CAPÍTULO VINTE E OITO
Mais um ano
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A aula de Feitiços era perfeita para colocar o assunto em dia. Sirius e Tiago, felizmente, tinham deixado a enfermaria logo que amanhecera e, infelizmente, não foram dispensados das aulas. Pelo contrário, ambos, juntamente com Pedro, receberam olhares muito mais que reprovadores da Profª. McGonagall, que os chamou no final da aula para dar uma bela bronca e informar sobre suas detenções.
Agora eles se encontravam reunidos ao redor de uma mesa fazendo algumas revisões que o Prof. Flitwick tinha passado. No momento eles arremessavam almofadas pelos ares até que elas atingissem uma grande caixa abaixo do quadro-negro. Todos já tinham lido o material que Remo encontrara sobre empatia e discutiam sobre o dom de Lily em meio à balbúrdia da classe.
-- Eu deixei cópias iguais a essas na cabeceira do leito de Lily, junto com alguns folders que a Profª. McGonagall distribuiu sobre as profissões que devemos escolher - contou-lhes Remo.
-- Quem diria, heim? - admirou-se Sirius. - A Evans, uma empata!
-- Vocês acham que é perigoso? - perguntou Pedro depois de falhar pela décima vez ao tentar fazer sua almofada atingir o lugar exato. - Quero dizer, para nós e os nossos segredos, vocês sabem...
-- Bem, é arriscado - Tiago coçou o queixo. - Não pelas emoções, porque isso não revelaria muito, mas sim pelos sonhos. Todos concordamos que o nível da empatia de Lily é bem elevado, não é?
Os outros afirmaram com acenos de cabeça.
-- Existem diversos pontos que indicam isso - avaliou Remo. - Os sonhos, a invasão de pensamentos e o fato de ela não somente perceber como também sentir as emoções ao seu redor são alguns deles.
-- Então isso quer dizer que ela tem algum poder especial também? - questionou Pedro.
-- Talvez - murmurou Remo. - E você está fazendo errado, Rabicho. Observe o modo como você sacode a varinha! Não é assim que se faz, veja.
Remo fez uma demonstração impecável, seguida das igualmente impecáveis de Sirius e Tiago. Pedro colocou a língua para fora se esforçando e tentou novamente. Dessa vez sua almofada finalmente atingiu a caixa.
-- Milagre! - disse Sirius com sarcasmo. - Mas sabe que eu acho que ela tem poderes especiais sim. Lembram daquele empata que o livro citou que conseguia manipular os sentimentos dos outros. Acho que a Evans está fazendo isso com o Pontas aqui. Vocês precisavam ter visto o jeito que ele babava só de ver ela ressonando enquanto dormia!
-- Há há, engraçadinho - Tiago torceu o lábio superior. - Eu acredito que agora que ela sabe, tende a ficar mais perigoso para nós, sim. Ela vai começar a praticar sua habilidade, tentar conhecer seus limites e expandir sua capacidade, e então...
-- Nós estamos ferrados - completou Sirius.
-- Sim, nós estamos ferrados - concordou Tiago.
-- Eu estou ferrado - concluiu Remo.
-- Já fazem duas transformações que a Evans não pergunta nada sobre seus sumiços, Aluado - estranhou Pedro.
-- O que isso quer dizer? - questionou Sirius encarando-o de um jeito ameaçador.
-- Você já pensou em contar para ela? - perguntou Tiago desconfiado.
-- Bem, eu tentei, mas... vocês sabem, não é nada fácil pra mim...
-- É bom mesmo - desdenhou Sirius de um jeito meio exagerado que só podia indicar ciúmes mal-disfarçado. - Você não contou nada pra nenhum de nós, tivemos que descobrir sozinhos. Eu não te perdoaria se você contasse a ela.
-- De que adianta? - Remo deu de ombros. - Ela vai descobrir de qualquer jeito mesmo. Nem sei como ainda não descobriu.
Tiago pensou um pouco antes de opinar:
-- Eu admito que não sou nenhum expert quando o assunto é Lílian Evans... - "Jura?" ironizou Sirius ao que Tiago ignorou. - ... mas acho que ela só não descobriu ainda porque quer que você conte a ela. Caso se tratasse de mim ou de Sirius ela já teria movido terras e mares pra investigar, pois certamente não seria nada de bom...
-- Mas - cortou Sirius - como estamos falando do monitor certinho, não se trataria de investigação, mas sim de bisbilhotice. Vocês sabem que ela tem nos "investigado", mesmo que inconscientemente.
-- Só espero que os N.O.M.s desviem a atenção dela de nós - desejou Pedro roendo as unhas.
Remo agradeceu mentalmente a Pedro pela oportunidade de desviar a conversa para outro assunto.
- Por falar nos N.O.M.s, vocês já escolheram quais profissões irão seguir? - questionou.
-- Oh, eu estive pensando sobre isso com muito carinho - os olhos de Tiago brilharam de excitação. -Almofadinhas, o que você acha de nós nos tornarmos aurores?
Sirius deu um sorriso torto.
-- O que? Caçar Comensais da Morte com permissão legal, ensinar bons modos a eles e mostrar como se duela de verdade?
-- É! - confirmou Tiago ajeitando os óculos. - Salvar donzelas e crianças em perigo! Mandar os cachorrinhos amestrados de Voldemort para Azkaban!
-- Estou dentro - concluiu Sirius estufando o peito.
Pedro tinha encolhido-se à menção do nome de Você-Sabe-Quem. A perspectiva exposta por Tiago e Sirius definitivamente não lhe agradava, porém eles eram os inseparáveis marotos, não eram? Supunha-se que eles passariam o resto de suas vidas juntos, não?
-- E-eu também quero ser um auror - murmurou, ao que três rostos perplexos voltaram-se para ele.
Sirius riu debochado.
-- Você, Rabicho? Um auror? Faz-me rir! Pretende capturar Comensais por acidente, fazendo-os tropeçar em você durante sua fuga desesperada como um ratinho e torcer para que eles quebrem o pescoço com a queda?
Até que não seria uma má idéia, pensou Pedro dando de ombros.
-- E você, Aluado? - perguntou Tiago.
Remo suspirou.
-- Não sei exatamente a qual carreira me dedicar. Não seria aceito no treinamento para me tornar um auror. Também não posso contar com qualquer outro emprego no Ministério da Magia, sabem, seria muito polêmico - ele baixou o tom de voz só por precaução. - As pessoas não confiam em lobisomens, muito menos no meio da guerra que estamos. E já que eu não tenho certeza se conseguirei um emprego quando deixar Hogwarts, estava pensando em me especializar nas matérias que eu mais gosto.
-- E isso inclui Defesa Contra as Artes das Trevas, eu suponho - disse Sirius num tom de quem tem certeza absoluta do que diz.
-- Certamente - confirmou Remo. - Isto é, se nós tivermos professor para isso, já que nenhum deles dura muito tempo.
Um silêncio pesado tomou conta da mesa até que Tiago teve uma súbita idéia.
-- Ei, Aluado, por que você não se oferece para dar alguns reforços na matéria enquanto estamos sem professor? Já que você gosta tanto de ajudar os outros, poderia preparar algumas aulas para a turma! Não que Almofadinhas e eu precisemos - acrescentou assim que percebeu o olhar cético que Sirius lhe lançou - mas para o restante do pessoal que está desesperado por causa dos N.O.M.s.
-- A Evans vai amar a idéia - desdenhou Sirius.
-- Vou pensar na sua sugestão, Pontas - Remo encarnou o "professor responsável" por um breve momento, ajeitando os cabelos atrás da orelha. - Vou aproveitar o Teste Vocacional na sexta-feira e pedir permissão à Profª. McGonagall, ver se ela nos libera uma sala.
-- Já estou até vendo a reação dela - Tiago endireitou as costas na cadeira, encaixou melhor os óculos no rosto e contraiu os lábios. - Fico feliz que tenha tomado uma iniciativa como essa, Sr. Lupin. Só fico desapontada pelo senhor ter tão pouca ambição em sua futura vida profissional.
Os outros três riram da imitação fiel.
-- O que a senhora diz sobre a minha escolha, Minie? - Sirius dirigiu-se a Tiago.
-- Que intimidade é essa, Sr. Black? Não sou sua tia para que me dê apelidos! Saiba que o senhor precisará de muito mais que boas notas para se tornar um auror. O senhor vai precisar de disciplina para ser aceito nos testes.
-- E quanto ao Rabicho? - cutucou Sirius se segurando para não ceder ao riso.
-- Auror, Sr Pettigrew? - Tiago voltou-se para Pedro analisando-o de cima a baixo. - E como pretende obter os N.O.M.s necessários se não consegue que seu rato se torne uma xícara completa? Sempre sobra o rabinho ou os bigodes! E olhe que isso é matéria do segundo ano de Transfiguração! E eu não vou nem entrar em detalhes sobre as outras matérias... Sugiro que você leve mais alguns folders para pensar melhor sobre uma segunda opção.
Pedro deu uma risadinha sem graça enquanto os outros se divertiam
-- E quanto ao Potter, professora? - perguntou Remo.
-- Oh, aquele lá pode ser o que quiser com tanto que apanhe o pomo no jogo contra a Corvinal e ganhe aquela Taça para mim! Digo, para a Grifinória, claro...
Mais risos. Porém isso trouxe uma lembrança a Remo.
-- Espere um pouco, segundo meus cálculos, o jogo vai ser durante minha transformação. Vocês não poderão me acompanhar então...
-- Ora, e por que não? - interrompeu Sirius. - Você está insinuando que somos incompetentes? Que não conseguiremos jogar direito só por causa de umas horinhas de sono?
-- Claro que eu não estou dizendo isso... - disse Remo com toda paciência, porém foi cortado novamente por Tiago.
-- Então não há o que discutir. Você já vai ter que passar duas transformações sozinho nas férias, portanto não me venha com histórias pra hipogrifo dormir. Almofadinhas e eu já estamos até preparando uma poção energética pra combater o cansaço...
-- Vocês o que? - esganiçou-se Remo.
Sirius lançou um olhar mortífero a Tiago, que tampou a própria boca com ambas as mãos.
-- Só vamos tomar em último caso - Sirius deu de ombros. - E não tente ralhar com a gente, Aluado. Poupe sua saliva...
-- Hum-hum - eles ouviram alguém pigarrear e olharam instintivamente para a frente a procura do professor, mas não viram nada.
-- AU! - Sirius sentiu um chute na canela e olhou para baixo encontrando os olhinhos astutos do Prof. Flitwick encarando-os com ar reprovador.
-- Será que vocês já terminaram a conversa? Poderiam praticar agora?
-- Desculpe, professor - disse Remo em seu tom eficiente, voltando a praticar com as almofadas.
Sem outra opção, os outros continuaram a praticar em silêncio.
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Depois do almoço, Remo aproveitou-se de uma reunião do time de quadribol - da qual Pedro participou mesmo sem ser convidado - para fazer uma visita a Lily na Ala Hospitalar. Assim que entrou na enfermaria, avistou-a sentada em seu leito apoiando-se em vários travesseiros com alguns pergaminhos pendendo da mão direita. Tinha os olhos fechados, provavelmente adormecera enquanto lia. Os cabelos emolduravam seu rosto que mantinha uma ruga de tensão entre as sobrancelhas.
Aproximou-se com cuidado para deixar alguns sapinhos de chocolate sobre a mesinha de cabeceira e, quem sabe, admirar um pouco mais seu sono. Entretanto, assim que ele colocou os doces na mesinha, a garota abriu os olhos e virou-se para ele.
-- Remo! - ela exclamou, seu rosto desanuviando-se com um sorriso cansado.
-- Olá, Lily. Vim ver como você está.
-- E trazer chocolates. Obrigada, eu estou ótima. Fiquei imaginando quando viria - ela apontou para o pergaminho que tinha em mãos e a ruga de preocupação voltou. - Eu estou fazendo uma leitura muito interessante, agora que Madame Pomfrey já quase me deu comida na boca duas vezes! O que você disse a ela?
-- Basicamente, que você não estava se alimentando direito por causa da ansiedade pelos exames, por isso desmaiou. Isso deve acontecer com muita freqüência, já que ela nem se admirou.
-- Então eu desmaiei de verdade?
-- Você não se lembra? - Remo quase se atropelou nas palavras. - Não se lembra... de nada?
Lily ia responder que não, porém impediu-se e cobriu a boca com as mãos.
-- Céus! Eu... agora eu estou me lembrando... - o coração de Remo disparou a galope dentro do peito e ele ajeitou os cabelos nervosamente enquanto Lily se esforçava em se lembrar. - Aquela nossa conversa, depois a briga em frente à biblioteca, depois... depois eu não consigo me lembrar de mais nada... foi quando eu desmaiei? Madame Pomfrey disse que Black me carregou até aqui.
Remo permitiu-se voltar a respirar engolindo o nó que se formara em sua garganta.
-- Foi... foi isso mesmo que aconteceu... - ele murmurou temendo denunciar suas emoções para Lily.
-- Não se preocupe, Remo. Está tudo bem - ela sorriu com doçura para ele, que sentiu seu estômago afundar alguns centímetros.
Ela estava captando sua reação, mesmo que superficialmente. A compreensão disso atingiu-a também e o sorriso desmanchou-se.
-- Então é mesmo verdade, não é? Eu sou uma empata?
Remo sentiu-se aliviado pelo novo caminho da conversa.
-- Foi a única explicação que achamos. Todas os sintomas se encaixam às descrições que encontramos.
-- Espere um momentinho. Achamos? Encontramos?
Remo mordeu o lábio antes de responder.
-- Bem, desde a aula de Adivinhações que você leu os pensamentos de Tiago, os outros marotos e eu discutimos bastante sobre seus sintomas para encontrar alguma explicação. Eles têm me ajudado a pesquisar. Por favor, não fique brava. Eles não dirão a ninguém se você não quiser.
Lily soltou um suspiro.
-- Acho que não tem problema. Mas eu prefiro que mais ninguém saiba, Remo. Você pode pedir a eles?
-- Com toda certeza. Não se preocupe, eles sabem guardar segredo...
Lily teve que concordar que eles eram bastante leais, pelo menos entre si. Disso ela tinha certeza, pois desde o começo do ano ela tentava arrancar dos outros o que acontecia com Remo quando ele sumia e de nada adiantara. Sabia que Remo estava receoso de que ela entrasse nesse assunto, mas tinha se comprometido a não insistir mais nisso até que ele se dispusesse a confiar a ela seu segredo.
-- Não vou me preocupar. Se você me diz que não há problemas eu acredito - disse com sinceridade.
-- Você já se sente menos receptiva às sensações por estar se recuperando?
-- Sim, está um pouco mais controlado. Ou talvez seja só impressão por eu estar isolada aqui. Madame Pomfrey teve dois pacientes essa manhã e eu me senti realmente péssima nessas ocasiões. Fico pensando como vou conseguir me concentrar nos estudos daqui para frente.
-- Esqueça isso por agora. Preocupe-se em se recuperar totalmente e as coisas vão voltando ao normal. Ou quase...
-- Perdi muita coisa nas aulas de hoje? - perguntou a monitora com pesar.
-- Só revisões. Quando você poderá deixar a enfermaria?
-- Madame Pomfrey disse que só na quinta-feira. Pelo menos não vou perder o Teste Vocacional - resignou-se acenando para os folders na mesinha.
-- Já tem idéia do que pretende se dedicar? - questionou Remo.
-- Bem, eu tinha intenção de ser medi-bruxa até algum tempo atrás, mas acho que a experiência que tive essa manhã anula completamente essa possibilidade. Sou muito emotiva e instável, não suportaria sentir as dores e angústias de meus pacientes.
-- O ideal seria você optar então por um cargo que não envolva muito contato humano, você não acha? - sugeriu Remo com toda a delicadeza para não deixá-la insegura sobre qualquer plano que ela tivesse formado em mente.
-- Suponho que sim - ela pareceu um pouco pensativa. - Mas não suporto burocracia e isso descarta muitos cargos no Ministério. Exceto... talvez...
Lily olhou fundo nos olhos de Remo antes de perguntar com certa desconfiança.
-- Você não riria de mim?
Remo franziu as sobrancelhas.
-- Eu nunca debocharia de você, se é isso que você está querendo dizer. Confie em mim, o que quer que seja.
Lily encarou as próprias mãos um pouco envergonhada por ter duvidado disso.
-- Bem, eu sempre tive curiosidade em saber o que fazem os Inomináveis. Você sabe, nem mesmo esses folders explicam exatamente do que se tratam as pesquisas que eles fazem e esse mistério todo me deixa fascinada.
Ela arriscou uma olhada para Remo, mas este tinha um sorriso bondoso e suave no rosto que não chegava nem perto de debochado.
-- Deve ser realmente interessante, Lily. E pelo que se fala, não envolve muito contato humano ou emocional, já que os Inomináveis não podem nem mesmo dividir suas experiências com seus familiares. Se é isso que deseja, corra atrás de seu sonho.
-- Você acha que eu tenho chance?
Remo revirou os olhos com um meio sorriso no rosto.
-- Você é uma bruxa excelente. Talentosa, esforçada, tem notas máximas. Converse com a Profª. McGonagall, tenho certeza que ela vai te incentivar a ir em frente. Se existe alguém com chances de trabalhar no Departamento de Mistérios, esse alguém é você, Lily.
Lily tinha as faces rosadinhas de satisfação tímida.
-- Você poderia tentar também, Remo - sugeriu.
Remo baixou a cabeça, desviando o olhar da monitora.
-- Não acho que eu sirva para trabalhar no Ministério.
-- E qual é o seu sonho então?
Sonho. Para Remo os sonhos não contavam. Ele vivia numa realidade cruel onde lobisomens eram criaturas das trevas indignas de confiança. Para onde quer que ele fosse, haveria preconceito. Não existiam muitos homens como Dumbledore ou seus grandes amigos, que acreditavam no potencial, na pureza de caráter, na amizade sincera e na capacidade das pessoas de fazerem suas próprias escolhas. Hogwarts era a realização de seu sonho, mas ele não era tolo de se iludir que o sonho continuaria assim que deixasse a escola.
-- Eu gosto de lecionar - respondeu com sinceridade, afinal Lily tinha perguntado qual era seu sonho, mas isso não significava que ele estava disposto a correr atrás dele. - Minha matéria preferida é...
-- Defesa contra as Artes das Trevas - completou Lily. - Eu já reparei nisso. Você arriscaria tornar-se professor de Hogwarts mesmo com esse boato de o cargo estar enfeitiçado?
-- Não sei. Só sei que pretendo continuar a matéria e me especializar sem compromisso nenhum.
-- Por quê gosta tanto de Defesa?
Remo suspirou.
-- Talvez seja uma das coisas que herdei de meu pai, além da cor dos olhos e o formato da boca - ele sorriu junto com Lily. - É sério. Meu pai gostava também quando estudava em Hogwarts. Ele tem montes de livros sobre o assunto e desde pequeno eu me sentava na frente da lareira e lia todos eles, mesmo sem poder testar os feitiços já que não tinha uma varinha.
Era uma meia verdade. Seu pai realmente gostava de Defesa, mas o verdadeiro motivo para ele possuir tantos livros do assunto fora o terrível fato de que seu único filho fora mordido por um lobisomem aos cinco anos.
-- Entendo. Eu também tive esse tipo de herança. Minha mãe era muito aplicada nos estudos e meu pai sempre adorou dançar. E a combinação dos dois resultou nessa criatura bem à sua frente, que já não está nem prestando a devida atenção na conversa por estar de olho nesses sapinhos de chocolate.
Remo riu enquanto Lily agarrava um doce e o abraçava com fervor. Não demorou muito e Madame Pomfrey apareceu expulsando-o de lá com veementes repreensões por levar doces a seus pacientes, que precisavam seguir uma dieta balanceada de vitaminas e não se empanturrar com guloseimas e depois se recusarem a comer comida de verdade.
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O tempo passou muito rápido depois daquele dia. Lily deixou a enfermaria completamente restabelecida e mais moderada nos estudos. O Teste Vocacional, por incrível que pareça, correu muito parecido com aquela encenação de Tiago. Pedro saiu da sala da Profª. McGonagall mais cabisbaixo que nunca. Lily recebeu muitos incentivos da professora, que disse que o Prof. Dumbledore ficaria encantado em saber de sua aspiração a Inominável - ao que Lily corou, naturalmente. Remo foi autorizado a dar reforço a seus colegas, inclusive de outras casas, numa sala do quinto andar em horários não fixos, para que ninguém suspeitasse quando ele tivesse que se isolar para passar sua transformação. Ele se deu muito bem com a nova responsabilidade e obteve a colaboração dos colegas, que estavam mais do que interessados no reforço devido às circunstâncias.
Bem, na verdade nem todos estavam tão interessados assim. A única coisa que Sirius e Tiago realmente estudavam era o comportamento dos sonserinos. Eles estavam muito exibidos ultimamente, na opinião deles. Não pensavam duas vezes antes de azarar qualquer um que cruzasse seu caminho em desvantagem. O feitiço que Snape usara em Tiago no episódio do corredor da Biblioteca tinha virado moda entre eles depois do ocorrido e os dois marotos estavam empenhados em descobrir como usá-lo para se vingar de Snape. Assim que descobriram, começaram a praticar em si mesmos no dormitório - obviamente - e estavam só aguardando a oportunidade de praticá-lo em meio a uma multidão de alunos, preferencialmente em um certo sonserino de cabelos sebosos. Pedro tinha finalmente percebido-se desesperado por estudar alguma coisa e Remo prontificou-se a ajudá-lo ignorando os outros dois baderneiros.
No meio de maio Remo teve que se afastar dos amigos, pelo menos durante o dia. À noite eles empenhavam-se em outro objeto de estudo: os terrenos de Hogwarts. O primeiro final de semana teve a final de quadribol contra a Corvinal e o máximo que Remo conseguiu enfiar naquelas cabeças de vento dos seus amigos foi que seria injusto utilizar-se de qualquer poção energética para o jogo, apesar de eles se recusarem a deixar de fazer companhia a Aluado na véspera. Resultado: estavam exaustos na manhã do jogo.
Porém isso pareceu aumentar ainda mais a determinação dos dois marotos e eles começaram a partida com fúria, deixando seu oponente de queixo caído. Para Sirius seria uma vergonha mostrar-se fraco em frente a toda a escola, então ele atacava com tanta força quanto teimosia. Tiago não passava de um borrão de pura determinação lá no alto, combinando reflexos impecáveis com seu talento nato de vôo. A torcida foi à loucura quando, decorridos exatamente cinco minutos de jogo, Tiago mergulhou rumo a um dos aros da Corvinal e apanhou o pomo, deixando o apanhador rival babando lá do alto.
Mas o mais surpreendente foi a maneira com que os dois fugiram da comemoração à conquista da Taça de Quadribol e refugiaram-se do assédio dos torcedores na quietude de seu dormitório.
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Raios de sol fluíam pelas janelas mais altas do Salão Principal atingindo as cabeças inclinadas, que resplandeciam o castanho, o cobre e o dourado na luz brilhante. As quatro mesas das casas tinham sumido. No lugar delas havia mais uma centena de mesinhas, todas voltadas para o mesmo lugar e, em cada uma delas, estava sentado um estudante, cabeça baixa, escrevendo num rolo de pergaminho. O único som que se podia ouvir no local era o das penas arranhando e um ou outro sussurro de alguém ajustando o pergaminho. Era hora de exame de Defesa Contra as Artes das Trevas.
Severo Snape estava sentado mais ao fundo. Seu cabelo liso e gorduroso estava caindo sobre a mesa, seu nariz em forma de gancho distante menos de um dedo da superfície do pergaminho em que escrevia. Sua mão voava pelo pergaminho; já tinha escrito pelo menos uns 50 centímetros a mais que seus colegas mais próximos e sua letra era miúda.
-- Mais cinco minutos!
O Prof. Flitwick tinha-se disposto a aplicar o teste, movendo-se entre as cadeiras pouco adiante. O pequeno professor passeava três corredores à frente ao lado de um garoto de cabelo bastante negro e despenteado que estava se levantando agora, guardando sua pena, abrindo o rolo de pergaminho à sua frente para reler o que tinha escrito.
Tiago deu um bocejo demorado e amarrotou os cabelos, deixando-os mais bagunçados do que já eram. Então, depois de olhar para o Prof. Flitwick, ele se virou para trás na cadeira e sorriu para um garoto sentado quatro carteiras atrás dele.
Sirius fez um sinal de ok para Tiago. Estava largado em sua cadeira, equilibrando-a apenas nas pernas traseiras. Uma garota sentada atrás dele lançava olhares esperançosos, apesar de que ele não parecia ter reparado. E duas cadeiras ao lado da garota estava Remo. Ele parecia bastante pálido e adoentado por ter acabado de sair de uma fase inteira da lua de transformações, absorto em seu exame: conforme relia suas respostas, arranhava a testa com a ponta da pena, franzindo-a de leve.
Pedro roía as unhas, olhando para seu teste, arranhando o solo com os dedos do pé. A todo instante dava olhadas furtivas nos exames dos colegas a seu lado.
Lily estava sentada numa das primeiras carteiras e seus olhos corriam pelo pergaminho enquanto ela enrolava uma mecha do cabelo.
Tiago agora rabiscava um pedaço qualquer de pergaminho. Ele tinha desenhado um pomo-de-ouro e agora estava escrevendo as letras "L.E.". Se Sirius soubesse disso... provavelmente tiraria sarro dele até a morte.
-- Guardem suas penas, por favor! - berrou o Prof. Flitwick. - Isso inclui você também, Stebbins! Por favor, continuem sentados enquanto eu recolho seus exames! Accio!
Mais de uma centena de rolos de pergaminho flutuou no ar na direção dos braços escancarados do Prof. Flitwick, derrubando-o no chão. Muita gente riu. Alguns dos alunos que estavam nas carteiras da frente se levantaram, seguraram o professor pelos cotovelos e o puseram de pé.
-- Obrigado... obrigado - o Prof. Flitwick disse ofegante. - Muito bem, já podem ir embora!
Tiago rabiscou apressadamente o "L.E." que há pouco se preocupava em embelezar, pôs-se de pé, enfiou a pena e o papel do exame dentro da mochila, que jogou sobre as costas, e ficou esperando Sirius vir encontrá-lo.
Snape não muito longe deles, movia-se entre as mesas em direção ao hall de entrada, ainda absorto em seu próprio exame. Os ombros angulosos e curvados faziam com que seu andar lembrasse o de uma aranha e seu cabelo oleoso continuava caindo em seu rosto.
Um grupinho de garotas faladeiras separava Snape de Tiago, Sirius e Remo.
-- Gostou da pergunta dez, Aluado? - perguntou Sirius quando atingiram o Saguão de Entrada.
-- Amei - respondeu Remo animado. - Dê cinco sinais que permitem identificar o lobisomem. Ótima pergunta.
-- Você acha que conseguiu lembrar de todos? - Tiago falou em tom de gozação.
-- Acho que sim - disse Remo seriamente quando se juntaram à multidão que se aglomerava perto das portas de entrada, afoitas para ir para fora aproveitar a luz do sol. - Um: ele está sentado na minha cadeira. Dois: ele está usando as minhas roupas. Três: o nome dele é Remo Lupin.
Pedro foi o único que não riu.
-- Eu lembrei do formato do focinho, das pupilas dilatadas e da cauda em escovinha - disse ansiosamente - mas eu não consegui pensar em mais nada.
-- Como você consegue ser tão tapado, Pedro? - Tiago retorquiu impaciente. - Você dá voltinhas com um lobisomem uma vez por mês...
-- Fale baixo - Remo implorou.
Os quatro amigos avançaram pela grama em direção ao lago. Snape os seguiu, ainda estudando a prova e, aparentemente, sem se dar conta de onde estava indo. Ajeitou-se na grama debaixo da sombra densa de um amontoado de arbustos.
-- Bom, eu achei essa prova baba - disse Sirius. - Duvido que eu não consiga no mínimo um "Excelente".
-- Eu também - disse Tiago. Ele guardou a varinha no bolso e pegou um inquieto pomo-de-ouro.
-- Onde você conseguiu isso?
-- Roubei - Tiago respondeu com descaso. Começou a brincar com o pomo, deixando que voasse uns 50 centímetros no ar antes de agarrá-lo outra vez; seus reflexos eram excelentes.
Pedro o contemplava admirado. Pararam debaixo da sombra da árvore na margem do lago e se jogaram na grama. A luz do sol resplandecia sobre a superfície lisa do lago, na beirinha em que três garotas risonhas que tinham acabado de deixar o Saguão de Entrada estavam sentadas, de pés descalços, refrescando-os na água.
Remo tinha aberto um livro e estava lendo. Sirius observava a confusão de estudantes pelo gramado, parecendo bastante aborrecido e desdenhoso, mas de uma maneira muito charmosa também. Tiago continuava brincando com o pomo, deixando-o ir cada vez mais longe, quase escapando, mas sempre o agarrando no último segundo. Pedro o observava de boca aberta. A cada pegada particularmente difícil de Tiago, Pedro ofegava e aplaudia. Tiago parecia estar gostando daquela atenção. Ele bagunçava ainda mais o cabelo como se para evitar que ficasse arrumado e, volta e meia, olhava para as garotas na beira do lago.
-- Melhor você guardar isso logo - disse Sirius finalmente, após Tiago fazer uma ótima pegada e Pedro deixar escapar um assobio - antes que o Rabicho se molhe de tanta excitação.
Pedro ficou levemente vermelho, mas Tiago riu.
-- Se isso te incomoda - ele disse, enfiando o pomo dentro do bolso.
Remo meneou a cabeça. Sabia que Sirius era a única pessoa que conseguiria fazer Tiago parar de se mostrar. E vice-versa.
-- Isso aqui tá muito monótono - disse Sirius. - Queria que fosse lua cheia.
-- Só você - Remo retorquiu sombriamente detrás do livro. - Nós ainda temos os exames de Transfiguração. Se você não tem nada pra fazer podia me testar. Aqui... - e ele ofereceu o livro.
Mas Sirius fez pouco caso.
-- Eu não preciso nem olhar para esse lixo. Sei tudo de cor.
-- Isso vai te animar, Almofadinhas - disse Tiago calmamente. - Olha quem está aqui - Sirius virou a cabeça. Ele ficou aceso, como um cachorro que farejou um coelho.
-- Excelente - disse suavemente. - Seboso.
Snape estava de pé novamente e guardava o teste em sua mochila. Assim que deixou a sombra dos arbustos e começou a andar pela grama, Sirius e Tiago se colocaram em seu caminho.
Remo e Pedro continuaram sentados: Remo ainda tinha os olhos presos no livro, apesar de que eles não se moviam, sua testa tinha se franzido demarcando uma linha entre suas sobrancelhas. Pedro olhava de Sirius e Tiago para Snape com um semblante ávido de antecipação.
-- Tudo bem, Seboso? - Tiago perguntou em voz bem audível.
Snape reagiu tão rapidamente que era como se estivesse esperando para ser atacado: derrubando sua mochila, tirou a mão de dentro das vestes e sua varinha já estava meio caminho no ar quando Tiago gritou.
-- Expelliarmus!
A varinha de Snape voou uns seis metros no ar e caiu com um pequeno estrondo na grama atrás dele. Sirius soltou uma gargalhada.
-- Impedimenta! - ele disse, apontando sua varinha na direção de Snape, que foi jogado longe enquanto ia em busca de sua varinha.
Os estudantes em volta se viraram para assistir. Alguns deles tinham se levantado e estavam se aproximando. Alguns pareciam apreensivos, outros divertidos.
Snape estava caído arquejante no solo. Tiago e Sirius avançaram em sua direção, varinhas erguidas, Tiago dando olhares furtivos por sobre o ombro na direção das garotas na beira do lago. Pedro estava de pé agora, consumindo a cena com o olhar, perambulando ao redor de Remo para conseguir uma visão melhor.
-- Como você foi no exame, Seboso? - perguntou Tiago.
-- Eu estava observando, o nariz dele estava tocando o pergaminho - disse Sirius maldosamente. - Deve ter marcas enormes de óleo no pergaminho inteiro, eles não vão conseguir ler uma palavra.
Muita gente que estava em volta riu; Snape era claramente impopular. Pedro gargalhou. Snape tentava se levantar, mas a azaração ainda estava funcionando; estava preso, como se estivesse amarrado por cordas invisíveis.
-- Você... você não perde por esperar - ele resmungou ofegante, fitando Tiago com uma expressão da mais pura aversão. - Não perde por esperar!
-- Esperar pelo quê? - disse Sirius, irônico. - O que você vai fazer, Seboso, escarrar na gente?
Snape soltou uma mistura de palavras encantadas e maldições, mas com sua varinha tão longe, nada aconteceu.
-- Lave essa boca - disse Tiago, friamente. - Esfregaça!
Bolhas cor de rosa de sabão saíram da boca de Snape de uma vez; a espuma estava cobrindo seus lábios, como uma mordaça, sufocando-o...
-- Deixe-o em PAZ!
Tiago e Sirius olharam ao redor. A mão de Tiago que não segurava a varinha voou em direção ao cabelo.
Era uma das garotas que há pouco estavam na beira do lago.
-- Tudo bom, Evans? - disse Tiago, e o tom de sua voz mudou subitamente. Estava mais profundo, mais maduro.
-- Deixe-o em paz - Lily repetiu. Ela encarava Tiago com todos os sinais de uma grande antipatia. - O que ele fez pra você?
-- Bem - disse Tiago, aparentando pensar sobre o caso - é mais o fato de que ele existe, se é que você me entende...
Muitos dos alunos ao redor riram, Sirius e Pedro também, mas Remo, aparentemente ainda concentrado em seu livro, não riu, tampouco Lily.
-- Você se acha muito engraçado - ela retorquiu friamente. - Mas você é só um piadista infame e arrogante, Potter. Deixe-o em paz.
-- Eu deixo se você sair comigo, Evans - Tiago respondeu rapidamente. - Vamos... saia comigo e eu nunca mais encosto a varinha no velho Seboso outra vez.
Atrás dele, o efeito do feitiço Impedimenta estava se acabando. Snape estava começando a engatinhar para junto de sua varinha, deixando escapar bolhas de sabão enquanto se movia.
-- Eu não sairia com você nem se eu só pudesse escolher entre você e a lula gigante - disse Lily.
-- Deu azar, Pontas - disse Sirius marotamente e se virou para Snape. - EI!
Tarde demais; Snape tinha a varinha apontada exatamente na direção de Tiago; um feixe de luz e um corte apareceu num dos lados do rosto de Tiago, manchando suas vestes com sangue. Tiago revidou: um segundo feixe de luz e Snape estava pendurado de cabeça para baixo no ar, suas vestes descendo e revelando um par de pernas pálidas e esqueléticas, e cuecas de cor cinza.
Muitas das pessoas naquela pequena multidão aplaudiam; Sirius, Tiago e Pedro se fartavam de rir; Lily, cuja expressão de fúria hesitou por um instante como se fosse se render ao riso, disse.
-- Coloque-o no chão!
-- Com certeza - Tiago respondeu baixando a varinha; Snape caiu como uma pilha de roupas amontoada no chão. Desenroscando-se de suas próprias vestes, ele se levantou rapidamente, varinha em punho, mas Sirius bradou.
-- Petrificus Totalus! - Snape caiu outra vez, rígido como uma tábua.
-- DEIXE-O EM PAZ! - Lily gritou. Ela tinha sua própria varinha empunhada agora. Tiago e Sirius olharam cautelosos.
-- Ah, Evans, não me faça azarar você - disse Tiago sério.
-- Então retire o feitiço.
Tiago respirou fundo e então se voltou para Snape e murmurou o contra-feitiço.
-- Prontinho - disse quando Snape se colocou de pé novamente. - Você teve sorte de a Evans estar aqui, Seboso...
-- Eu não preciso da ajuda de sangue-ruins imundos como ela!
Lily piscou.
-- Bem - ela respondeu friamente. - Não vou me incomodar no futuro. E eu lavaria minhas cuecas se eu fosse você, Seboso.
-- Peça desculpas para Evans! - Tiago rugiu na direção de Snape, a varinha apontada ameaçadoramente para ele.
-- Eu não quero que você o faça se desculpar - Lily gritou para Tiago. - Você é tão desprezível quanto ele.
-- Quê? - ganiu Tiago. - Eu NUNCA chamei você de... você-sabe-o-quê!
-- Bagunçando seu cabelo só porque você acha legal parecer que acabou de descer da sua vassoura, se mostrando com aquele pomo estúpido, andando pelos corredores e azarando quem quer que seja só porque você pode... estou surpresa que sua vassoura consiga sair do chão com um ego tão inflado quanto o seu. Você me dá NOJO.
Ela se virou e correu dali.
-- Evans! - Tiago gritou por ela. - EI, EVANS!
Mas ela nem olhou para trás.
-- O que é que deu nela? - disse Tiago, tentado e fracassando em parecer que esta não era uma questão de grande importância para ele.
-- Lendo nas entrelinhas eu diria que ela acha você um pouquinho convencido, cara - respondeu Sirius.
-- Certo - disse Tiago, que parecia furioso agora - certo...
Houve um novo feixe de luz e Snape estava novamente suspenso de ponta-cabeça no ar.
-- Quem quer me ver tirar as cuecas do Seboso?
Porém nesse momento, Minerva McGonagall saiu do castelo com os lábios apertados em uma linha muito fina ordenando que eles colocassem o sonserino no chão e levando os três para seu escritório. Remo deu um suspiro cansado e deixou a cabeça pender para trás, encostando-se ao tronco da árvore. Então se lembrou que Pedro ainda estava ali.
-- Venha, Rabicho. Vamos estudar para o exame de Transfiguração.
Pedro fez cara de choro, mas sentou-se resignado.
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O mês de junho custou a passar, provavelmente por causa da ansiedade pelas férias. O calor tornava as aulas quase insuportáveis, além do fato de que eles não se sentiam muito inclinados a prestar atenção depois de tanta tensão pelos exames. Eles enfrentaram ainda outra lua cheia e novamente Lily não deu sinais da curiosidade que sentia pelo motivo do cansaço dos marotos e da ausência de Remo, embora isso custasse muita força de vontade.
Os marotos aproveitaram também para colocar o pouco do terreno que já tinham adquirido conhecimento no Mapa do Maroto, mas ainda havia muito o que explorar.
Enfim, chegou o dia de partirem e eles embarcaram no Expresso de Hogwarts às onze horas da manhã rumo a Londres. Remo e Lily tiveram que patrulhar os corredores pelo meio da tarde e aproveitaram para conversar um pouco, até o momento em que passaram pela cabine em que três garotos jogavam Snap Explosivo ruidosamente.
-- Ei, Evans, estou precisando de um parceiro no jogo. Se você aceitar sair comigo eu posso te dar esse privilégio, que tal?
Lily estreitou os olhos e fechou os punhos, mas não se virou para encará-lo. Continuou pisando duro enquanto os três garotos riam.
-- Ai, eu não suporto esse garoto! Como você consegue conviver com uma criatura dessas, Remo?
-- Lily, todo mundo tem defeitos...
-- Mas ele é um exagero! Moleque insuportável.
-- Eu sei que ele é meio arrogante...
-- Meio? Potter é um poço de arrogância, não sei como ele consegue andar sem tropeçar no próprio ego. Não sei quem é pior, se ele ou o Black. Eles passam a vida disputando o prêmio de idiota-mor de Hogwarts. O Pettigrew só é ruim por andar com eles, porque só sabe rir e comer o tempo todo.
Remo suspirou cansado, tirando algumas mexas do cabelo dos olhos e encarando a ruiva.
-- Escute por um momento, Lily, por favor, sim? Prometo que depois não tento defendê-los mais.
Lily soltou um muxoxo. Cruzou os braços e fitou-o carrancuda.
-- Está bem.
-- Como eu ia dizendo, ninguém é perfeito. Mas nós não podemos deixar as imperfeições nos impedirem de enxergarmos as pessoas mais profundamente. Tiago e Sirius têm muitos defeitos, eu sei, eu convivo com eles. Às vezes também tenho raiva deles, se isso te deixa mais aliviada, porém é tão fácil esquecer esses erros diante da personalidade completa deles - ele parou por um momento, parecendo escolher as palavras. - Se por um lado eles são indisciplinados, impulsivos, arrogantes, encrenqueiros e teimosos...
-- E cafajestes - Lily não conseguiu se conter, mas esperou educadamente que Remo prosseguisse. Poderia enumerar muitos outros adjetivos, porém seria falta de consideração pelo esforço de Remo.
-- ... e cafajestes, por outro lado eles podem ser extremamente compreensivos, leais, carinhosos e corajosos. Você já reparou em como aqueles dois são unidos? Eles não hesitariam em dar a própria vida pelo outro e por qualquer um de nós. Sim, Lily, você também, Alice, Frank, além de muitas outras pessoas maravilhosas. Eles são divertidos e podem até ser sensatos às vezes. Principalmente Tiago. Sirius é bem mais impulsivo, porém tem consciência disso, até por observar seus familiares. Ele sabe que precisa de alguém para refrear sua impaciência e está sempre ouvindo Tiago. É engraçado como Sirius tenta fingir que não liga pra nada, principalmente quando sou eu quem tenta aconselhá-lo, mas faz isso só pra não ter que admitir que estou certo.
Enquanto falava, Remo observava cada reação de Lily. Seu olhar já não estava tão duro, sua expressão ia-se desanuviando a cada palavra, mas ainda resistia. Não daria o braço a torcer tão facilmente. Sorriu ao compará-la com Tiago e perceber que eles tinham bem mais coisas em comum do que imaginavam.
-- Você não imagina o que eles seriam capazes de fazer por um amigo. Digo isso por experiência própria. Sou tão grato a eles que me sinto quase obrigado a defender as criancices deles incondicionalmente. Se não fosse pela amizade pura e desinteressada deles, minha vida teria perdido o sentido. Acredite-me, eu poderia passar o resto do dia noite enumerando as qualidades daquelas duas pestes. Apesar disso, sei que você não vai se convencer somente com as minhas palavras - Remo segurou carinhosamente uma das mãos de Lily e acariciou-a sem desviar os olhos dos dela. - Prometa-me que vai tentar enxergar por você mesma as qualidades dos irmãos encrenca, heim? Experimente rir de alguma de suas palhaçadas sem pensar em quantas regras eles infringiram.
Lily sorriu docemente para o amigo.
-- Tudo bem. Prometo que vou tentar. Mas...
-- Ok, ok, você não me garante nada. Se você me diz que vai tentar eu já fico contente. Agora vamos voltar?
Era difícil colocar em prática aquilo que Remo pedira com a memória do episódio na margem do lago ainda fresca na mente. Lily passou direto pela cabine dos marotos, mal se despedindo de Remo e foi mais para frente do trem, passar seus últimos momentos com as amigas - e seus namorados - até a hora de desembarcarem e separarem-se.
Os quatro garotos desembarcaram do trem com seus malões e fecharam um círculo, com as cabeças próximas e as mãos passadas nos ombros dos outros.
-- É isso aí, pessoal - começou Tiago. - Mais um ano para nos recordarmos.
-- Com muito orgulho - acrescentou Sirius.
-- Eu devo tanto a vocês... - veio a voz fraca de Remo.
-- Nós não estamos te cobrando nada - disse Tiago. - Eu quero chamar vocês para passarem as últimas semanas de férias na minha casa, beleza?
Os três concordaram com acenos de cabeça.
-- Pena que você vai ter que enfrentar as transformações sozinho, não é mesmo, Aluado? - lamentou Pedro.
-- Não se preocupem. Não é nada que eu não esteja acostumado, apesar de vocês estarem mimando demais o Aluado.
Os três bagunçaram os cabelos de Remo, um de cada vez.
-- E você, Sirius? Acha que sua mãe vai deixar você ir? - perguntou Remo assim que conseguiu livrar-se do afago do maroto mais alto.
-- Eu dou um jeito. Nem que eu tenha que fugir de casa.
Remo reparou que ele tinha dito aquilo sério demais, mas achou que poderia ter imaginado.
Lily teve um relance dos quatro garotos abraçando-se com as cabeças unidas e ficou intrigada. O que será que os tornava tão unidos? Que segredos eles compartilhavam? Ela assistiu-os despedindo-se e rumando para seus familiares, três deles parecendo animados e saudosos, o quarto parecendo pesaroso e rancoroso. Porém não teve tempo de reparar em muito mais do que isso, pois seus pais - e uma Petúnia bicuda e indignada - a esperavam.
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Lily estava em um aposento empoeirado e mal cuidado. Os móveis eram arranhados, quebrados e... mordidos? Através de uma fresta da janela quase completamente coberta de tábuas ela pôde ver que era noite. Aproximou-se cautelosamente da janela e espirou pela fresta. Era uma noite bastante estrelada, apesar de uma nuvem espessa cercada por uma luminosidade prateada estar escondendo a lua. Porém por pouco tempo, já que o vento a desfazia rapidamente permitindo-a visualizar o globo de luz em sua fase cheia. Presa pela belíssima visão da lua se revelando, Lily percebeu uma respiração pesada vinda de um dos cantos do aposento e sentiu seu sangue gelar. Um lamento sofrido, um gemido meio animalesco, fez com que todos os pêlos de seus braços e nuca se arrepiassem. Virou-se para o lado que supunha ter ouvido o som. Ela não estava sozinha. Assim que a lua se revelou por completo, a claridade filtrada pela pequena abertura nas tábuas ofuscou sua visão impedindo-a de enxergar com clareza a criatura que se contorcia numa grande cama que ela não tinha reparado antes. Deu um passo para trás instintivamente, mas tropeçou. Enquanto caía no chão lentamente, percebeu as cores se borrando até que ela atingisse a superfície macia do colchão, encarando o teto parcialmente escuro do próprio quarto.
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N.A. ACABOU! Bem, esse capítulo foi realmente desgastante para escrever e, apesar de ser o último, não é o meu favorito. Alguns de vocês que já leram Half-Bood Prince podem ter percebido uma pequena alusão a um spoiler, muito sutil por sinal. Mas não é nada para se preocuparem, nada muito revelador, deve até passar meio desapercebido. Decepcionei vocês com o quadribol? Sinto muito, mas três partidas em uma única fic é demais pra mim...
MiLaChaN que bom que vc gostou do capítulo anterior! Mas fico mais sossegada por saber que você se encarregou de consolar o Remus rsrs. Eu estava realmente apreensiva qto a aceitação do pessoal. Bem, não fui tão má nesse capítulo, fui? Espero que tenha gostado desse também... Bjus, e obrigada!
Tete Chan pois é, eu tenho tendência a judiar do Remo mesmo... mas é pq eu gosto muito dele, acredite o.O Vc viu, que caráter maravilhoso o dele? Entregar a pessoa que ama de mão beijada para outro, não é pra qualquer um... Isso mesmo, que venha o sexto ano! Brigada, viu? Pelos elogios e por acompanhar, por dar a maior força! Kissus!
Nessa caramba, eu amei,amei, amei e amei seu review! Vc falou tudo! Foi lindo, maravilhoso! Eu só posso ter cada vez mais certeza de que nossas idéias batem em praticamente tudo a respeito desses personagens! É fantástico! Mas a coisa que mais me chamou a atenção, foi vc descrevendo o sentimento de Remo como uma coisa pura e triste, é exatamente isso que eu penso! É o sentimento mais puro que existe! Ele nos faz capazes de renunciar a tudo pela felicidade de outra pessoa. O Remus é a coisa mais linda que existe! Eu sei que vc etá cansada de me ouvir dizer isso, mas vc me ajuda muito, viu? Principalmente nesse capítulo, vc tirou um peso enorme da minha consciência da maneira mais eficaz e ainda me presenteou com um review encantador! Aliás, todos os seus reviews são encantadores... Não tenho palavras pra te agradecer, mas vc sabe... mil beijos!
LeNaHhH ai, estou tão feliz que tenha gostado! Tanto da parte de comédia qto do drama o Remo e da Lily, é sempre bom saber a opinião de vcs. Obrigada por não economizar elogios! Vai ter continuação sim, não se preocupe! Hahaha percebi que vc ficou ansiosa por uma resposta, então eu repito: haverá uma continuação sim! Como eu poderia recusar diante de um review desse? Então fique sossegada, ok? Amei seu comentário e sua insistência! Bjos!
Mione Lupin que bom que vc gostou da empatia! Eu estava com medo de que ficasse um pouco confusa, mas tenho recebido comentários animadores, assim como o seu, valeu mesmo! Pois é, acabou essa fic, mas ainda haverá outra Definitivamente! Espero q vc também acompanhe e goste! Bjinhus!
Jokka Potter eu gostei da sua história! Seu livro deve ficar incrível mesmo! Amei! Vc é novinho, não imaginava, mas espero poder ler seu livro em breve! Bem, vamos combinar assim então, vc escreve as fics dos marotos que tem planejado. Mas se tiver qualquer dúvida, se precisar de uma opinião, ou se achar dificuldade em continuar de algum ponto, não pense duas vezes: escreva para mim. Terei prazer em ajudá-lo no que for preciso! Combinado? E, mais uma vez, valeu pelos elogios! Espero que tenha gostado do capítulo! Beijos.
Brunah que bom que vc "amou muito"minha fic! XXD É sempre bom ouvir isso! Pois é, Definitivamente Marotos acabou, mas eu não paro por aqui, não se preocupe! Valeu por acompanhar! Beijo!
aRTHuR BLaCK que bom ver seus comentários de novo! Puxa vida, a net demorou bastante, né... e só chegou agora que a fic acabou... mas não se preocupe, nem fique triste por isso. Fico feliz só de saber que vc não se esqueceu de mim! Valeu por acompanhar, mesmo sem net! E espero que vc acompanhe a próxima também! Beijos.
Lika Malfoy OMG eu ainda não acredito que o site "comeu" seu review... mas reconheço seu esforço e imagino que deva ter ficado bem grande mesmo rsrs. Sem vc não haveria Definitivamente Marotos - vc sabe que isso é a mais pura verdade! Lembra de quando vc sugeriu que eu escrevesse uma fic e eu torci o nariz? hahaha eu nunca vou me esquecer disso... Valeu, minha irmazona, melhor amiga e beta esforçada XD Beijokinha.
É isso aí, pessoal! O 5º ano dos marotos chegou ao fim, mas minhas idéias ainda não acabaram! Só me falta tempo para colocá-las em palavras para vcs, já que nem todos têm domínio de legilimência... Aguardem uma atualização ainda nessa fic informando sobre a continuação, ou procurem pela fic "Definitivamente Brilhantes". Ainda não sei quando vou começar a postar. Espero que não demore mais do que duas semanas, mas não posso prometer nada, uma vez que não tenho capítulos para postar. De qualquer forma, se vcs deixarem reviews com seus e-mails, eu posso informá-los qdo postar, além de responder os comentários.
Oh, sim, e POR FAVOR DEIXEM REVIEWS! Quanto mais comntários vcs deixarem, mas rápido eu posto a continuação, combinado?
Mais uma vez, agradeço a todos que têm acompanhado a fic :) mesmo sem deixar reviews :( Muito obrigada! Sem vcs talvez eu não tivesse nem mesmo concluído essa fic! Até breve – eu espero.
Milhões de beijos!
P.S. Será que vcs também sentiram falta do "E no próximo capítulo..."? Puxa vida, eu senti...
