CAPÍTULO SEIS

Rato

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O tempo passou muito rápido, na opinião dos garotos. Sexta-feira chegou e se foi. Felizmente eles não tiveram detenções a cumprir. Não na sexta. Os novos jogadores do time foram escolhidos e Tiago e Sirius passaram a ter treinos de quadribol duas vezes por semana. Pedro geralmente ia assistir os treinos, enquanto Remo ficava estudando na sala comunal. Eles tinham muitos deveres de casa, devido à proximidade dos exames de N.O.M.s (Níveis Ordinários em Magia) e o lobisomem geralmente fazia todos e emprestava aos amigos sempre tão ocupados. Numa dessas noites, Lily foi até a mesa em que ele estudava solitário.

-- Com licença, Remo. Me desculpe por atrapalhar, mas será que eu poderia me sentar com você?

Remo não pode deixar de sorrir diante de tanta educação.

-- Claro, Lily - ele levantou-se e puxou uma cadeira para ela, que tinha os braços cheios de livros. Em seguida limpou um lugar na mesa empilhando alguns de seus livros para que ela pudesse ocupá-lo. - E você nunca atrapalha.

-- Obrigada. Sabe como é, né… estou me sentindo um pouco excluída…

A garota lançou um olhar por cima do ombro de Remo, que virou-se para ver à que ela se referia. Alice e Frank estavam em uma das mesas conversando muito próximos e risonhos.

-- Oh, entendo… E onde está Marlene?

-- Bem, ela deve estar por aí com Fenwick. Eles estão namorando, você não sabia?

-- Benji Fenwick, da Corvinal?

-- Ele mesmo.

-- Não, não sabia. Bem, sei que você não gosta muito da companhia de meus amigos, mas sempre que quiser pode se juntar a mim.

-- Obrigada, Remo - ela ficou meio sem jeito com tanta delicadeza do rapaz.

Eles voltaram suas atenções ao estudo, separadamente. Porém logo foram se entrosando mais e descobriram que era bem mais divertido estudarem juntos. E foi assim que eles passaram a maioria das noites, quando os outros marotos não estavam por perto para irritar Lily. Por vezes eles até se permitiam ficar só conversando ou lendo alguns contos que Lily lhe emprestara.

Já nas noites em que não havia treino de quadribol ou detenção, que eram muito poucas por sinal, os marotos enfiavam-se na biblioteca até a hora de dormir, pesquisando feitiços para o mapa ou copiando os deveres de Remo, enquanto este pesquisava.

Chegada a penúltima semana de setembro, depois de despedir-se de seus amigos Remo foi procurar Madame Pomfrey, a enfermeira, para que ela o levasse seguramente até a passagem para o Salgueiro Lutador (uma árvore interessantíssima que agredia quem quer que tentasse se aproximar). Essa passagem terminava em uma casa abandonada no vilarejo de Hogsmeade, a Casa dos Gritos. Ela tinha esse nome porque era nela que Remo passava suas transformações, por isso os moradores do povoado achavam que o lugar era mal-assombrado.

Já de noite, Tiago e Pedro estavam encostados preguiçosamente numa das disputadas poltronas em frente à lareira. Sirius desceu as escadas do dormitório, com os cabelos molhados grudados nas bochechas (suspiros por parte das garotas). Parou e observou o salão. Todas as poltronas e pufes perto da lareira estavam ocupados. Ao lado de Tiago, um garotinho loiro que ele sabia estar no primeiro ano estava sentado no que ele julgava ser seu lugar. Sirius aproximou-se dele gingando, com um sorriso enviesado que ele logo disfarçou. Pegou um livro esquecido em cima de uma das mesas e inclinou-se para falar com o garotinho.

-- Ei, garoto. Será que você podia fazer um favor para mim?

O menino encarou-o com as sobrancelhas franzidas. Pedro arregalou os olhinhos lacrimosos. Tiago empertigou-se na poltrona e pôs o mesmo sorriso de Sirius no rosto. Sirius abaixou-se para encarar o garotinho nos olhos.

-- Uma menina loura do seu ano esqueceu esse livro em cima da mesa. Será que você não poderia levá-lo? - perguntou fazendo sua melhor cara de cachorro abandonado.

-- Ok - dizendo isso, o rapazinho levantou-se cheio de boa vontade e dirigiu-se para a escadaria que ele sabia levar ao dormitório feminino.

Sirius sentou-se na poltrona em que ele estava e observou divertido. Conforme o garoto se aproximava das escadas em caracol, as pessoas na sala comunal foram parando para observar. O garoto subiu os primeiros cinco degraus sem problema nenhum, porém quando pisou no sexto degrau olhou para o topo da escada assustado. Um grito estridente ecoou pelo aposento como um aviso. Porém ele não se mexeu, perdeu completamente a ação, fitando o alto da escadaria com olhos arregalados, o sangue sumindo da face. Se ele tivesse voltado na mesma hora, talvez a escada não tivesse se sacudido e engolido os próprios degraus, transformando-se numa rampa escorregadia e ele não tivesse sapateado e escorregado com tudo até o chão da sala. Feito isso, a escada voltou ao normal.

Pronto. Todos começaram a gargalhar e apontar para o pobrezinho, que foi ficando roxo de vergonha. Tiago, Sirius e Pedro já não tinham fôlego de tanto que riam. Tiago escorregou do sofá e começou a dar soquinhos no chão para extravasar.

Foi com essa cena que Lily se deparou ao apontar na porta de seu dormitório. Ela tinha os cabelos molhados e o corpo envolto em um robe lilás que contrastava terrivelmente com seus cabelos acaju.

-- Mas o que é isso? Quem foi que...? - então seu olhar passou do garotinho vexado para os três garotos nos sofás mais próximos que se acabavam de rir, com lágrimas nos olhos. - Eu devia ter adivinhado.

Desceu correndo as escadas e começou a consolar o garoto, que soluçava. Mandou-o para seu dormitório e em seguida pôs uma mão na cintura, ergueu o dedo ameaçadoramente e começou a ralhar enquanto se aproximava dos marotos.

-- Potter! Black! Pettigrew! Vocês não têm vergonha? Uns marmanjões como vocês humilhando um menininho indefeso! Onde já se viu! - os garotos ouviram um sinal de alerta em suas mentes e começaram a tentar controlar o riso, enxugando os olhos e endireitando-se. Porém não era nada fácil. Lily estava totalmente vermelha, apertava os dentes com fúria e tinha uma linha fina como lábios. Ela lembrava muito a Profª. McGonagall e isso quase fez os garotos rirem novamente, mas se contiveram. - Quando é que vocês vão crescer, heim? Francamente, eu não sei como essas pessoas - apontou para os presentes, que assistiam a cena novamente quietos - idolatram tanto vocês, sabe? Se vocês fossem crianças, até seria um pouco mais compreensível, mas quantos anos vocês têm mesmo? Quinze anos? Tem certeza? Pois não é o que parece! Parece que têm cinco! Ficam querendo chamar a atenção às custas da humilhação dos outros que não têm nada a ver com a história...

E não parou por aí. Ela falou e falou e continuaria falando pelo resto da noite. Porém teve uma certa pena de Pedro, que já não tinha mais como se encolher. Sirius fingia que prestava atenção. Tiago realmente prestava, mas aos olhos da garota, seus cabelos que ainda estavam molhados, suas mãos na cintura delgada, seu pezinho delicado que insistia em bater no piso. Lily suspirou ainda zangada.

-- Bem, onde está Remo?

Sirius e Tiago pareceram arrancados de seus devaneios, trocando olhares de cumplicidade. Pedro conseguiu a proeza de se encolher ainda mais. Foi Sirius quem respondeu:

-- Ele foi visitar a tia dele, Josefa. Ela está doente.

-- Oh! - a expressão de Lily se desanuviou. - Que pena... Bom, então eu vou ter que fazer a ronda sozinha.

E virou-se. Porém antes de dar um passo, estremeceu ao ouvir Tiago. Sua raiva parecia ter voltado com a mesma rapidez com que se foi.

-- Lily, você quer companhia? - dizia o garoto, galanteador, enquanto endireitava a coluna no acento e passava a mão nos cabelos.

Sirius encarou-o, dividido entre a incredulidade e a diversão. Lily virou-se bruscamente e seus olhos faiscaram, como de costume.

-- É Evans, Potter. E não, eu não quero me aborrecer ainda mais. Por hoje, meu limite de tolerância já foi ultrapassado há muito tempo, graças à vocês. Com licença - dessa vez ela não foi interrompida. Subiu as escadas e desapareceu no dormitório.

Tiago sorriu para Sirius:

-- Ela me ama!

-- Não há dúvidas quanto a isso - ironizou o outro. - Vamos?

-- Sim, vamos. Vou pegar a capa.

Naquela noite, os garotos esgueiraram-se pelos corredores pouco movimentados, pois já estava quase na hora de se recolherem. Tiago carregava a capa da invisibilidade em um dos bolsos e um grosso livro em uma das mãos, com cuidado para não deixar à mostra o título do mesmo: Transfiguração Super Avançada. Dirigiram-se ao 5º andar e adentraram uma porta discreta, que pareceu surgir segundos antes. Dentro da Sala Precisa, havia uma gostosa lareira, rodeada por três poltronas azuis muito convidativas. Cada um deles se dirigiu a uma delas e se largou, procurando a melhor posição. Tiago suspirou e abriu o livro em uma das páginas finais, demarcada por um pedaço de pergaminho mofado.

-- Bem, vejamos... Vamos começar o 45º passo: Finalmente a escolha do animal... Epa! Agora danou tudo.

-- Caramba! De todos os passos, esse é o mais difícil - exclamou Sirius, entediado.

-- Tá brincando! - Pedro falou baixinho, de modo que os outros rapazes não o escutaram.

Tiago corria os olhos pelo tópico, mexendo os lábios quase imperceptivelmente e virando algumas páginas. Depois de alguns breves minutos, fechou o grosso livro com um estrondo, fazendo com que inúmeras partículas de poeira se fizessem ver através da luminosidade bruxuleante lançada pela lareira.

-- Não há nada aqui que nós já não saibamos. Sinceramente, esse livro está ficando muito repetitivo.

-- Nós temos que decidir isso hoje, cara. Não vejo a hora de acabar com isso de uma vez. Pobre Aluado. Tem ficado muito agressivo ultimamente.

Um silêncio pesado abateu-se sobre os três garotos, que encaravam a graciosa movimentação das partículas de poeira. O silêncio foi quebrado pelo barulho de plástico sendo amassado e rasgado: Pedro abria uma embalagem de sapinhos de chocolate e mordia ferozmente a sua cabeça.

Sirius lançou um olhar de incredulidade a Pedro, que nem sequer notou, tal era seu entretenimento com o sapinho, que agora além da cabeça, tinha perdido as duas coxinhas gorduchas.

-- É o seguinte - Tiago finalmente se manifestou: - Estamos de acordo que devem ser animais grandes, afinal nós temos que dominar um lobisomem adulto, não é? - Pedro balançou a cabeça afirmativamente, já que sua boca trabalhava sem cessar, porém Sirius fez cara de desacordo. - Desembucha, Sirius.

-- Ok. Pensem comigo: se todos nós formos animais grandes, será uma verdadeira guerra toda vez que tivermos que apertar o nó do Salgueiro Lutador. Nós sabemos, por experiência, que os golpes daquele arbusto de mal-humor não são brincadeira...

-- Tem razão, Sirius. Um de nós deve ser um bichinho pequeno e ágil para esgueirar-se em meio às investidas do Salgueiro e apertar o nó.

Após essas palavras, Sirius e Tiago se olharam, virando-se lentamente para encarar Pedro. Este, lambendo seus dedos descontraidamente, sentiu quase que fisicamente aqueles olhares atentos que lhe eram dirigidos e encolheu-se todo na poltrona enquanto eles sorriam travessos.

-- E-eu?

-- É isso mesmo, Pedrinho. Convenhamos, você não teria utilidade nenhuma como um animal grande, medroso do jeito que é - Sirius dava mostras de seu poder de persuasão.

-- Sendo pequeno, você não vai precisar se arriscar a levar umas mordidas. Nós podemos te proteger até nosso querido Aluado se acostumar com você. Apesar de que ele só atacaria se se sentisse ameaçado, o que não seria o caso, se tratando de um sapinho ou uma lebre...

-- Sapo? - perguntou Sirius incrédulo.

-- Lebre? - perguntou Pedro confuso.

-- Ora, e porque não?

-- Sapos são pegajosos e asquerosos, além de barulhentos. Esquece, Tiago... - argumentou Sirius.

Pedro olhou tristemente para a embalagem do sapinho de chocolate, em seguida fez uma careta e acrescentou:

-- Lebres só comem mato e legumes, eca!

-- Então suponho que vocês tenham idéias melhores?

Sirius coçava o queixo distraído enquanto pensava nas palavras de Pedro. Por fim sugeriu:

-- Ratos são comuns em Hogwarts, ágeis, discretos e comem de tudo, se é isso o que realmente importa pra você, Pedrinho.

-- Você é um gênio, Sirius - Sirius estufou o peito e resmungou "Eu sei, eu sei...". Tiago sorria e tinha um olhar sonhador. - Um rato poderia ser muito útil dentro e fora do castelo. Toca aqui, garoto.

Sirius apertou a mão estendida de Tiago, sorrindo arrogantemente, a cabeça trabalhando, maquinando estratégias de espionagens nos lugares mais improváveis.

-- Que tal, Pedro? - perguntou o garoto de óculos.

Pedro contorcia toda a sua face enquanto pensava. No silêncio da expectativa, quase podia-se ouvir o barulho das engrenagens rangendo preguiçosamente na cabeça do maroto. Os outros dois prendiam a respiração.

-- É... parece bom...

-- Ufa - ambos suspiraram aliviados, trocando olhares de cumplicidade. Naquele momento eles tinham certeza que compartilhavam o mesmo pensamento: seria muito mais fácil para o amigo transformar-se em um minúsculo ratinho.

-- E vocês?

-- Sem idéia - respondeu Sirius, deixando a cabeça pender para trás.

-- Totalmente sem idéia - concordou Tiago tristemente.

-- Bom, pelo menos tivemos um progresso, né? Nós... poderíamos pensar com calma nos outros animais e amanhã decidimos... - tentou Pedro, hesitante.

-- O Pedrico tem razão, Tiago. Amanhã nós pensamos com mais calma. Tá ficando tarde e se uma certa pimentinha der por nossa falta, estamos encrencados. Não que eu tenha medo do que ela possa fazer, porque cão que ladra não morde, mas, honestamente, tenho vontade de torcer aquele lindo pescocinho - nesse ponto Tiago cravou um olhar desconfiado no amigo - quando ela começa com aqueles sermões intermináveis. Só o Remo mesmo para aturar aquela lá.

Tiago fez uma careta diante do comentário, mas achou melhor não dizer nada.

-- A Evans deve estar acabando de sair para a ronda. Temos que ser rápidos, vamos - enquanto dizia isso, ele apanhou a capa da invisibilidade e jogou sobre os outros dois, que tinham se postado um de cada lado.

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N.A. Ai que tristeza! Ninguém lembra de ler a minha fic :-( Só a Aline me salvou de ficar sem nenhum review. Obrigadinha, Linoca do meu coração! Beijos pra você.

Me ajudem! Estou com bloqueio! Tenho essa fic pronta até o capítulo 22, mas paralisei por causa da falta de reviews! Socooooooorro!

A quem interessar possa: próxima atualização segunda-feira.