Capítulo III - Professeur
Depois do café, Mikael conheceu um pouco mais do castelo, sempre guiado por Dominique. Passadas algumas horas, ele almoçou, sentindo um pouco menos a tensão quase invisível daquele silêncio e então ela o deixou em seu quarto e saiu, alegando ir preparar o cômodo onde encontraria seu professor. Mal a aia fechou a porta, o garoto de cabelos loiros a abriu. Draco, sim, este era o nome dele. Mikael se virou, rapidamente ajeitando os cabelos nas costas, sentado a cama.
- Sim? – a voz delicada do menino era baixa, não ousava usar o tom que se acostumara em casa.
- Mikael, huh? – Draco passou os olhos pelo quarto do rapaz, como que analisando – Meu pai cuida bem dos brinquedos dele, está satisfeito com suas acomodações? – sorriu de um jeito afetado, enquanto sentava-se em uma poltrona de espaldar alto.
- Sim, estou, um pouco menos do que meu quarto de onde me compraram, mas ainda assim bonito. – retribuiu o sorriso cinicamente, passando uma mecha dos cabelos negros para trás da orelha.
- Hn. Exatamente como meu pai disse, insolente como o diabo...
- Só em determinados termos... – sustentava o sorriso na face, provocando o rapaz três anos mais velho.
- Diga-me, sua família está tão decadente que precisou vender o filho para sanar alguma dívida? – os olhos acinzentados de Draco cintilavam com o desafio sutil da conversa. Algo em sua mente chamou-lhe atenção para as íris do garoto com quem discutia. Azuis.
- Se está tentando me fazer defender minha família, está bancando o idiota. – concluiu um risinho agudo.
Draco se levantou preguiçosamente da poltrona, caminhando com as mãos para trás até a luxuosa cama.
- Acho que ainda não lhe disciplinaram, não é, poupée? – a menção da palavra francesa causou arrepios no moreno. – Acho que uma liçãozinha antes de seu instrutor chegar cai bem, não? – e de repente pegou a gola das vestes de Mikael, subindo seu corpo e o fazendo ajoelhar no colchão. Parou. Além de azuis. Cinza, prata mesclada naquelas íris, o perturbando mais que o sarcasmo que conseguira ler. E então toda sua linha de raciocínio fora por água a baixo, alguém batera na porta. A aia entrara depois do aviso de que poderia de Mikael, encontrando os dois meninos sentados confortavelmente, um em sua cama, outro na poltrona. Vinha avisar que o professor havia chegado e que ele detestava atrasos. O moreno fez que sim com a cabeça e atravessou o quarto, seguindo a aia, sem antes deixar de olhar de soslaio para um Draco bufando em sua poltrona favorita.
Chegou à sala em alguns minutos, arfando. Não era acostumado a tanta distancia entre um cômodo e outro e também não gostava de correr. A sala parecia uma biblioteca, abarrotada de livros, mapas, globos e muitas outras coisas e objetos que Mikael nunca havia visto na vida. Mas o que mais impressionou foi o homem a sua frente. Alto, a pele morena dourada de sol, coberta por uma túnica grega escarlate longa, cintada por algo que parecia uma armadura, em ouro. Longas mechas brancas ondulavam, não grisalhas, mas alvas, brilhantes e sedosas, como se pudesse as tocar com o pensamento, caindo-lhe até um pouco abaixo da cintura. O rosto fino e ainda assim elegante, parecia ter entre vinte e cinco e trinta anos. Estava adornado com braceletes, colares, anéis e brincos de puro ouro, com rubis enfeitando cada peça. Finas sandálias de couro trançadas calçavam os pés quase que totalmente escondidos pela túnica. Sem ar, Mikael se postou em frente aquele homem, fitando a coisa que mais o prendera: olhos de um cinza tão escuro e nublado que suas íris pareciam sempre em tempestade, não importando o quão terno ele tentasse ser. Um calafrio correu sua espinha quando ouviu a voz aveludada e grave do professor.
- Atrasado três minutos, Sr. Highwind. Pensei que os ingleses eram pontuais.
- Desculpe-me, professor, ainda estou conhecendo o castelo. – só conseguiu articular isso? Onde estava toda a petulância que sempre carregava na vozinha? – E creio que o senhor está errado em sua afirmação. Venho de uma família francesa, apesar de meu sobrenome soar inglês.
- Mesmo? Fascinante. – a voz tinha um tom de tédio, que acompanhava cada palavra. – Meu nome é Ganymede, serei seu instrutor por dois anos, até que esteja preparado para entrar em Hogwarts. Então, se fizer o favor de sentar-se, vamos começar a primeira aula.
Mikael assistiu à aula avidamente, absorvendo todo o conhecimento, ainda abobado com o professor. Não só sobre magia, mas também história, geografia, algo elementar de matemática, latim e grego. Claro que, com o passar do ano, ele incluiria mais matéria, explicava Ganymede, e isto queria dizer mais línguas, religiões, etiqueta e bastante coisas que o rapazinho nem ouvira falar em sua vida.
As semanas passaram rápidas com a adição das aulas. Mikael já conseguia ignorar o silêncio das horas que se encontrava com os Malfoy, passando o maior tempo com Ganymede. Além de aulas teóricas enfurnadas na imensa biblioteca da mansa, passavam horas nos pomares, jardins e lagos, tudo com um objetivo: instruir. Passado um mês, quando acabou o programa de algumas matérias, Mikael começou a ter aulas de violino. Sua rotina era extremamente apertada, mas ele estava feliz com isso. Só uma coisa o incomodava: Violaine. Não conseguia tirar a irmã do pensamento, sempre passando a mão pelo brinco que recebera naquela caixa, no dia que viera para a mansão.
Longe alguns quilômetros dali, na mansão Highwind, passado um mês desde a saída de Mikael, uma menina de cabelos muito ruivos preparava alegremente um caldeirão com sangue.
Depois do café, Mikael conheceu um pouco mais do castelo, sempre guiado por Dominique. Passadas algumas horas, ele almoçou, sentindo um pouco menos a tensão quase invisível daquele silêncio e então ela o deixou em seu quarto e saiu, alegando ir preparar o cômodo onde encontraria seu professor. Mal a aia fechou a porta, o garoto de cabelos loiros a abriu. Draco, sim, este era o nome dele. Mikael se virou, rapidamente ajeitando os cabelos nas costas, sentado a cama.
- Sim? – a voz delicada do menino era baixa, não ousava usar o tom que se acostumara em casa.
- Mikael, huh? – Draco passou os olhos pelo quarto do rapaz, como que analisando – Meu pai cuida bem dos brinquedos dele, está satisfeito com suas acomodações? – sorriu de um jeito afetado, enquanto sentava-se em uma poltrona de espaldar alto.
- Sim, estou, um pouco menos do que meu quarto de onde me compraram, mas ainda assim bonito. – retribuiu o sorriso cinicamente, passando uma mecha dos cabelos negros para trás da orelha.
- Hn. Exatamente como meu pai disse, insolente como o diabo...
- Só em determinados termos... – sustentava o sorriso na face, provocando o rapaz três anos mais velho.
- Diga-me, sua família está tão decadente que precisou vender o filho para sanar alguma dívida? – os olhos acinzentados de Draco cintilavam com o desafio sutil da conversa. Algo em sua mente chamou-lhe atenção para as íris do garoto com quem discutia. Azuis.
- Se está tentando me fazer defender minha família, está bancando o idiota. – concluiu um risinho agudo.
Draco se levantou preguiçosamente da poltrona, caminhando com as mãos para trás até a luxuosa cama.
- Acho que ainda não lhe disciplinaram, não é, poupée? – a menção da palavra francesa causou arrepios no moreno. – Acho que uma liçãozinha antes de seu instrutor chegar cai bem, não? – e de repente pegou a gola das vestes de Mikael, subindo seu corpo e o fazendo ajoelhar no colchão. Parou. Além de azuis. Cinza, prata mesclada naquelas íris, o perturbando mais que o sarcasmo que conseguira ler. E então toda sua linha de raciocínio fora por água a baixo, alguém batera na porta. A aia entrara depois do aviso de que poderia de Mikael, encontrando os dois meninos sentados confortavelmente, um em sua cama, outro na poltrona. Vinha avisar que o professor havia chegado e que ele detestava atrasos. O moreno fez que sim com a cabeça e atravessou o quarto, seguindo a aia, sem antes deixar de olhar de soslaio para um Draco bufando em sua poltrona favorita.
Chegou à sala em alguns minutos, arfando. Não era acostumado a tanta distancia entre um cômodo e outro e também não gostava de correr. A sala parecia uma biblioteca, abarrotada de livros, mapas, globos e muitas outras coisas e objetos que Mikael nunca havia visto na vida. Mas o que mais impressionou foi o homem a sua frente. Alto, a pele morena dourada de sol, coberta por uma túnica grega escarlate longa, cintada por algo que parecia uma armadura, em ouro. Longas mechas brancas ondulavam, não grisalhas, mas alvas, brilhantes e sedosas, como se pudesse as tocar com o pensamento, caindo-lhe até um pouco abaixo da cintura. O rosto fino e ainda assim elegante, parecia ter entre vinte e cinco e trinta anos. Estava adornado com braceletes, colares, anéis e brincos de puro ouro, com rubis enfeitando cada peça. Finas sandálias de couro trançadas calçavam os pés quase que totalmente escondidos pela túnica. Sem ar, Mikael se postou em frente aquele homem, fitando a coisa que mais o prendera: olhos de um cinza tão escuro e nublado que suas íris pareciam sempre em tempestade, não importando o quão terno ele tentasse ser. Um calafrio correu sua espinha quando ouviu a voz aveludada e grave do professor.
- Atrasado três minutos, Sr. Highwind. Pensei que os ingleses eram pontuais.
- Desculpe-me, professor, ainda estou conhecendo o castelo. – só conseguiu articular isso? Onde estava toda a petulância que sempre carregava na vozinha? – E creio que o senhor está errado em sua afirmação. Venho de uma família francesa, apesar de meu sobrenome soar inglês.
- Mesmo? Fascinante. – a voz tinha um tom de tédio, que acompanhava cada palavra. – Meu nome é Ganymede, serei seu instrutor por dois anos, até que esteja preparado para entrar em Hogwarts. Então, se fizer o favor de sentar-se, vamos começar a primeira aula.
Mikael assistiu à aula avidamente, absorvendo todo o conhecimento, ainda abobado com o professor. Não só sobre magia, mas também história, geografia, algo elementar de matemática, latim e grego. Claro que, com o passar do ano, ele incluiria mais matéria, explicava Ganymede, e isto queria dizer mais línguas, religiões, etiqueta e bastante coisas que o rapazinho nem ouvira falar em sua vida.
As semanas passaram rápidas com a adição das aulas. Mikael já conseguia ignorar o silêncio das horas que se encontrava com os Malfoy, passando o maior tempo com Ganymede. Além de aulas teóricas enfurnadas na imensa biblioteca da mansa, passavam horas nos pomares, jardins e lagos, tudo com um objetivo: instruir. Passado um mês, quando acabou o programa de algumas matérias, Mikael começou a ter aulas de violino. Sua rotina era extremamente apertada, mas ele estava feliz com isso. Só uma coisa o incomodava: Violaine. Não conseguia tirar a irmã do pensamento, sempre passando a mão pelo brinco que recebera naquela caixa, no dia que viera para a mansão.
Longe alguns quilômetros dali, na mansão Highwind, passado um mês desde a saída de Mikael, uma menina de cabelos muito ruivos preparava alegremente um caldeirão com sangue.
