CAPÍTULO SETE

Cão e cervo

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Lily estava novamente na clareira da Floresta. Ouviu o cervo se aproximando e dirigiu-se para o arbusto, já sem receio. Logo o cervo apontou sua cabeça para fora da moita, encarando Lily nos olhos como da outra vez. Lily sorriu e estendeu a mão, mas não saiu do lugar. O cervo começou a caminhar com graciosidade em sua direção, a cabeça erguida com elegância, exibindo sua galhada. O corpo castanho muito claro, altivo e esguio do jovem animal quase chegava a brilhar com a luz do luar. Sem dúvida era um animal magnífico e imponente. Ele encarava-a nos olhos enquanto caminhava e Lily sentiu-se ruborescer. Essa sensação fez com que ela despertasse. Já era dia. Bateu com força no travesseiro. Porcaria! Queria tanto tocar o pelo brilhante do animal!

Mais uma manhã cheia. Depois da aula de Transfiguração, com a irritadiça Profª. McGonagall eles dirigiam-se para a sala de Feitiços. No meio do caminho, porém, foram interrompidos.

-- Bom dia, Sirius.

O garoto se virou e encontrou dos olhos de uma quintanista corvinal. Sua expressão não era nada amigável. Tiago e Pedro viraram-se discretamente e seguiram os demais alunos em direção à próxima aula.

-- Bom dia... hum... Paty?

-- É Dot. Eu vi você beijando aquela nojentinha da Orla hoje de manhã, seu... seu... cachorro!

PAF

Com a bofetada, os cabelos de Sirius acompanharam o movimento de seu rosto. Mas essa foi a única reação que ele demonstrou de que tinha sido estapeado. Lentamente, voltou a encarar a garota a sua frente, que tinha os braços cruzados enquanto batia um dos pés insistentemente e bufava, como se aguardasse uma explicação.

-- Cachorro? - Sirius perguntou com um ar sonhador.

A garota franziu a testa em sinal de dúvida. Entre todas as reações possíveis, aquela definitivamente foi inesperada. Ele agarrou o rosto da menina aparvalhada à sua frente, deu um beijo estalado em seus lábios e encarou-a.

-- Obrigado! - Antes que ela pudesse entender o que tinha acontecido, Sirius virou-se e saiu correndo pela direção que os demais colegas haviam seguido. - Já sei! Já sei! - Ele gritava enquanto se aproximava, fazendo todas as cabeças se voltarem a ele.

Tiago e Pedro reconheceram o descabelado que se dirigia aos berros a eles.

-- Que di... - Tiago ia perguntar, quando teve que se desviar, pois Sirius parou derrapando bem no lugar em que ele estava segundos antes, tomou fôlego e continuou em um tom mais baixo, de modo que só eles pudessem ouvir:

-- Já sei qual o animal que eu vou me transformar! - seus olhos brilhavam de excitação, contagiando Tiago e Pedro. - Um cachorro!

Tiago abriu um sorriso de orelha a orelha.

-- Claro! Porque não pensei nisso antes? A cara que você faz quando quer alguma coisa... É perfeito! Mas tem que ser um cachorro beeeeeeeem grande, heim!

-- Pode deixar comigo! - Sirius estufou o peito com satisfação. Mas nesse momento o sorriso de Tiago vacilou.

-- Droga. Só eu é que não sei em que me transformar.

-- Bom, se fosse seguir a sua linha de raciocínio, diria que você parece um porco-espinho com esse cabelo rebelde... - Sirius não se conteve.

-- Engraçadinho. E você? - disse, se dirigindo a Pedro, que tentava em vão disfarçar sua risada com uma tosse fingida. - Pare de rir, seu rabicho.

-- Rabicho? - Pedro parecia confuso. Sirius riu ainda mais.

-- Essa foi boa, Tiago! Rabicho! Sra. Potter sempre diz que o que mais a enoja em um rato é o rabo.

-- Engraçadinho - foi a vez de Pedro emburrar.

Eles chegaram atrasados na sala de aula e pararam no batente da porta. O Prof. Flitwick também estava atrasado pelo jeito. Ufa! Pedro acomodou-se sem demora em uma carteira próxima. O fundão já estava quase cheio. Havia apenas uma carteira vazia encostada na parede. Ele virou-se para encarar Sirius e recebeu um olhar maroto. Os dois puseram-se a correr no mesmo instante, trombando-se e tentando atrapalhar um ao outro, apostando corrida. Apesar de Tiago ser mais ágil, Sirius era mais forte e puxou-o para trás com toda a força, ganhando vantagem. Tiago suspirou resignado enquanto o outro sorria arrogantemente esparramando-se na cadeira. Sirius puxou o Profeta Diário da mochila aberto na página das cruzadinhas e apontou para frente.

-- Tem um lugar ali na frente, olha. Atrás da Cabelos-de-Fogo. Vai lá, garotão.

Tiago saiu resmungando e jogou sua mochila com força na carteira. Lily pareceu nem notar. Estava pensando no sonho que tivera nessa manhã. Apoiava o queixo na mão esquerda enquanto rabiscava com a outra um pedaço de pergaminho. Primeiro fez o focinho, depois os olhos. Em poucos instantes a cabeça estava pronta, do jeitinho que se lembrava. Nem reparou quando o minúsculo professor entrou na sala e começou a falar e gesticular, explicando que hoje não haveria prática, somente teoria. Lily fez a galhada elegante, o pescoço alvo, o corpo esguio. Parecia que o desenho estava vivo, caminhando em sua direção, encarando-a significativamente. Quis dar mais vida ao desenho, portanto começou a delinear sombras, que davam ilusão de luz e movimento.

Tiago estava curioso. Já fazia meia hora que o professor estava falando e Lily estava na mesma posição, encarando o pergaminho a sua frente. Além do mais, Feitiços era sem dúvida alguma a matéria que a ruiva mais gostava. Podia ver o topo da pena trabalhando incessantemente e por isso sabia que ela não estava dormindo. O que será que faria Lílian Evans não prestar atenção a uma aula de Feitiços?

Estaria escrevendo uma carta? Para um namorado, talvez? Tiago abanou a cabeça para afastar aquela idéia. Não, não conseguia nem imaginar Lily namorando. Parecia uma coisa totalmente impossível. Ela só era vista com outras garotas (a maior parte do tempo, só com Alice já que Marlene agora estava namorando) ou com Remo. Remo? Não, definitivamente. Quando algum garoto se aproximava dela, ela tomava cuidado para manter uma certa distância do rapaz, como se ele tivesse alguma doença contagiosa. Corava, fala o mínimo possível e arrumava uma desculpa qualquer para se afastar. Rejeitava todos os convites para sair, muito educadamente, diga-se de passagem. Bem, nem todos afinal...

Sentiu sua curiosidade dobrar de tamanho. Ajeitou os óculos e espirou furtivamente para os dois lados. Ninguém parecia prestar atenção a ele, coisa que o teria chateado muito, não fossem as circunstâncias. O mais discretamente possível, inclinou-se para o lado direito e começou a erguer-se da cadeira até conseguir enxergar o pergaminho. O cervo o encarou de volta. Os olhos de Tiago brilharam e ele passou a língua pelos lábios inconscientemente. Era perfeito! Teve vontade de atirar-se na carteira e beijar aquelas bochechas rosadas, mas pensou melhor. Não queria ir parar na Ala Hospitalar tão cedo...

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Durante o almoço, Tiago, Sirius e Pedro conversavam aos cochichos enquanto se serviam:

-- Anda, Tiago, diz qual o animal que você escolheu, cara.

-- Não, Sirius. Não adianta insistir. Já disse que não vou contar. Eu vou mostrar. E vai ser hoje à noite.

-- Hoje à noite? - perguntou Pedro, esganiçado, arregalando os olhos.

-- Sim! De hoje não passa. Eu li o penúltimo e o último capítulos, só não cheguei a testar ainda. Mas tenho certeza que consigo. Toma Sirius - disse passando o grosso livro de Transfiguração Super Avançada para o outro por debaixo da mesa. - Dá uma lida agora, antes da próxima aula e depois passa para o Pedro, para adiantar. E mais uma coisa: não se esqueçam de se alimentar bem, isso é importante - acrescentou, enchendo o prato dos colegas de cenouras e espinafre, sem dar atenção à seus protestos.

Quando terminaram, Sirius encheu o bolso do casaco dos docinhos servidos de sobremesa.

-- Vou levar mais estes para o Aluado. Não sei como ele sobrevive à dieta da Madame Pomfrey. Aquela velha não tem coração.

-- É. E se ela desconfia que a gente entope o Remo de doces, ela arranca os nossos corações.

Sirius deu de ombros. Pedro também encheu os bolsos de docinhos, mas não eram para o amigo.

Depois do almoço, como de costume durante os três anos anteriores, os três garotos foram visitar Remo na ala hospitalar. Ele sempre ficava em um canto da enfermaria, totalmente camuflado em uma cama de dossel branco. Madame Pomfrey já não insistia em tentar impedi-los. Apenas bufava e resmungava, deixando-os a sós. Quando ela virava as costas, eles tiravam dos bolsos toda sorte de doces imagináveis que furtavam da Dedosdemel nos finais de semana, ou mesmo durante a noite.

Remo animava-se no mesmo instante em que via os amigos aproximarem-se através do dossel. Um sorriso carinhoso se espalhava pelo seu rosto cansado e machucado e ele se achava a pessoa mais sortuda do mundo. Seus amigos eram seu único consolo nesses dias de provação. Ela por causa deles que Remo ainda não desistira de Hogwarts e de tentar levar uma vida quase normal. E nem desistiria, se dependesse deles.

-- Como você está, Remo? – perguntou Tiago, preocupado. O amigo parecia seriamente machucado, o rosto com arranhões profundos e o peito arfante.

-- Estou morrendo de fome – respondeu o outro sentando-se com dificuldade e aceitando os docinhos de Sirius. – Não sei o que seria de mim sem vocês.

-- Também não sei o que seria de você sem mim – respondeu Sirius arrancando um sorriso de Remo.

-- Anotaram tudo? – perguntou ele.

-- Eu fiz esse sacrifício por hoje, Aluado – respondeu Sirius, fazendo uma careta e estendendo um rolo de pergaminho totalmente coberto por sua letra caprichada, além de alguns desenhos que lembravam a Profª. McGonagall de trancinhas e pirulito na boca, ou o Prof. Flitwick apostando corrida com uma formiga.

-- E aqui estão suas coisas – Pedro entregou a mochila de Remo.

-- E aqui está o Profeta Diário. - Sirius entregou o jornal todo dobrado. – Só que... eu pensei em deixar as cruzadinhas pra você, mas... sabe como é, não é? Eu não resisti... mas ainda tem um caça-palavras!

Remo sorriu e meneou a cabeça.

-- Valeu. Valeu mesmo. Pelo menos eu tenho alguma coisa pra passar a tarde. Já dormi a manhã inteira, estou todo dolorido.

Tiago e Sirius deram sorrisos sinceros e encorajadores ao lobisomem. Pedro estava ocupado cobiçando os doces esquecidos.

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N.A. Mais um capítulo gente! Fiquei muito feliz! Três reviews! Agradeço de coração, gente. Não percam o próximo capítulo! É um dos que eu mais gosto dessa fic e foi um dos primeiros a ser escrito.

Anny Obrigada, obrigada, obrigada (bochechas rosadinhas de satisfação). Volte sempre! E não esqueça de criticar, blz!

Daisuka M. Opa, acho que falei d, né rsrsrs, agora estou até recebendo ameaças de estuporamento! Bem, espero sinceramente que tenha gostado do capítulo 7 (modéstia a parte, eu gostei hehehe). E sobre não postar tudo... bem, é que eu tenho medo de crises de imaginação, entende, prefiro postar dois capítulos por semana. Mas vou me comprometer a postar o próximo assim que você comentar esse, blz? Presentinho pra vc! E... desculpe minha ignorância, mas o que significa exatamente "Sya"?

Any Lemon Obrigada, críticas e sugestões são sempre bem vindas. Realmente, receio não ter dado muita atenção para o Sirius até agora. Bem, acho que o personagem mais enfatizado nessa fic é o Remo mesmo, por causa da animagia. E quanto a romance, acho que eles ainda não têm tanta cabeça pra isso no quinto ano, ainda são muito moleques pra querer alguma coisa mais séria com garotas. De qualquer maneira, vou tentar mostrar mais sobre o Sirius, continue criticando, por favor!

A próxima atualização fica pra quinta-feira (se a Daisuka M. não postar antes...). Então, até lá!