Capítulo II - A estranha proteção do Ministério.

Já amanhecia, e eles ainda não haviam chegado na Toca, algo estava estranho. Confiava plenamente nos seus amigos, mas por que demoravam tanto para chegarem à Toca?

- Fred... – chamou pelo gêmeo.

- Estamos chegando Harry. – disse George, o cortando.

- Então, por está demorando?

- Precaução, confie em nós. – disse Rony.

Apenas acenou afirmativamente com a cabeça, não conseguia mais pronunciar uma palavra sequer, sua boca estava muito seca precisava beber água, e o suor ainda continuava, fraco, porém ainda continuava.

- Harry, você está bem? – pergunta Rony, percebendo o quão suado estava o amigo.

- Sim... Estou.

- Não está não, cara, está com febre. – disse o ruivo, encostando a mão na testa de Harry.

- Não... É nada... – disse Harry, sentindo uma leve tontura.

- Calma Harry, já estamos chegando, não vá des...

Foram as últimas que ouvira da boca de Rony, logo estava tudo escuro novamente e o pior, tudo girava. Sentia o ar gélido apoderar-se de seu corpo sem proteção, a neblina era muito densa e não sabia onde estava. Tinha uma certa noção de onde poderia ser aquele lugar, mas não se lembrava de misterioso lugar.

Olhou para os lados, desesperado, procurando por alguém, algum lugar onde poderia se aquecer, mas não encontrava nada, nem alguém conhecido, nem algum lugar para se aquecer, estava sozinho, como imaginava, sozinho, sem seus amigos, sua família, sem ninguém. Um frio imenso se apoderava de seu coração que agora nem batia mais, não sentia nada, nem o paladar, nem o tato, nem seu sangue correndo por suas veias, estava morrendo? De novo? Só podia ser, então, esse era seu destino? Morrer sozinho e com frio, que final mais feliz Harry Potter teve.

Sentiu uma gota quente cair em sua bochecha, ué, que tipo de chuva seria aquela? Chuva quente? E isso existe? Mais gotas, agora se via totalmente ensopado pela chuva quente, o que parecia mais estranho ainda, mas pelo menos, seu corpo estava esquentando, se sentia quente o suficiente para sobreviver mais um pouco, mesmo ainda estando naquela escuridão, sentia-se mais vivo para poder ficar lá por resto da vida...

"- Vamos Harry, acorde!"

Ouviu uma voz feminina lhe chamar, uma voz muito conhecida, mas estava baixa, muito baixa, distante de seus ouvidos. Tentou pronunciar algumas palavras, mas não saia nada de sua boca, aprecia que tinha perdido a voz. "Harry, por favor, acorde", chamou lhe de novo, começou a correr desesperado, procurando pela dona da doce voz, mesmo que não conseguisse falar nada, podia ouvir, e ouvia a voz cada vez mais se aproximar e ficar mais alta. Os olhos bem abertos, e atentos para qualquer movimento – seria impossível enxergar naquela escuridão, mas tentaria...

"- Por favor, não morra!"

Dessa vez ouvira em auto e bom som, reconhecia essa voz, claro, era ninguém mais, ninguém menos que Moly Weasley a mãe de seu grande amigo, Rony.

- Sra. Weasley? – ousou chamar, mesmo naquela escuridão o eco era bem profundo, e com certeza ela ouviria.

- Sim, estou aqui, Harry. – ouviu sua voz mais próxima ainda, será que estavam tão próximos assim?

- Onde?

- Abra os olhos, por favor Harry.

Fez o que ela lhe pediu, e levou um baita susto, ao seu redor estavam: Rony, Hermione, Fred, George, Sr. Weasley e bem na sua frente, quase com o rosto colado ao seu, estava Sra. Weasley. O que tinha acontecido? Já estavam na Toca? Aquele ar, aquele cheiro de comida, sim, estava na Toca, mas, há quanto tempo? Olhou para o teto e para as paredes, parecia estar num dos tantos quartos da casa, mais precisamente no quarto de Rony.

- Que bom que acordou Harry. – diz Sra. Weasley toda fogosa, dando um enorme e apertado abraço no rapaz, quase o sufocando.

- Calma, mamãe, assim a senhora o mata sufocado. – adverti Rony, percebendo que o amigo já estava ficando vermelho.

- Ah, me desculpe. – disse a moça, corando de leve.

- Hei, cara, está tudo bem mesmo? – pergunta Fred.

- Não se sente fraco? – completa George.

- Está enjoado? – emenda Fred.

Harry não sabia se fazia sim ou não com a cabeça, percebendo a confusão do garoto, Sra. Weasley dispensa todos do quarto, exceto ela e seu marido. Harry logo percebe que eles queriam conversar a sós com ele.

- Está tudo bem mesmo, Harry? – pergunta Sra. Weasley, visivelmente preocupada com o rapaz.

- S-sim, Sra. Weasley, só com um pouco de fome. – diz Harry, feliz por estar no meio de amigos.

- Muito bem, vou preparar alguma coisa pra você, Arthur, poderia falar com ele? – pergunta a mulher para o marido, que até agora estava calado.

- Sim, querida. – diz o homem, Harry percebeu pela voz, que este estava muito cansado ou deprimido.

A mulher saiu calmamente do cômodo, deixando os dois a sós. O silêncio predominou o lugar, nem Harry e nem o Sr. Weasley se encaravam, não que estavam se evitando, mas era por puro impulso.

- Bem... Olá Harry. – começa Arthur, encarando o rapaz.

Harry só responde com um aceno de cabeça, olhava pela janela, o céu totalmente azul, era tão lindo e tão... Sozinho.

- Bom, acho que você quer algumas explicações, não? – pergunta o homem, se aproximando do rapaz.

- Não, tudo bem, Sr. Weasley, estou entendendo tudo. – diz o rapaz, se virando para o homem.

- Não, Harry, não é isso. Acontece que muitas coisas aconteceram durante essas três primeiras semanas de férias...

- Como assim?

- Harry, você-sabe-quem está pior do que antes.

- Não entendo...

- Ele anda matando muitas pessoas sem justificativa, ele está atrás de você Harry.

- Mas, ele nem tem idéia de onde são as casas dos meus tios...

- Engano seu, lembra que há dois anos atrás você foi atacado por dois dementadores, lá perto de sua casa?

- Sim, por que?

- Acontece que, como eles estão do lado de você-sabe-quem, é só questão de tempo para eles contar o lugar onde te atacaram.

- Desculpe, mas os dementadores são muito burros para se lembrarem disso, Sr. Weasley.

- Esperemos que sim, Harry, mas do mesmo jeito, foi uma atitude muito estranha, mas o ministério decidiu te ver de perto, pra te proteger de você-sabe-quem.

- Por que?

- Dizem que tem algo haver com uma profecia... Sei lá!

Então, o ministério sabia da existência da profecia, pior, sabia o que ela dizia, Harry ainda se lembrava muito bem das palavras de Dumbledore, no final de seu quinto ano:

"Aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas se aproxima... nascido dos que o desafiaram três vezes, nascido ao terminar o sétimo mês... e o Lorde das Trevas o marcará como seu igual, mas ele terá um poder que o Lorde das Trevas desconhece... e um dos dois deverá morrer na mão do outro pois nenhum poderá viver enquanto o outro sobreviver... aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas nascerá quando o sétimo mês terminar..."

- Sim, a profecia que acabou se quebrando há dois anos atrás, quando tentei pegá-la antes de Vol... Você-sabe-quem... – disse Harry baixinho, e curiosamente outra lembrança de seu quinto ano veio à tona.

"Enquanto você ainda puder chamar de sua a casa em que vive o sangue de sua mãe , ali você não pode ser tocado e nem ferido por Voldemort."

Sim lembrara disso também, era estranho, mas de alguma forma Dumbledore estava certo, mesmo que Voldemort soubesse de seu paradeiro na rua dos Alfeneiros, este nunca ira poder tocá-lo ou feri-lo, pelo menos, acreditava nisso.

- O-o Sr sabe o que aquela profecia dizia? – pergunta Harry, esperando que Arthur não soubesse.

- Partes... Mas é o suficiente pra saber que, de alguma forma, o que ela dizia, não era nada bom...

Harry entendia muito bem o que o Sr. Weasley queria dizer com aquilo. Só de saber o começo daquela profecia já era assustador, e se ele sabia algumas partes, então provavelmente sabia do final dela do que o começo... Isso já era o bastante pra deixar alguém transtornado.

- Então o ministério pensa que você-sabe-quem sabe tudo o que a profecia continha?

- É... Ele não sabe?

- Tudo? Não... – diz Harry ficando mais aliviado, se lembrara que Dumbledore lhe contara que o seguidor de Voldemort que estava no Cabeça de Javali naquela noite, fora descoberto e expulso, antes mesmo de saber o resto da profecia.

- Então...

- Há dois anos atrás Voldemort estava no ministério pra saber tudo o que a profecia contava.

- E sua busca fracassou...

- Sim, pois, acabei quebrando a profecia...

- Isso já é alguma coisa...

- Depende...

- Como assim?

- Olha, Sr. Weasley, Voldemort, agora, já pode até saber do conteúdo da profecia, mas ainda assim ele não pode me matar.

- Por que?

Harry hesitou, será que podia confiar o bastante naquele homem para lhe contar o por que de Voldemort não ter ido até a rua dos Alfeneiros e tê-lo matado durante esse dois anos?

- O sr. já se perguntou o por que de Voldemort não ter ido até hoje na rua dos Alfeneiros me matar?

- Sim, mas não chego a uma resposta lógica.

- Há alguns motivos, mas o principal deles é que minha tia fez tipo de um "pacto" com Dumbledore quando me aceitou como "filho", e é esse pacto que empeça, talvez, até de Voldemort saber do meu paradeiro na minha... Na minha casa.

- Um pacto?

- Sim.

- Hum...

- Mas então, o ministério mandou Fred, George e Rony me buscarem só por proteção?

- Também, como somos a única família totalmente bruxa que você conhece, eles acharam que fosse mais conveniente te manter aqui, do que na casa dos seus tios, claro, que eles não sabiam desse tal, pacto.

- E nem devem saber, na minha opinião...

- Exato, isso não é um problema deles.

Sr. Weasley estava certo, era melhor o ministério não saber de nenhum pacto, de nada, saber da profecia já era o bastante, mas de alguma forma, Harry não via razões para essa atitude do ministério, ficando na Toca, talvez Voldemort saberia de seu paradeiro mais rápido ainda, e se fosse até lá, iria matar à todos, isso Harry não perdoaria. Como pôde deixar que o trouxessem até a Toca? Era muito perigoso para todos ali presentes.

- Mas, Sr. Weasley, era melhor ter me deixado lá na casa dos meus tios.

- Por que?

- E se Voldemort descobri que estou aqui, ele viria correndo me matar, e claro, não iria hesitar você e os outros.

- Fique tranqüilo, Harry, Moly e eu não somos tão fáceis de se derrotar...

- De qualquer jeito. – cortou-o Harry – Sou um perigo para todos vocês.

- Não se preocupe quanto á isso Harry, você nunca será um perigo para nós, afinal, já é da família mesmo.

Pela primeira vez em dias, Harry sorria, como era gratificante e reconfortante saber que tinha amigos, mais do que isso, uma família para protegê-lo e acolhê-lo quando quisesse, era assim a família Weasley, por mais que fossem pobres em dinheiro, eram ricos em simpatia, em todos os sentimentos bons que existem nesse mundo.

- Obrigado Sr. Weasley. – disse Harry, quando Moly entrou no quarto com uma grande bandeja que tinha em cima, um prato bem cheio de comida, e uma jarra de suco de abóbora.

- Aqui está Harry, coma tudo, está bem? – disse a mulher sorrindo amavelmente para o garoto. – Vamos Arthur, vamos deixar Harry com Rony e Hermione. – disse Moly, levando o marido para fora do quarto, enquanto Rony e Hermione entravam.

- Está melhor agora, Harry? – perguntou a menina, vendo o amigo dando um grande gole no seu suco de abóbora.

- Morto de fome. – diz o rapaz, ainda sorrindo, começando a comer o que tinha no prato.

- Ficamos muito preocupados, cara. – diz Rony, feliz em ver o amigo bem.

- Por falar nisso, quanto tempo fiquei desmaiado?

- Três dias. – disse Hermione.

- Três! – diz Harry, se engasgando com a comida.

- Sim, três.

- Caramba, bastante tempo! – disse Harry depois de beber mais um pouco de suco.

- Sim, mas Harry, o que você estava sonhando? – pergunta Rony.

- Nada... – disse o rapaz, disfarçando voltando a comer.

- Como nada! Você estava ardendo em febre e gemia, parecia estar conversando com alguém.

- Não era nada Rony, sério, devo ter pegado uma gripe, só isso...

- Sei...

Trechos tirados do quinto livro; A Ordem da Fênix