CAPÍTULO VINTE E SETE
Colapso
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O fim de semana de Hogsmeade chegou e se foi sem que nenhum dos marotos deixasse o castelo. Pelo menos não durante o dia. Os três animagos preferiram aproveitar o dia para descansar e fazer companhia para Remo - que estava cada vez mais insuportável, na opinião dos outros, insistindo para que eles estudassem e se esforçassem mais para os N.O.M.s.
-- Nós não precisamos estudar para irmos bem nesses exames - disse Tiago numa das visitas à enfermaria.
-- É isso aí. Eu me garanto - esnobou Sirius.
Pedro encolheu-se.
-- Vocês deviam pensar em Pedro então. Ajudem-no a estudar. Ele tem mais dificuldade, principalmente em Transfiguração - repreendeu Remo.
Sirius soltou uma risada desdenhosa pelo nariz.
-- Pra quê nós perderíamos o nosso precioso tempo tentando enfiar nessa cabeça de vento o que a Profª. McGonagall não conseguiu em cinco anos?
-- Além disso - completou Tiago - nós não forçamos ninguém a deixar de estudar para nos acompanhar nas aventuras noturnas.
Remo suspirou e meneou a cabeça, então voltou-se para Pedro gentilmente:
-- Rabicho, se você quiser que eu te ajude traga suas coisa aqui, eu peço permissão à Madame Pomfrey.
Sirius rolou os olhos nas órbitas.
-- Ótimo, fiquem aí estudando que Pontas e eu vamos dar uma voltinha por aí.
Pedro olhou de um rosto ao outro roendo as unhas.
-- E-eu... sabe como é... não precisa, Aluado... depois eu estudo...
Sirius lançou um sorriso de triunfo para Remo, como se dissesse "Eu não disse?". Remo bufou inconformado.
Lily também não foi a Hogsmeade. Ficou trancada em seu dormitório sozinha para não correr o risco de esbarrar com algum maroto e aproveitando para estudar. Marlene e Alice estavam achando-a insuportável também e recebiam respostas mau-humoradas todas as vezes que tentavam abrir os olhos da amiga. Ela se desesperava sempre que alguém mencionava os N.O.M.s e começava a recitar alguns conceitos que tinha decorado nos livros. Acabaram desistindo de tentar argumentar e deixaram-na sozinha com seus livros.
Remo estava muito preocupado com a crescente fixação da monitora com os estudos. Por vezes o maroto já reparara que ela se esquecia das refeições e acabou arrastando-a mais de uma vez para a cozinha - que ela achou fascinante. Porém de nada adiantava. Lily não conseguia dormir direito, não se alimentava como deveria nem conseguia manter uma conversa agradável por muito tempo sem interromper-se para conferir alguma coisa em suas anotações. Estava ficando cada vez mais irritada e implicava com os marotos por atrapalharem sua concentração nas aulas.
É claro que Remo se preocupava com os estudos, mas o caso de Lily passou a ser classificado como obsessão, principalmente na primeira segunda-feira depois da páscoa. Depois da aula de História da Magia, os grifinórios dirigiram-se para a sala de Defesa contra as Artes das Trevas e encontraram-na fechada. A Profª. McGonagall os aguardava em frente à porta com seu costumeiro ar severo.
-- Sinto informar que o Prof. Trimble não poderá lecionar hoje, senhores. Vocês estão dispensado das próximas duas aulas. Aproveitem o tempo livre para estudar - ela acrescentou olhando significativamente para Pedro, que fez cara de choro.
-- Oooooooh, que pena - lamentou-se Sirius com os olhos brilhando e um sorriso torto no rosto.
-- Eu detesto ficar sem aula - Tiago copiou a expressão do amigo.
Remo limitou-se a franzir o cenho.
-- Mas o que aconteceu, professora? - esganiçou-se Lily. - Por que nós não teremos aula?
A Profª. McGonagall abriu a boca para dar alguma resposta seca, porém pensou melhor assim que percebeu que fora Lily quem perguntara.
-- Sinto muito, Srta. Evans, mas basta vocês saberem que o Prof. Trimble não se encontra no castelo por motivos pessoais. Agora subam para sua sala comunal e aproveitem o tempo livre.
-- Eu não acredito nisso! - indignou-se Lily assim que todos voltaram-se para as escadas rumo ao sétimo andar. - Como o professor nos abandona numa hora dessas? Temos tanto para aprender antes dos exames e ele simplesmente some!
-- Você ouviu o que McGonagall disse, Lily - interveio Marlene. - Ele está ausente por problemas pessoais. Sabe-se lá o que pode ter acontecido. Ele não teria nos deixado sem aula se não fosse algo realmente importante.
Alice abriu a boca para concordar, entretanto trombou com um garotinho e derrubou todos os seus livros. Marlene e Lily a ajudaram, pois o garotinho nem tinha tomado conhecimento do estrago que causara.
-- É verdade, Lily - disse Alice assim que elas voltaram a andar. - Embora você pense o contrário, existem coisas mais importantes que trabalho ou estudos. Família, por exemplo.
-- É claro que eu sei que existem coisas mais importantes. Mas no momento eu só consigo pensar naqueles exames! Preciso ir à biblioteca urgente! Vou pegar alguns livros de Defesa para poder estudar a matéria programada para essa aula. E vocês duas deveriam fazer o mesmo!
-- Ah, não mesmo! - exclamou Marlene. - Já basta você ter feito nós estudarmos o feriado inteiro! Agora eu vou aproveitar para fazer minhas unhas.
-- E eu vou escrever uma cartinha para o Frank - suspirou Alice. - Ele vai adorar receber um bilhetinho no meio da aula de Feitiços.
Lily revirou os olhos e desviou-se para um corredor lateral. Remo acompanhou-a com os olhos, preocupado. Porém não seguiu-a. Seus amigos estavam planejando alguma diversão para o tempo livre e ele estava tentado a participar.
O assunto foi esquecido até a hora do jantar. Remo passou na biblioteca e arrastou Lily até o primeiro andar para que ela se alimentasse. Eles chegaram um pouco atrasados no Salão Principal e a maioria dos alunos já estava terminando sua refeição quanto o Prof. Dumbledore se levantou e fez-se silêncio. Remo e Lily sentaram-se nos primeiros lugares que encontraram, bem na ponta da mesa, para não atrapalharem.
-- Meus caros, eu gostaria de um momentinho da atenção de todos. Detesto ter que dar más notícias, porém é necessário que vocês fiquem sabendo dos fatos reais por meio de uma fonte segura de informação - ele apontou para si mesmo. - Alguns de vocês já devem estar sabendo que o Prof. Trimble não se encontra no castelo. Pois bem, ele não está no castelo nem em parte alguma.
Correu um murmúrio agitado entre os presentes. Lily e Remo se entreolharam em choque e preocupação.
-- O desaparecimento dele será notificado amanhã pelo Profeta Diário, uma vez que já fazem quatro dias que ele está sendo procurado. Infelizmente nos tempos atuais esses desaparecimentos vêm se tornando comuns e finalmente atingiu um dos nossos. Esperamos que tenha havido algum engano, porém tudo indica que tenha sido planejado. Fiquem atentos com suas correspondências, crianças. O professor recebeu um chamado falso de sua família, mas nunca chegou à sua casa. Bem, quanto às aulas de vocês, eu já estou tentando providenciar um substituto, porém até que o desaparecimento seja considerado oficialmente eu receio que não será fácil e isso poderá levar algum tempo. Eu informarei sobre qualquer progresso. Agora, por favor continuem sua refeição.
O diretor voltou a se sentar e Remo voltou-se para frente esperando encontrar o olhar assustado de Lily, no entanto o assento estava vazio.
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Remo estava sentado em uma das mesas de estudo segurando um livro na frente dos olhos, porém já havia mais de dez minutos que ele tentava ler o mesmo parágrafo. Os outros marotos estavam andando pelo castelo, caçando encrenca, e ele estava mais do que preocupado com Lily. Se fosse possível, ele já teria invadido o dormitório feminino e arrastado Lily até a cozinha.
Arriscou mais uma olhada para o topo das escadas e viu Marlene descendo. Levantou-se largando o livro na mesinha e foi até ela.
-- E então? - perguntou.
A garota suspirou antes de responder.
-- Eu consegui fazê-la tomar um banho para relaxar um pouco, sabe. E Alice se encarregou de trazê-la para baixo assim que terminar. Fique sabendo que não nada fácil. Ela insistia que ainda tinha um monte de coisas pra estudar, ainda mais agora que nós vamos ter que nos virar em Defesa sem professor.
-- Isso já está fora de controle, não é mesmo? - Remo também suspirou.
-- Não há dúvidas quanto a isso. Eu e Alice já tentamos de tudo, mas de nada adianta. Ela vai ter que entrar em um colapso para se tocar, e eu garanto que não está muito longe disso.
-- Tudo bem, eu vou esperar por ela. Vou levá-la para a cozinha.
-- Isso seria ótimo. Não tenho certeza se ela almoçou. Acho que foi da biblioteca para as masmorras e de volta para a biblioteca. Agora com licença, eu vou me encontrar com Benji. Até mais e obrigada por se preocupar - ela deu um sorriso simpático ao que Remo corou um pouco.
-- Imagine, não estou fazendo nada mais que a minha obrigação como amigo.
-- Eu sei. A Lily é uma garota de sorte - ela deu uma piscadela e acenou um tchauzinho para o maroto tímido.
Remo ficou alguns minutos de pé no início da escadaria olhando para o buraco do retrato, por onde Marlene saíra. Não sabia o que pensar sobre a atitude da garota, porém acordou de seu transe assim que ouviu uma vozinha conhecida resmungando no alto.
-- Eu posso andar sozinha, Alice, não sou nenhuma inválida. Hunf! Vocês estão me tratando como uma criancinha manhosa.
Alice tinha tentado segurar no braço de Lily já que ela parecia um pouco instável, porém a ruiva repelira qualquer contato. Remo reparou que a ruiva parecia um pouco mais corada que o normal, mas atribuiu isso ao mau-humor.
-- Ora, Lily querida, se você age como uma criancinha manhosa, nós te tratamos como uma - explicou Alice com sua voz calma enquanto acompanhava Lily escada a baixo, dessa vez sem tentar encostar nela.
-- E aí está minha terceira babá - bufou Lily assim que pôs os olhos em Remo.
Remo sorriu gentilmente.
-- Faço minhas as palavras de Flaherty.
Alice fez uma careta.
-- Oh não, me chame de Alice!
-- Tudo bem, Alice. Sábias palavras, as suas. Agora eu vou levar a garotinha aqui para comer.
-- Ok, eu me rendo - cedeu Lily entortando a boca, até porque a fraqueza que sentia nas pernas e a terrível dor de cabeça que sentia estavam começando a convencê-la de que ela estava abusando de sua saúde. Porém não iria admitir isso tão cedo.
-- Ótimo, então eu vou encontrar o meu amorzinh... ooops! - Alice esqueceu-se do último degrau e teve que se segurar no corrimão para não cair. - Oh, está tudo bem, Remo, obrigada. Aqui está o meu amorzinho!
-- Ela não é adorável? - perguntou Frank estalando um beijo na testa da namorada.
Os dois foram para um cantinho reservado da sala comunal enquanto Remo e Lily se dirigiam para o buraco do retrato. Remo gesticulou para que Lily fosse primeiro e ela abaixou-se para passar para o lado de fora, porém, ao fazê-lo, sentiu o mundo girar sob seus pés e teve que se apoiar na parede para não cair.
-- Lily, o que... - Remo fez menção de tocá-la, oferecendo apoio, mas a ruiva esquivou-se. - Está se sentindo bem? Você está pálida!
Lily sabia que estava com febre, por isso não queria ser tocada. Não queria preocupar Remo ainda mais. Assim que recuperou a fala e o equilíbrio, Lily recompôs-se e começou a andar. A cor foi voltando exageradamente à sua face.
-- Estou me sentindo muito bem - desafiou.
-- Pois não é o que parece - Remo alcançou-a.
-- Eu estou ótima, não sei porque vocês ficam me tratando como se eu fosse de porcelana, como se fosse me quebrar em milhões de pedacinhos - impacientou-se.
Remo meneou a cabeça. "Teimosa..." pensou ele.
-- Não sou teimosa! Já estou indo comer, o que mais você quer que eu faça?
Remo percebeu o que acontecera, mas resolveu ter certeza. "Quero que você admita que não está bem." pensou novamente.
Lily suspirou cansadamente e parou para encarar o monitor.
-- Foi só uma vertigem! - Remo arqueou uma sobrancelha e ela revirou os olhos. - Depois eu é que sou a teimosa! Ok, eu admito, não estou me sentindo bem. Não tenho me alimentado direito, estou fraca. Extrapolei nos estudos, já não consigo me concentrar em nada e...
-- E está ouvindo meus pensamentos - interrompeu Remo.
-- ... estou... ouvindo seus pensamentos? Quer dizer... de verdade?
-- Sim. Como da outra vez.
-- Oh, Remo, não sei o que está acontecendo comigo! - esganiçou-se, voltando a caminhar rumo ao primeiro andar. - Já faz algum tempo que eu sinto umas coisas estranhas, mas tem se tornado muito freqüente! Eu sou constantemente assaltada por sentimentos que parecem não pertencer a mim, sabe? De repente eu estou alegre, então estou angustiada, ou irritada, magoada, satisfeita, e por aí vai. Mas ultimamente são todos esses sentimentos de uma só vez. Admito que antes estava tão preocupada com os estudos que não me lembrava de ter fome, mas nos últimos dias não tenho ido ao Salão Principal fazer as refeições porque simplesmente não suporto aquele turbilhão de sensações ao mesmo tempo, como quando foi dada a notícia sobre o Prof. Trimble. Eu sinto essas sensações como se fossem minhas, mas ao mesmo tempo eu sei que não são. É como se eu fosse invadida por elas e isso está me deixando maluca. Não sei se estou sendo clara, é tudo tão confuso, não consigo explicar, não consigo descrever! Você está me ouvindo, Remo?
Remo tinha permanecido calado e cabisbaixo, porém estava atento a cada palavra.
-- Sim e acho que posso entender o que está acontecendo - ponderou.
-- Você acha que estou ficando maluca? Como Potter disse? - ela perguntou agoniada. - Por favor, seja sincero, Remo.
Remo sorriu bondosamente.
-- Não, Lily. Esqueça isso, ok? Você não está ficando maluca. Eu já desconfiava sobre essas suas sensações há algum tempo. Você já captou algumas das minhas emoções.
-- Como assim? - Lily encarou-o confusa e meio desconfiada.
-- Veja bem, Lily, eu acredito que você de alguma maneira consegue perceber emoções ao seu redor e as sente na própria pele. Mas não tinha concluído muito mais do que isso. Agora começo a pensar que... talvez isso esteja ligado ao seu estado emocional. Ultimamente você tem estado demasiadamente agitada, preocupada com os exames. Isso pode ter provocado uma queda da resistência de seu corpo, e em vez de contrair uma gripe, o que provavelmente aconteceria comigo, você ficou ainda mais sensível. Por isso não consegue ficar em meio a muita gente, puxando as mais diversas emoções para si mesma.
Lily pensou por um momento antes de questionar:
-- Por que você nunca me disse isso? Você tem idéia do que possa ser?
-- Bem, eu queria ter alguma resposta para te dar em vez de somente te trazer ainda mais dúvidas, por isso estive pesquisando sobre seus sintomas, mas ainda não encontrei nada. Apesar de que... com tudo isso que você me disse agora, eu começo a ter uma idéia... mas prefiro ter certeza antes, ok?
-- Tudo bem, nem sei como te agradecer por me ouvir, por me entender. Tive tanto medo de estar perdendo o juízo!
Remo sorriu novamente diante da sinceridade e do desespero da monitora. Tentou tranqüilizá-la.
-- Nós vamos descobrir o que está acontecendo com você, não se preocupe. Você tem que se preocupar em se recuperar física e emocionalmente. Mas agora me diga, o que você está sentindo nesse momento?
Lily parecia realmente nervosa, torcendo as mãos com o olhar inquieto.
-- Bem, está tudo embolado aqui dentro, mas analisando do ponto de vista que você me explicou, eu posso sentir minha própria inquietação e... uma preocupação que vai além da minha própria, que pode ser a sua, estou certa?
-- É possível - analisou Remo.
-- Posso sentir um conforto... não sei, talvez por você estar do meu lado, me ouvindo, alguma sensação quente e reconfortante e... espere! Há algo mais...
Por um momento, Remo teve receio de que ela tivesse percebido que ele sentia muito mais do que preocupação por Lily. Eles tinham atingido o segundo andar quando ela estacou e olhou para um dos lados do corredor de onde vinham sons agitados.
-- Não se esforce demais, Lily. Você está fraca.
-- Espere, Remo. Tem alguma coisa errada por aqui.
O que ela sentia, não conseguia colocar em palavras. Era uma satisfação cruel, como aquela de quando completamos uma vingança ou vemos nosso pior inimigo em uma situação humilhante, embaraçosa. Olhou para a esquina que dava para a biblioteca e começou a caminhar até lá.
-- O que está acontecendo, Lily? Onde você vai?
Ela não respondeu. Podiam ouvir vozes. Risos. As sensações se amontoavam no peito de Lily e ela estava mais que desconfortável. A temperatura de seu corpo estava subindo ainda mais e seus membros estavam fatigados. Mas estava curiosa. Remo seguiu-a e observou quando ela estacou novamente na esquina do corredor, olhando chocada para frente.
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O corredor do segundo andar era bastante movimentado àquele horário. Faltavam poucos minutos para as oito horas e os alunos do quarto ano para baixo aproveitavam o pouco tempo restante antes de se recolherem em suas salas comunais. Três quintanistas que passavam por ali não tinham essa preocupação. Embora caminhassem rumo à biblioteca, não tinham intenção de estudar. Estavam procurando por movimento, por bajulação, e quem sabe diversão...
-- Esses pirralhos são muito sem graça - analisava Sirius coçando o queixo. - Eles não reagem! Tem que ter algum desafio, concordam comigo?
Pedro balançou a cabeça em afirmação, já que tinha a boca ocupada com caramelos.
-- Plenamente, Almofadinhas. Só a cara de assombro que eles fazem quando batem o olho em nós já desanima. Olhem só! Patético tsk tsk tsk.
Um grupo de segundanistas tinha acabado de sair da biblioteca e passaram por eles meio ressabiados, com as mãos nas orelhas para impedir que elas ficassem pontudas. Inútil. Sirius apontou a varinha para o maior deles, que começou a guinchar quando sentiu as orelhas se alongarem e afilarem.
-- Ridículo - concluiu Sirius com desdém. - Fazem um escândalo por tão pouco!
Pedro tinha começado a rir, porém conteve-se diante da afirmação tediosa de Sirius. Se seus amigos não estavam achando graça, então ele também não deveria.
-- Hum, mas acho que as coisas podem ficar interessantes de repente - cantarolou Tiago encaixando melhor os óculos no rosto e mirando a entrada da Biblioteca.
-- Dia de sorte, meu caro - um sorriso arrogante tomou conta das feições de Sirius. - Como poderíamos virar as costas à diversão quando ela tão inocentemente caminha ao nosso encontro.
Pedro conteve um guincho excitado, cheio de expectativa pelo que viria a seguir. Ninguém menos que Severo Snape saía da biblioteca com o imenso nariz enterrado num livro de Defesa contra as Artes das Trevas.
-- Cuidado. Assim vai furar o livro, Ranhoso - Tiago fez-se notar ao mesmo tempo em que Sirius mirava o livro fazendo-o congelar no ar e, conseqüentemente, Snape dar-lhe um encontrão. Em seguida o livro fechou-se com força no nariz do sonserino, antes de cair aberto no chão revelando o pergaminho meio gasto que ele estivera lendo. Severo, com os olhos lacrimejando pela dor no nariz, tentou ao mesmo tempo xingar, puxar a varinha das vestes e abaixar-se para recolher o pergaminho. Foi frustrado nos dois últimos intentos.
Sua varinha voou das vestes antes que ele a alcançasse e pairou acima de sua cabeça, além do alcance de suas mãos, mantida no ar por Tiago enquanto Sirius convocou o pergaminho. Este escapou de seus dedos e voou para a mão estendida do maroto.
-- Ora, ora, ora, o que temos aqui, Ranhoso? "Como preparar uma poção de beleza"? - ele fingiu ler. - Pra quê? Você não tem concerto.
-- Talvez "Como conquistar o homem de seus sonhos"? - sugeriu Tiago maldosamente.
-- Inútil também. Nem com o mais poderoso filtro amoroso ele conseguiria essa façanha.
-- Me devolvam isso, seus sujos - rosnou Snape com os punhos cerrados analisando o quanto ele pareceria ridículo se pulasse para tentar apanhar sua varinha.
Alguns alunos começaram a se aglomerar para assistir ao espetáculo, vindos das duas direções do corredor.
-- Olha só quem fala! - provocou Tiago. - Quanto tempo faz que você não toma banho, Seboso? Só banho, nem pergunto sobre lavar os cabelos para que você não se atrapalhe muito nas contas.
Os espectadores gargalharam e as narinas de Snape se dilataram.
-- Seu covarde! Devolva minha varinha e me enfrente sozinho, Potter. Ou será que você tem medo?
-- Eu te enfrento sozinho a qualquer hora, narigudo. Ou será que você se esqueceu daquela cilada que você armou para mim no começo do ano? Quem estava desarmado no chão quando Filch chegou, heim? Nem atacando pelas costas você se dá bem. Agora me diga: quem é o covarde aqui?
A platéia aumentava a cada momento. Os alunos esqueciam-se do horário para não perder nenhum insulto nem a troca de faíscas nos olhares.
-- Se você quer sua varinha, tente pegar - sugeriu Sirius. - É só se soltar, dar uns pulinhos!
Snape soltou alguns palavrões e estreitou ainda mais os olhos.
-- Enrole essa língua, Ranhoso. Tem mulheres e crianças nos assistindo - censurou Tiago.
-- Vamos ver o que temos aqui então - Sirius ergueu o pergaminho na altura dos olhos e limpou a garganta. - "Querido Sev". Hummmmm será que o Sebosão fisgou algum coração?
-- Só se for com o nariz de gancho - ponderou Tiago e houve outra explosão de risos.
-- Não, Pontas. Nada de admiradoras para o morcegão aqui. A carta é da mamãe dele - disse com vozinha de bebê. - Escute só: "Espero que tenha gostado das cuecas, meu filho. Sei que prefere escuras, mas não tinha a sua numeração". Deixe-me adivinhar, são todas grandes demais pra você, neném?
-- Acho que ela quis dizer fraldas, Almofadinhas - zombou Tiago. - Pena que ela não pode vir aqui trocar suas fraldinhas, não é Ranhozinho?
-- Ou quem sabe assoar o seu nariz? - sugeriu Sirius em meio a mais risadas. - Sim, porque você não parece ser capaz de fazer isso sozinho.
Então ele tentou, com um lenço imaginário, assoar um nariz aparentemente comprido demais para ser alcançado.
Severo Snape estava totalmente vermelho de raiva, com uma veia pulsando ameaçadoramente em sua têmpora, as unhas enterrando-se nas palmas das mãos e os dentes rilhando. Aproveitando-se da distração dos dois grifinórios - que se acabavam de rir da própria piada - o sonserino estendeu a mão para o alto e fechou os dedos sobre a varinha, que tinha descido alguns centímetros sem que Tiago percebesse.
Estava tão possesso que nem precisou de palavras. Apontou a varinha para Sirius e este foi atirado para trás, derrubando alguns alunos antes de bater contra a parede e escorregar até o chão. Sua varinha perdeu-se em meio aos expectadores. Snape desviou-se de um feitiço lançado impulsivamente por Tiago e atacou-o logo em seguida. Tiago não teve tempo de pronunciar outro feitiço antes de ser fisgado pelos tornozelos e erguido de ponta-cabeça no ar. Como da outra vez, sua varinha escapou de seus dedos e rolou para fora de seu alcance enquanto sua visão era obstruída pelas vestes amontoadas. Houve um certo desapontamento da parte feminina da platéia ao constatar que ele usava calças compridas por baixo delas, porém seu abdome ficou completamente exposto.
-- E agora, Potter? Acho que chegou a minha vez de rir da sua cara, não?
-- Claro que não, desgraçado - todas as cabeças voltaram-se para Sirius, que levantara-se e arremessara-se sobre o sonserino dispensando a varinha.
Derrubou-o no chão e caiu por cima socando cada pedacinho de Snape que conseguia alcançar. Sem a sustentação da varinha do sonserino, Tiago despencou com força no chão, torcendo o braço para trás e apoiando-se dolorosamente sobre ele. Gritou enquanto tentava não se mover para não aumentar a dor.
Foi bem nessa hora que Lily apareceu no início do corredor, arfando, com os olhos marejados e expressão horrorizada. Um turbilhão de emoções a assaltavam de uma só vez. Humilhação, vergonha, dor, duplamente dor, raiva, ódio e o próprio horror diante da cena que presenciava. Remo alcançou-a logo em seguida e uma onda de preocupação somou-se às outras sensações.
-- Lily! O que está acontecendo? Você está pálida e...
Lily levou uma das mãos à boca enquanto duas grossas lágrimas rolavam de seus olhos e com a outra mão ela apontou o reboliço no final do corredor.
Filch chegara com uma satisfação doentia no rosto e, junto com Madame Pince, separava os garotos e tentava restabelecer a ordem. Snape tinha cortes ao redor de um olho e no canto da boca, além de se movimentar com certa lentidão. Sirius parecia ileso - apesar de encolerizado - e Tiago precisou de sua ajuda para se levantar.
Remo se assustou com o quão desesperada Lily parecia ao presenciar a cena.
-- Oh, Lily, acalme-se. Vamos sair daqui, venha. Filch está cuidando de tudo - ele chamou, porém a ruiva não se mexeu. - Venha, você precisa se afastar disso! Você está fraca!
Ele segurou uma das mãos da garota e puxou-a antes que os alunos começassem a debandar pelo corredor. Sentiu a pele absurdamente quente em contato com suas mãos geladas de apreensão, mas continuou puxando-a por uma passagem, para longe de todos. Lily estava trêmula e se deixou arrastar todo o trajeto.
Assim que eles obtiveram uma distância considerável das vozes, Lily achou que não agüentaria muito mais e parou levando um puxão da mão de Remo e quase caindo sobre ele.
-- Não consigo mais, Remo - sua voz oscilava e parecia um pouco distante.
Remo virou-se para fitá-la. Tinha a face muito corada e os olhos semicerrados, um pouco vermelhos e brilhantes de lágrimas. Era uma visão aterradora. Era comum ver Lílian Evans irritada, ansiosa, mal-humorada, mas o grifinório nunca vira a garota parecendo tão frágil. Lílian Evans não era frágil. No entanto agora parecia que ela não conseguiria sustentar o próprio peso por muito mais tempo.
Comovido pela visão, Remo aproximou-se dela e levou ambas as mãos ao seu rosto. Ela fechou os olhos. Remo sentiu seu coração se acelerar, mas agora não era oportuno.
Eu só quero estar no teu pensamento
Dentro dos teus sonhos
E no teu olhar
Ignorou sua própria reação e constatou que a pele de Lily queimava as palmas geladas de sua mão. Optou por outra tática então, encostou o próprio rosto no dela e teve a confirmação do que suspeitava.
-- Lily, você está queimando de febre!
Lily não respondeu nada. Sua mente se nublava e seu corpo era invadido por tremores e uma sensação quente ao mesmo tempo. Sentia-se absurdamente pequena e tudo ao seu redor adquiria proporções gigantesca. A voz de Remo estava distante demais para ser compreendida. Além disso, alguma coisa a puxava para mais perto daquele calor gostoso tão próximo dela.
Remo ia se afastar novamente quando sentiu Lily se aproximar ainda mais e abraçar seu tórax por baixo de seus braços, apoiando a cabeça em seu peito.
Tenho que te amar
Só no meu silêncio
Num só pedacinho de mim
Arregalou os olhos de susto. Sentiu o rubor de sua face competir com o da garota que ardia em febre. O calor de seu corpo aumentou e seu coração parecia que ia sair pela garganta. Foi difícil falar alguma coisa.
-- L-Lily, nós temos que ir para a enfermaria! Você está com muita febre! É perigoso!
Em resposta, a garota aconchegou-se ainda mais a ele, encaixando o rosto na curva de seu pescoço e balbuciando palavras ininteligíveis. Desconfortável pela posição de seus braços, ele deslizou uma das mãos para as costas quentes de Lily e com a outra segurou sua face de encontro ao próprio corpo. Remo tinha muito orgulho de seu autocontrole e desde que soubera da percepção aguçada de Lily não se permitia nenhuma emoção que pudesse denunciá-lo, mas também não estava acostumado a tê-la abraçada a si dessa maneira, respirando contra sua pele, provocando-lhe arrepios. Seu corpo inteiro formigava, sua garganta estava seca e seu peito doía.
Eu daria tudo pra tocar você
Tudo pra te amar uma vez
Os segundos arrastavam-se como horas. Fechou os olhos com força procurando limpar sua mente de tudo isso e pensar em alguma coisa para fazer. Nenhum feitiço - útil ou inútil - lhe ocorria. Só conseguia sentir aquele aroma inebriante e os braços que estreitavam a distância entre seus corpos quase desesperadamente. Ele nunca tivera um contato tão íntimo com qualquer garota e era difícil controlar as emoções. Era um momento ao mesmo tempo tão almejado e tão temido.
Já me conformei
Vivo de imaginação
Só não posso mais esconder
Lily sentia todas essas sensações, porém elas confundiam-se com os delírios causados pela febre. Sentia uma vontade... uma necessidade de...
-- Rem... - murmurou Lily desencostando a cabeça do pescoço do garoto. Remo baixou o rosto para fitá-la e não teve tempo de assimilar o que estava acontecendo até que os lábios da garota tocassem os seus delicadamente, tão leve quanto o farfalhar das asas de uma borboleta, como uma brisa suave contra a pele quente, enviando ondas elétricas que se espalhavam pela corrente sangüínea atingindo cada pedacinho de seu corpo... e no instante seguinte, Lily desfaleceu em seus braços, trazendo-o para a realidade tão rápido quanto o carregara para a terra dos sonhos. Instintivamente, o monitor sustentou o peso de Lily contra o próprio corpo.
Que eu tenho inveja do sol que pode te aquecer
Que eu tenho inveja do vento que te toca
Tenho ciúme de quem pode amar você
Quem pode ter você pra sempre
-- Lily? Lily, por favor... responda! Acorde, por favor...
Talvez fosse até melhor assim. Com cuidado, distribuiu o peso do corpo delicado da ruiva em ambos os braços e ergueu-a. Analisou se suportaria carregá-la. Por ser pequena e magra ela era relativamente leve, mas não deixaria de ser cansativo, portanto teria que se apressar. Ainda não aprendera a levitar objetos maiores que grossos livros. Pôs-se a andar até o fim da passagem, saiu em um corredor vazio e logo tomou outro atalho ignorando o protesto de seus braços. Quando já despontava em outro corredor, escutou vozes conhecidas.
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-- Tudo acontece comigo! - queixou-se Tiago sustentando a mão esquerda a certa distância do ombro direito, como se estivesse indeciso se seria prudente tentar massageá-lo. - Você já reparou nisso, Almofadinhas? Nós dois sabotamos a poção de Snape e em quem ele revida? Em mim! Sempre!
-- Claro, porque ele não é trouxa de se meter com o Almofadinhas - disse Pedro. - Quero dizer, olha só pro tamanho dele! Comparado ao seu físico, Pontas...
Sirius limitou-se a dar um meio sorriso arrogante e tirar o pó inexistente das vestes.
-- Tá, tá, já entendi, Rabicho - resmungou Tiago irritado - mas não é só isso. Almofadinhas sai com Hogwarts inteira e nunca apanhou do irmão de ninguém...
-- Hogwarts inteira não, só a porção feminina - corrigiu.
-- ... apronta todas junto comigo, mas com quem a Evans mais implica? Comigo é claro...
-- Talvez ela ache que eu sou um caso perdido - Sirius encolheu os ombros e empurrou o lábio inferior para frente.
-- ... participou dos mesmos jogos de quadribol que eu e nunca caiu da vassoura ou se machucou com algum balaço. No entanto eu tenho um leito reservado na enfermaria em todos os dias de jogo...
-- Pare de resmungar, Pontas - desdenhou Sirius. - Já fazem dois jogos que você não quebra um único osso!
-- Mas eu caí da vassoura no último!
-- Mas você sempre pega o pomo! - admirou Pedro.
-- E tem mais - Tiago continuou com seu desabafo. - Você acaba de sair de uma luta com aquele filho da mãe e não tem um único arranhão enquanto eu estou todo estropiado sendo que ninguém relou em mim!
-- Eu levei um soco nas costelas e está dolorido, mas não estou chorando por isso.
-- E quem disse que eu estou chorando? - indignou-se Tiago ajeitando os óculos excepcionalmente com a mão esquerda. - Estou só desabafando, dá licença?
-- Calem a boca, seus desordeiros! - chiou Filch. - Sei que estão tentando me convencer a levá-los à enfermaria em vez de aplicar uma detenção imediatamente. Fiquem sabendo que nada vai livrá-los disso dessa vez.
-- Mas você deixou Snape ir à enfermaria! - indignou-se Pedro.
-- Pensa que estou feliz por isso? Aquele insolente também merece castigo, mas estava sangrando por todos os poros, eu não podia simplesmente ignorar isso.
-- Mas você pode ignorar o meu braço dolorido? Só porque não há escoriações visíveis não significa que não esteja machucado!
-- Pare de reclamar feito uma menininha mimada - rosnou o zelador. - Já disse que não adianta...
-- Almofadinhas!
Os quatro - e Madame Nor-r-ra - viraram-se para ver Remo carregando um amontoado de vestes negras com... cabelos flamejantes?
-- Aluado? - questionou Sirius com uma sobrancelha arqueada.
-- Lily? - atordoou-se Tiago.
-- Eu preciso... de ajuda! Não estou... agüentando mais...
Sirius pareceu acordar e correu até ele, seguido de Tiago e Pedro. O maroto mais forte - e mais capacitado - tomou o corpo inerte da monitora dos braços de Remo enquanto Tiago observava assustado, lamentando-se por seu braço inútil.
-- O que houve com ela, Aluado? Ela está bem? Está respirando?
-- Ela está fervendo! - observou Sirius ao que Tiago levou a mão esquerda até sua testa depois de afastar os cabelos do rosto corado.
-- Temos que levá-la para a enfermaria urgente! - calou Remo apoiando-se nos joelhos para respirar melhor.
Filch praguejou mal-humorado, no entanto não haveria como impedi-los agora. Por que ele tinha que ser um aborto? Poderia simplesmente carregar a garota por mágica e aplicar as detenções em seguida. Acompanhou-os no intuito de não deixá-los escapar da enfermaria com outro destino que não a sua sala particular.
Eles correram até a enfermaria na medida do possível enquanto Remo relatava o que acontecera - omitindo certos detalhes dispensáveis - como o abraço desesperado ou o...
Assim que chegaram à Ala Hospitalar, Madame Pomfrey - que estivera cuidando de um Snape adormecido e fechou as cortinas assim que os viu - pediu que Sirius deitasse Lily em um dos leitos e agradeceu-o. Em seguida começou a ministrar os medicamentos enquanto Remo resumia ainda mais o episódio, omitindo a parte da sensibilidade emotiva da grifinória e atribuindo todos os sintomas ao excesso de estudo e falta de alimentação.
-- Como ela está, Madame Pomfrey? - questionou Tiago visivelmente preocupado.
-- Fora de perigo, graças a vocês. Já providenciei para que a febre abaixasse. Um pouco mais e ela poderia ter fritado os miolos! - os garotos fizeram caretas. - Ela vai dormir até amanhã de manhã então terá de se alimentar muito bem e não sairá daqui em menos de três dias. Tenho que ter certeza de que vai fazer suas refeições corretamente até lá.
Assim que a enfermeira terminou de prestar os primeiros socorros, Filch enfiou a cabeça grisalha para dentro resmungando se eles iriam demorar toda a eternidade e então Tiago começou a resmungar sobre a insuportável dor de seu braço torcido, Sirius segurou o lado do corpo dizendo ter certeza que havia quebrado pelo menos três costelas e Pedro... bem, Pedro havia oportunamente sumido e Filch nem sequer cogitou a possibilidade de procurar por um ratinho gordo e cinzento no chão da enfermaria. Certamente Madame Pomfrey não permitiu que nenhum deles deixasse a enfermaria até a manhã seguinte, para o profundo desgosto de Filch.
Remo aproximou-se do leito em que Tiago estava repousando com a cabeça voltada para Lily, que parecia dormir tranqüilamente, e sussurrou disfarçadamente:
-- Pontas, posso pegar sua Capa da Invisibilidade emprestado por esta noite?
Tiago voltou-se para ele com o cenho franzido em uma pergunta muda.
-- Biblioteca - disse simplesmente o monitor e Tiago compreendeu.
-- Claro, está no meu malão, você sabe. E o Mapa do Maroto deve estar no malão de Sirius.
-- Beleza, obrigado.
Remo despediu-se dos amigos e subiu as escadas dois degraus de cada vez. Pedro recusou-se a acompanhá-lo até um lugar onde ele estaria rodeado de livro por todos os lados e o monitor teve que se arriscar sozinho, porém seu escape foi muito produtivo. Encontrou imediatamente os livros que procurava e voltou para o dormitório, pondo-se a devorá-los ao som dos roncos ruidosos de Pedro e com a parca iluminação de sua varinha para não perturbá-lo, embora fosse provável que nem um holofote dirigido diretamente ao rosto do maroto o acordasse no momento.
Depois de algum tempo ele finalmente encontrou o que procurava e fez uma cópia rápida do trecho que lhe interessou:
"Empatia: é o dom da sensibilidade emotiva. É muito raro e não-hereditário. A pessoa já nasce com esse dom, porém pode demorar muito tempo para manifestar-se ou mesmo para que a pessoa perceba que o possui. Muitas vezes manifesta-se em momentos de descontrole emocional do empata até que ele aprenda a controlar a captação dos sentimentos conforme sua vontade, o que requer muita prática e força de vontade."
Foi tudo o que ele encontrou. Pôs o primeiro livro de lado e passou para o próximo. Agora já sabia o que procurar e encontrou facilmente o que desejava:
"Empatas são pessoas que desenvolvem a percepção emocional alheia como um sexto sentido que pode ser consciente ou inconsciente. Em menor grau a empatia é bastante comum, embora não seja vista como um dom. Existem pessoas que conseguem lidar com as emoções das pessoas com que convive sem que muitas vezes se dê conta disso. Porém, em maior grau, ela é muito rara e provoca não só a percepção das emoções como reflete-as no receptor como se partissem dele mesmo. Muitas vezes torna-se difícil separar as próprias emoções das sensações captadas, o que pode gerar uma confusão perigosa na mente do empata. Para que isso seja evitado, requer muita prática e auto-controle. (...) Os empatas que desenvolvem um grau muito elevado de sensibilidade podem apresentar outros tipos de poderes incomuns - mais comumente invasão de pensamentos e sonhos de difícil interpretação que podem ou não ser premonitórios - ou ainda poderes jamais notados. O último empata famoso viveu no século XVII e podia fazer magia avançada sem o auxílio de uma varinha. Seu antecessor viveu no século IX e desenvolveu uma capacidade única de manipular as emoções alheias, porém foi morto por seu cônjuge quando se descuidou de manter o controle sobre ele..."
Realmente não havia muitos empatas grandiosos e conhecidos, mas seus feitos eram bastante excêntricos. Achou melhor copiar somente até aquele ponto para não assustar Lily - do mesmo modo que tinha se assustado. Passou para outro livro, onde não encontrou absolutamente nada, nem no próximo. Finalmente o último tinha algumas das informações que ele já tinha encontrado nos outros dois, além de alguns esclarecimentos úteis:
"(...) Os empatas podem desenvolver um bloqueio - intencionalmente ou não - a determinados tipos de emoções. Se ele deseja não perceber algum tipo de sentimento, ou as emoções partidas de determinadas pessoas, em determinados locais, então isso pode acontecer tanto consciente quanto inconscientemente. Um empata poderoso pode se deixar bloquear pela oclumencia, porém, se realmente se esforçar, pode chegar a ultrapassar as defesas de um bom oclumente para captar suas emoções. Isso também requer muito esforço e prática. Os empatas geralmente possuem facilidade em praticar legilimencia, porém por serem pessoas sensíveis e emotivas dificilmente conseguem fechar sua mente com a devida eficácia.(...) Sua percepção não se limita a sentimentos ou sensações, podendo estender-se a fatos que envolvam ações ou acontecimentos. Nesses casos o empata não sente, mas deduz, geralmente através de sonhos."
Remo gostaria muito de poder ficar filosofando sobre a nova descoberta, porém não conseguia tirar certo acontecimento tão recente de sua mente. Fechou o último livro, empilhou-os em sua cabeceira, murmurou um "Nox!" e jogou-se atravessado na cama voltado para o teto ainda com as vestes de Hogwarts. Seus olhos já não queriam permanecer abertos. Reviveu todas as sensações provocadas por Lily com tal intensidade como se ela estivesse abraçada a ele novamente. Inconscientemente levou a mão aos lábios, tocando-os e suspirando. Fora seu primeiro beijo. Seus amigos ririam se soubessem que ele chamava aquilo de beijo, porém era o mais próximo de um que ele já tivera. Mais íntimo do que o beijo na bochecha que ganhara no ano passado de uma lufa-lufa, depois de ajudá-la a executar um Expelliarmus corretamente. Duas lágrimas solitárias desceram pelos lados de seu rosto, perdendo-se nos cabelos. Só dessa vez ele se permitiria chorar por causa desse seu sentimento e iria aproveitar para chorar todas as suas lágrimas agora para não voltar a pensar nisso com pesar.
Tenho que te amar
Só no meu silêncio
Num só pedacinho de mim
"... manifesta-se em momentos de descontrole emocional do empata até que ele aprenda a controlar a captação dos sentimentos conforme sua vontade..." As palavras passaram mais uma vez em frente a seus olhos fechados. Por estar debilitada, Lily tinha captado seus sentimentos descontrolados sem nem perceber. "... Muitas vezes torna-se difícil separar as próprias emoções das sensações captadas, o que pode gerar uma confusão perigosa na mente do empata..." Era isso que tinha acontecido. Por isso Lily o beijara. "... podem desenvolver um bloqueio - intencionalmente ou não - a determinados tipos de emoções..." Ela nunca percebera seus sentimentos por ela porque não queria enxergar. Ela não sentia o mesmo por ele. "... Se ele deseja não perceber algum tipo de sentimento, ou as emoções partidas de determinadas pessoas..."
Deixou que mais lágrimas corressem livremente e sufocou um soluço. Só dessa vez ele choraria dessa maneira. Só dessa vez. No dia seguinte ele tocaria sua vida, continuaria vivendo, como tinha que ser. Com um pouco de sorte (ou seria azar?) ela não se lembraria de anda.
Já me conformei
Vivo de imaginação
Só não posso mais esconder
Virou-se de lado e abraçou algumas almofadas para abafar seus soluços até que suas forças se exauriram e ele adormeceu.
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N.A. Buáááááá! Ai que triste! Como eu judio do Reminho... mas foi necessário, gente. Acreditem, eu sofri muito pra escrever a parte do beijo, minha intenção era que ficasse bastante comovente, será que consegui? Eu tinha prometido pra mim mesma que só colocaria músicas em inglês, mas vamos combinar que essa música tem tudo a ver com o momento! Chama-se Você pra sempre (Inveja) - Sandy e Júnior e é muito linda. Esse negócio todo de empatia, eu tirei tudo da minha cabeça! Peguei uma parca definição no dicionário e enchi de floreios, só espero que não tenha ficado muito confuso... o.O
Nessa Reinehr você gostou da Time After Time, né? Eu também gosto muito dela! Bem, eu disse pra vc q vc iria dar muitas risadas com esse capítulo! Eu bem que te avisei... Nessa, eu rio muito das suas reviews! O Tiago que sofre e vc sente pena do Sirius? o.O oh, isso é q é amor! Vc até babou qdo viu ele sair do banheiro hahaha! Ele é muito sem vergonha, tenho q admitir... Que bom q vc gostou da cena do banheiro dos monitores! Yupiii! Eu disse que faria continuações? Oh, céus! O.o Tenho q colocar minha cabecinha pra funcionar desde já então! Eu é q tenho q agradecer pela sua ajuda, Nessa. Vc está me saindo uma grande amiga! Me faz ficar satisfeita com meu próprio trabalho - e isso não é fácil, acredite! - por isso eu te ajudo de coração, viu? Não vejo a hora da sua fic ser publicada pra q eu te recompense com reviews gigantescos também! Mil beijos, fofa!
LeNaHhH sim, samba canção roxa com ursinhos pretos e brancos! James é o bebê da Sra. Potter, afinal rsrsrs. Amei sua review enorme cheia de "OMG" hahaha! Gostou da cena do banheiro? Gostou do quadribol? Ai q linda! Bem, caímos naquela história de homem chorando novamente... olha só o que eu fiz com meu Reminho! Eu fiz ele chorar de novo! Oh, como eu sou cruel! Valeu, LeNaHhH, bejão!
MiLaChaN oh, por favor, não desmaie de emoção! Que bom q vc gostou! Viva! Eu amo qdo alguém elogia meu quadribol XD ihihihi brigada! Não brigue comigo nesse capítulo, por favor! Acho q judiei demaisdo Remus, né... eu sei, eu sou cruel, pode dizer! Mas eu sinceramente espero q tenha gostado do capítulo. Beijos, Mila!
dark angel sim, esse é o penúltimo capítulo, sinto muito pelo seu estado de choque... mas se isso te fizer feliz, eu já estou planejando uma continuação ehe! Peraê, melhor partida de quadribol q vc já assistiu? PLOFT! desmaiei! - recuperando-se do desmaio - O.O o q vc faria se encontrasse Tiago pelado na banheira? O.O hahaha pobre Lily, ela ficou chocada rsrsrs. Oh, me desculpe, eu não atendi a seu apelo, fiz nosso Reminho sofrer! Ele é tão bonzinho e eu judio tanto dele, né... mas eu espero q tenha gostado do capítulo - Amy fazendo uma imitação barata da carinha de cachorro pidão do Sirius - Não se preocupe, Angélica, eu não vou te deixar sem "Definitivamente", pode confiar! Bejaum!
Mione Lupin jura q vc gostou? Ufa! Eu entendo agora pq vc se sente meio dona do Regulus... eu ainda vou terminar de ler sua fic, não se preocupe! É q caiu a conexão ontem rsrsrs. Pois é, eu judiei do Remo, pode falar q eu não tenho coração (buááááááá) mas eu sofri muito ao escrever essa cena, acredite! Bem, talvez eu possa te ajudar a superar a perda de Definitivamente Marotos com outro "Definitivamente" que vem por aí... uhuahuahuahua. Valeu, Mione, beijão!
aNiTa JOyCE BeLiCe aeeeee atualizei! Valeu por comentar, espero q tenha gostado desse capítulo tanto qto eu gosto de saber q vc está lendo XD Brigada, aNiTa, beijasssso!
jokka potter genial, eu? XDDD Oh, céus, essas três palavras "eu te amo" foram demais pra mim, caramba, vc conseguiu deixar meu dia mais feliz! Eu disse dia? Minha semana! Wow, como vc consegue fazer uma carinha de cachorro abandonado mais convincente que a do Sirius? O.O Valeu, jokka! Valeu mesmo! Nem sei como te agradecer por esses tantos elogios, espero que ainda goste da minha fic depois do que eu fiz com Remo nesse capítulo XD Beijos! Mas agora deixe-me comemorar: EU GANHEI O PRÊMIO NOBEL DE MELHOR ESCRITORA DE FICS SOBRE OS MAROTOS! VIVA! rsrsrs
Tete Chan apareceu! Ai que felicidade! Pensei q vc estivesse tão ocupada com o evento q nem tivesse mais tempo pra Definitivamente... :(( mas aqui está vc! Viva! Viva o quadribol! rsrsrs Sim, a Lily perdeu a oportunidade de agarrar um James cheio de lama uhuahuahua Eu não atualizei o capítulo na madrugada de sábado, i'm sorry... mas aqui está! Espero que tenha gostado, apesar da barbaridade q fiz com Remus... eu admito, sou cruel... snif... Kissus!
Bem, é isso! A fic acabou, então eu vou me despedir de vcs... o que? Não acabou ainda? Calma, calma, não se desesperem! Sábado que vem tem mais então! Seria pedir demais q vcs mandassem muitos reviews? Eu poderia fazer uma chantagem e só postar quando tivesse uns 10 reviews, mas acho q seria injusto com quem tá acompanhando e comentando direto. E eu não sou tão cruel assim XD A fic tá acabando gente... o próximo já é o último... snif...
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E no próximo capítulo...
-- Lave essa boca - disse Tiago, friamente. - Esfregaça!
Bolhas cor de rosa de sabão saíram da boca de Snape de uma vez; a espuma estava cobrindo seus lábios, como uma mordaça, sufocando-o...
-- Deixe-o em PAZ!
Tiago e Sirius olharam ao redor. A mão de Tiago que não segurava a varinha voou em direção ao cabelo.
Era uma das garotas que há pouco estavam na beira do lago.
-- Tudo bom, Evans? - disse Tiago, e o tom de sua voz mudou subitamente. Estava mais profundo, mais maduro.
