CAPÍTULO TRÊS
De volta a Hogwarts
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Durante o banquete de início do ano letivo no Salão Principal do castelo, sob a imensidão de estrelas que se mostravam através do teto encantado, os alunos deliciavam-se com o banquete maravilhoso. Na mesa da Grifinória, a garota que estivera ouvindo a discussão no trem, Marlene McKinnon, contava para todos que quisessem ouvir sobre o fora que Lily tinha dado em Tiago. Marlene era uma garota muito extrovertida, de cabelos chocolate curtos e lisos. Lily olhava para baixo, parecendo muito concentrada em sua refeição.
-- O quê? Você dispensou aquele delícia do Tiago Potter? - perguntou Fílida Ewitch, uma quartanista loura.
-- Eu não acredito que você dispensou um troféu daqueles - indignou-se Miranda Pennyfeather, uma sextanista.
Alice, que tentava cortar um pedaço teimoso de costeletas, deixou o garfo escorregar pelo prato fazendo com que uma grande quantidade de grãos de arroz voassem para o próprio colo.
-- Mas você foi gentil com ele, não foi, Lily? - perguntou ela enquanto recolhia os grãos. - Quero dizer, do jeitinho que você sempre faz quando te chamam para sair, né?
Lily não levantou os olhos. Marlene deu uma risada debochada.
-- Gentil? Ela foi um poço de gentileza, sim... "Nem se você fosse a última pessoa da face da Terra, Potter" - imitou, fazendo uma expressão assassina e dando golpes no ar com a faca. As garotas arregalaram os olhos e menearam as cabeças, desaprovadoramente.
Lily finalmente levantou os olhos, irritada.
-- Se vocês estão com tanta dó assim dele, por que não vão consolá-lo? O pobrezinho deve estar precisando mesmo de um capacho, qualquer uma serviria.
-- Ai, Lily, como você é grossa! O que ele fez para você? - Miranda torceu o nariz.
Lily deu uma espiada para a outra ponta da mesa. Tiago estava se pavoneando descaradamente para uma quartanista toda sorrisos ao seu lado. Seu olhar encontrou o dela, mas a expressão gelada no rosto da menina não se alterou. O sorriso de Tiago vacilou por um instante, até ela voltar a encarar as amigas.
-- Para mim ele não fez nada, porque eu não quis que ele se aproximasse. Mas tenho pena daquela garota ali e de todas vocês que ficam se iludindo, pensando que ele poderia se apaixonar por uma de vocês. Aquele ser não tem coração, só age por instinto. É lamentável.
Alice preferiu não se manifestar. A conversa mudou de rumo depois desse comentário. Ninguém ali na mesa concordava com o que Lily dissera, mas era melhor não tentar argumentar.
Enquanto isso, Tiago lançava olhares de esguelha para a ruiva, tentando chamar sua atenção novamente. Porém Lily não voltou a olhar naquela direção. Os quatro marotos devoravam as costeletas e tortas de rins com vontade.
-- Então, garotos, como foram de férias? - perguntou um fantasma sentado ao lado de Pedro, desviando o olhar deste, que comia entusiasmado.
-- Umfédio - respondeu Sirius com a boca cheia.
-- Perdão? - perguntou o fantasma educadamente.
Sirius engoliu estrondosamente e repetiu.
-- Um tédio - voltou a encher a boca de batatas assadas.
-- As minhas foram espetaculares, Nick - respondeu Tiago depois de engolir um grande bocado de torta. - Fui para a Itália com meus pais.
-- Magnífico! - respondeu o fantasma. - Já estive lá quando era vivo. Certamente que já fazem séculos, mas não deve ser menos impressionante.
Dois alunos recém selecionados para a Grifinória que estavam sentados próximos à eles olhavam admirados para o fantasma, que usava um chapéu de penas e vestes mofadas com uma gola de rufos espalhafatosa. Sirius notou os olhares curiosos, sorriu enviesado, piscou discretamente para Tiago e dirigiu-se ao fantasma:
-- Ei, Nick, o que é aquilo ali - disse de olhos arregalados, apontando algum ponto embaixo da mesa, próximo a seus pés. Pedro, desavisado, ficou curioso e também olhou. Remo se limitou a erguer as sobrancelhas, sem desviar a atenção de seu prato.
-- O quê? Onde? Não estou vendo - o fantasma inclinou a cabeça para ver à que o garoto se referia, mas ao fazer isso sua cabeça despencou do pescoço, ficando presa por uma fina lasca de pele fantasmagórica.
Um dos primeiranistas engasgou-se seriamente e o outro soltou um gritinho horrorizado. Sirius, Tiago e Pedro caíram na gargalhada. Remo, sem conter um sorrisinho no canto da boca, prestou socorro ao garoto que tinha-se engasgado, dando tapinhas em suas costas até ele começar a recuperar sua cor normal.
-- Ora essa! - O fantasma pareceu aborrecidíssimo. Ajeitou a cabeça em cima do próprio pescoço prendendo-a com a gola de rufos.
-- Tá servido, Nick? - perguntou Tiago falsamente inocente, colocando um suculento pedaço de costeletas debaixo do nariz do fantasma, que indignou-se ainda mais.
-- Ora mais essa! Você sabe muito bem que eu não posso comer.
-- Oh! Que pena! Está realmente delicioso, olha só - Tiago deu uma dentada digna de comercial de televisão e os outros garotos tentavam comer também em meio aos risos. - Hummmmmmmm!
-- Com licença, senhores - disse Nick Quase Sem Cabeça seco, empertigando-se e atravessando Pedro em direção a outro lugar na mesa.
-- Brrrrrrrrrrrrrr - Pedro tremeu inteirinho com o contato. Não era nada agradável ser atravessado por um fantasma.
Alguns minutos depois, quando todos já estavam satisfeitos, os pratos se limparam e o diretor da escola, Prof. Alvo Dumbledore, levantou-se de sua alta cadeira dourada no meio da mesa dos professores. Toda a conversa cessou no mesmo instante, como por mágica. Era um bruxo alto, com um nariz incrivelmente torto encimado por óculos de meia-lua. Ele puxou a barba longa e prateada, assim como o cabelo, para a frente das vestes, pois tinha jogado-as para trás de modo a não atrapalhar sua refeição.
-- Bem, caros alunos, agora que já estamos devidamente entupidos e sonolentos, eu peço que ouçam por um momento as baboseiras de um velho rabugento. Prometo ser breve.
-- Se ele é rabugento, então o que o Filch é? - perguntou Pedro.
-- Um aborto, oras - respondeu Sirius, como se isso encerrasse o assunto. Os demais concordaram e o diretor continuou:
-- Como alguns de vocês estão cansados de saber, a floresta da propriedade é expressamente proibida aos alunos, para seu próprio bem. Os alunos do primeiro ano devem estar avisados que existem criaturas perigosas nela, muitas das quais nem mesmo eu tenho conhecimento. Devo dizer que não é permitido o uso de mágica, bombas de bosta, chumbinhos fedorentos, etc, etc, nos corredores entre as aulas, conforme o nosso zelador não se cansa de lembrar e certos alunos não se cansam de esquecer - nesse ponto o cantinho da boca do diretor deu uma leve tremida e seus olhinhos cintilantes pareceram pousar em determinado ponto da mesa da Grifinória por um breve segundo antes de ele voltar a falar: - Quanto às inscrições para os times de quadribol, vocês serão informados pelo time de suas casas no quadro de avisos de sua própria sala comunal.
O bruxo deu um longo suspiro antes de concluir:
-- Creio que é só, por enquanto. Agora vamos dormir porque eu já não agüento mais o som da minha própria voz!
Assim que o diretor voltou a sentar-se houve um grande alvoroço. Toda a falação excitada voltou, acompanhada do ruído do arrastar de cadeiras.
-- Até logo, rapazes. Tenho que guiar os novatos - disse Remo eficiente enquanto já se dirigia até Lílian, não sem antes chamar gentilmente os dois garotinhos assustados que estavam a seu lado.
-- Vai logo, então - gritou Sirius, mal-humorado.
-- Isso mesmo - gritou Tiago enciumado. - Não precisa se preocupar conosco, não.
Pedro não disse nada, pois estava ocupado em surrupiar alguns docinhos sobreviventes e encher os bolsos.
Remo não pôde deixar de sorrir do ciúme dos amigos. Mas também não pode deixar de continuar, junto com Lily, a guiar os primeiranistas.
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Lily abriu a porta do dormitório e encarou-o suspirando.
-- Finalmente! Estou morta de cansaço. - Ela atravessou o aposento circular e jogou-se na cama do meio. As duas outras camas foram ocupadas por Alice e Marlene, que também pareciam exaustas.
-- Ai, acho que comi demais - reclamou Marlene, arrependida.
-- Nem me fale! Estava morrendo de saudades desses banquetes fabulosos de Hogwarts - concordou Alice, apoiando a cabeça em uma das mãos e encarando as outras duas garotas. - Então?
-- Então o quê? - perguntou Lily com a voz pastosa de sono.
-- Vocês não vão me contar o que aconteceu naquela cabine marota?
Lily bufou. Marlene imitou a pose de Alice e as duas encaravam a ruiva com expectativa.
-- Eu já contei tudo o que vi e ainda por cima dei minha opinião imparcial dos fatos - livrou-se Marlene.
-- Imparcial, sim... sei... - Lily revirou os olhos. Sentou-se na cama, apoiando-se no encosto, cruzou os braços e começou a balançar uma das pernas nervosamente. - Eu não tenho absolutamente nada a dizer.
-- Ah, qual é, Lily, vai me dizer que você não ficou tentada a aceitar a proposta indecente do Tiago? - perguntou Marlene, como se isso fosse um fato incontestável.
-- Digo! Digo sim. Não tive a mínima vontade de aceitar. Ora, vamos, aquele garoto é insuportável! Precisa ter muito mais do que um rostinho bonito e um talento no quadribol pra merecer minha atenção.
-- Tiago Potter é só um rostinho bonito e um talento no quadribol? - perguntou Marlene indignada. - Lily, você precisa rever seus conceitos. Ele é um dos garotos mais populares e atraentes da escola. Só perde para o Sirius, é claro. Mas também, com aqueles músculos, oh, bom Deus!
-- Você é que precisa rever seus conceitos, Marlene - respondeu Lily, com desdém.
-- Mas, Lily - Alice começou timidamente - talvez ele seja realmente mais do que isso. Acho que você devia dar uma chance a ele...
-- Ah, me poupem, vocês duas - cortou Lily irritada. - Já chega. Vocês realmente acham que ele queria alguma coisa comigo? Provavelmente ele queria só dar uns beijos em alguém, e como eu fiquei parada na frente dele por tempo suficiente ele achou que eu poderia aceitar ser seu brinquedinho por algumas horas. E vocês estão cansadas de saber que não é isso o que eu estou procurando.
-- Você não está procurando, Lily - Marlene retrucou, de mau-humor. - Você está esperando que o seu príncipe encantado caia do céu de joelhos bem na sua frente.
-- É isso mesmo - respondeu Lily, com dignidade. - E, convenhamos, Potter não se parece nem de longe com esse meu príncipe encantado.
-- Se é que ele existe, não é mesmo?
-- Ora, me deixe, Marlene! Alice, me ajude!
Alice voltou a falar, sonhadora:
-- Talvez... talvez ele esteja transfigurado em sapo, você sabe, como naquele conto trouxa que você leu para mim, e se você der um beijo nele...
Lily gargalhou.
-- Claro que ele está transfigurado em sapo, mas o feitiço é irreversível no caso dele. Nem com um milhão de beijos.
Alice não se deu por vencida.
-- Mas a Marlene tem uma certa razão. Você deveria tentar pelo menos dar uma chance para as pessoas se aproximarem de você, Lily. Você simplesmente diz que não tá a fim e espanta os garotos! Assim você nunca vai saber se é a pessoa certa ou não.
-- Tá, você deve ter alguma razão, mas, convenhamos, o que o Potter tem a ver com isso? Eu não preciso dar uma chance pra ele pra saber que NÃO é ele...
-- Oh, então talvez seja o Remo Lupin? - perguntou Marlene, com cara de pentelha. - Ele tem de tudo pra ser um príncipe encantado. É tão tímido, meigo, educado, aaaaaaaaaaaaaaaah que vontade de apertar as bochechas dele! E ainda por cima é monitor também! O que me diz?
-- É mesmo, Lily! Ele é uma gracinha! - concordou Alice, entusiasmada. - E combina tanto com você! Não me lembro de tê-lo visto com nenhuma garota...
-- Hummmm, talvez ele nutra algum sentimento pela inalcançável Lílian Evans, mas como é muito tímido... - ponderou Marlene. Lily fez um aceno de mão, como se tentasse espantar uma mosca.
-- Quanta bobagem. O que eu fiz pra merecer essas duas? - ela inquiriu o teto do dormitório. - Mas vamos parar de falar de mim, pelo amor da minha sanidade. Vamos falar de você, Srta. Flaherty. Pensa que eu não vi os olhares embaraçosos que você trocou com Frank no trem? Heim?
Alice ficou da mesma cor das almofadas vermelha de sua cama antes de mergulhar o rosto nelas. Marlene assanhou-se.
-- O quê? Frank Longbottom aquele fofo? - todo mundo era fofo ou lindo para Marlene, exceto é claro, os sonserinos. - Alice, sua diabinha disfarçada, eu não pensei que você fosse tão assanhada!
Lily voltou a gargalhar, deixando Alice ainda mais desconcertada.
-- E-eu... quer dizer... não é nada disso que vocês estão pensando... ele... nós estávamos só conversando, só isso.
-- E precisa ficar vermelha desse jeito por causa de uma simples conversa? - inquiriu Marlene.
-- Bem... eu... ahh, parem de rir vocês duas. Não aconteceu nada! Nós só estávamos conversando, sério! - ela parecia tentar convencer a si mesma mais que as outras.
-- Que pena. - Marlene pareceu desconsolada.
Alice recuperou o controle da própria adrenalina e voltou-se para ela, desconfiada.
-- Mas, e você Marlene?
-- O que tem eu? - a garota pareceu alarmada, o que chamou a atenção de Lily.
-- Eu vi você dando risadinhas enquanto Benji Fenwick da Corvinal sussurrava em seu ouvido. Vocês pareciam muito íntimos.
A garota arregalou os olhos.
-- A-há! Culpada! - acusou Lily - Quem é a assanhada agora, heim?
Marlene pôs as mãos para o alto, em redenção.
-- Ok, eu confesso! Nós... nós saímos juntos duas vezes durante as férias.
-- Estão namorando? - perguntou Alice chocada.
-- Não! - ela respondeu com uma rapidez incrivelmente sugestiva... - Quer dizer, ele não me pediu em namoro, mas...
-- Mas...? - Lily incentivou. Marlene sorriu marotamente.
-- Mas, se ele não me pedir logo, EU vou pedir ele em namoro. Ele é tão lindo!
As três caíram na risada. Alice riu tanto que desequilibrou-se e caiu da cama, estatelando-se de costas no chão. As outras duas correram ao seu socorro rindo mais do que nunca.
-- Vocês não existem - disse Lily enxugando uma lágrima que escorria por seu rosto risonho. Alice bocejou longamente.
-- É, acho que acabou o interrogatório por hoje. Estou exausta.
-- Ok, vamos dormir então. Amanhã será um longo dia.
As três vestiram seus pijamas e enfiaram-se debaixo dos cobertores, caindo no sono quase no mesmo instante.
Porém, no dormitório masculino do quinto ano, a animação ainda vencia o cansaço para os quatro garotos de pijamas. Tiago estava sentado no chão e tinha todos os rostos voltados à si, enquanto contava sobre a viagem que fizera para Itália. Todos ficaram empolgadíssimos com as descrições dos lugares.
-- Uau! Eu queria muito ter ouro pra poder viajar - lamentou-se Pedro.
-- É - concordou Remo com um suspiro. - E eu, além de não ter ouro, não posso me arriscar a passar uma Lua Cheia em um hotel por aí.
Sirius era o único que estava sem camisa. Mesmo em dias mais frios o garoto se recusava terminantemente a dormir de camisa, dizia que o sufocava. Remo, porém, desconfiava secretamente que ele não resistia a exibir seus músculos mesmo que fosse só para os companheiros de quarto. Sirius fez um gesto de impaciência.
-- Ah, tá legal, deve ser bonito e tal, mas mesmo assim não me sinto tentado a sair do país, muito menos em companhia da minha família. Queria que eles viajassem e me deixassem para trás, isso sim seria divertido. Eles nem reconheceriam a mansão quando voltassem.
Os quatro garotos riram do comentário.
-- É sério. - continuou Sirius, com amargura. - Não vejo a hora de fazer dezessete anos para sumir daquela casa. Se pudesse, até mudaria meu nome.
-- O nome é o menor problema - respondeu Tiago, consolador - e quanto a sair de casa, você sabe que seria bem vindo na minha a qualquer momento. Meus pais seriam capazes até de te adotar!
Remo franziu o senho.
-- Você está sugerindo que ele fuja de casa?
-- E por que não?
Sirius deu um sorrisinho de deboche.
-- Minha mãe me escalpelaria se eu tentasse fugir de casa. Ela seria capaz de me buscar até no inferno se eu fugisse para lá. Imaginem só o que ela não faria se eu fosse morar com um "amante dos trouxas". Seria a morte para ela, eu estaria desonrando ainda mais a família - o garoto desabafou isso com um misto de amargura e desdém e atirou uma almofada com toda a força que conseguiu reunir contra a porta do outro lado do dormitório, passando por cima da cabeça de Tiago.
-- Falta pouco, Sirius - disse Remo gentilmente. - Falta pouco.
Tiago suspirou e tentou mudar de assunto.
-- Remo, você fez o mapa?
-- O que?... Oh sim, o mapa - ele abaixou-se para o malão e quando levantou segurava um pedaço de pergaminho dobrado. Os outros garotos correram para ele e sentaram-se ao seu redor na cama, que afundou bem uns vinte centímetro com o peso extra. Eles juntaram as cabeças para observar o pergaminho que Remo desdobrava sem pressa. - Eu fiz o máximo que pude pra me lembrar de tudo, mas não é nada fácil se tratando de um castelo imenso...
Quando o pergaminho foi totalmente estendido na cama, os rapazes seguraram exclamações. Pedro soltou um assobio baixo e longo. Eles tinha diante de si um mapa de Hogwarts nos traços finos e caprichados de Remo. Cada corredor, sala, todos os andares e torres, até mesmo miniaturas de algumas estátuas e um espelho que indicavam passagens secretas e túneis longos nos lugares mais improváveis, tudo com uma precisão espantosa.
-- É claro que faltam alguns detalhes, mas...
Tiago encarou-o com uma sobrancelha erguida e a boca ligeiramente aberta que dizia com todas as letras o quão abismado ele estava.
-- Cara, você leva as coisas muito a sério! - exclamou Sirius sem tirar os olhos do mapa.
-- Como assim? - perguntou Remo.
Tiago explicou, voltando a analisar o mapa.
-- Quando nós pedimos para você desenhar um mapa, nós pensamos em algumas linhas e legendas, não uma obra de arte dessas.
Pedro acenou com a cabeça repetidas vezes, também sem desgrudar os olhos do pergaminho.
As bochechas de Remo ficaram levemente rosadas e ele deu um sorrisinho encabulado, mas satisfeito. Ele colocou o cabelo para trás das orelhas e continuou a explicar, indicando algumas das partes que faltavam detalhes.
-- Vejam, aqui fica a sala comunal da Lufa-Lufa, mas nós nunca entramos para saber como é, e aqui eu suponho que seja da Corvinal - Sirius concordou com uma aceno da cabeça e Remo prosseguiu. - Bem, aqui estão as masmorras e por mais que eu me esforçasse não consegui me lembrar de todas as entradas. Também não conheço o interior desta, que é sala comunal dos sonserinos. Bem... - ele suspirou antes de continuar - como vocês podem ver, ainda sobrou espaço em branco nas laterais que, por mais que nós conheçamos o interior do castelo melhor até que o Filch, seria praticamente impossível desenhar os arredores também. E é isso!
-- Ótimo - disse Sirius finalmente encarando o amigo. - A gente ainda tem bastante tempo para tentar explorar esses lugares, mas por enquanto temos que descobrir alguns meios de camuflar esse mapa, porque, caramba, se isso cai nas mãos de alguém indesejado, nós estamos fritos.
-- Tem razão - concordou Tiago - nós podemos fazer parecer um pedaço de pergaminho velho em branco, a menos que algumas palavras mágicas sejam ditas. Creio que isso seja bem simples. E podemos pensar em mais um montão de coisas para enriquecê-lo, como explicações de como usar as passagens secretas. Cara, isso é um tesouro. Ou vai ficar, depois de uns retoques...
Remo teve uma idéia, diante das palavras do amigo.
-- Eu tenho certeza que já li em algum lugar uma indicação sobre um feitiço para mapear as pessoas que se movimentam em determinado local, como pontinhos em movimento. Claro que era só uma indicação e seria muito difícil encontrar a explicação exata do feitiço, mas com um pouco de sorte e a capa da invisibilidade de Tiago, podemos virar aquela biblioteca de ponta cabeça até encontrar. O que vocês me dizem?
Os olhos dos outros garotos brilhavam de entusiasmo. Pedro parecia meio ressabiado.
-- Será que isso é realmente possível? Quero dizer, deve ser bem complicado...
-- Tudo é possível para um maroto, Pedroca - falou Sirius arrogantemente. - E se é para sonhar alto, eu diria que nós podemos ainda identificar todas as pessoas do castelo, além de indicar suas posições. Afinal, de que adiantaria saber que há alguém se aproximando se não soubermos se é o Snape ou o Filch?
Todos murmuraram aprovadoramente.
-- Bem pensado - concordou Remo, mas tinha alguma coisa cutucando sua mente: - mas... por falar em coisas impossíveis... como andam os estudos em animagia?
Remo procurava reparar em cada reação dos marotos à sua frente. Pedro arregalou os olhos e engoliu em seco. Sirius e Tiago se entreolharam apreensivos e possivelmente preocupados. Tiago começou, escolhendo bem as palavras.
-- Aluado, amigão, sabe como é, né... nós éramos uns pirralhos cabeça-dura quando inventamos esse negócio de estudar animagia...
-- É, bem mais do que somos hoje, você sabe melhor do que nós mesmos... - Sirius tentava ajudar na argumentação - E, bem, nós realmente achávamos que seria só decorar umas palavrinhas idiotas e movimentos patéticos de varinha, mas não é bem assim, sabe. Já são três anos de estudo e nenhum resultado ainda...
-- Não fique chateado conosco, cara, mas é que você tem que concordar que essa idéia é meio absurda...
-- É o que eu venho tentando dizer a vocês há três anos - disse Remo, tentando parecer aliviado, mas sem conseguir conter uma pontinha de ressentimento em suas palavras. Afinal, o que acontecera com a certeza que eles tinham há poucos minutos de que tudo era possível para um maroto? - Não se preocupem com isso, eu entendo perfeitamente e até apoio essa decisão, mas agora saiam da minha cama, por favor, que eu estou morrendo de sono.
Os três garotos levantaram-se de cabeça baixa e dirigiram-se para suas camas, murmurando "boa noite" tristemente e enfiando-se em suas camas. Tiago e Sirius trocaram olhares furtivos de triunfo antes de apagarem as velas. Remo demorou um pouco para pegar no sono. Ficou completamente imóvel encarando a escuridão da noite sem luar através das grandes janelas. Repreendia-se por não estar tão satisfeito com a notícia que acabara de receber, enquanto ouvia as respirações compassadas dos demais garotos. Quando os roncos de Pedro encheram o dormitório, Remo finalmente rendeu-se ao sono.
