CAPÍTULO VINTE E TRÊS

Vamos passear na floresta?

---------------------

Os quatro marotos eram os únicos alunos da Grifinória no castelo durante aquele resto de tarde. Havia também alguns poucos alunos das outras casas que tinham passado as férias diminutas na escola, porém estavam fora de vista. Tudo parecia muito quieto e triste. Os demais estudantes só chegariam para o jantar.

O diretor livrou-os do trabalho de levar seus malões para a torre, encarregando alguns elfos disso, portanto seus pertences já estavam no dormitório quando chegaram. Eles aproveitaram a sala comunal vazia para jogar, conversar e rir à vontade. O tempo voou e logo eles já estavam no Saguão de Entrada observando Remo ser levado até o Salgueiro Lutador pela Madame Pomfrey, tendo um belíssimo pôr-do-sol como pano de fundo recortado pelas árvores da Floresta Proibida.

A melancolia do anoitecer e a quietude do castelo atingiram-lhes finalmente e eles sentaram-se nos degraus de pedra da entrada do Saguão.

-- Pontas? - chamou Sirius fazendo malabarismo com três pedrinhas redondas.

-- Hum - Tiago resmungou sem abrir os olhos, com a cabeça apoiada molemente na parede.

-- Eu estive pensando, e se nós tirássemos o Aluado da Casa dos Gritos?

Isso bastou para fazer Tiago arregalar os olhos para o amigo, totalmente desperto. Pedro engasgou-se com o que quer que tivesse na boca.

-- Como assim? - perguntou Tiago ignorando o acesso de tosse de Pedro.

Sirius parou de brincar com as pedrinhas para encarar o amigo com uma seriedade que definitivamente não combinava com ele.

-- Nós já provamos que podemos controlá-lo, certo?

-- Bem, eu acho que sim, mas...

-- E você deve concordar comigo que aquela casa é muito pequena para nós quatro?

-- Sim, mas...

-- Então nós bem que poderíamos fazer um teste e trazê-lo para fora. Não em Hogsmeade, claro. Isso sim seria arriscado por ser um povoado. Mas nós teríamos todo o terreno da escola só para nós. Poderíamos explorar a Floresta inteira sem estarmos em perigo, por sermos animais comuns. Além do fato de sermos acompanhados por um lobisomem, acho que isso deve ser vantagem, não? Não haveria riscos para ele também, já que não são permitidos alunos na Floresta, muito menos de madrugada. Todos estariam seguros no castelo. Então o que você me diz?

-- Você vai me deixar falar? - perguntou o outro com um tantinho de irritação na voz.

-- Tudo bem, me desculpe - Sirius rolou os olhos. - Pode falar.

-- Bem, sem dúvida seria excitante, mas eu realmente não acho que Remo concordaria.

Sirius enterrou o rosto nas mãos em um gesto de incredulidade, correndo os dedos pelos cabelos até a nuca. E então continuou com seu sarcasmo habitual:

-- Eu tenho certeza que ele não concordaria, por isso não sugeri isso na frente dele. Ouça, Pontas, nós poderíamos fazer esse teste essa noite, sem a permissão de Remo mesmo. Desse modo nós provaríamos a ele que não há perigo e que também pode ser muito mais divertido. Pense em toda a liberdade que podemos ter, as aventuras, as criaturas mágicas da floresta. Você consegue imaginar a felicidade do Aluado em sentir o vento batendo em seus pelos? De ver a Lua? Nós sabemos como ele fica triste por não poder vê-la através das frestas das taboas nas janelas, não?

Ele parou para respirar depois de despejar tudo isso de uma só vez, como uma avalanche de palavras. Aproveitou para fitar o amigo com carinha de cachorro.

-- Heim? - insistiu utilizando-se de todo o seu poder persuasivo.

Um sorriso espalhou-se lentamente pelo rosto de Tiago e um brilho conhecido perpassou seus olhos por trás das lentes redondas.

-- É... eu acho que não faria mal tentar...

-- Yeah! Sabia que você concordaria comigo - comemorou o maroto mais alto, levantando-se.

-- Mas o Aluado vai ficar danado da vida com a gente... - argumentou Tiago.

-- Ah, deixa que eu cuido dele depois. Ele vai acabar cedendo, como sempre.

-- E você, Rabicho, o que acha?

Pedro deu um pulo e um guincho assustado à menção de seu nome. Seus olhinhos lacrimosos se arregalaram.

-- E-eu... eu...

-- Ótimo então - cortou Sirius voltando com o tom sarcástico de sempre. - Estamos combinados. Essa noite nós vamos fazer um passeio diferente.

Ele esfregou as mãos com entusiasmo. Porém nesse momento as primeiras carruagens começaram a chegar e eles resolveram apressarem-se para tomarem seus lugares no Salão Principal.

Sirius sentou-se de frente para Tiago e Pedro a seu lado. Eles não fizeram cerimônia para atacar o jantar até que...

-- Ei, Pontas. Disfarça e dá uma espiada - Sirius sorriu com safadeza enquanto Tiago e Pedro seguiram seu olhar dissimuladamente. - Que tal cutucá-la um pouquinho? Você é ótimo nisso, heim?

A resposta de Tiago foi um sorriso maroto enquanto bagunçava os cabelos distraidamente.

-----------------

-- Estou faminta - dizia Marlene enquanto ela e Lily se sentavam à mesa da Grifinória sem nem mesmo reparar nos garotos que cochichavam nos lugares mais próximos. Alice tinha ficado mais para a ponta da mesa com Frank e o pessoal do sétimo ano. - Começo a achar que minha mãe tinha razão quando dizia que doces não sustentam ninguém de pé.

-- Não sei o que seria de mim sem doces - respondeu Lily começando a servir-se. - Chocolate principalmente. Todos querem me ver gordinha e espinhenta.

Ela lançou um olhar acusador para Marlene.

-- O quê? Vai me dizer que você não gostou? - defendeu-se ela.

-- Não, eu não gostei. Eu amei, esse é o problema. Aqueles bombons sumiram mais rápido do que com o feitiço evanesc...

Porém a ruiva estacou ao ouvir uma gargalhada conhecida muito próxima. Próxima demais...

-- Oh, não! - ela gemeu enterrando a cabeça entre as mãos com os cotovelos ao lado de seu prato. - O que eu fiz pra merecer isso?

A expressão de confusão de Marlene logo mudou em compreensão quando o garoto de cabelos espetados e óculos que estava ao lado da amiga virou-se para elas:

-- Oh! Lily! Você por aqui?

-- Não, não tem ninguém com esse nome aqui, Potter - respondeu ela sarcasticamente ainda sem levantar o rosto.

-- Jura? - perguntou o garoto com uma sobrancelha arqueada em diversão. - Ah, mas eu reconheceria esses cabelos e essa doçura em qualquer lugar. Até o jeito que você grita "Potter" é bastante peculiar. Quem sabe você não passa a me chamar de Tiago agora?

-- Cala essa boca, POTTER - ela rosnou finalmente encarando-o.

-- Ora, eu senti tanta saudade de você nessas férias e é assim que você me recebe? - ele fez uma imitação barata da carinha de cachorro abandonado de Sirius, que tinha um sorriso de lado charmoso nos lábios enquanto observava em silêncio. - Você não acha que eu mereço um abraço de boas-vindas?

Lily olhou-o de cima a baixo com o lábio superior crispado em desdém.

-- Tem razão, eu não te trato do jeito que você merece. Eu devia te ignorar completamente, em vez de dar ouvidos às suas asneiras.

-- Tudo bem, Lily, eu vou te perdoar pelas palavras rudes dessa vez. Reconheço que uma viagem de trem longa como essa estraga o humor de qualquer um.

Lily rosnou para Tiago em resposta enquanto Sirius e Pedro se divertiam assistindo.

-- Faz de novo? - Tiago pediu com cara de bobo.

-- O quê? - Lily perguntou, olhando-o como se ele fosse a pior espécie de louco existente.

-- Essa carinha de brava. Se você soubesse como fica linda irritadinha desse jeito, Lily...

-- PARE DE ME CHAMAR DE LILY, POTTER! - berrou ela ameaçando-o com o garfo, vermelha de fúria.

Tiago só estendeu seu sorriso satisfeito.

-- E você consegue se superar a cada vez, Lily. Está maravilhosa agora. A cor da sua pele está quase na tonalidade de seu cabelo...

-- AAAARGH! - ela ia se levantar sem ter tocado em seu prato, porém Marlene a segurou no lugar e sussurrou em seu ouvido.

-- Calma, Lily! Olha o vexame! - isso fez com que a monitora voltasse à razão e se largasse no assento novamente, frustrada. - Respire, isso. Não deixa ele acabar com o seu apetite, porque eu não vou perder o meu. E saiba que se você sair da mesa agora, eu não vou te acompanhar, ouviu bem?

-- Que amiga eu tenho, meu Deus! - ela exclamou para o teto encantado e então começou a empurrar algumas garfadas goela abaixo.

Depois de alguns breves minutos de trégua, Lily voltou-se para Sirius como se nada tivesse acontecido:

-- Eu não vi vocês no trem. Onde vocês estavam?

-- Hum, sentiu minha falta, heim Lily? - intrometeu-se Tiago.

-- Cale a boca, Potter - ela disse quase cordialmente... - Isso é algo difícil de não ser notado. Afinal a viagem correu na mais perfeita paz, sendo que "paz" e "marotos" certamente não combinam.

-- Nós temos nossos meios de ficar invisíveis, Evans - respondeu Sirius com arrogância.

Lily abriu a boca para perguntar quais meios eram esses, entretanto Tiago não deu essa chance:

-- Mas nós não te diríamos como, não é mesmo? A menos, é claro, que você saia comigo... - acrescentou como se se dispusesse a fazer um favor a ela.

O garfo de Lily escorregou pelo prato fazendo Marlene tapar os ouvidos com uma careta. Lily colocou uma mecha do cabelo para trás das orelhas e resolveu ignorar o comentário.

-- E, pelo que vejo, Remo continua invisível. Ou será que mais alguém da família dele adoeceu? - ela encarou os olhos claros de Sirius, já que era sempre ele quem respondia essa questão, o que era muito suspeito.

Tiago empurrou os óculos com a ponta do dedo e voltou a comer enquanto Sirius devolvia o olhar na maior cara-de-pau.

-- Não, ninguém adoeceu dessa vez. Na verdade, os Lupin foram viajar no Natal e vão demorar um pouco mais que o planejado - ele deu de ombros. - Devem estar aproveitando bastante o passeio.

-- Passeio? Em vésperas de N.O.M.s? - ela desconfiou, obviamente.

-- Sim, e daí? Só porque você está arrancando os cabelos por causa desses exames, não significa que todos estejam.

Os olhos da garota se estreitaram perigosamente.

-- Escuta aqui, Black, pensa que eu não sei que você está mentindo? Esses sumiços do Remo estão muito mal contados e tenho a impressão que vocês sabem o verdadeiro motivo.

-- Se você está tão desconfiada assim, por que não arranca a verdade do próprio Remo? - ele desafiou. - Ou será que ele não confia em você o suficiente para te contar a verdade? Isso SE nós estivermos mentindo, como você mesma disse.

Lily abriu e fechou a boca várias vezes, sem ter o que retrucar. E não ter respostas deixava Lílian Evans possessa. Ela recompôs-se rapidamente e levantou-se com toda dignidade que conseguiu reunir.

-- Pra mim já chega. Perdi o apetite, Marlene. Vou dormir, que eu ganho mais.

Marlene encolheu os ombros e continuou a comer enquanto a amiga se afastava.

Tiago devolveu o sorriso maroto de Sirius, porém o seu sorriso não era verdadeiro. Sentira um prazer vingativo em provocar a ruiva, mas agora já não se sentia tão bem.

----------------------

Já passava da meia-noite e Lily era a única pessoa na sala comunal da Grifinória. Cansada de cabecear nos livros, ela finalmente desistiu de desafiar o próprio sono. Juntou suas coisas aos bocejos e subiu a escada para o dormitório cambaleando ligeiramente. Assim que se ouviu o clique suave da porta se fechando atrás dela, três figuras mal iluminadas pelas parcas chamas da lareira surgiram no alto da escada oposta, andando furtivamente e falando aos cochichos.

-- Ufa! Pensei que ela ia varar a noite estudando! - murmurou Pedro.

-- Essa garota é obcecada por estudos! Que louca! - sussurrou Sirius, que segurava um pergaminho velho em uma das mãos. - Onde já se viu uma pessoa em sã consciência estudando num domingo de madrugada sendo que as aulas só começam amanhã! Ela não disse que ia dormir?

Enquanto isso, Tiago tirou um tecido leve e prateado do bolso, desdobrando-o.

-- Deixem de conversa fiada e vamos logo. Aluado já deve estar ansioso - todos se enfiaram debaixo da capa e juntaram as cabeças sobre o pergaminho que Sirius segurava. - Essa não, Pirraça está no meio do caminho.

-- Vamos pegar o atalho do fim do corredor - sugeriu Sirius enquanto apontava o caminho livre através do Mapa do Maroto.

-- Sim, vamos.

E eles puseram-se a caminho silenciosamente, tendo que se desviar uma única vez de Madame Nor-r-ra. Estavam bastante ansiosos com a perspectiva da aventura e fizeram o caminho todo em tempo record.

----------------------

SHECK SHECK SHECK

Um barulho insistente de garras arranhando a porta vinha do andar superior da Casa dos Gritos. Aluado estava inquieto, farejando e resmungando baixo. Seus companheiros estavam demorando mais que o normal. Ele estava com um sentimento estranho de apreensão, de medo de ser abandonado novamente. Tinha sido mimado por eles e agora já não suportava a solidão. Por isso arranhava a porta.

Como é que ela funcionava? Almofadinhas não tinha problemas para abri-la, não devia ser tão difícil. Voltou-se para a janela obstruída que lançava finas faixas de luar no chão e espiou para fora sem poder conter um uivo triste.

Voltou para a porta novamente. Farejou toda a extensão da madeira até deparar-se com o frio metal da fechadura em seu focinho. Aquela saliência circular tinha cheiro e temperatura diferentes do resto. Não parecia fazer parte do objeto. Tentou morder, mas era muito duro; tentou arranhar, mas nada acontecia. Enfureceu-se. Deu um rosnado medonho arreganhando os dentes pontudos para a fechadura e investiu com a pata de uma só vez.

CLICK

Uma frestinha de luz revelou-se dando passagem à brisa gélida que sempre o assaltava no andar de baixo. Meteu o focinho na fresta fazendo com que ela aumentasse até dar passagem a seu corpo esguio.

Aquele ambiente ele também conhecia. Desceu as escadas com uma crescente expectativa, entretanto estava vazio. Onde estariam? Soltou um ganido sofrido e girou ao redor. Seus ouvidos registraram um som fraco, porém constante. Seus olhos escuros foram atraídos para o alçapão. Aproximou-se cauteloso tomado pela curiosidade. Não sabia o que havia além dele e seu pêlo eriçou-se levemente. Os sons tornavam-se cada vez mais perceptíveis, mais pesados.

-- AU!

Um latido. Um chamado. Sem hesitar dessa vez, ele avançou para o alçapão e latiu para a escuridão. E teve resposta. Era Almofadinhas. E pelo som de galope, não estava sozinho. Lançou-se para baixo e no momento em que aterrizou no chão empoeirado sentiu o choque de outro corpo maciço, apesar de macio.

Seus amigos.

Festejou com eles, por eles. Não fora abandonado, afinal. "Que pensamento mais estúpido. Não seria abandonado jamais!" Sua visão ajustou-se à escuridão e ele pôde ver a silhueta de seus amigos se afastando no sentido contrário a seu esconderijo. Iriam deixá-lo? Pararam. Almofadinhas virou a cabeça para encará-lo, latiu e abanou o rabo convidativamente. Não, não iriam deixá-lo. Iriam levá-lo com ele.

Foi uma longa caminhada. O ar estava seco, empoeirado, fazia-o espirrar. Eles seguiam em direção a uma brisa cada vez mais gélida e úmida, além do fato de que a escuridão ia se tornando menos densa. Estava excitado, assim como os outros. Rabicho corria à frente e de volta, num incansável vai-vem. Almofadinhas estava inquieto, resfolegando e abanando o rabo pelo corredor estreito. Às vezes latia, parecendo dizer "Estamos quase lá!" ou " Você vai adorar!". Só Pontas parecia mais controlado - como sempre - porém a agitação de suas orelha denunciava sua excitação.

Finalmente alcançaram o fim do túnel, uma abertura mais acima inundada de luz prateada. Rabicho logo sumiu por ela com ar eficiente. Pontas foi o segundo a sair, saltando com leveza para fora manobrando sua galhada com cuidado.

Almofadinhas chamou-o. Ele seria o próximo, mas estava apreensivo novamente. Aquela luz prateada o atraía, porém tinha medo. Os sons eram confusos, os cheiros fortes, o vento cortante. Sentiu então uma pata confortadora em seu lado enquanto olhava para cima com curiosidade crescente. "Não tenha medo. Nós estamos com você". E o medo dissipou-se com o vento. Saltou para fora.

Um mundo novo. Branco em sua grande maioria, com alguns poucos pontos verdes e marrons que a neve não cobria das árvores. Farfalhante, úmido, agradável. Mas não teve tempo de admirar, pois Almofadinhas empurrou-o, Pontas guiou-o e Rabicho logo os acompanhou com ar de importância. Teve um vislumbre de algo grande e iluminado, com um aroma quase familiar antes de se embrenhar na floresta. Aqueles desenhos prateados lançados no chão dançavam graciosamente. Olhou para o alto tentando encontrar a fonte da luz, mas recebeu respingos de neve no focinho. Ao redor, só árvores e mais árvores. O ar gelado não era incômodo, era gostoso, brincava com seus pêlos e principalmente com os de Almofadinhas.

Estavam lado a lado quando atingiram uma clareira banhada de luar. Assim que pisaram no gramado coberto de neve, voltaram-se para o alto. Ah, aquele globo de luz prateado! Quanta saudade! Tão belo!

-- AUUUUUUUU - era mais forte do que ele.

Sentou-se no chão, sempre acompanhado dos amigos, e pôs-se a uivar novamente, mas dessa vez Almofadinhas fez coro a ele em solidariedade. Uma felicidade sem precedentes tomou conta de todo o seu ser. Em um momento ele estava sozinho em sua prisão e no outro tinha tanta liberdade que chegava a ser assustador. E tinha a companhia de seus amigos, sendo assistido pela Lua - a encantadora Lua.

Descobriu com seus amigos que rolar na neve fofa era delicioso; correr por entre as árvores; saltar os obstáculos; perseguir os amigos, era tudo tão desafiador. O vento dava sensação de liberdade. As árvores eram muito convidativas para satisfazer suas necessidades - Almofadinhas foi quem deu a dica.

Achou-se a criatura mais feliz do mundo. E a mais exausta também. Por isso nem resistiu quando foi guiado de volta. Tentou algumas vezes desistir da caminhada e adormecer na metade do túnel, porém era sempre empurrado, sem descanso.

Desabou assim que atingiu o assoalho empoeirado de seu esconderijo e não havia o que lhe instigaria a subir aquelas escadas. Realmente não houve, já que foi rodeado por corpos quentes e aconchegantes no chão. Adormeceu instantaneamente.

-------------------

Remo estava só meio consciente que estava sendo vestido às pressas e meio que carregado para fora. Seu corpo parecia dormente de exaustão e sua mente entorpecida por algum sentimento que ele não conseguia identificar. Não com todo esse sono. Ouvia um zumbido que podia significar uma conversa entre seus amigos, mas parecia vir de muito longe.

-- Quase perdemos a hora! Acham que ele está bem? - perguntou Tiago preocupado.

-- Parece um zumbi - disse Pedro, com os olhinhos arregalados.

-- Ele só está sonolento - resmungou Sirius, rouco demais para poder parecer desdenhoso. - Já aconteceu antes. Ele está bem, só está cansado.

-- Então não é só ele - Tiago bocejou. - Você me carregaria até o castelo, Almofadinhas?

-- Sai pra lá, folgado. Pensa que qualquer preguiçoso pode se aproveitar de meus músculos, é?

Eles sorriram cansadamente. Quase jogaram Remo para o lado de fora do Salgueiro, fazendo um ramo estalar perigosamente próximo ao rosto de maroto antes de Tiago esticar o braço para fora e apertar o nó.

Eles mesmos não se lembravam de como chegaram ao castelo, nem nas salas de aula ou o que quer que os professores tivessem dito durante as aulas. Devoraram o almoço como se não comessem havia dias e rumaram para a Ala Hospitalar.

Assim que passaram pelas grandes portas da entrada, alguma coisa veio voando em direção a eles. Sirius abaixou-se a tempo, porém Tiago - que estava logo atrás - foi atingido em cheio na testa.

-- AI! Mas o que...?

-- O-ow - lamentou-se Pedro.

Tiago pegou o objeto atirado. Era um livro de Remo. O amigo estava no último leito da enfermaria, como sempre, espiando por detrás das cortinas com uma cara de poucos amigos. Ele era o único paciente de Madame Pomfrey, que também não estava à vista. Provavelmente trancada em seu escritório para não se aborrecer com as visitas. Eles aproximaram-se hesitantes.

-- E aí, Aluado? Beleza? - cumprimentou Sirius dissimulando.

-- Beleza? BELEZA? Vocês piraram, foi? Ficaram malucos? Perderam o pouco juízo que tinham, seus cabeças de m...

-- Epa! - cortou Tiago enquanto eles se aproximavam lentamente. - Não apele, Aluado. Depois você se arrepende...

-- Eu ia dizer de MELÃO, Tiago Potter! - eles arregalaram os olhos diante da explosão de fúria do amigo, finalmente entendendo que o negócio era sério. - E quem tem que se arrepender de alguma coisa aqui são vocês.

-- Ah, qual é, Aluado? - Sirius tentou parecer despreocupado.

-- Quieto, Sirius Black! Dessa vez vocês vão me escutar. Eu confiei em vocês, seus irresponsáveis, e vocês me passaram a perna. Como vocês ousam trair a minha confiança desse modo?

-- Calma, Aluado, não é bem assim... - Sirius tentou defendê-los.

-- Claro que é! Por acaso vocês me consultaram antes de fazer uma besteira dessas? Eu... eu ainda não consigo acreditar que vocês... que vocês me tiraram... que vocês fizeram isso comigo! - ele falou entre dentes desesperadamente.

-- Mas você gostou tanto! - argumentou Tiago com uma nota de desespero também, num fio de voz.

-- EU não gostei. O Aluado pode ter gostado, mas eu estava fora de mim!

-- Mas você é o Aluado, não é? - disse Pedro, ao que recebeu olhares zangados de Sirius e Tiago e encolheu-se.

-- Oh, sim. Eu sou a fera medonha e inconseqüente com instintos assassinos, obrigado por me lembrar disso, Pedro Pettigrew - ele disse com um sarcasmo que não combinava com ele e de repente pareceu esgotado, seus olhos brilharam. - Poderia ter sido desastroso...

Então eles perceberam que Remo tremia quando levou as mãos ao cabelo e encostou-se nos travesseiros arrumados às suas costas. Os três estavam ao lado do leito e entreolharam-se. Parecia que o monitor já tinha colocado tudo para fora e agora era o momento de agirem. Com muito cuidado.

-- Deu tudo certo, Aluado - confortou Tiago aproximando-se mais, no que foi seguido por Sirius. Pedro ainda estava em dúvida se era seguro.

Remo deu um sorriso amargo e fechou os olhos.

-- Graças aos céus deu tudo certo. Eu não quero nem imaginar o que poderia acontecer.

Seguiu-se um silêncio desconfortável. Madame Pomfrey deveria estar bastante ocupada em seu escritório, ou tirando um cochilo depois do almoço. Melhor assim. Sirius resolveu quebrar o silêncio:

-- Aluado...

-- Não, Almofadinhas.

-- Mas... eu ainda não disse nada!

-- Estou tentando poupar seus esforços. Não vai me convencer dessa vez. E nem adianta fazer essa carinha - acrescentou o maroto quando Sirius baixou os olhos levemente fazendo seu coração apertar.

Porém não cederia dessa vez.

-- Então me responda uma coisa com sinceridade - Sirius decidiu-se por outro meio, usando um tom de voz mais seco já que seus poderes de persuasão tinham falhado vergonhosamente. - Esqueça os outros, os perigos, suas responsabilidades de monitor, esqueça tudo isso por um momento e me diga como você se sentiu essa manhã quando acordou? Qual foi o primeiro sentimento que te assaltou antes de você estragar tudo com remorso e autopunição?

Remo baixou os olhos, ocultando-os com uma cortina de cabelos castanhos. Sirius soltou uma risadinha debochada pelo nariz.

-- Está vendo? Pare de se colocar obstáculos. Que se danem os outros, nós cuidamos de você, não foi? Nós sempre vamos cuidar. Pense um pouco em si mesmo!

-- É o que você faz o tempo todo, não? - Remo retrucou com certa ferocidade. - Pensar em si mesmo. Pensa que eu não sei que você fez tudo isso pensando na sua própria diversão? Em como seria divertido pra você quebrar regras e ainda brincar de animagia?

O rosto de Sirius empalideceu e ele deu um passo para trás antes de vestir sua máscara de sarcasmo novamente.

-- É tão mais fácil lidar com o Aluado, Remo. Ele sim sabe aproveitar a vida e dar valor ao esforço de seus amigos.

Com essas palavras que pingavam veneno e mágoa, Sirius girou sobre os calcanhares e dirigiu-se para fora da enfermaria batendo a porta atrás de si.

Remo soltou um gemido - que mais parecia um ganido - de arrependimento deitou-se e se virou para o outro lado a fim de impedir os outros de verem suas lágrimas correndo silenciosamente.

-- Eu sinto muito - ele murmurou. - Não devia ter dito isso. Não sei o que deu em mim.

-- É, você foi cruel - ele ouviu Tiago dizer fracamente às suas costas.

-- Eu acordei me sentindo tão feliz, tão leve e realizado e então pensei que só podia haver algo errado para eu me sentir tão bem. Quando lembrei da Floresta eu... eu entrei em pânico. E então vocês chegaram e... eu perdi o controle. Tive medo por mim e principalmente por vocês...

-- Me desculpe, Aluado, mas Almofadinhas tem razão - começou Tiago, confortador. - Você não precisa jogar todas as preocupações do mundo em suas costas. Eu também fiquei meio apreensivo quando Sirius sugeriu, mas você o conhece. Quando enfia alguma coisa na cabeça... Além disso, a idéia me entusiasmou. E foi tão divertido, Remo. Você sabe que foi. Nós não te dissemos nada porque você não concordaria, então resolvemos provar pra você que não há nada o que temer. Podemos te controlar, você sabe que sim.

Nesse momento, Madame Pomfrey irrompeu de seu escritório com as vestes meio amassadas e o rosto inchado de sono.

-- O que aconteceu? Eu estava... estava trabalhando em uns medicamentos e me assustei com a porta batendo...

-- Deve ter sido o vento - disse Tiago.

-- É - concordou Pedro.

Madame Pomfrey examinou-os com desconfiança e então viu Remo virado para o outro lado em silêncio.

-- E vocês dois, o que fazem aqui? Não vêem que ele está dormindo? Ele precisa descansar durante o dia. Vão! Xô!

Tiago deixou o livro de Remo - que acertara sua testa havia pouco tempo - junto com alguns pergaminhos e sapinhos de chocolate na mesinha ao lado do leito, e ele e Pedro se afastaram. Quando já iam alcançando a porta, foram surpreendidos por um murmúrio rouco de Remo.

-- Hum... diga a Almofadinhas que eu sinto muito e que eu... o Aluado gostou do passeio e quer repetir, se seus amigos ainda estiverem dispostos a levá-lo.

Tiago sorriu radiante e acenou afirmativamente enquanto uma Madame Pomfrey confusa olhava de um para outro.

------------------

Através do Mapa do Maroto, Tiago e Pedro rapidamente localizaram Sirius nas margens do lago e foram direto para lá.

O vento frio castigava seus rostos e deixava seus narizes vermelhos. Sirius estava olhando a superfície do lago congelado com a cara fechada e o olhar perdido. Eles se aproximaram silenciosamente e colocaram-se um de cada lado do amigo.

-- Ele falou sem pensar - disse Tiago depois de algum tempo contemplando o lago também. - Ficou muito mal com isso, você sabe como ele se pune cada fez que perde o controle. Disse que sente muito.

Sirius permaneceu em silêncio, sua expressão inalterada, portanto Tiago continuou:

-- Ele realmente não acredita no que disse. Remo acompanhou todo o nosso esforço para aprender animagia e ele gostou tanto que simplesmente tentou se convencer de que nós não fizemos isso por ele, mas sim por nós mesmos. E falhou vergonhosamente na tentativa - Tiago reparou que a expressão de Sirius tinha-se aliviado levemente, apesar de ele ainda não demonstrar vontade de se manifestar. - Lembra de quando nós descobrimos que ele era um lobisomem no primeiro ano? Ele tinha tanta certeza de que não seria mais aceito que nem reparou como estávamos nos divertindo com a afobação dele. Pensou que nós estávamos fingindo que o aceitávamos pra poder humilhá-lo na frente da escola inteira. Você lembra?

Um sorriso de lado foi a única resposta que obteve.

-- Ele pediu pra te dizer que gostou do passeio e que quer repetir, caso nós ainda nos dispusermos a acompanhá-lo.

-- Eu disse que conseguiria - disse Sirius com sarcasmo e satisfação mesclados na voz.

-- Como? - Tiago não entendeu, encarou-o sem saber que tipo de reação esperar do amigo.

-- Eu disse que conseguiria convencê-lo, não? - ele alargou seu sorriso.

-- Ora, seu convencido-mor. Eu tenho metade dos créditos!

-- Um quarto, sendo muito generoso - desdenhou Sirius.

-- Injustiça! - reclamou Tiago comicamente. - Ingratidão! Calúnia!

-- Calúnia? - Sirius arqueou a sobrancelha e Pedro pareceu confuso.

-- Hum... me empolguei...

------------------------

N.A. Eu amo animagia! Hum... tenho a impressão que já disse isso, mas só pra reforçar... Bem, é a velha história do Sirius e Remo, um tentando convencer o outro de que seu modo de viver é melhor. Parece que Sirius levou a melhor ihihihi. Eu realmente gostei desse capítulo, espero que vocês também gostem!

Tete Chan caracas! Vc já acorda pensando em Definitivamente Marotos? E só toma café depois que lê? Quanta honra! Vc me perguntou sobre alguma ceninha fofa de James e Lily? Hummm acho que a desse capítulo não conta, né? uhuahuahuahua não foi exatamente fofa. Eu acho que está muito cedo pra pensar em romance entre os dois mas garanto que na (abaixa a voz para um cochicho) possível continuação da fic possa acontecer mais esse shipper! XD É sempre bom conhecer mais pessoas, moça ;-D bju.

LeNaHhH ehehe que bom que vc gostou! Espero agradar sempre! Mais um capítulo PERFEITO e meu ego vai competir com o do Sirius XD. Beijo.

Mione Lupin oh eu realmente fiquei com raiva pelo Harry não ter aberto o embrulhinho do espelho! Ele tentou manter Sirius longe de confusão, mas acabou fazendo exatamente o contrário, pobrezinho... gostou do sonho do Tiago, né? Uhuahuahua. Beijinhus pra vc também.

R. Mia eu entendo seu ponto de vista sobre Régulo e Sirius, mas eu realmente não acho que eles se odiassem. No meu modo de ver as coisas, Régulo tem uma certa admiração por Sirius, e por isso tenta aproximá-los. Mas Sirius o ignora, pq acha ele muito submisso, covarde, prefere seus amigos grifinórios. Eu realmente, acredito que eles brigaram muito, principalmente porque Régulo acabou tomando o caminho de comensal. Porém isso ainda não aconteceu e – detalhe – eu disse que Régulo deu um presente a Sirius, mas isso não significa que Sirius tenha dado alguma coisa para o irmão. Espero que tenha ficado claro meu ponto de vista O.O Valeu meeeesmo pelo elogio! Continue acompanhando! Beijos.

Lika Malfoy suuuper irmã. Não dá pra duvidar do tanto q vc se diverte com fic pq vc simplesmente ri do capítulo todo! E eu digo rir mesmo de colocar um monte de HahAHAhHA simplesmente o máximo! Ainda mais seus suspiros abobalhados Oh, sem dúvida, o Remo é fofo! Ele é fofo sim! o.O ainda mais de pijama! E... que mais posso dizer? "POC"

Nessa que bom que eu fiz vc rir bastante! Oh, teve muito Sirius pra vc né? E fazendo arte ainda por cima, aff... aquela peça que ele pregou na Jenkins foi bem típico dele mesmo! Sabe que eu não tinha reparado sobre o quanto eu escrevo do Sirius! Eu já te disse isso, mas acho bem mais fácil escrever sobre o seu fofily do que sobre o meu Remo rsrsrs Espero que vc continue sempre gostando da fic! Beijo.

Continuem deixando seus comentários! É sempre ótimo lê-los! Beijos para todos que não comentam tb, até sábado que vem.

---------------------

No próximo capítulo...

Eles puderam ouvir as palavras da enfermeira assim que pôs os olhos em Remo.

- O que são esses avermelhados, Sr. Lupin? E está machucado, veja só - ela analisou a mão que ele mordera durante a transformação e meneou a cabeça. - Ora, pobrezinho, fazia tanto tempo que não se agredia, não é mesmo? Mas por que está se coçando desse jeito? Esses arranhões... não me diga que... pulgas?