CAPÍTULO DEZENOVE
Conversa com o diretor
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- O que é que o senhor vê quando se olha no espelho?
- Eu? Eu me vejo segurando um par de grossas meias de lã.
Harry arregalou os olhos.
- As meias nunca são suficientes. Mais um Natal chegou e passou e não ganhei nem um par. As pessoas insistem em me dar livros.
(Harry Potter e a Pedra Filosofal)
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No domingo, os quatro marotos resolveram dar uma volta em Hogsmeade para apreciar os enfeites de Natal do vilarejo. Eles simplesmente caminharam pelas ruas cobertas de neve e tomaram cerveja amanteigada no Três Vassouras para esquentar, além de terminar suas compras de Natal.
No dia seguinte iniciou-se a última semana de aulas do ano, e naturalmente os professores passaram inúmeros deveres de casa para as férias. Sirius parecia particularmente irritado com isso.
-- Que coisa mais babaca - resmungou ele durante a aula de Transfiguração, onde a Profª. McGonagall tinha passado Feitiços de Desaparecer para eles praticarem em lesmas.
Logo na primeira tentativa as lesmas de Tiago e Sirius já tinham desaparecido completamente. Por isso Sirius estava tão entediado. Remo também tivera sucesso logo de cara, porém ocupava-se em ajudar Pedro que não conseguia fazer sua lesma nem mesmo ficar levemente transparente.
-- É mesmo - concordou Tiago fazendo uma cadeira próxima desaparecer e aparecer novamente. - Pelo jeito esses N.O.M.s vão ser moleza.
-- Ei, Pontas, o que você acha de uma pequena diversão hoje antes da próxima aula? Pra fechar o ano com chave de ouro, heim?
Os olhos de Tiago brilharam e ele colocou o mesmo sorriso maroto de Sirius no rosto enquanto esfregava as mãos.
-- Maravilha! Mas e a Evans?
Os dois olharam para Lily, que fazia dupla com Alice mais à frente. Lily aparentemente já tinha feito sua lesma e a da amiga desaparecerem e agora tentava mostrar o modo correto a ela. Transfigurações não era a matéria preferida da monitora, mas ela conseguia se sair muito bem nas aulas. Sirius girou os olhos e soprou uma mecha do cabelo que caía sobre seus olhos.
-- A Evans, sempre a Evans! Olha, nós podemos pular o intervalo e ir direto para a aula do Flitwick. É claro que ele ainda não vai estar na sala, daí nós podemos aproveitar a movimentação do intervalo, sim? Acho que ela não vai nos seguir, não é mesmo?
-- Sim, é uma boa idéia. Mas e o Remo? Nós vamos contar pra ele?
-- Bem, nós não precisamos contar. Ele vai ver.
Sirius deu um sorriso safado e apontou a varinha para Marlene, que estava mais à frente, fazendo a lesma cheia de bolinhas cor de rosa - provavelmente resultante de um feitiço mal sucedido -, que ela segurava, desaparecer. A garota levou um susto e ficou olhando para a própria mão com assombro.
Porém nesse momento, houve um estouro e eles voltaram-se para o lado em que Remo e Pedro praticavam. O cabelo loiro de Pedro estava coberto de fuligem e chamuscado assim como sua face. Remo tinha coberto o rosto com um dos braços bem a tempo, porém o pedaço da testa que tinha ficado sem proteção também estava preto de fuligem.
-- Pettigrew! - ralhou a Profª. McGonagall indo em direção a eles. - Era pra fazer a lesma simplesmente desaparecer, não pegar fogo! Onde já se viu!
Remo deu um suspiro cansado enquanto Sirius e Tiago gargalhavam. A professora voltou-se para eles com os lábios contraídos em reprovação.
-- E vocês, seus escandalosos! Estão rindo de quê? Por que não ajudaram seu colega?
-- Ora, querida professora - Sirius encarou-a com seu meio sorriso. - Nós dois sabemos que seria inútil, não é mesmo? Além disso, o Remo estava tentando e é obvio que não teve sucesso.
-- Já basta. Limpe essa sujeira, Sr. Pettigrew, e estão dispensados. Não se esqueçam dos deveres que passei, pois eu garanto que não vou esquecer de cobrá-los.
Remo limpou as próprias vestes e ajudou Pedro com o restante da bagunça, enquanto todos deixavam a classe para aproveitar o intervalo ligeiramente mais comprido, ao que Sirius e Tiago se entreolharam satisfeitos.
Logo os quatro chegavam mais cedo à aula de Feitiços sem que Remo desconfiasse de alguma coisa. A classe ainda estava fechada. O corredor estava vazio, mas logo estaria repleto de estudantes apressados. Tiago bufou e fez cara de desapontamento fingido, dando um soco no ar para dar maior credibilidade à sua performance.
-- Puxa vida! Chegamos muito cedo. E agora, o que faremos até o professor chegar?
Remo franziu a testa ao perceber o perigo iminente. Pedro deu um sorriso largo e esfregou as mãos. Sirius imitou a expressão de desapontamento exagerado.
-- Pois é, caro Pontas, acho que vamos ter que ficar aqui nesse corredor, observando os passantes distraídos.
-- Vocês não estão pensando... - começou Remo, mas seus temores se confirmaram pela cara de indignação culpada dos dois.
-- Imagina! Nós não pensamos nada! - disse Tiago indignado.
-- Como você pode ser tão desconfiado, Aluado? Só vamos ficar... Observando - quando terminou a frase, Sirius já encarava Tiago cheio de malícia.
Remo tratou de abaixar-se, pegar um livro e enfiar o nariz nele, apreensivo. Alguns minutos depois, eles ouviram passos de um dos lados do corredor. Cinco garotos do segundo ano da Lufa-Lufa vinham conversando com animação quando o garoto que estava à frente parou bruscamente, fazendo os outros trombarem nele. Logo, todos eles encaravam os quatro garotos encostados na parede do corredor, parecendo distraídos. Eles hesitaram. Não era seguro atravessar, todos eles concordavam com isso, afinal, a fama desses quatro quintanistas já vinha de longa data. Como não tinham escolha sobre o caminho a tomar, eles começaram a andar muito próximos, quase tropeçando uns nos outros, quietos e ressabiados. Seguravam as varinhas com força por dentro das vestes.
Passaram por três deles, o que estava sentado lendo um livro, o que estava compenetrado com uma varinha de alcaçuz e o garoto magro de óculos, que fitava os próprios pés com as mãos para trás. Porém, quando passavam pelo quarto deles, que girava a varinha distraidamente nas mãos, com o rosto encoberto pelos cabelos negros escorridos, ouviram um sussurro.
-- Locomotor Mortis - o garoto que andava a frente tropeçou e caiu no chão, levando todos consigo.
Depois de alguns segundos de choque eles tentaram se erguer apressados.
-- Diffindo - a alça da mochila de um deles se partiu do nada, espalhando livros, tinteiros, penas e pergaminhos pelo chão.
Um outro garoto começou a patinar, escorregando os pés no chão, sem conseguir recuperar o equilíbrio. O maior deles ficou chocado quando seus dentes da frente começaram a crescer descontroladamente. E o último começou a se coçar desde o dedão do pé até o último fio de cabelo. Por fim, o que tinha tropeçado saiu cambaleando incapaz de mover as pernas, aos pulos.
Enquanto lutavam para se levantar e sumir daquele corredor, eles ouviam risadas escandalosas às suas costas, porém não se atreviam a encarar os quintanistas até que alguns estudantes irromperam pelo lado oposto do corredor em direção a eles. Uma garota baixinha de compridos cabelos acajus e olhos extremamente verdes - que eles sabiam ser monitora - estacou e arregalou os olhos assim que focalizou os garotos desesperados. Seu olhar instantaneamente correu deles para os rapazes que tinham parado de rir no mesmo instante, e se encontravam na mesma posição dissimulada de antes.
A expressão de Lily passou de espanto para raiva, e ela voltou a caminhar pisando duro e com as narinas dilatadas, parecia prestes a cuspir fogo, a varinha estendida.
-- Finite Incantatem! Finite Incantatem! Finite Incantatem! Você está bem? Ei, você, corra para a enfermaria. Reparo! Tome, leve sua mochila - sua voz era preocupada, mas sua expressão era dura.
Enquanto eles se recuperavam e desapareciam de vista, Lily cruzou os braços e começou a bater o pezinho no chão com o rosto completamente vermelho. Parecia que a qualquer momento seus cabelos explodiriam em chamas.
-- O que foi isso? Vamos, expliquem-se! - os três garotos faziam-se de desentendidos, encolhendo os ombros e exclamando "Eu!" e Pedro ainda segurava metade da varinha de alcaçuz em uma das mãos. - Qual é desculpa para essa brincadeira idiota? Vocês não se enxergam? Olhem para o tamanho de vocês! O que vocês têm na cabeça? Vento? Titica de morcego? - então seu olhar recaiu-se sobre Remo, que tinha o livro tão próximo do nariz que devia estar completamente vesgo. - Remo! Eu não acredito! Como você... como você pôde deixar que isso acontecesse... sinceramente, eu não entendo como você pode defender esses diabretes da Cornualha.
Dessa vez a cara de indignação dos rapazes era verdadeira. Lily continuou.
-- Quer saber? Eu não vou ficar perdendo meu tempo dando sermão às paredes, vou reportar à Profª. McGonagall, e podem ter certeza que os três terão detenção.
-- Mas... mas... - Pedro gaguejou acenando com o toquinho de varinha de alcaçuz em uma mão.
Lily não deu atenção. Lançou um último olhar severo - estilo McGonagall - a Remo, que tinha afastado o livro alguns centímetros e espiava com um só olho, mas escondeu-o novamente assim que ela o encarou. Depois a monitora meneou a cabeça inconformadamente e voltou resmungando pelo corredor.
-- Ferrou! - Sirius exclamou
Antes mesmo do início da aula do Prof. Flitwick, Lily já estava de volta com uma satisfação assustadora - na opinião dos garotos - e eles nem ousaram dirigir-lhe a palavra. Isso seria cometer suicídio certamente. Assim que soou o sinal ao término da aula, eles avistaram a diretora da Grifinória esperando-os do lado externo e desejaram não ter que deixar a sala nunca mais. Porém o encontro foi inevitável.
-- Senhores, acompanhem-me - disse ela secamente, com os lábios reduzidos a uma linha severa. - Sr. Lupin, Srta. Evans, o diretor solicitou a presença de vocês também.
-- O diretor? - perguntou Sirius e Tiago engoliu em seco.
Entretanto a Profª McGonagall não respondeu. Deu as costas a eles e começou a caminhar, seguida de perto por Lily, que lhes lançou um olhar de "muito-bem-feito". Os quatro se entreolharam e seguiram as duas em silêncio até o escritório do diretor.
-- Chicle de baba-bola - disse a professora para uma gárgula de pedra que guardava a entrada, e esta ganhou vida saltando para o lado a fim de liberar a passagem. Todos se posicionaram na escada giratória que começou a movimentar-se suavemente até atingirem uma grande porta com uma aldrava de metal. A professora bateu duas vezes seguidas.
-- Entre, Minerva - soou a voz grave do Prof. Dumbledore.
A porta foi aberta e os cinco alunos adentraram o aposento circular cheio de retratos curiosos, com vários objetos delicados de prata dispostos em uma mesinha de pernas tortas, além da mesa e poltrona vazias. Junto à parede ao fundo, havia um poleiro com o que parecia ser um pássaro minúsculo e feio - Fawkes, a belíssima fênix do diretor, acabara de renascer. A Profª. McGonagall entrou por último e fechou a porta atrás de si. Só então eles puderam ver o diretor, que estava de costas para eles olhando através de uma das grandes janelas para os terrenos de Hogwarts. Ele usava vestes vermelhas com detalhes prateados nas extremidades, combinando com o chapéu pontudo.
-- Trouxe-os como pediu, professor.
Ao som dessas palavras, o bruxo voltou-se para encará-los com seus olhos azuis cintilantes por cima dos oclinhos de meia-lua. Sua expressão tanto podia ser de seriedade quanto de curiosidade.
-- Sim, sim, obrigado professora. Queiram sentar-se, por favor - disse ele dirigindo-se para sua poltrona atrás da mesa organizada e sentou-se, só então percebendo sua falha ao encarar os rostos apreensivos dos presentes. - Oh, me desculpem - ele agitou a varinha e o escritório ficou repentinamente pequeno com as confortáveis poltronas que se materializaram e logo foram ocupadas, exceto uma.
-- Eu agradeço, Prof. Dumbledore, mas tenho que comparecer ao Salão Principal para vigiar meus alunos. O almoço já está sendo servido - argumentou a Profª. McGonagall, fazendo Pedro mexer-se inquietamente em seu assento. - Com licença.
-- Como quiser - respondeu o diretor educadamente ao que a bruxa deixou o aposento. Com outro aceno de sua comprida varinha, a poltrona vazia desapareceu.
Fez-se um silêncio desconfortável enquanto ele examinava atentamente cada um dos alunos, todos cabisbaixos - exceto Lily que parecia muito satisfeita e orgulhosa, com sua cabeça erguida com dignidade.
-- A Profª. McGonagall me contou uma história interessante sobre azarações no corredor durante o intervalo, alunos na enfermaria, vocês podem confirmar isso? - seu tom de voz era indefinível, porém ele não parecia zangado, somente sério demais.
Tiago e Sirius trocaram um olhar cúmplice antes de balançar as cabeças em confirmação. Seus pés balançando-se no chão pareciam muito interessantes no momento. Pedro tremia nervosamente e roia as unhas enquanto Remo só queria cavar um buraco no chão para esconder-se.
-- Existe ou existiu algum motivo para isso? - o diretor perguntou depois de outro silêncio desconfortável.
-- Não, senhor - murmurou Tiago apenas audivelmente.
-- E o que exatamente eles fizeram, Srta. Evans?
Lily nem piscou para responder.
-- Eles lançaram azarações nos segundanistas por pura diversão, professor! Fizeram com que eles tropeçassem, escorregassem, seus dentes crescessem, se coçassem desesperadamente, derrubaram seus materiais pelo chão... enfim, deixaram os pobrezinhos desnorteados!
-- Entendo. Muito interessante... - os olhos do bruxo brilharam ainda mais e sua voz pareceu um tanto descontraída quando ele continuou: - Isso me lembra uma piada interessantíssima sobre três vampiros numa loja de doces, que eu duvido que vocês tenham ouvido em algum lugar... - porém ele calou-se ao perceber cinco pares de olhos arregalados mirando-o. Ajeitou-se em sua poltrona e limpou a garganta. - Hum, hum, quero dizer, talvez agora não seja o momento para isso. Como eu ia dizendo, o Sr. Lupin... - Remo deu um leve sobressalto ao ouvir seu nome, achando que chegara a sua hora de ser repreendido por não ter impedido seus amigos, entretanto logo respirou aliviado -... e a Srta. Evans ficarão encarregados de dar detenções a vocês da maneira que julgarem necessário. E eu realmente espero que isso não volte a acontecer, garotos.
Ele voltou a encará-los demoradamente antes de continuar:
-- Muito bem, creio que assim ficamos resolvidos. Srta. Evans, eu agradeço sua preocupação com o comportamento de seus colegas. Há um delicioso almoço esperando para ser saboreado no São Principal, mas receio ter que reter os demais para mais algumas palavras, sim?
Lily parecia ainda um pouco chocada e confusa desde aquela alusão à piada que o diretor fizera, todavia não ousou demonstrá-lo. Limitou-se a concordar.
-- Está bem. Com licença, Prof. Dumbledore - a garota deixou o escritório, porém estava curiosa demais para prestar atenção aos protestos de seu estômago, deixando-se ficar aguardando-os no corredor em frente à gárgula.
Enquanto isso, os quatro grifinórios aguardavam o pronunciamento do diretor, meio apreensivos sobre o motivo daquela conversa. Porém sua atitude mostrou-se bem mais descontraída e informal.
-- Remo - outro sobressalto da parte do garoto - a Profª. McGonagall me passou a lista de nomes dos alunos que permanecerão na escola durante as festividades de fim de ano e o seu nome consta na lista, apesar de ser o único de seu ano a permanecer...
-- O QUÊ? - interromperam Sirius e Tiago furiosos.
-- Você vai passar o Natal aqui e nem nos avisou? - perguntou Sirius bruscamente.
-- Por quê? - questionou Tiago.
O Prof. Dumbledore observou em silêncio enquanto Remo torcia as mãos com nervosismo. Por um momento o garoto ficou envergonhado sobre ter de explicar perante o diretor, porém logo chegou à conclusão de que não fazia diferença, uma vez que todos naquela sala sabiam perfeitamente sobre suas "condições especiais".
-- Porque a primeira noite de Lua-Cheia será justamente no dia em que estaremos voltando para cá e isso implicaria correr o risco de me transformar ainda no Expresso de Hogwarts, entende? Não haveria tempo.
-- Nós também ficaremos então - Tiago voltou-se para encarar os olhos perscrutadores de Dumbledore com determinação.
-- Não! - protestou Remo. - Foi exatamente por isso que eu não contei a vocês. Não posso deixar que vocês passem o Natal longe de suas famílias por minha causa.
-- E você achava que nossa reação seria diferente quando soubéssemos que você ficaria no dia de partir? Ora, me poupe, Aluado - retrucou Sirius com seu sarcasmo habitual. Dumbledore se permitiu um sorriso diante do apelido do lobisomem. - Por favor Prof. Dumbledore, inclua nossos nomes nessa lista de uma vez.
-- Mas... eu não posso ficar - murmurou Pedro, ao que levou um olhar gelado de Sirius e encolheu-se. - P-prometi à minha mãe que passaria as férias com ela, pra fazer companhia...
-- Acalmem-se, rapazes - foi a vez de Dumbledore interromper bondosamente e encarar o lobisomem. - Eu tenho uma sugestão para resolver esse problema. Eu posso comprometer-me a trazê-lo de uma maneira mais rápida se você quiser passar as férias em sua casa, Remo. Desse modo você não precisaria voltar de trem com o restante dos alunos. Isso se você concordar, é claro.
Todos encararam Remo com expectativa, apesar de Sirius parecer um tanto ameaçador.
-- É que... é que o problema não é só esse, professor - Remo sentiu que todo o seu sangue se concentrava de uma só vez na sua face e mexeu nos cabelos para tentar disfarçar seu desconcerto. - Meus pais não estão em condições de fazer nenhuma comemoração, sabe... e se eu for para casa eles... eles vão se sentir meio que obrigados a fazer algo para que eu não passe as férias em branco...
Ao terminar sua explicação, sua voz não passava de um sussurro e Tiago logo interveio, antes que Sirius explodisse novamente.
-- Então pode riscar o nome do Remo dessa lista, professor. Ele vai para minha casa, assim como Sirius.
O diretor deu um sorriso bondoso e inteligente para Tiago, como se tudo tivesse ocorrido exatamente como ele planejara e tratou de riscar o nome de Remo da lista. Este não sabia se protestava ou se agradecia. Acabou ficando calado.
-- Muito bem, esperem-me às três horas da tarde no último dia de suas férias na casa de Tiago para que eu possa trazê-los. Pedro, se você quiser pode juntar-se a seus amigos. Só não percam a hora, está bem?
-- Está ótimo - Sirius trocou sua expressão gelada por um meio sorriso satisfeito.
-- Meu pai vai ficar muito contente com a visita - disse Tiago. - Ele tinha mandado um alô para o senhor antes de eu embarcar para cá... ah, professor?
-- Sim, Tiago?
O garoto debruçou-se sobre sua mochila e começou a vasculhá-la em busca de algo.
-- Desde outubro nós estamos procurando um meio de te entregar uma coisa. É só uma lembrancinha que compramos em um dos passeios a Hogsmeade...
Nesse ponto o diretor franziu as sobrancelhas levemente, o que Remo notou com receio. Oficialmente, só houvera um passeio a Hogsmeade aquele ano, e o monitor temeu que Dumbledore estivesse desconfiado ou descobrisse sobre os passeios clandestinos ao vilarejo. Mas logo a expressão do bruxo voltou a ser de curiosidade inocente enquanto Tiago ainda procurava. Ou ele não tinha percebido, ou achou melhor ignorar.
-- Onde está? Oh, aqui está - ele endireitou-se estendendo um embrulho um pouco amassado por ter sido carregado por tanto tempo dentro daquela mochila abarrotada. - Esperamos que goste.
-- É a sua cara - Sirius trocou um olhar maroto com Tiago e eles observaram Dumbledore abrir o pacote com o entusiasmo de uma criancinha na manhã de Natal.
-- Oh, mas que esplendido! - ele levantou as meias azuis com borboletas cintilantes que esvoaçavam sem parar, para analisá-las melhor. - Fazia muito tempo que não ganhava um presente tão útil e agradável quanto meias de lã. Sabem, as pessoas insistem em me dar livros, não sei porquê. São lindas, rapazes, fico muito grato. Tenho umas vestes azuis que cairiam perfeitamente com elas.
Ele deu uma piscadela muito marota para os garotos à sua frente, que riram do entusiasmo jovial do bruxo.
-- Bem, nada mais justo agora do que eu presenteá-los com a ótima piada que vocês me lembraram - todos se ajeitaram melhor em suas poltronas e prestaram a máxima atenção. - Três vampiros estavam admirando umas balinhas com sabor de sangue na vitrine de uma loja de doces com expressões arrebatadas quando...
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Lily já não agüentava mais de curiosidade. Andava de um lado para o outro do corredor.
-- Desse jeito você vai afundar o chão - disse a gárgula, mas Lily não deu atenção.
Nesse momento achou ter ouvido uma agitação e um ruído indiscreto do lado de dentro da passagem, que começou a abrir-se lentamente. A garota estranhou quando percebeu que o ruído indiscreto era nada menos que a gargalhada escandalosa de Tiago, que parecia não ser o único a rir.
-- Ai, professor, essa foi demais - Sirius segurava um lado do corpo enquanto tentava recuperar o fôlego. - O senhor já pensou a se juntar a nós quatro? Daria um ótimo maroto!
-- É mesmo! - concordou Tiago, também se esforçando para recuperar o fôlego. - Seria muito divertido.
Remo enxugava os olhos e Pedro encarava o bruxo alto e magro à sua frente com adoração. Dumbledore riu com vontade, apesar de sua discrição.
-- Oh, sim, eu não tenho dúvidas quanto a isso... Srta. Evans? Ainda não foi almoçar?
Todos se viraram para a monitora, que tinha a boca aberta em espanto. Ela enrubesceu e gaguejou.
-- Bem... eu... achei que... na verdade eu estava esperando pelo Remo.
-- Sim, claro - o diretor limpou a garganta e recompôs-se, apesar de ainda manter um sorrisinho do canto da boca. - Agora vão almoçar. E, como eu ia dizendo, juízo rapazes!
Ele deu uma piscadela discreta antes de virar-se e a passagem fechar atrás de si.
-- A curiosidade matou o gato, sabia, Evans? - Lily pulou ao ouvir Sirius dizer isso muito próximo a seu ouvido.
-- Ora essa Black, e quem disse que eu estou curiosa? Eu só fiquei porque... porque... não interessa o porque. Com licença.
Ela passou por eles fazendo seus cabelos esvoaçarem.
-- Você não disse que estava esperando pelo Remo, Evans? - cutucou Sirius, porém a garota não deu atenção. - Humpt! Quem ela pensa que engana?
-- Ei, Lily, você não pretende judiar da gente, não é mesmo?
Lily estacou e virou-se para encarar o autor da questão.
-- Não crie falsas esperanças, Potter. Mal posso esperar para castigá-los. E não me chame de Lily - rosnou a garota, afastando-se rapidamente.
-- Aluado, você não vai deixar ela ser cruel com a gente, não é mesmo? - Pedro voltou-se para o monitor.
Remo encolheu os ombros.
-- Eu não garanto nada. Vocês deviam ter pensado nisso antes de aprontarem, não é mesmo? Mas, de qualquer forma, vou ver o que posso fazer.
Eles seguiram a grifinória rumo o andar de baixo, procurando por lugares na mesa da Grifinória para o almoço. Remo esticou o pescoço até avistar uma cadeira vaga ao lado de Lily.
-- Eu vou me sentar com a Lily.
Tiago sentou-se rapidamente num dos lugares vagos, a fim de que ninguém reparasse em sua careta.
-- Esse lugar está vago?
-- Sim - o tom de Lily era um pouco formal demais.
Remo sentou-se e começou a servir-se de pudim de carne e pastelão de queijo. Ele andava evitando ficar mais que o necessário perto da monitora desde a aula de dança, porém não poderia evitá-la para sempre. Assim que terminou de servir-se, ele disse casualmente.
-- O Prof. Dumbledore não nos repreendeu mais depois que você saiu. Pelo contrário, nós, digamos, trocamos lembrancinhas de Natal.
-- Você diz como se eu realmente fosse uma bisbilhoteira, não? - seu tom de voz permanecia gelado.
-- De maneira alguma, Lily - respondeu o garoto com toda a paciência do mundo. - Só achei natural que você ficasse curiosa.
-- E será que isso foi tão engraçado assim?
-- Bem, na verdade Tiago e Sirius deram uma meia de lã para o Prof. Dumbledore, e o nosso presente foi a tal piada dos vampiros - Lily bufou e ainda se recusava a encarar o monitor. - A piada foi muito boa, se quer saber. Se você quiser, eu posso te contar, mas seria melhor se o Sirius contasse.
Remo começou a rir só de lembrar e isso pareceu quebrar um pouco do gelo da garota.
-- Não precisa nem pedir pra ele contar. Ele não vai perder a oportunidade de contar para a Grifinória inteira hoje à noite - ela tentou parecer entediada, entretanto seu tom de voz denunciou uma certa expectativa.
-- Lily... hum... você já tem alguma idéia sobre qual detenção nós vamos dar aos marotos?
-- Humpt! Como se você não fosse um deles, não é mesmo? Mas não, eu ainda não pensei em nada. Alguma sugestão?
-- Na verdade eu tenho. Eles detestam fazer linhas, então nós poderíamos pensar em qualquer coisa bem interessante para eles escreverem até gravarem permanentemente em seus cérebros. Mas eu ainda sugiro que nós deixemos para aplicá-la depois das férias. Não sei quanto a você, mas eu não estou nem um pouco disposto a vigiar suas detenções, sabe como é, clima de férias...
Lily pensou por alguns instantes, encarou-no desconfiada, mas acabou concordando.
-- Certo, eu também não estou a fim. Além disso, os professores estão nos atulhando de deveres para as férias e eu gostaria de adiantar alguns hoje e amanhã.
-- Ótimo - Remo percebeu que Sirius estava gesticulando para chamar sua atenção e assim que conseguiu, fez um sinal com a cabeça, claramente querendo saber se ele tinha conseguido.
Remo sorriu de lado e acenou discretamente, tomando cuidado para Lily não reparar. Os outros comemoraram na outra ponta da mesa.
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N.A. Eu amo a marotagem! E esse Dumbledore é uma figura! Eu bem que queria saber inventar alguma piada sobre vampiros, mas me desculpem, sou uma negação para piadas... sério! Meu pobre e adorável Remo vai passar o Natal com Sirius e Tiago! Vocês já imaginaram como vai ser esse Natal? uhuahuahuahua eu já. Eles são uns amores, sempre tão atenciosos com o Aluado! Vocês não acreditam realmente que Dumbledore não captou que eles fazem visitinhas clandestinas a Hogsmeade, né? Eu ainda me pergunto como é que ele nunca descobriu sobre a animagia...
Tete Chan a primeira a comentar o capítulo! rsrsrsrs ai, que bom que vc gostou! Pois é, eu não acredito que não tenha existido nem uma confusãozinha de sentimentos... pelo menos por parte do Remo! A minha Lily é meio lerdinha... vc vai ver. Bem, aí está a razão para o Dumbie ter chamado eles! Beijo pra vc!
james loverr ok, ok, você tem todo o direito de odiar! Só gostaria que só porque o Remo descobriu-se apaixonado pela Lily, não indica que ele queria levar algum romance a diante. Eu te adianto que ele não vai, em consideração pelo amigo que está caidinho por ela. Mas se o Remo pudesse escolher, certamente não teria se apaixonado por ela, só acho que sentimentos são meio... difíceis de se impedir ou moldar de acordo com nossas vontades.
Black Angel pois é, o Remo fala da Lily com tanto carinho, não é mesmo? Ele é muito, muito fofíssimo! Peraí, eu entendi direito? Você é fã de Sirius/Remus? Pois é, eles são muito fofos... hum, quem sabe vc não poderia dar uma passadinha na minha outra fic: Green Eyes? O shipper principal é Harry/Draco, mas tem os dois também, sabe... uhuahuahua tem o seu totó maravilhoso! Valeu pelos elogios! Beijo!
Mione Lupin oie! Alguém captou minha dica! Yupiii! hehehe que bom que você gostou da aula de dança e da música . Obrigada por apostar em mim em Green Eyes também ;D beijão!
Nessa Reinehr eu te avisei que era polêmico! Eu acho que já esclareci essa questão sobre ofender a memória dos livros. Na verdade, eu tento me aproximar o máximo possível do que teria acontecido, seguindo as regras da Jô. Mas ela mesma deu a dica quando disse em uma entrevista que a Lily era bastante popular... e também disse que ela e Remo eram muito próximos, não? Bem, eu só posso garantir que não vou fugir do casal Lily/James, só achei que correu muita água debaixo da ponte antes do sétimo ano... ok, me empolguei! Valeu pelos elogios e SIM! Eu amo o Lupin! Beijão! Estou ansiosa pela sua fic XD
Aline ramo? Quem é ramo? uhuahuahua espera aí, Line... Line, onde você vai..? LINE! Volte aquii! O.o Compensar o Remo? Sem comentários...
Isis Black oi, seja bem vinda! Que bom que você está gostando! Sim, a Bela e a Fera é um clássico maravilhoso, eu concordo. E a música é emocionante! Valeu, continue acompanhando!
Letícia bem vinda você também! Caramba! Estava ansiosa meeeeeesmo, heim? Eu costumo atualizar de sábados, ok? Ah e... wow! Nem fala uma coisa dessas, a JK não pode morrer antes de completar o 7º livro! XD valeu pelos elogios e pela comparação com a tia Jô, fiquei lisonjeada! Beijinhos e continue acompanhando!
LeNaHhH ninguém é de ferro! Até o Remus tem direito de se apaixonar! Mas ele se conteve, pobrezinho... não agarrou a Lily por causa do James e por ser um lobisomem... beijus!
Patricia Lupin ok, me desculpe, eu sei que ficou confuso. A questão é que... não tem shipper! Eu classifiquei ela como Lily/Tiago porque nós sabemos que isso vai acontecer algum dia, mas não no 5º ano! Não é Lily/Remo porque a Lily não está interessada... pois é... acho que isso vai ficar bem claro no baile, você vai ver! Ah, e valeu pelo elogio!
aRTHuR BlaCK quanto tempo! Achei que tinha se esquecido de mim! Que bom que ainda está acompanhando e gostando da fic! Beijão!
Gente, fiquei muito feliz com os reviews de vocês, estava morrendo de medo de vocês me esculacharem por causa da paixonite do Remus... 11 reviews (O.O)! E só um deles me esculachando! Valeu mesmo! Se vocês forem MUITO bonzinhos comigo nas reviews desse capítulo, eu posso postar dois capítulos de uma vez, porque o baile está dividido em dois capítulos, então... mas só se vocês lotarem minha caixa de e-mail, ok? rsrsrs ok, não vamos exagerar... Até sábado!
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No próximo capítulo...
-- Vou, claro, mas é que... nós... acho que devíamos esperar o Aluado, sabe... - ele inconscientemente passou uma mão por seus cabelos, desde a nuca até a testa, fazendo-os ficar ainda mais revoltos que o normal.
Sirius revirou os olhos enquanto Pedro e Remo sorriam.
-- Ah, claro, tinha me esquecido que Aluado vai com a Senhora-Monitora-dos-Olhos-Verdes. Você vai ter tempo de babar nela durante o baile inteiro, Pontas, anda, deixa de frescura...
Porém eles ouviram uma voz conhecida soar logo às suas costas. Alice tinha acabado de descer - tropeçando nos últimos degraus - e dava um beijo apaixonado em um Frank abobalhado. Assim que o casal dirigiu-se para o buraco do retrato, uma figura deslumbrante apareceu no alto com um sorriso cheio de covinhas de quem tinha acabado de fazer uma travessura. O queixo dos quatro garotos caiu assim que a avistaram, assim como o de outros muitos rapazes que observavam na sala comunal.
