho dela não perceber.

-Noivinho? Você quer dizer o Malfoy?

-Esse é o nome dele, certo?

-O casamento foi forçado. Gina até tem pensado em fugir.

-Eu não tiraria a razão dela. Porque casar com esse tal Malfoy se ela ainda tem você?

Harry sorriu estranhando o que ela tinha dito. Como ela não poderia perceber que tudo o que havia entre ele e Gina tinha acabado no dia em que ele fora embora? Certamente ele havia pensado na doce e 'pura' Gina durante algumas semanas em que chegara ao seu destino incerto; mas os pensamentos que tinha e que Gina pintava vez ou outra estavam distantes em poucos meses.

Então ele descobriu. Não era amor, e sim carinho. Ou talvez apenas atração física e química... Mas não amor propriamente dito.

-Por que sempre que você pensa em algo dificilmente volta atrás?

Marie saiu finalmente do banheiro com o cenho franzido.

-Eu apenas digo o que vejo, Harry. Você sabe por que estamos aqui. Achei que você levaria a sério o nosso trabalho.

-E eu levo. Por isso eu digo que não estou me envolvendo com Gina.

-Sei... – ela girou na frente dos olhos verdes curiosos. Sorrindo, um pouco cabulada, ela perguntou alegre. –Como estou?

Harry percorreu os olhos no vestido amarelo leve, um corte sutil dando-lhe uma pequena visão dos seios pequenos e delicados. Ele mordeu a própria língua.

-Bem, realmente bem. Claro, eu ainda acho que você deveria usar aquele seu vestido vermelho...

Marie fez uma careta.

-Aquele só para ocasiões espaciais.

-Certo, certo. – Harry balançou a cabeça dando-se por vencido. Logo estava de pé, com as mãos dadas com a esposa que já não sorria. Tinha o rosto sério e compenetrado. –Eu só gostaria de saber qual personalidade você vai deixar escapar hoje. – ele sussurrou apertando a delicada mão de Marie.

Mas ela não respondeu. Apenas revirou os olhos e caminhou para fora do quarto.

(------O------)

Gina se olhou mais uma vez no seu espelho que ocupava toda uma parede do seu quarto. Ela costumava achar que era um exagero, mas com o passar dos anos decidiu que um espelho daqueles poderia ser bastante eficiente para certas finalidades.

Ela olhou para o simples vestido branco com pequenos e delicados bordados dourados que vestia. Parecia bem agradável, apesar de ser um vestido leve demais para o tempo que caia. Os tão comuns ventos gelados faziam os ossos tremerem e nenhuma pessoa normal poderia vestir-se assim para um passeio pelos jardins floridos magicamente.

Mas as paredes esquentavam o suficiente para o sangue se manter no estado líquido e isso parecia ser o suficiente.

-Ele poderia estar sendo verdadeiro, Gin. Pense nas possibilidades. Com certeza você é bastante bonita e é a garota mais disputada que se tem notícia. Seria realmente bom para ele tê-la como esposa.

-Não, Mione. Eu não consigo acreditar que aquele idiota alguma vez sentiu atração por mim. Você sabe bem o jeito que ele me tratava. Sempre que podia, me empurrava para que eu caísse no meio do corredor, sempre ria das minhas sardas e me esnobava porque eu era apaixonada por Harry.

-Realmente ele era um idiota. Mas tem certeza que ele sempre foi assim? Que eu me lembre houve uma época que ele era considerado o mais procurado garoto de Hogwarts. Você não é cega e muito menos eu. Ele parece ter sangue de veela... Durante esse tempo – Hermione disse sentada na beirada da cama, os olhos arregalados e ansiosos. - ele nunca me chamou de sangue-ruim ou implicou com você. Pelo menos não na minha frente. Talvez ele ainda ficasse rindo ou esnobando Harry, mas você...

-Esse é o problema, Mione. – Gina deu as costas para o espelho e fitou Hermione atentamente. –Desde o meu sexto ano ele nunca mais olhou para mim. Se ele diz que foi obcecado por mim durante esse tempo, como eu nunca percebi? Quero dizer, Dino foi obcecado por mim e ninguém precisou me dizer isso, já que ele roubava minhas calcinhas...

-Talvez ele tenha sido cuidadoso. – Hermione retorquiu. –Não estou do lado dele, Gin. Apenas achei que poderia fazer sentido.

-Que seja. Para mim é apenas um plano idiota para me fazer permanecer aqui. Muito bem, dois podem jogar esse mesmo jogo.

Hermione deu um sorrisinho maroto.

-O que vai fazer? Vai fingir que acredita nele?

-Exatamente. Só para despistar. Você sabe, enquanto ele acha que estou envolvida nessa porcaria de jogo, eu estou continuando o meu próprio jogo.

Hermione ia retrucar, mas Gina voltou-se para o espelho e pôs-se a analisar suas vestes leves. Ela sabia perfeitamente bem que Gina poderia ser bastante má com os homens e sabia disso ao ver as caras desoladas dos ex-namorados da amiga.

Talvez fosse mesmo importante para Gina quebrar a cara algumas vezes.

Somente talvez.

(------O------)

-Daqui a três dias o Festival dá inicio a uma série de acontecimentos sociais. – Artur dizia pausadamente, vez ou outra bebericando em seu próprio cálice. –Estou certo de que todos aqui já tenham ido ao Festival. – seus olhos azuis pousaram em Marie que o olhava admirada.

-Desculpe senhor, mas eu nunca fui a qualquer coisa do tipo.

Molly sorriu meigamente da outra extremidade da mesa.

-O Beco Diagonal sempre recebe muitos turistas. As ruas ficam enfeitadas com luzes coloridas. As pessoas usam fantasias dos contos bruxos como a Bruxa Adormecida e os Três Dragões Adormecidos... É como uma tradição. Este ano minha pequena Gin vai vestida como a heroína da História dos Três Dragões. Você ficaria encantadora como a Bruxa Adormecida, não como a principal, já que deve ser a fantasia mais procurada, mas como uma das fadas madrinhas, em especial a fada do fogo.

-Mamãe sempre adorou histórias infantis. – cochichou Gina no ouvido de Marie. –Ela ficava mais empolgada do que eu quando me colocava para dormir.

Marie engoliu um pouco do seu suco de avelã.

-Minha mãe nunca quis fazer coisas desse tipo. Ela achava que seria melhor eu permanecer com os pés no chão.

Gina não respondeu, mas deu um meio sorriso.

-Garanto que minha mãe pode ser tudo, menos pé no chão.

-Eu não sei metade desses contos, ficaria feliz se um dia a senhora pudesse me contar. – Marie disse elevando um pouco mais a sua voz.

-Ficaria encantada. – respondeu Molly prontamente. –Quando você quiser, querida.

-E então, Draco. Qual fantasia pretende usar no dia do Festival? – Artur perguntou meramente.

Draco olhou para o próprio prato quase intacto e sorriu sem graça.

-Ainda não sei. – ele respondeu por fim.

Durante toda a sua vida, sempre detestou festivais idiotas como aqueles. Sua mãe insistia em vesti-lo tão ridiculamente que sempre que podia, ele se escondia nos galpões abandonados. E lá ficava até ter certeza de que nenhum amigo seu estaria no festival.

Às vezes ele ficava tanto tempo que caia no sono e acordava no dia seguinte, enquanto seus pais lhe procuravam desesperados por todos os lugares e sempre que isso acontecia, ele apanhava tanto que poderia demorar dias para se recuperar.

-Com certeza Gina poderia lhe ajudar hoje depois do jantar na escolha da fantasia. – a voz grave de Artur soou. –Não temos muito tempo, o festival é daqui a três dias.

Com certeza uma ótima oportunidade, Draco pensou sorrindo interiormente. Seu olhar buscou Gina por um momento e ficou levemente surpreso ao ver à expressão amena no rosto dela. Talvez ela tenha acreditado..., pensou sentindo-se revigorado.

-Seria realmente bom. Não concorda, Gina?

Foi estranho, ele pensou. Chamá-la pelo primeiro nome parecia ser como uma mentira ou algo forçado. Mas não pareceu forçado aos seus ouvidos.

-Como quiser, Draco. – ela respondeu erguendo seu queixo de forma digna. Ele continuou a olhá-lo nos olhos durante um momento considerável. Até que ele decidiu quebrar o contado e se pôs a analisar a comida que não havia comido.

Talvez aquilo estivesse estranho demais para ser apenas um jogo...

(------O------)

No final daquele jantar, os dois permaneceram nos seus lugares enquanto um a um se levantavam e iam até seus quartos. Marie despediu-se amigavelmente de Gina e Harry tentou não se demorar com os habituais beijos de despedida. Quando os dois, Marie e Harry estavam devidamente trancados no quarto que dividiriam, ela o empurrou com toda a força que conseguiu.

-VOCÊ É UM IMBECIL! – ela gritou tentando inutilmente acertá-lo com os sapatos. –Eu vou ter que me vestir como uma idiota e você nem ao menos aliviou a barra. Ficou me olhando como se eu realmente fosse capaz de vestir uma fantasia idiota com toda a boa vontade e...

-Você quer acordar todas as pessoas? Ou simplesmente quer que descubram o seu 'temperamento' habitual? – Harry perguntou um pouco frio demais, segurando-a pelos ombros e a imobilizando. –Você sabe que eu odeio esse tipo de coisa. Porque você não colabora uma única vez!

Marie fechou os olhos.

-Droga, Harry. Porque você tem sempre que me lembrar? – ela perguntou dramaticamente. – Todos os dias têm sido a mesma coisa. 'O plano, Marie.' 'Cuidado com as pessoas, elas podem descobrir!' 'Você tem que ser amiga da Gina, ela é a chave do nosso plano!' Será que você nunca percebe que às vezes eu quero vestir uma calça jeans colada e um top indecente às vezes? Eu odeio toda essa coisa de vestidos leves e acessórios delicados!

-Você pode usá-los no quarto. – ele retrucou felinamente. –Mas fora daqui nem pensar. E Gina é realmente importante. O que tem demais em facilitar as coisas?

-Tudo bem, eu prometo que vou facilitar um pouco mais. – Marie disse se soltando das mãos hábeis de Harry. –Mas só se você parar um pouco de dizer o que devo ou não fazer.

Ele deu de ombros, indiferente.

-Eu prometo. – Marie sorriu aliviada. Caminhou até o baú e nele pegou vestes para dormir. –Mas isso não significa que as coisas entre nós vão melhorar! – ela esclareceu balançando sugestivamente o sutiã. – Aliás, nós temos que conversar sobre o plano.

Harry balançou a cabeça afirmando.

-É, temos mesmo.

(------O------)

Draco decidiu que pararia de contar quantas vezes ela já revirava seus olhos azuis ou suspirava impaciente naquela noite. Ele meramente ignorava qualquer sinal de descontentamento; sentado no sofá da sala de visitas, frente a sua 'noiva'.

-É claro, Weasley, eu realmente quero ficar toda à noite olhando para você. – ele disse quebrando aquele silêncio constrangedor que estava sobre eles. –Eu poderia desejar que isso durasse para sempre.

Ela franziu o cenho.

-Você está sendo irônico?

-Não, paciente.

Gina mais uma vez revirou os olhos.

-Bem, o que você quer saber, afinal?

Draco ergueu suas sobrancelhas impacientemente.

-Tudo, talvez? – arriscou irônico. –Eu não costumava adorar esse tipo de situação.

-Sei. Não devia mesmo. – alfinetou ela. –O que, você tem lembranças ruins da sua infância, Malfoy?

Draco pensou no que responder. Para falar a verdade, ele tinha muitas saídas, mas sinceramente, aquela porcaria do plano colocava muitas coisas em risco. Ele achou que seria no mínimo interessante compartilhar... certas coisas com a Weasley.

-Minha mãe sempre me forçou a me vestir com as fantasias idiotas. E eu sempre fugia.

-Certo, muitas crianças passaram por isso. – ela comentou friamente lançando um olhar longo em direção ao fogo aceso na lareira.

-Talvez seja mesmo. – ele concordou não se abalando. –Mas você não sabe nem metade da minha história.

Gina balançou seu pé irritadamente, sentada frente a Draco, com o olhar mais desinteressado do mundo.

-Comece a falar, Malfoy.

Draco pigarreou alto, se ajustando um pouco mais em sua poltrona confortável.

-Minha mãe sempre teve obsessão por... androginismo. Ela me olhava e dizia que eu me parecia tanto com ela quanto com meu pai. Você tem que concordar que isso não é uma das melhores coisas para se dizer a um... menino.

Gina abafou uma risada.

-Ela achava que você era um menino parecido com uma menina, Malfoy?

Mas Draco preferiu ignorá-la.

-Ela sempre me vestia com fantasias indefinidas e algumas pessoas me confundiam com uma garota.

-Deus, Malfoy! Você não se parece com um... uma menina! Ou pelo menos não se parece agora. – Gina acrescentou sabiamente. –Hoje você é bastante... definido.

Draco não deixou de sorrir quanto aquela quase confissão. Gina tossiu forçadamente.

-Bem, você disse algo como fugir...

-Eu fugi certa vez, em meados dos meus nove anos. – Draco continuou desviando seus olhos dos dela. Ele se preocupou em olhar para a janela onde a noite caia imponente. Estrelas marcavam o céu, mas a claridade, mesmo com os pontos luminosos, era tão precária quando um armário fechado, sem janelas e luz. –Me escondi em um balcão abandonado e sem querer, cai no sono. Acordei no dia seguinte e quando meus pais me acharam, eu apanhei.

Ela ergueu as sobrancelhas assustada, depois tentou reprimir o sentimento.

-Ora, Malfoy. Crianças sempre apanham dos seus pais. Eu mesmo já apanhei da minha mãe por certas vezes ter mexido nas maquiagens dela.

-Certo, mas ferro em brasa não é muito comum, não é, Weasley?

As palavras provocaram o que ele esperava; rapidamente os olhos azuis-violetas se arregalaram e ela ficou boquiaberta.

-Ferro em brasa?

Ele deu de ombros.

-Ainda tenho a marca, quer ver? – ele perguntou displicente fazendo um movimento em direção a suas costas. E para sua surpresa, Gina se levantou num pulo de seu lugar e foi até ele, com os olhos mais curiosos que ele já vira no rosto da garota. Ela se ajoelhou no chão, bem próxima a ele.

-Quero – murmurou ela olhando para ele de relance, mesmo que estivesse mais interessada para ver a cicatriz.

Draco sorriu.

-Eu não vou tirar minha camisa no meio da sala de estar. – ele murmurou afastando-se dela.

-Bem, então você pode me mostrar em outro lugar. – ela falou rápido com um tom inocente nas palavras.

-Onde? – ele perguntou com os olhos brilhando em malícia.

-Eu não sei. – ela sibilou.

Draco teve uma idéia. Certamente a melhor idéia do dia.

-Vem comigo. – ele falou levantando-se da poltrona e estendendo a mão em direção a Gina. Ela não protestou, apenas pegou um pouco hesitante a mão estendida por ele.

Draco a guiou para as escadas onde levariam até o andar que ficavam os quartos. Sua mente vagamente a lembrava do que aquilo poderia vir a significar, mas ela estava ignorando qualquer voz interior que berrava. Ela apenas o seguia, as mãos dadas, entrelaçadas.

Gina percebeu o quão finas e bem desenhadas as mãos de Draco Malfoy eram. E como se não fosse o bastante, o simples ato de tocá-lo a fazia estremecer. Ela imaginava que o corpo dele fosse tão frio quanto suas ações, mas em tocá-lo como estava fazendo, ela percebeu que suas mãos eram tão quentes quanto suas próprias mãos.

-Onde você... – ela sussurrou incomodada. Definitivamente ela não queria estar indo para qualquer lugar que fosse com ele, muito menos para um lugar que ela não sabia exatamente onde ficava.

-Sem perguntas, Weasley. – Touché. Ele estava tão incomodado quanto ela; ela sabia pelo tom impaciente dele. –Só me siga.

Talvez fosse aquilo que a fez pestanejar e quebrar aquela sensação estranha.

-Escuta, Malfoy, eu não estou nem um pouco interessada...

-Pronto. – ele falou parando subitamente. Só então Gina se deu conta. Eles estavam perante a uma porta que ostentava um ar antigo. Estavam justamente em frente ao escritório; o que significava várias chances de serem pegos em uma situação... inusitada.

-Aqui é onde meu pai fica todas as vezes que ele não está na sala ou no quarto ou no escritório no Ministério... – Gina falou sentindo-se estúpida. –Nós não podemos fazer qualquer coisa aqui.

Draco molhou os lábios com a própria língua.

-E o que você está pensando que nós vamos fazer aqui? Eu só vou mostrar minha cicatriz.

Ela ainda o olhou desconfiada.

-Se você tentar alguma coisa, Malfoy... Eu grito!

Ele deu de ombros claramente demonstrando que não se importava com a ameaça. Ela suspirou vencida e o seguiu quando Draco adentrou o escritório e ela mesma se lembrou de fechar a porta.

Então ela pensou se aquilo poderia ser... seguro.

O escritório estava escuro, a única janela permanecia fechada e a lareira estava completamente apagada. As paredes eram cobertas por estantes que iam do topo até embaixo, cheia de livros empoeirados. Parecia a Floreios e Borrões, a não ser é claro o fato de que na Floreios, o número de livros era muito maior.

Ela escolheu seu lugar junto ao sofá acolchoado no canto mais escuro. Sentou-se confortavelmente e o olhou esperando que ele fizesse alguma coisa. E ele realmente fez alguma coisa.

Draco permaneceu de pé, seguido pelo olhar azulado da moça. Ele suspirou pausadamente antes de ir desabotoando aos poucos os botões da sua camisa. Gina parecia ter seus olhos grudados naqueles dedos ágeis que iam trabalhando lentamente.

-Você disse que seus pais lhe... huh, machucaram com ferro em brasa. – ela comentou casualmente enquanto seguia os movimentos dele.

-Meu pai, para falar a verdade. – Draco tinha a metade da camisa aberta, revelando a pele branca e – para surpresa de Gina – bem definida. Não havia qualquer coisa de errado naquele peitoral. Nem uma marca duvidosa, nem o excesso de pêlos. Era exatamente da maneira que ela gostava. Definido e limpo. –Ele sempre gostou de usar esses meios para a educação do seu filho.

E então, sem mais palavras ditas, o tecido fino e delicado deslizou até chegar ao chão. Onde foi completamente ignorado.

Gina molhou seus lábios com a língua, enquanto seus olhos serpenteavam pela imagem exposta.

-E então, onde está a cicatriz? – ela perguntou roucamente, tentando trazer, com um pigarreio, sua voz normal de volta.

Draco sorriu e virou de costas e ela pôde ver cerca de dez centímetros de cicatriz desenhada nas costas do rapaz. Não havia forma concreta como a de Harry, mas mesmo assim era como se tivesse algum significado.

Era apenas um rasgo vertical cortando maldosamente aquela pele perfeita; e Gina (para seu horror) teve vontade de passar seus dedos sobre a queimadura.

-Posso...? - Draco não respondeu e Gina entendeu aquilo como um sim.

Gina se levantou lentamente e ergueu a mão em direção a ele. Seus dedos se aproximavam mais e mais, até que num instante estavam percorrendo toda a extensão da cicatriz. Ela sentiu quando Draco estremeceu.

-Deve ter doído. – ela murmurou se afastando.

-Fiquei um mês de cama, sem conseguir me mexer. Mas minha mãe se preocupou em fazer poções para que a cicatrização fosse mais rápida. Menos de três meses eu já estava brincando como qualquer criança normal.

Ele deve ter sofrido na mão do pai, pensou torcendo as mãos nervosamente.

-Escuta, Malfoy... – ela hesitou. –Seu pai... maltratava muito você?

(------O------)

-Escuta, Malfoy...Seu pai...maltratava muito você? – ela perguntou como se escolhesse bem as palavras e Draco se pegou pensando no que responderia.

Afinal, aquela era uma péssima pergunta. Ele não poderia dizer a verdade, já que esta não convinha para aquela situação. Na verdade, só atrapalharia seus planos... Draco pigarreou e se abaixou para pegar sua camisa.

-Normalmente eu conseguia correr mais rápido que ele. A raiva dele sempre foi... inflável. Bastava eu fazer alguma coisa e. ele se irritava. Mas quando eu corria, quando eu deixava algum tempo passar, a raiva parecia se transformar em indiferença.

Ela franziu as sobrancelhas.

-E porque você está me contando isso?

-Porque você me perguntou? – ele arriscou revirando os olhos. Já estava com a camisa devidamente alinhada quando ele disse. –Acho melhor nós irmos dormir agora.

Ela piscou.

-Eu não acho. Na verdade, nós ainda nem falamos sobre sua fantasia. – Gina sabia que aquilo não importava. Para falar a verdade, ela estava interessada na vida e nos aparentes problemas de Draco Malfoy. Apesar de detestá-lo, era reconfortante saber que pelo menos ele era humano.

-Podemos conversar sobre isso outra hora. – ele retrucou firmemente. –Boa noite. – ele disse desaparecendo em seguida e deixando-a só, naquele meio de livros amontoados.

Gina viu a porta se trancando atrás de Draco e suspirou profundamente. Aquele seria o 'jogo' ou o 'plano estratégico' dele? Se fosse, ela teria que pensar muito antes de agir no seu próprio plano.

N/A: Primeiro, desculpem a demora, mas nesses últimos meses tudo tem sido bem sufocante para mim.

Achei esse capítulo bem parado, mas pelo menos ele mostra que há um certo toque de mistério que envolve Harry Potter. Pelo menos ele não será um personagem à toa.

Quanto aos dois irritantes noivos, prometo que no capítulo que vem terá um beijo entre eles, só não sei qual será a profundidade deste.

O que vocês acharam da Marie? Ela pode parecer muitas coisas, mas isso é proposital. Ela tem várias personalidades e eu realmente me divirto quando a escrevo.

Bem, é isso. Espero reviews para continuar!

E quanto as respostas dos reviews que você mandaram, eu li todos. Sério. Todos mesmo! Mas eu não posso responde-los agora. Mas prometo que, se você mandarem bastantes reviews, eu vou responder a todos eles no próximo capítulo!

Beijos!