CAPÍTULO TREZE
Ressaca
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No domingo eles dormiram a manhã toda já que o treino de quadribol fora adiado devido a uns contratempos de Mark Brown, o capitão do time. Levantaram-se para almoçar e passaram a tarde na enfermaria com Remo, comendo doces e comentando os acontecimentos aos cochichos para que a enfermeira não os ouvisse. Ela só lançava olhares de reprovação aos baderneiros quando o volume das risadas aumentava demais, o que ocorria sempre já que Tiago era tão escandaloso nesse ponto.
Estavam excitadíssimos para a próxima noite que também correu muito bem. O lobisomem parecia estar esperando por eles quando chegaram e foi uma festa novamente. O quarto ficou pequeno para eles e decidiram que não seria ruim se passassem para o andar de baixo também. Era só cuidar da saída para que Aluado não escapasse. E foi o que fizeram. Exploraram a casa toda e quase a puseram abaixo com suas travessuras. Toda vez que Aluado aproximava-se do alçapão Almofadinhas tratava de distraí-lo com a clássica perseguição ao próprio rabo e eles se deliciavam. Até Pontas resolveu deixar o orgulho de lado e tentar também. A noite passou num piscar de olhos e logo já era segunda-feira.
Sono. Pálpebras pesadas, corpos fatigados, mentes preguiçosas e ainda por cima o zumbido sonífero da voz do Prof. Binns. Não deu outra: desmaiaram nas carteiras. Nem ouviram o sinal quando a aula terminou.
-- Ei, Black? - Lily cutucava o braço de Sirius. - Potter? Pettigrew? - ela não estava falando baixo, mas eles não davam sinal de vida.
Cutucou Sirius com mais força. Ele resmungou virou-se e retesou os músculos ainda dormindo. O mesmo com Tiago enquanto Alice chacoalhava Pedro. Aproximou o rosto do ouvido de Tiago e gritou sem dó:
-- POTTER!
-- SEGURA ELE, ALMOFADINHAS! - Tiago deu um pulo na cadeira e um berro equivalente ao de Lily.
Os outros assustaram-se também.
-- Onde? Cadê? - Sirius olhou ao redor e então percebeu. - Evans? Cadê todo mundo?
Tiago esfregava os olhos com força. Os três tinham olheiras enormes nas faces.
-- Humpt! A aula acabou há séculos! Nós estamos tentando acordar vocês já faz uns dez minutos e nada! O que vocês andaram tomando pra desmaiar desse jeito?
-- N-nada - Tiago bocejou. - Só estamos um pouco cansados.
-- É... só um pouco... uaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa... cansados - Sirius também deu um bocejo escancarado, daqueles que estralam o maxilar, igualzinho a um cachorro sonolento.
-- Sei... - Lily pareceu impressionada com a contradição daquele gesto com as palavras do garoto. - O que as crianças andaram fazendo ontem à noite que não foram dormir? - e antes que eles pudessem responder ela continuou: - Por falar em colocar as crianças pra dormir, onde está o Remo? Por que ele faltou à aula?
-- Heim? - Tiago fingiu-se de desentendido para ganhar tempo de pensar numa resposta (ou talvez estivesse lento mesmo por causa do sono).
-- O Remo! Onde. Está. O. Remo? Quer que eu soletre?
-- Oh, sim, o Remo...
-- Bem - começou Sirius. Ele adorava inventar essas histórias e ver a cara de boba da monitora - a mãe dele não está se sentindo muito bem, sabe, ficou carente e pediu a companhia do filho por uns dias. Eles são muito unidos, endente? E o Remo é filho único e tal...
-- Puxa vida! Que falta de sorte...
Eles se entreolharam culpados e Tiago achou melhor mudar de assunto enquanto eles jogavam a mochila nas costas e se dirigiam para a aula do Prof. Trimble:
-- Hum... Evans?
-- O que foi, Potter - ela fez uma careta.
-- Ei, calma! Eu só queria... só queria pedir as suas anotações de História da Magia... - a garota já ia dar uma resposta mal-criada quando ele elevou a voz a fim de terminar - para o Aluado. Quer dizer, para o Remo. Eu poderia copiar agora durante a próxima aula e depois empresto para ele. Sim?
-- Por favor Lily? - Sirius fez carinha de cachorro.
Lily ergueu uma sobrancelha com desconfiança mas acabou concordando.
-- Está bem, eu empresto. Mas tome cuidado com minhas anotações, humpt! E da próxima vez experimentem fazer suas próprias anotações em vez de dormir, ok?
Tiago aceitou o pergaminho que lhe era oferecido e deu uma analisada na letra redondinha tão parecida com a de Remo enquanto Lily e Alice afastavam-se. Porém as anotações do amigo não tinham florzinhas, bichinhos e coraçõezinhos na borda. Sirius fez menção de pegar o pergaminho, mas Tiago afastou-o de seu alcance.
-- Nem vem, Sirius. Se você estragar ela não vai acreditar quando eu contar que o meu cachorro comeu.
-- Há há há... engraçadinho... - Sirius olhou-o de cima com arrogância. - Não sou SEU cachorro, tá legal?
-- É do Remo então? - perguntou Pedro, estupidamente, pelo que levou uma mochilada no estômago.
-- Cala a boca, seu rato.
-- Cachorro mau! Cachorro mau! - Tiago falou e saiu correndo para escapar do alcance da mochila de Sirius.
A aula de Defesa contra as Artes das Trevas era bem mais animada, então os garotos resistiram ao sono e prestaram atenção. Bem, nem todos. Pedro caiu da cadeira com estrondo no meio da aula por ter cochilado.
Eles almoçaram rapidamente e foram para a enfermaria com os bolsos cheios de bolo de frutas.
-- Olá, Aluado! A sua salvação chegou - Tiago espiou para os lados e entregou dois pedaços avantajados de bolo ao constatar que Madame Pomfrey estava ocupada em sua salinha.
-- Hummm! Valeu, Pontas.
-- E aqui estão as anotações que eu fiz.
-- Mentira! Foi a Evans - Sirius não perdeu a oportunidade de dedurá-lo enquanto passava o Profeta Diário para o amigo.
-- Ok, mas EU copiei.
-- Porque quis - Sirius deu de ombros.
-- Tudo bem, tudo bem. Eu agradeço de coração. Agora, tem uma coisa me cutucando a mente...
Pedro pareceu confuso com essas palavras. Olhou para a cabeça do rapaz tentando ver o que estava causando o desconforto, mas Remo não percebeu e continuou:
-- Eu tive alguns flashes de imagens estranhas...
-- Verdade? - interessou-se Sirius.
-- E o que você viu? - perguntou Tiago.
-- Bem... eu vi o Pontas girando em círculos tentando... tentando alcançar o rabinho - ele não agüentou e começou a rir da lembrança. Sirius e Pedro fizeram coro a ele.
-- E o que tem de tão engraçado nisso? - perguntou Tiago de mau-humor, cruzando os braços.
-- Aaaah isso foi hilário! - Sirius se acabava de rir. - Eu quis ser uma hiena nessa hora só pra poder rir da tua cara. Foi demais!
-- Seu cachorro sarnento!
-- Sarnento o seu nariz, eu sou é muito limpinho e saudável, ok?
-- Tudo bem, a sua higiene não está em questão agora - Tiago impacientou-se. - O importante disso tudo é que você lembrou, Aluado! Isso é um progresso e tanto!
-- Verdade! Mas foi muito divertido, não foi? - novamente Sirius não resistiu.
Tiago rendeu-se e riu junto com os outros. Ou melhor, gargalhou indiscretamente.
-- Mas o que é isso? Vocês pensam que estão onde pra fazerem esse escândalo todo? - Madame Pomfrey apareceu carrancuda carregando uma poção fumegante.
Os garotos seguraram o riso enquanto a enfermeira se aproximava.
-- Tome Sr. Lupin, sua Poção Estimulante.
-- Mas eu já tomei! Me sinto bem, não estou dolorido...
-- Ora, quem é a enfermeira aqui? - retrucou ela com severidade.
Remo deu de ombros e tomou novamente a poção. Uma fumacinha esbranquiçada começou a escapar por baixo de seus cabelos saída dos ouvidos e assim que Madame Pomfrey virou-se para pegar outro frasco na mesinha ao lado ele fez uma careta para os amigos, que tiveram que morder os nós dos dedos para não gargalhar.
-- Eu já te dei a Poção Cicatrizante também?
Remo soltou um muxoxo antes de responder:
-- Eu não estou arranhado nem machucado. A senhora já me virou do avesso duas vezes antes de constatar isso, lembra?
-- Oh! Sim, tem razão. Estou um pouco distraída hoje... mas não é estranho isso? Ontem e hoje sem nenhum hematoma ou arranhão! Tem idéia do que possa estar acontecendo?
Remo balançou a cabeça de um lado para o outro. Os outros imediatamente começaram a encarar as unhas, assobiar ou olhar para o teto.
-- Bem, deve ser uma fase calma. Só esperamos que dure! De qualquer forma é ótimo, não é mesmo, meu querido?
Ela se permitiu um rápido afago nos cabelos do maroto que devolveu um sorriso bondoso.
-- É maravilhoso!
Ela soltou um suspiro e virou-se, lançando olhares de censura para os outros antes de retirar-se novamente para sua salinha.
-- Então? O que mais você lembra, Aluado? - perguntou Tiago enquanto os três aproximavam-se mais do amigo, sentando-se nas bordas do leito e fazendo-o ranger. Pedro voltou a levantar-se devido aos olhares que os outros lhe lançaram. Se ele se sentasse também, a cama provavelmente cederia.
-- Bem, é meio confuso. Só consigo lembrar de imagens desconectas, as lembranças não vêm em seqüência. Mas pelo que eu consegui identificar do ambiente, nós estávamos no andar de baixo. É isso mesmo? Vocês me levaram para o primeiro andar da Casa dos Gritos? - ele perguntou calmamente, porém com uma sobrancelha arqueada em censura.
Os outros se entreolharam culpados e Tiago respondeu:
-- Na verdade nós achamos que aquele quarto estava meio apertado, sabe...
-- Ah, que se dane! - Sirius desdenhou. - Fomos pro andar de baixo sim, e daí? Cuidamos pra que você não chegasse perto do alçapão e deu tudo certo, ok?
Tiago e Pedro concordaram. Remo soltou um suspiro resignado.
-- Bem, isso não foi muito prudente, mas vocês não são nada prudentes mesmo! São uns descumpridores de regras de carteirinha!
Eles estufaram o peito.
-- Obrigado, obrigado - disse Sirius com sua voz grave.
E assim passaram-se os dias e as noites. A cada dia os três garotos estavam mais cansados para as aulas e chegaram a perder pontos para a Grifinória por dormir na aula da Profª. McGonagall, porém todo o cansaço se evaporava quando a Lua Cheia apontava no céu estrelado já que o tempo estava só esfriando e limpando com a proximidade do Dia das Bruxas. Eles esperavam até os corredores ficarem vazios à noite, geralmente bem depois de terminados os treinos de quadribol, e saíam do castelo cobertos pela capa de Tiago.
Não puderam deixar de notar a mudança que se operara na aparência de Aluado. Seu pêlo opaco e mal-tratado estava ficando mais sedoso e o corpo magro tomava uma forma mais robusta. Remo sentia-se tão bem e vivo como nunca havia se sentido durante os dias de transformações. Seus curtos sonos geralmente sem sonhos pela manhã eram muitas vezes conturbados por lembranças cada vez mais nítidas e longas dos acontecimentos, o que o fazia sorrir enquanto dormia. Madame Pomfrey notou isso mais de uma vez e não pode deixar de sorrir também. O que quer que estivesse causando essa melhora (e ela definitivamente não tinha idéia do que poderia ser) era um alívio merecido para o rapaz.
A última noite de Lua Cheia foi na quinta-feira e a manhã de sexta-feira custou a passar. A turma teve dois tempos de Herbologia e pra finalizar, dois tempos de adivinhação no alto da Torre Norte. Eles chegaram atrasados nas aulas de Adivinhação porque quase não conseguiram alcançar o topo da torre de tão exauridos e sonolentos que estavam. A descida foi mais fácil - além do mais sempre havia a possibilidade de descer rolando as escadas em espiral.
Andavam se alimentando muito para poder suportar a rotina e dessa vez não foi diferente. Repetiram a refeição umas três vezes (ou mais, no caso de Pedro) e então rumaram para a enfermaria levando uma caixinha de Feijõezinhos de Todos os Sabores para Remo, que estava guardada desde a última visita a Hogsmeade e só sobrevivera por estar fora do alcance de Pedro.
-- Olá, Aluado - murmurou Tiago, com os olhos pesados e grandes olheiras.
Sirius cumprimentou com um aceno de cabeça, já que estava ocupado bocejando. Pedro já tinha se escorado na parede e fechara os olhos.
-- Pelos dentinhos afiados das fadas mordentes, vão dormir, vocês três! Parecem uns mortos-vivos!
-- Ah, é... a gente tá meio cansado mesmo... - Sirius deu outro grande bocejo. - Nham, nham, nham.
-- Andem logo, vão dormir! Me dê esses feijõezinhos e já pra cima - Remo ordenou estendendo a mão para a caixinha que Tiago trazia e para o jornal na mão de Sirius. - E esperem chegar na cama pra adormecer, heim? Se o Seboso achar vocês desmaiados aí pelos corredores ele vai achar que recebeu presente de Natal antecipado - eles riram tolamente. - Vamos! Movam-se, seus babões!
-- Falou, então...
-- É. A gente se vê...
-- Até mais...
-- Humpt! - Remo observou-os arrastar-se para fora da enfermaria e sorriu tristemente. Era culpa dele que os amigos não estivessem dormindo direito. Se por um lado ele se sentia muito bem, por outro seus amigos estavam se sacrificando demais. Mas de que adiantava se sentir culpado por isso, afinal? Sabia que não conseguiria convencê-los a abandoná-lo. Muito menos agora que eles tinham conseguido achar um meio de ajudar o amigo e se divertir ao mesmo tempo. É isso mesmo, se divertir. Eles não estavam se sacrificando, na verdade. Estavam era muito satisfeitos consigo mesmos, devido ao sucesso na animagia e a melhora de Remo.
Assim que deixou a enfermaria, por volta das três horas da tarde, Remo subiu para o dormitório. Ao abrir a porta, seus ouvidos foram invadidos pelos roncos abafados de Pedro, que se enfiara inteiro debaixo das cobertas. Podia apostar que estava com as vestes negras do uniforme ainda, assim como os outros dois. Tiago apenas tirara os sapatos e se cobrira até o queixo ainda de óculos, de barriga para cima e rosto de lado. Sirius parecia ter chegado dormindo até a cama, pois se jogara de bruços por cima das cobertas mesmo, meio atravessado na cama, com os pés para fora e os braços largados.
Remo sorriu e meneou a cabeça.
-- Tsk tsk tsk, crianças...
Ele foi até Tiago e tirou seus óculos com cuidado, depositando-os ao lado da cama. Puxou o cobertor até seus pés, que tinham ficado de fora, pois o entardecer estava muito frio. Pegou as cobertas da própria cama e levou até Sirius, cobrindo-o e tirando seus sapatos. Pedro pelo menos parecia bem quentinho apesar de sufocado. Dobrou um pouco a barra do cobertor para que sua cabeça ficasse de fora e apanhou um livro antes de dirigir-se para a porta. Deu uma última olhada e um suspiro. Sentia-se tão grato a eles que isso era o mínimo que poderia fazer por seus amigos. Seus grandes e verdadeiros amigos. Então ele fechou a porta do dormitório e desceu para a sala comunal.
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Os professores estavam passando mais deveres de casa a cada dia, sempre com a mesma desculpa: N.O.M.s. Na semana anterior, os três garotos tinham negligenciado todos os deveres e pagaram muito caro por isso, pois assim que Remo voltou, obrigou-os a passar o fim de semana inteiro colocando os deveres em ordem. Só eram dispensados do Prof. Lupin para os treinos de quadribol ou quando alegavam sono, o que Remo compreendia muito bem devido às circunstâncias. E a semana seguinte eles também não tiveram folga, apesar de sempre arrumarem um escape para travessuras e paqueras com Remo fazendo vista grossa.
Certa noite depois do jantar, Tiago, Remo e Pedro subiam em silêncio as escadas circulares que levavam à Torre Leste, com suas mochilas nas costas. Remo finalmente conseguira convencê-los a fazer o dever de Astronomia esta noite, já que o tempo ainda se mantinha bom e o céu estava limpo. Sirius, como estava sem fome, subira antes para ir adiantando.
Já estavam quase chegando, exaustos, quando viram uma garota descendo a escada da direita. Ela era alta, de cabelos castanhos brilhantes e escorridos caindo pelo rosto. Tinha uma expressão zombeteira e arrogante, característica das alunas sonserinas, um andar firme e ostentava um sorriso malicioso de triunfo no rosto. Passou por eles sem encará-los, de nariz empinado.
Os três se entreolharam desconfiados e continuaram até o último degrau. Sirius estava sentado todo espatifado em um banco, a cabeça pendendo para trás, as pernas esticadas, o nó da gravata frouxo, a roupa e o cabelo em desalinho. Literalmente todo amassado. Quando percebeu que os outros o encaravam estupefatos, ele deu um longo suspiro e levantou a cabeça para encará-los. Através de um raio de luar, eles puderam ver uma marca vermelha recente no pescoço do garoto.
-- Nham, nham. Cara, eu sempre soube que era irresistível, mas acho que me subestimei um pouco, sabe... Eu sou muito, muito irresistível. Vocês têm noção disso? Aquela setimanista sonserina me agarrou aqui, agora! Assim, do nada! Eu sou muito gostoso mesmo...
Tiago e Pedro caíram na gargalhada. Remo meneou a cabeça, tentando parecer severo, mas sem conseguir conter um sorrisinho de lado.
-- Se você é tão poderoso assim, por que eu tenho a impressão de que ela não vai contar sobre esse "incidente" para ninguém? Afinal, ela é uma sonserina, e uma sonserina que preza sua reputação não sai espalhando por aí que agarrou um grifinório. Muito menos em vésperas de quadribol.
-- Ai! Como você é estraga prazeres, Aluado - Tiago defendeu o amigo.
-- Deixa ele, Pontas. Isso é dor de cotovelo. Sinto muito em te desapontar, caro Aluado, mas você nunca vai ter esse corpinho e esse charme, entende?
Remo desistiu de tentar corrigi-lo por agora. Afinal, ele não seria Sirius Black se não fosse tão... rebelde, incorrigível.
-- Suponho que você não tenha adiantado coisa nenhuma, não é mesmo? Vamos ter que começar o dever do zero então...
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Na noite seguinte, véspera de Dia das Bruxas, eles foram dispensados dos deveres devido ao irresistível clima de festa. Tiago engoliu seu jantar e levantou-se apressado dirigindo-se aos amigos:
-- Pessoal, tem uma garota me esperando nesse minuto. Até mais tarde.
-- É aquela corvinal de anteontem? - Sirius sorriu marotamente para o rapaz.
-- Não, Almofadinhas. É uma lufa-lufa. Mary Macmillan - Tiago piscou para o amigo antes de sair a passos rápidos.
Tiago andava depressa pelos corredores. Executou um prático feitiço para limpar os dentes e sentiu um gostinho de menta refrescante na boca. Era uma ótima saída em casos como esse de emergência, porém não era muito recomendável no dia-a-dia, por não tirar completamente o açúcar dos dentes e acabar causando caries. Guardou a varinha na mochila, pois podia ser muito incômoda nessas horas.
Finalmente ele encontrou o lugar marcado pela garota. Ficava próximo à sala comunal da Corvinal. Uma sala de aula vazia, que no momento estava destrancada. Ele empurrou a porta e sorriu para a garota loura que estava sentada na mesa do professor, com as pernas cruzadas.
-- Atrasei? - perguntou, com a mão nos cabelos, bagunçando-os inconscientemente.
-- Um pouquinho. Vai ter que compensar o atraso.
-- Só se for agora - ele largou a mochila na primeira carteira que encontrou, aproximou-se dela e começou a beijá-la até perder o fôlego. Fez isso de novo, e de novo, até ser interrompido pelo som da porta sendo escancarada por um feitiço. Tiago assustou-se e afastou-se da garota, mas seria inútil tentar disfarçar. Seus lábios estavam completamente sujos de batom. Maldito batom!
O rapaz que entrou na sala depois do estrondo parecia um armário de tão grande. Dava pelo menos uns três dele.
-- Potter!
-- Hank! Hank, não é nada do que você está pensando - dizia a garota, que tinha perdido a cor da face.
-- Cala a boca, Mary. Com você eu acerto as contas depois. A mamãe vai ficar sabendo disso, pode ter certeza.
Tiago engoliu em seco. Estava frito. O rapaz não estava usando a varinha e parecia não pretender usá-la - o que era uma pena, pois num duelo ele tinha mil vezes mais chances de vencê-lo do que no braço. Mas mesmo assim, lembrou-se com uma pontada no coração, sua varinha estava atrás do garoto, bem ao lado da porta e seria impossível alcançá-la antes que o punho do garoto-armário o acertasse em cheio.
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-- Bosta! Bosta frita de morcego!
-- Pontas? O que aconteceu, cara? Andou querendo atravessar portas fechadas, foi?
-- Cala a boca, Almofadinhas.
Sirius estava subindo para a sala comunal da Grifinória quando alcançou o amigo, andando desanimado e xingando. Tiago tinha um olho roxo, o nariz sangrava e os óculos estavam partidos em uma das mãos. Pelo menos o batom ele tinha limpado. Sem contar os hematomas que as vestes escondiam. Definitivamente não estava de bom humor.
-- Andou brigando? Deixe-me ver... foi culpa da garota? - Sirius tomou os óculos da mão do outro e consertou-os com um toque da varinha devolvendo-o. Tiago não colocou-os no rosto, pois seu olho estava inchado e doendo muito.
-- Não, imagine - disse sarcástico. - Ela só esqueceu de mencionar que tinha um irmão um pouco ciumento na Corvinal e que ele era do tipo dois por dois.
-- Oh! Entendo...
-- Bem feito - eles viraram-se para dar de cara com Lily, olhando satisfeita para Tiago, de cima a baixo. Tiago estava sem os óculos e achou difícil focalizá-la, porém o cabelo e o jeito de andar eram inconfundíveis.
-- Ótimo. Era tudo o que eu precisava - Tiago explodiu. - Se fosse qualquer outra pessoa, você se comoveria e até consolaria, mas como é o imprestável do Potter, é bem feito. Isso mesmo, vamos, venham todos atirar um tomate podre no Potter imprestável...
Tiago parou de falar quando percebeu a cara de poucos amigos de Lily. Ela estava muito próxima. Seu rosto estava vermelho e seus lábios crispados. Ela ergueu a varinha para o rosto do rapaz e ele deu um passo para trás. Sirius também se afastou assustado. Porém Tiago logo percebeu um alívio na dor de seu nariz e ele parou de sangrar.
-- Vá para a enfermaria, Potter. Esse olho está bem feio. Vai inchar pra caramba - disse a garota amargamente, passando pelo meio dos dois e esbarrando com força no ombro de Sirius.
-- Credo! - Sirius massageou o ombro quando ela já tinha sumido na curva do corredor. - Ela tem razão, Pontas. Vamos para a ala hospitalar. Pom-Pom vai dar um jeito em seu olho e nesses hematomas que eu sei que você tá escondendo. Pensa que me engana com essa pose de durão? Você está moidinho por debaixo dessas vestes.
Tiago encolheu os ombros e seguiu Sirius. Ainda não entendia direito o que acontecera. Mas era melhor nem tentar. Essas garotas são tão confusas!
Madame Pomfrey deu um jeito nos hematomas em dois segundos, mas o olho deu um pouco de trabalho.
-- Sinto muito, mas vai ficar um pouco vermelho ainda por um tempo...
-- Vermelho? Não estou vendo nenhum vermelho aqui. Isto está preto! - Tiago examinava o próprio rosto por um espelhinho que a enfermeira que entregara. - Não vou sair dessa enfermaria enquanto isso não sumir.
-- Ótimo, então vou preparar um leito para você passar a noite e o dia seguinte aqui na Ala Hospitalar...
-- A senhora está brincando comigo, fala a verdade! - Tiago estava indignado. - Eu tenho uma reputação a zelar! Não pretendia que ninguém ficasse sabendo desse mico que paguei. Onde já se viu? Euzinho apanhando por causa de uma garota filhinha de mamãe! Vamos, Madame Pomfrey, eu sei que a senhora pode fazer melhor do que isso...
-- Escute aqui, mocinho - ela apontou um dedo para o rapaz - meu estoque de poções está muito baixo pois o Prof. Jigger anda um pouco ocupado ultimamente com as inúmeras detenções que tem dado a seus alunos. Portanto, ou você espera quietinho até amanhã para que isso melhore ou você prepara sua própria poção que demora em torno de dois dias para ficar pronta. Além disso eu não tenho culpa se você arrumou briga por aí, ok?
-- Ok, ok, não está mais aqui quem falou... - Tiago levantou as mãos enquanto Sirius se segurava para não rir da bronca que Tiago tinha levado.
-- E já para fora daqui os dois. Quanta ingratidão! Eu faço tudo o que posso e ainda tenho que ouvir desaforo, só me faltava essa... Fora! Já!
Os dois saíram para o corredor antes que a enfermeira começasse a atirar coisas neles. Tiago estava carrancudo e Sirius tentava parecer sério em consideração ao amigo.
-- Hum... Não está tão ruim assim, Pontas...
-- O seu nariz que não está!
-- É, realmente. Meu nariz é perfeito, eu sei disso. E meu olho também, diga-se de passagem...
Sirius teve que se esquivar do punho de Tiago.
-- Saia de perto de mim se não quiser levar coice, literalmente. Não estou de bom-humor hoje e tudo por causa daquele... daquele... - e saiu xingando Hank Macmillan de todos os nomes feios que conseguiu se lembrar até a torre da Grifinória.
O mau-humor extremo de Tiago durou o dia seguinte inteiro. Ele azarou dois garotos que o encararam, talvez até inocentemente, e ameaçou partir para cima de mais quatro.
-- Que foi? Tá olhando o quê? Nunca viu não?
E os três amigos corriam para segurá-lo.
-- Ele não estava dizendo nada! - dizia Remo.
-- Mas estava pensando. Não disse porque afinal eu ainda imponho algum respeito, não é mesmo? - respondia ele.
-- Talvez ele nem tenha percebido o seu olho... - Pedro tentava argumentar também.
-- Num percebeu o caramba! Todo mundo tá falando disso. Pensa que eu não ouço os cochichos? Ou as provocações dos sonserinos? Aquela enxerida da Berta Jorkins já fez o favor de espalhar a notícia pra Hogwarts inteira. Se eu alcanço aquele pescoço gordo eu estrangulo aquela idiota fofoqueira. Me soltem! Eu não vou sair batendo em qualquer um!
Sirius não dizia nada, pois sua vontade era de sair azarando todo mundo também. Na verdade não precisava ter um motivo. Era divertido e ponto final. Ele sorria sarcasticamente e chegava um pouco atrasado na tentativa de segurar o amigo esperando que ele conseguisse se soltar dos outros antes. Mas Tiago não era forte nem de longe, magricela daquele jeito! Então talvez seria melhor não deixá-lo sair no braço com ninguém mesmo. Azarar era mais seguro.
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N.A. NHAAAAAAAA! Estou tão feliz com a quantidade de reviews! (Amy dando pulinhos) O apelo do Sirius valeu meeeeeeeeeeesmo, então eu tive que recompensar ele nesse capítulo (afinal, ele foi agarrado por uma sonserina bonitona!) rsrsrsrs. Já me disseram que eu sou cruel com o Tiago e eu tenho que admitir... mas é irresistível o.O
AnnaM valeu, valeu, valeu! Que bom que você está gostando XD! Ah, e ainda bem que você gostou da música, tava meio insegura pra colocar ela.
aRTHuR BLaCK brigada XXD. Continue lendo please! Assim me dá vontade de postar logo rsrsrs.
Tete Chan eu também amo a amizade deles, né! Eles são tão fofos! São perfeitos juntos! Aquele Rabicho tinha que estragar tudo :(
Aline minha betaaaaaaaa! Briguem com ela quando tiver algum errinho uhuahuahuahua. Que bom que você se emocionou! Essa é a idéia. Tudo bem, eu admito que você já tinha me avisado do tamanho dos capítulos e eu não dei atenção :-/ Falha minha... e realmente, o Sirius é tuuuudo de bom .
Rodrigo Black Potter obrigada por concordar comigo sobre o Rabicho! Eu acho que ele tem muita importância na história dos marotos, não deve ser ignorado jamais! Os quatro até fazem um grupinho bem equilibrado juntos. E está aí sua sugestão sendo atendida! Era a minha intenção fazer isso mesmo, mas fico feliz que você tenha sugerido. Obrigada pelo elogio XD
MiLa MaLFoy ai que emoção! Puxa vida se você pudesse ver o tamanho do meu sorriso agora... :DDD Com um pedido desses é claro que eu continuo! Valeu meeeesmo.
Katrina obrigada pelos elogios, de coração (Amy com bochechas rosadinhas de satisfação). Fique a vontade para criticar e sugerir. Ótima pergunta a sua, achei que essa dúvida surgiria mesmo e tava esperando alguém perguntar. Não, não há nenhum sentimento além de amizade, amor fraternal entre eles. Mas eu quis que a relação deles fosse desse jeitinho, mesmo sabendo que poderia dar margem a sua dúvida.
Na minha humilde opinião eles são extremos opostos: Remo é a responsabilidade em pessoa e Sirius é a imprudência em pessoa. Remo acha que Sirius precisa de mais atenção sua por não ter a família para aconselhá-lo (imagine os conselhos da Sra. Black!). E Sirius, por sua vez, acha que Remo precisa mais de suas demonstrações de carinho por só se preocupar com os outros e colocar sua própria felicidade em segundo plano. Eles têm ideais totalmente diferentes e tentam convencer um ao outro de que o seu ideal é o correto. Isso vai ficar mais claro daqui a alguns capítulos.
O Tiago é da mesma opinião de Sirius sobre a "carência" do Remo, mas ele está sempre com a mente mais ocupada com uma certa ruivinha, não é mesmo? E, além disso, cervos não expressam suas emoções tão bem quanto cães. Se Pontas pudesse, ele também teria ganido ao ver a transformação de Aluado, mas que sons os cervos fazem? Se alguém aí souber me ajudem!
Eu leio slash - e existem alguns muito bem feitos, sim - mas não vai caber essa relação na minha fic. Na verdade nem consigo imaginar o Sirius amando quem quer que seja de outro modo que não o fraternal. Mesmo amor paternal ele não foi capaz de dar ao Harry, ele queria o Tiago de volta, seu amigo, seu irmão. Concordo nesse ponto com a tia JK. Posso até tentar fazê-lo se apaixonar, mas não garanto nada por enquanto. Vamos ver...
Xiii, acho que me empolguei na explicação, né? Foi necessário. Tinha que deixar isso bem claro para os capítulos futuros. Consegui? Não hesitem em fazer perguntas, please! Eu amo respondê-las. Próxima atualização: sexta-feira.
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Tiago: - Olha, pessoal, é o seguinte: eu fiz uma aposta com o Almofadinhas de que o apelo dele não ia funcionar, e acabei perdendo... Putz, sete reviews! Como é que eu ia adivinhar? Agora vou ter que falar que... que...
Sirius: - Queeeeeeeeee?
Tiago: - Queosiriusehmesmoirresistível.
Sirius, Remo e Pedro: - O quê?
Tiago: - Que o Sirius é mesmo irresistível (torcendo os lábios em repugnância).
Sirius: - Eu não ouvi direito, vocês ouviram?
(Remo e Pedro - e os leitores - balançando a cabeça negativamente)
Tiago (carrancudo): - O SIRIUS É MESMO IRRESISTÍVEL, TÁ BOM? PRONTO, FALEI, SATISFEITOS? Agora me dá licença que eu tenho que lavar a boca com sabão.
Sirius: - Você não disse nada que todo mundo já não saiba, humpt! (sorrisinho enviesado) Valeu pelos reviews, pessoal. Quando a Amy disse que estava dando pulos de alegria ela falou no sentido real das palavras mesmo! Se vocês estivessem vendo o que nós estamos vendo... tsk tsk tsk.
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No próximo capítulo...
-- Ei, Lily, quer ir ao baile comigo? - gritou antes que conseguisse sequer pensar no que estava fazendo.
Toda a mesa da Grifinória virou-se para a Lily enquanto os demais marotos arregalavam os olhos para Tiago.
-- Claro... - respondeu a garota com um sorriso angelical, fazendo Tiago sorrir e seus olhos brilharem - ... que não, seu idiota - o olhar angelical transformou-se em diabólico instantaneamente e o sorriso de Tiago murchou.
