Até ele voltar
By Lothus
Sentia-se agoniado nos últimos dias. Como se pudesse ouvir sua intuição dizer que algo ruim iria acontecer e que novamente ele e seus irmãos iriam lavar suas mãos em sangue e se sacrificar.
Andando malancolicamente pelas ruas frias de Tokyo, Shun tentava esquecer os pensamentos que tanto o incomodavam... Lutar... Sempre fora contra a luta, não era a melhor maneira de se resolver os problemas. Acreditava que humanos e deuses eram sim, capazes de viver em harmonia. Cada um em seu espaço, respeitando uns aos outros.
Por que eles tinham de lutar sempre? Isso o irritava e o magoava profundamente. Ele não acreditava que as pessoas poderiam ser tão más. Que os deuses, que tinham em si o dom da sabedoria, poderiam se entregar à batalhas sem propósito, apenas pelo poder, uma coisa que para ele era tão efêmera e fútil.
- Shun? – A doce voz de June fez o jovem sentir o coração acelerar, as pernas perderem levemente o equilíbrio.
- Olá, June...
- Você parece triste, Shun. Agoniado...
Era estranho como June sempre sabia fazer a pergunta certa. Sabia ouví-lo e aconselhá-lo. Mas naquela situação... Talvez não... Era uma intuição forte demais, estranha demais... Mas June era uma pessoa em que ele confiava. E ele não poderia ir sem contá-la o que sentia.
- Sinto que algo ruim vai acontecer... Teremos de lutar novamente... Talvez como nunca... E não há nada que possamos fazer senão por nossas vidas em risco... novamente... June, tenho medo. Muito medo. E tenho raiva... Odeio lutas... Pra quê se sacrificar com batalhas que não irão dar em nada? Será que as pessoas não cansam de machucar as outras, de trair umas as outras? Como é possível que as pessoas se esqueceram de que somos todos iguais?
Silêncio insuportável, mórbido. A loura o encarava, os olhos azuis pensativos, procurando as palavras certas. Mas não era necessário ensaiar o que dizer. Ela pensava o mesmo.
- Não tenha medo, Shun. Confie em você, e nos seus irmãos. Vocês são capazes de vencer quem quer que seja, eu sinto isso. Nem todos têm os pensamentos que você tem, Shun. Eles se esquecem de que somos iguais. Se existissem mais pessoas como você, o mundo seria um lugar bem melhor. Mas infelizmente todos têm pensamentos diferentes. Seja lá o que vocês tiverem de enfrentar, eu sei que vocês conseguirão. Pelo mundo que vocês tanto amam. Pelas pessoas que vocês amam. Sabe, o mundo pode não ser um lugar justo, mas mesmo assim, vale a pena lutar por ele. Eu lutaria com todas as minhas forças.
Num movimento rápido, os braços fortes do garoto envolveram June num abraço acolhedor e ao mesmo tempo carente. Parecia estar se despedindo.
- June... Promete me esperar... Prometa que não irá se machucar e esperará meu regresso... Eu voltarei, nós voltaremos, eu juro.
- Shun...
- Eu te amo. Não se esqueça disso.
Um beijo. Um beijo carregado de amor e esperança. E, sem dizer mais nada, Shun se foi.
Ela ficou ali, parada, as mãos nos lábios. Entendeu o que ele quis dizer, e o que iria acontecer.
E esperaria por ele. Até o fim. Até ele voltar.
Andróide M, é seu, querido. Espero que goste, e que seu Natal seja repleto de alegria e amor, você merece!