CAPÍTULO ONZE

Véspera de Lua Cheia

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Os dias que se seguiram foram marcados por chuvas fortes e incessantes. Parecia que a qualquer momento o teto do Salão Principal desabaria sobre suas cabeças de tão feio que estava o tempo. Quem acabou pagando por isso foi Filch, devido à frustração de Sirius e Tiago com o tempo. Os treinos de quadribol não podiam ser abandonados, com a proximidade do primeiro jogo que seria no começo de novembro. Eles iriam jogar contra a Sonserina e não poderiam se dar ao luxo de perder para as serpentes. Voltavam dos treinos ensopados até a alma, e faziam questão de se lambuzar de lama só para emporcalhar os corredores no caminho para a torre da Grifinória. Filch xingava e ameaçava, mas os garotos só ficavam mais e mais determinados a atrapalhá-lo.

E não foi só isso. Os dois marotos tinham se comprometido a tornar a vida do zelador um inferno depois de ele tê-los enganado. Nas aulas de poções, eles explodiam caldeirões (principalmente o caldeirão de Snape, ou mesmo Snape explodia o deles) e grudavam as coisas mais nojentas no teto das masmorras. A masmorra cinco estava com o teto forrado de miolos de sapo e os marotos enfeitiçavam a sujeira todas as aulas, para que ela resistisse à limpeza. É claro que isso custou algumas detenções da parte do Prof. Jigger, mas eles até cumpriam sem reclamar. "Vale tudo pra atazanar o Filch" eles diziam, afinal era por uma boa causa.

Eles resolveram que Snape poderia esperar para ter suas bombas de bosta, já que eles estavam usando todo o seu estoque nos corredores e salas de aula vazios, sempre tomando o cuidado de desaparecerem antes de Filch chegar. O zelador não sabia se xingava mais eles ou Pirraça, um poltergeist que adorava a farra dos meninos. Pirraça não ajudava, mas também não atrapalhava suas travessuras. Era quase como um acordo sigilosos entre ambas as partes.

E assim, o que era para ser uma semana de castigo, estendeu-se durante um mês e logo já passava do meio de outubro e Remo se preparava para outra transformação. O tempo melhorara bastante e a chuva finalmente cessara, porém o tempo continuava úmido. No dia seguinte, sábado, seria a primeira noite de Lua Cheia e o garoto já sentia a influência de sua proximidade. Suas articulações ficavam doloridas e ele sentia-se exausto e sonolento. Seu corpo franzino parecia demasiado pequeno para conter seus ossos.

As tardes de sexta-feira eram livres para sua turma, portanto o garoto encaminhava-se sozinho para a biblioteca. Ele tinha achado um livro com os feitiços de que eles precisavam, porém não era permitido retirá-lo da biblioteca por ser da seção restrita. O Prof. Trimble tinha dado uma autorização por escrito para que ele utilizasse o livro antes mesmo que Remo pudesse dar uma desculpa qualquer para o motivo de tanto interesse.

Ao virar para um corredor, entretanto, ele deparou-se com Sirius e Tiago caminhando em sua direção. Ao primeiro relance nas faces sorridentes de seus amigos ele já franziu o cenho. Essa carinha de anjo só poderia significar confusão.

-- Onde você vai com tanta pressa, Aluado? - perguntou Sirius com seu clássico sorriso desdenhoso.

-- Eu estou indo para a biblioteca...

-- Então acho melhor você pegar outro atalho, sabe. Pro seu próprio bem, se é que me entende - Tiago alcançou-o e segurou seu braço, fazendo-o virar-se. Cada um deles colocou a mão em um ombro do garoto e começaram a guiá-lo de volta pelo outro corredor, um de cada lado.

-- Mas... - o garoto estava dividido entre a curiosidade e o dever de ralhar com eles. Acabou decidindo-se pela curiosidade: - O que vocês fizeram dessa vez?

Eles trocaram olhares orgulhosos, estufando o peito, porém quando iam responder... BAM BUM TRACK ZUIIIIIIIIIIIIM

-- CORRE! - gritaram os dois e puxaram suas vestes com mais força, saíram desabalados e espremeram-se em uma entrada estreita escondida atrás de uma tapeçaria velha.

Eles ficaram em silêncio, prendendo a respiração. Segundos depois de eles se esconderem, ouviu-se o chiado asmático de Filch:

-- ... delinqüentes, é o que eles são. Bosta da dragão... tripas de rato... Ah se o diretor me deixasse usar aquelas correntes... eu os penduraria no alto da masmorra cinco pra que eles ficassem cheirando aqueles miolos de sapo... de cabeça para baixo, de preferência, porque assim eles poderia ficar encarando a sujeira que fizeram...

Sua voz morreu na outra ponta do corredor, sendo encoberta pelos estrondos que pareciam vir do banheiro masculino. Eles saíram rapidamente do esconderijo, mordendo os dedos para não rirem da situação. Pegaram outros atalhos e trataram de sumir das redondezas para que pelo menos Filch não tivesse como comprovar sua teoria.

Finalmente, no alto da escada do sexto andar, eles se trancaram em uma sala e se permitiram gargalhar.

-- Comédia, comédia - chorava Tiago, com sua risada escandalosa debruçado em uma carteira, com os óculos na mão.

-- Por todas as luas de Saturno! Eu sempre me esqueço de como é divertido ver o Filch irado - Sirius estava estirado no chão da sala.

Remo também não estava nada sério, apesar de mais controlado do que os outros. Apoiava-se na porta e encarava os dois colegas ainda curioso.

-- Mas, afinal, o que vocês fizeram?

Houve outro acesso de riso descontrolado, antes que Tiago se dispusesse a começar:

-- Bem, nós estávamos guardando o melhor para o fim da festa, sabe...

-- É. Nós acabamos com absolutamente tudo que compramos na Zonko's, e olha que não foi pouco!

-- Mas sobrou uma caixa completa de Fogos Filibusteiro...

-- Que não aquecem e acendem molhados...

-- E nós decidimos explodir no banheiro...

-- Porque, afinal, a decoração estava um tédio e nós decidimos dar um pouco mais de vida ao ambiente, sabe como é...

Mais acessos de riso.

-- Pois é, acho que funcionou, então - concluiu Remo, com um suspiro. - E eu acho que deveria passar detenções a vocês, ou encaminhá-los para a Profª. McGonagall...

Os sorrisos vacilaram por algumas frações de segundo, antes de Remo continuar:

-- ... ou quem sabe seja melhor eu contar pra Lily, porque ela sim teria coragem de fazer isso...

Os dois animagos voaram em cima do monitor, derrubando-o no chão e fazendo cócegas, além de bagunçar os cabelos.

-- Parem, me soltem! Eu... eu estou todo dolorido...

Isso fez com que eles voltassem à realidade. Tinham-se esquecido que era véspera de Lua Cheia.

-- Foi mal, Aluado - desculpou-se Tiago.

-- Ah, eu sei que você gosta de seus amigos foras da lei - Sirius levantou-se e desamarrotou suas vestes com classe.

-- Você não engana ninguém com esse distintivo aí. Você é um maroto e ponto final - Tiago pôs-se de pé de um salto e ajudou o amigo a levantar-se, pois ele estava com as juntas um pouco preguiçosas.

-- Por falar em marotos, onde está Pedro? Ele anda meio sumido esses dias...

Sirius e Tiago trocaram olhares de cumplicidade antes de Sirius encolher os ombros.

-- Sei lá. Ele deve estar na cozinha, pra variar...

Mas ambos sabiam que o amigo estava fascinado pela liberdade de poder tornar-se um minúsculo ratinho e passara a fazer excursões por todo o castelo, principalmente na cozinha. Foi isso que a consciência de Sirius argumentou para que ele não se sentisse culpado em mentir ao amigo.

Sirius e Tiago também tinham treinado muito animagia durante o mês inteiro, sem que Remo desconfiasse de nada. Só se permitiam transformar-se durante os longos banhos, com a porta trancada seguramente. A cada dia tornava-se mais fácil, conforme pegavam prática. E se tudo desse certo, essa noite o lobisomem teria uma surpresa inesquecível.

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Remo teve que patrulhar os corredores com Lily aquela noite e tentava parecer animado, falhando horrivelmente. Ele não queria preocupar os amigos, mas sentia-se muito pior do que das outras vezes. Estava nauseado e seus ossos doíam sem descanso, porém obrigava-se a andar a passos firmes, apesar de sua acentuada palidez. Entretanto Lily parecia um pouco absorta demais em seus próprios pensamentos para notar o desânimo do companheiro. Remo percebeu que ela estava um tanto inquieta e preocupou-se.

-- Tem alguma coisa te incomodando, Lily?

A garota demorou um pouco para responder.

-- Não, sei. Acho que o namoro de Alice me afetou mais do que eu imaginava que fosse afetar, sabe. É como se... como se eu tivesse perdido minha melhor amiga. Acho que estou com ciúmes, isso é tão infantil!

Remo sorriu.

-- Não é infantil, Lily. É completamente compreensível. Vocês eram inseparáveis e agora ela tem dado mais atenção ao namorado do que a você, é normal que você se sinta assim.

-- Pois é, me sinto meio excluída. A Marlene e a Alice vivem de conversinha agora no dormitório. "Ai, porque o Frank isso, o Benji aquilo" e por aí vai. Só sabem falar dos namorados, nem estudar elas querem! Ficam de namorinho pra lá e pra cá. Humpt! - ela parecia indignada.

-- Não se preocupe. Você vai acabar se acostumando. E elas também estão empolgadas porque começaram a namorar a pouco tempo. Daqui a pouco virão as brigas e discussões, então você tem que estar preparada para consolá-las e dizer que tudo vai ficar bem.

-- E ainda mais essa! Não sei não. Acho que seria capaz de brigar com elas também.

Ela voltou a ficar quieta.

-- Não é só isso, é? - perguntou Remo novamente.

-- Não. Estou... estou desconfortável. Não sei o que há de errado, eu estava bem até agora há pouco. Mas de repente parece que estou com o estômago embrulhado, minhas costas doem, meus músculos parecem fatigados e estou morrendo de sono.

Remo estacou. Ela tinha acabado de descrever exatamente o que ele estava sentindo.

-- Que foi? Aconteceu alguma coisa? - Lily encarou Remo nos olhos. - Você também não me parece nada bem, Remo. Tem algo errado com você?

-- Não - ele pôs-se a andar novamente, fazendo com que ela o acompanhasse. - Eu também estou meio cansado. Deve ser esse tempo meio frio e úmido, deixa a gente um pouco preguiçoso.

-- É... pode ser mesmo.

Eles não voltaram a se falar. Quando voltaram para a sala comunal vazia, despediram-se e Remo acompanhou Lily com os olhos até ela sumir no dormitório. A garota foi para a cama na mesma hora e nem reparou que assim que afastou-se de Remo todo o seu mal-estar se foi tão rápido quanto chegara.

O rapaz ficou parado no pé das escadas, encarando a porta do dormitório feminino e tentando digerir o que acontecera. Por que será que Lily tinha sentido o mesmo que ele? Será que sua aflição era tanta que tinha-se feito sentir ao seu redor? Ou será que a garota era mesmo muito sensível aos sentimentos dos outros? Ou ainda se fossem ambas as coisas combinadas? Bem, achou melhor subir logo, pois lembrou-se que ainda não tinha tomado banho. Seria realmente bom um banho escaldante para aliviar a dor. Foi com esse pensamento que o garoto subiu a escadaria e abriu a porta. Porém fechou-a no mesmo instante.

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N.A. Oi gente! Um pouquinho de suspense para vocês uhuahuahuahuahua. Bem, me desculpem pela demora, e pelo capítulo pequeno... Pretendo postar o capítulo 12 no mais tardar sexta-feira, mas não posso garantir nada dessa vez...

Gostaria de comunicar que fiz algumas alterações nos capítulos 6 e 8, pequenos detalhes, mas não se preocupem, não tem necessidade de voltar para lê-los novamente já que não muda significativamente nenhum acontecimento. É mais pra quem ainda não leu, só um probleminha de espaço temporal o.O, como nossa amiga M!cH me avisou – serei eternamente grata a você!

Tete Chan valeu pelo incentivo. Me perdoe, acho que te desapontei com esse capítulo curtinho, mas prometo que vou tentar fazer maiores. E eu também amo o Sirius! Ele vai aparecer mais daqui pra frente, senão você pode puxar minha orelha à vontade! Fiquei tão feliz quando vi que minha fic está entre as suas favoritas! Brigada, de coração XD