Capítulo 6

Estavam os seis sentados em frente à barraca de Kamus.

- ELE FEZ O QUE? - Saga e Kanon.

- XXXXXX XXXXXXXX XXX XXXXXXXX XXXX XXXXXXXXXX XXXX XXXXXXXXX XXXX X XXXXXXXXXXXXXX XXXXXX XXXXXXX XXXX XXXXXX! - Kamus.

- FILHO DA !$$&&(() ?#$&#&! - Kanon.

- Ai, mas vocês estão com um vocabulário de dar desespero! - Reclamou Afrodite, amarrando a cara para a conversa dos três.

- Pô, mas olha só! - Kanon não se conformava. Levantou-se e deu várias voltas em torno de Kamus, enterrando os dedos nos cabelos. - O cara comeu a mina do Kamus e--

- "Comeu", Kanon? - Afrodite mostrando sua desaprovação ao verbo escolhido.

- Afrodite, quieto! -Kanon e Saga.

- Como eu ia falando, o cara comeu a mina do Kamus e...- Pisca. Pisca. - ESPERA AÍ! - Virou um dedo ameaçador na direção do nariz de Kamus tão repentinamente que os olhos do amigo se esbugalharam. - VOCÊ DEIXOU ELE IR ASSIM, SOSSEGADO?

Kamus envesgou os olhos para olhar para aquele dedo.

- E o que eu iria fazer? Amarrar ele com o saco de dormir? - Pegou a mão de Kanon e empurrou-a violentamente para baixo.

- Espancá-lo até a morte com ele não seria má idéia. - Disse Shaka, examinando uma mecha de cabelo.

- Odeio a sua ironia, Shaka! - Disse Saga, quase espumando pela boca.

- Arigatou. - Piscou um olho e mostrou a língua para o amigo.

Alguns instantes de silêncio.

- Afrodite, dá água?

- Claro, Mu. - Passou a garrafa para o amigo.

- Ainda não tô acreditando! - Kanon só então tornou a sentar-se.

- É! - Saga começou. - Francamente, virar corno e num ligar é demais...

Kamus soergueu a sobrancelha esquerda perigosamente.

- Corno e não ligar?

- É! Cara, era a tua mina!

- Saga, caso você não se lembre - ele falava num tom controlado, deixando bem claro a irritação que aquelas palavras lhe causaram. - eu e ela não temos nada, NA-DA!

- Mas vocês ficaram!

- E uma ficada não é um namoro sério, senão todos aqui, INCLUINDO VOCÊS DOIS, SEUS GALINHAS DESBOCADOS, seriam cornos mansos por todas as meninas que a gente já beijou sem nem saber o nome!

- Um galinha desbocado falando de dois da mesma granja...

- Afrodite, quieto! - Kanon, Saga e Kamus.

- Bom, mas agora também não faz mais diferença! - Apressou-se em dizer Mu, já cansado daquela conversa estúpida que não levaria a lugar nenhum. - Vamos para a quadra que logo o jogo do Afrodite vai começar. - Levantou-se e todos o seguiram.

Uma faísca estalou em Kanon...

- Uhh! Jogo, Saga! - Disse para o irmão, cutucando-o com o cotovelo, seu olhar se iluminando.

Faísca estalando perto de palha não funciona...

- É! - Os olhos de Saga adquiriram o mesmo brilho. - Isso significa que talvez...

- ... nós consiguamos arranjar uma nova ficante pro Kamus aqui!

Instantes de silêncio enquanto todos olhavam amedrontados para os dois irmãos que irradiavam uma energia perigosamente malévola.

- YEAAAAAAAAAAAHHHHHH! - Gritaram os dois juntos, fazendo queixos caírem e Shaka ter de limpar o cuspe de Kanon que havia voado em sua cara.

- Sim, talvez até consiguamos uma muito mais gostosa pro nosso amigo chifrudo aqui! - Saga deu tapinhas no ombro de Kamus e recolheu a mão imediatamente quando esse lhe lançou um olhar de "eu vou arrancar as suas tripas, temperar com o seu sangue e comer como se fosse macarrão".

- "Consiguamos", Saga?

Todos se viraram para o dono da voz.

Ahh, se olhar lançasse bala...

- AFRODITE, CALA A BOCA! - Berraram todos em uníssono.

Espanaram a poeria das roupas.

- Vamos nessa então? - Perguntou Shaka.

- Ah, vão na frente, logo eu alcanço vocês! - Kamus disse, enfiando-se em sua barraca e procurando alguma coisa.

- Hm, o que você tá procurando? - Mu, curioso.

- Meu elástico... tá muito quente. - Fuçando na mochila.

- Quer ajuda?

- Não não, valeu, Afrodite. Até porque você tem jogo agora e vai se atrasar se ficar aqui. Pode deixar que eu já estou indo.

- Ok então! - Saga, já pegando o caminho da quadra. - Vê se num demora!

Todos o seguiram.

Kamus revirava as coisas da barraca e nada. Nada na mochila. Nada na necessaire. Nem jogado em seu saco de dormir. Procurou em todos os bolsos e cantinhos. Dentro das meias, cuecas, bermudas, camisetas. Tateou os pulsos e o cabelo várias vezes para se certificar de que não havia colocado ali e esquecido. Depois de uns 10 minutos de fuzuê, só havia um lado da barraca arrumado: o esquerdo.

Lançou um demorado olhar para as coisas de Miro. Será que sem querer não deixara cair ali?... não, não, não! Haviam concordado em dormirem juntos desde que cada um permanecesse do seu lado da barraca! Mas... aiaiai, que quente... Saco, por que as noites eram tão frias(e gostosas) e os dias tão quentes(e insuportáveis)? Saco... queria prender o cabelo. Talvez se mexesse com cuidadinho... é, ele não perceberia. Era só uma olhadinha básica. Bem por cima, só pra se certificar de que seu elástico não teria acidentalmente rolado para o lado inimigo.

Satisfeito com as justificativas que ele próprio encontrara para fuçar onde não devia, avançou para o lado do outro garoto. Não havia nada no chão ou sob o saco de dormir. Olhou para a mochila. Não acreditava que Miro havia pego, mas... ahh, quanta curiosidade! O que ele carregava na mala? Decidiu procurar ali dentro também, mais pra matar a curiosidade do que por qualquer coisa. Abriu devagar a parte maior da mochila, com medo até de fazer barulho com o zíper. Esgueirou os olhos pra dentro dela e colocou a--

- Ahn! - Sua mãos tateou alguma coisa muito estranha. Aproximou-se, espiando melhor o que havia dentro. - Mas o que é isso...?

Agarrou o gargalo e puxou um pouquinho para fora, apenas o suficiente para que as letras da palavra "Vodka" se tornassem cem por cento legíveis.

Perdeu um instante olhando aquilo, expressão de pura surpresa.

- O que é que ele pensa que fez...? - Falou baixo, lentamente. - Eu preciso levar isso aqui para algum professor agora!

Ele puxou a garrafa de dentro da mochila.

- O que cê ainda tá fazendo aí?

Aquela voz fez o seu sangue gelar. Não, agora não! Enfiou rapidamente a garrafa no lugar e fechou o zíper o mais rápido que seus dedos conseguiram. Saiu imediatamente, fechando a barraca e endireitando o corpo.

- Oi, Miro. - Sorriu falsamente. - Como foi a noite?

Miro deu uma lambida no pirulito vermelho que segurava e sorriu triunfante.

- Ótima, senhor monitor! - Sorriso mudando do "triunfante" para o "safado". - Fizemos coisas que você gozaria se eu contasse!

- Legal, e por que não começa? - Sorriso mudando do "falsamente" para o "irritado". - Tô afim de gozar um pouco, já que minha noite foi monótona! - Irônico.

Miro apenas abafou um risinho, encaixando o pirulito nos lábios de forma discretamente sensual. Kamus reparou e não pôde deixar de achar a cena... ahn... bela, digamos assim(se bem que imagino que estivesse mais para "excitante").

- Mas não se preocupe, monitor. Hoje eu posso te fazer companhia e quem sabe consiga fazer você gozar um pouco! - Usou sarcasmo.

Algo cochichou na orelha de Kamus que aquilo talvez não fosse brincadeira. Kamus ignorou.

- Oh, seria ótimo. - Mais ironia.

Miro balançou a cabeça para tirar a franja do olho. Estava com os cabelos presos. Foi então que Kamus notou algo de muito familiar naquele cabelo.

- EI! ESSE ELÁSTICO É MEU! - Disse, apontando para o elástico velho na cabeça dele.

- Ah, esse vermelho? - Miro tocou o acessório. - Então ele é seu? Hehehehehe, Desculpa, viu, é que eu achei ele jogado ao lado do seu saco de dormir quando vim pegar umas roupas hoje cedo. Como você não estava, pensei que não iria vir atrás. - Sorriso mudando para "esperto".

- DEVOLVE ISSO AGORA, MOLEQUE!

- Ahh, eu adoraria, mas está tãããããão quente! - Riu, voltando a lamber o pirulito.

- Aff... - Kamus respirou. Era melhor parar de gritar. Já que aquele lá era mais burro que uma porta, falar alto ou baixo não faria a menor diferença. - Poderia me devolver, por favor?

- Hm... - Mais uma lambida. - Não! - Criança arteira.

Kamus respirou fundo. Aquele garoto fazia de tudo para atazaná-lo ou o quê? Que droga aquele estúpido queria dele? Que vontade de socá-lo. Kamus não era violento, do tipo que se metia em brigas a toda hora. Só quando a pessoa dava mesmo muito motivo. Aquele ali já havia estrapolado os limites, a maior vontade de Kamus era quebrar aquele nariz, torcer aqueles braços, arrancar aquelas pernas, cortar fora o--

- Não contraia o rosto assim.

- Ahn! - Despertou subitamente da viagem ao lado assassino de sua mente para encontrar no rosto do companheiro de "cela" uma expressão estranhamente amigável.

- Não contraia o rosto assim quando pensar. Assim, o cenho, o nariz, a boca... Minha mãe fala que causa rugas. - Kamus entreabriu a boca pra falar, mas Miro rapidamente colocou o pirulito delicadamente entre aqueles lábios. - Toma! Quem sabe não adoça um pouco a sua vida?. - Sorriso "Amigo"... ou melhor, "Amigo ou algo mais".

Kamus não entendeu. Como ele conseguia mudar tanto de uma hora pra outra?

- Foi mal, cara... não queria ter discutido com você. - Miro, visivelmente arrependido, leveou a mão ao cabelo e puxou o elástico de Kamus, que não entedia nada. - Aqui, é seu. Desculpa ter pego sem pedir.

Em horas como aquelas, até que Miro se tornava suportável.

Kamus tirou o pirulito da boca pra falar.

- É, mas discutiu. E pegou sem pedir. - Disse em tom um pouco mais ameno, mas deixando claro que a raiva ainda não passara. Começou a andar em direção à quadra pois o jogo já estava pra começar. - Fica com isso, tá velho mesmo. Aliás, logo logo você não vai mais sentir o calor agonizante desse acampamento.

O estômago de Miro quase capotou. O que Kamus quis dizer com aquilo? Então ele realmente... realmente contaria...

- Você vai me denunciar, Kamus? - Perguntou, tentando, em vão, esconder o seu medo. - Pelo que eu fiz ontem a noite?

Kamus riu alto.

- Não, não, não... - Disse calmamente, acenando pra ele sem se virar. - Você já está com problemas suficientes.

Miro não entendeu.

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A equipe de Afrodite ganhou o jogo graças a habilidade do mesmo. Mais tarde, mais um jogo ganho. E mais uma vez, como nas noites anteriores, todo mundo foi comemorar, principalmente a equipe Peixes, que estava finalmente se livrando da quarta posição no placar e tomando lugar da Virgem.

Afrodite não queria comemorações. Pegou um pacote de chocolates que havia trazido e foi perder tempo caminhando.

Já estava bem escuro quando Shaka e Mu se distanciaram da multidão.

Caminhavam distraidamente pelo lugar, que era iluminado por alguns postes de luz espalhados. Como as outras noites, estava terrivelmente frio e os dois estavam envoltos em grossas blusas. O céu estava limpo, com uma lua cheia imensa que, mesmo iluminando toda a terra, não conseguia ofuscar nenhuma das estrelas.

- E aquela ali, Mu? - Shaka apontou um ponto brilhante no céu. - Que estrela que é?

- Aquilo não é uma estrela, Shaka! - Riu levemente o rapaz de cabelos arroxeados. - É um planeta. Júpiter.

- Ah, e como é que eu iria saber? - Protestou com cara feia.

- Olha, aquela estrela, eta carina. - Apontou um outro ponto no meio de muitos outros. - Ela cintila, vê? Compare com Júpiter...

Shaka levou quase um minuto para entender, olhando de um astro para o outro.

- Ahh, saquei. Quando cintila é estrela, quando não cintila é planeta?

- Hai, está certo! - Mu sorriu.

Os dois pararam de caminhar e continuaram a contemplar o céu. Num dado momento Shaka deitou-se na grama, esparramando-se. Mu olhou pra baixo.

- O que cê tá fazendo aí, Shaka? - Perguntou, entortando as finas sobrancelhas.

- Ah, cansei de andar. - Sorria.

- Ah, Você vai acabar se resfriando! - Mu cutucou Shaka na barriga com o pé. - Anda, sai desse chão gelado!

- hm... por que você não deita aqui ao meu lado, chéri? Então poderemos nos esquentar enquanto contemplamos o lindo céu da noite! - Shaka fez uma cara altamente sedutora, os cabelos espalhados pela grama, corpo mole, como se... se rendesse...

Mu corou violentamente e depois deu uma risada que beirava o histérico. Tudo para disfarçar sua falta de jeito.

Shaka não alterou um milímitro de sua expressão, apenas se mexeu um pouquinho para acentuar seu ar dengoso.

Mu agachou-se próximo do rosto dele, pousando o dedo na ponta daquele nariz. Sorria com as faces vermelhas. O que podia fazer se estava "morrendo de frio"?

- Sabe, se você não fosse tão bom ator eu até poderia dizer que você está falando a verdade!

Shaka não gostou de ser chamado de mentiroso. Como vingança, agarrou o pé de Mu e puxou, fazendo o rapaz tombar para trás.

- Ahhh, seu maldito!

O loiro riu da própria brincadeira.

- Você que me chamou de mentiroso, oras! Levou o que mereceu!

- Nhééééééééé, seu mala! - Mostrou a língua, colocando-se sentado com as pernas cruzadas ao lado dele.

O loiro olhou para o amigo. Estava caindo sereno e o vento fraco varria o campo, fazendo aqueles cabelos balançarem fracamente. As faces dele estavam vermelhas. Hmm, será de frio ou de vergonha? Olhou para aquele peito estufado pela jaqueta grossa que se mexia devagar, no ritmo da respiração dele. Vontade de acelerar aquela respiração... mas não ali. Todos poderiam ver. Tinha medo. Medo de que descobrissem. Medo de que MU descobrisse. Que os amigos descobrissem. Medo da rejeição. Vontade de se expressar. Nunca contara a ninguém, mas sentia algo diferente por Mu desde garotinho. Desde que o conhecera...

"Oi!" Disse para o garotinho de chanel lilás. Ele era novo na escola e ainda estava sozinho.

"O-oi!" Respondeu ele, um pouco nervoso.

"Meu nome é Shaka. E o seu?"

"Mu..."

Um grupinho de meninos passaram correndo, fazendo passes com uma bola de futebol.

"Shaka, vem logo! A gente já tá indo!" A voz infantil do pequeno Kamus.

"Tá!" Ele fitou os olhos de Mu "Vamos jogar futebol! Vem com a gente!"

"Ahh... Desculpa... é que eu não sei jogar" As bochechas do garoto novo ficaram da cor de tomate maduro.

O loirinho sentiu o coração acelerar. O que era aquilo?

"Ah, não esquenta..." estava quase tão encabulado quanto o outro "A gente te ensina!"

E sem esperar resposta, tomou-o pela mão, puxando-o até o campo.

... Foi entender isso quando ficou mais velho. Na sexta série. Lembrava-se porque foi no mesmo ano em que decidira entrar para o grupo de teatro da escola. O que o motivara a isso não foi nenhum talento para os palcos ou vontade de aparecer. O que queria mesmo era aprender a se expressar melhor. Deixar de ser tão reservado. Éééé, funcionou. Era o melhor ator da escola, estava sempre com os papéis principais. Sim, expressava-se bem melhor agora. Porém, se pudesse voltar atrás não teria nem cogitado a hipótese de se aproximar de um palco. Ele se expressava bem, só que não com quem queria. Não por sua parte ... por parte dele. Mu era trancado dentro de si. Nunca falava nada, não contava segredos. Não contava sobre o que pensava nem mesmo para ele, Shaka, seu melhor amigo no grupo. Talvez se ainda fosse retraído, a comunicação entre eles fosse mais íntima. Talvez, talvez, talvez...

- Shaka, tá me ouvindo?

- Ahn? - Shaka acordou. - Desculpa, o que você disse?

- Nada de importante, mas era estranho o que você tava fazendo... - Mu arqueou as sobrancelhas. - Tava me encarando com cara de dopado...

- Ahh... er, foi mau.

- Tudo bem.

Silêncio.

- Mas esse chão tá frio mesmo. - Shaka se apoiou nos cotovelos e deitou a cabeça no colo de Mu.

- Ahn? - Coração acelerado. No que Shaka tava pensando? - Mas o que você--

- Você é doente!

- Quê? Não!

- Tem nojo de mim!

- É claro que não!

- Então fica quietinho e me deixa gostar de você!

E com aquela frase tudo voltou ao silêncio quase absoluto. As vozes da multidão estavam distantes...

O coração do garoto normalizou-se depois de um tempo. Shaka em seu colo, olhando perdidamente para o céu. Que cena linda. Shaka em seu colo... em SEU colo! Aquele era um sonho antigo. E totalmente secreto.

- Mu, que constelação é aquela? - Shaka apontou um conjunto de estrelas.

Mu fitou o céu na direção do dedo dele.

- Shaka, aquilo é tudo menos uma constelação.

- Ah, então cadê constelação?

- Hm... - Mu vasculhou com os olhos e apontou para uma estrelinha vermelha . - Ali... aquela ali é a constelação do Escorpião!

- Escorpião? - Shaka olhou para Mu por um segundo e depois voltou a olhar para o céu. - Onde raios eles viram um escorpião ali?

- Olha, se você prestar atenção, o...

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Afrodite observava tudo a distância. Ele não os seguiu, é claro! Apenas estava por perto quando eles passaram e.. ah, Afrodite seguiu sim! E dane-se! Era enxerido mesmo! E como só ele percebia, estava tudo bem espiar! Ah, mas que bom! Finalmente aqueles dois pareciam estar fazendo alguma coisa pra levar aquela relação para algum lugar. Riu baixinho. Não entendia o que eles falavam, mas conseguia ver que o clima estava bem quente. Uma pontada de inveja. Lembrou-se daquele maldito garoto da sua classe. Maldito mesmo! Ah, se ele não fosse um cara tão difícil de se aproximar. Se ele fosse um cara confiável. Viu-se ali, no lugar de Mu e Shaka. Máscara deitado em seu colo e ele explicando àquele garoto bobo sobre as constelações. Droga, alguém me diz por que eu só gosto de criatura difícil de se aproximar? Foi assim com a Marin, a June...

Bom, ao menos essas eram meninas. Ele não chegou a conversar com nenhuma delas a respeito disso, mas sabia que seria muito mais fácil. Quem mandou gostar de homem, hein, Afrodite, seu estúpido? ahhh! Baka! Baka! Baka!

- Por que está dando tapinhas na sua testa?

Afrodite olhou de relance para o lado e parou de bater no rosto. Sorriu ao ver quem era.

- Nada não! Como você está?

- Ah, bem... e você?

- He, só um pouco chateado! - Afrodite sentou-se.

- Espiando seus amigos? - Miro sentou-se ao seu lado.

- Eu queria chegar perto deles, mas... ah, deixa eles conversarem!

- Hehehehe, eles se gostam, né? - Perguntou Miro, preparando-se para uma reação de surpresa. Contudo, Afrodite apenas sorriu levemente.

- Tá tão na cara assim? - Abraçou os joelhos, olhando perdidamente a frente.

- Quando a gente gosta de alguém, não dá pra esconder. - Voz aérea de Miro.

- Não é bem assim... - Afrodite riu levemente.

Miro fitou a silhueta dos dois. Shaka socava o ar de forma animada enquanto Mu curvava a cabeça para trás, sua risada chegando baixo aos ouvidos dos dois. Suspirou.

- Você parece ser o melhor amigo do Kamus.

- É, dá pra pensar assim. - Lançou um rápido olhar pra ele. - Você veio conversar comigo a respeito dele?

- Ah, mais ou menos.

- Hehehehe, eu sei que você não me seguiria à toa! - Afrodite olhava perdidamente para o casal. - O que você quer saber?

Miro se embaraçou um pouco antes de falar. Nunca pensou que estaria conversando com o melhor amigo de Kamus.

- Por que você não tá bravo?

- Bravo? Por quê? - Afrodite franziu as sobrancelhas.

- Eu..te chamei de "amiguinha" aquela vez... - Miro corou levemente.

- Ah, isso! - Sorriu. - Não se preocupe. Se eu já esqueci, por que você deveria se importar?

- Hm... - ainda sem jeito.

- Mas fale, o que você quer saber? Sei de tudo sobre o Kamus desde o jardim da infânica! - Riu, vaidoso.

- Hehe, ok! - Miro olhou para ele, o rosto voltando ao tom normal. - Eu queria saber... ele é sempre assim? Mal humorado, chato?

Afrodite ficou em silêncio um momento, mas sua expressão demonstrava que ele já sabia o que dizer, apenas pensava qual seria a melhor forma de posicionar as palavras.

- O problema do Kamus é ser demasiadamente responsável. Tudo o que sai fora do lugar o estressa, bem como quem põs fora do lugar. - Pausa. - Quando alguém o irrita de alguma forma é difícil ele ficar bem com a pessoa. Geralmente demora bastante. Foi assim com o Kanon, por exemplo.

- Hm?

- É que quando a gente tava na primeira série éramos apenas eu, Kamus e Shaka. Daí entrou na escola os gêmeos Saga e Kanon. Por acidente, durante a aula de Educação Física, o Kanon acertou uma bola na cabeça do pequeno pavio curto. Como não conseguia distingüir quem é quem, ele virou a cara para o Saga também. Ficaram sem se falar até o final da segunda.

- Sério? E como é que eles começaram a se falar depois disso? - Miro tinha os olhos levemente esbugalhados.

Afrodite fez mais silêncio antes de dar uma risada gostosa. Miro piscou, sem entender.

- Não interessa! - Disse quando finalmente se acalmou. - Agora só interessa como você vai fazer as pazes com ele!

Miro achou graça no jeito de Afrodite. Ele era descontraído, divertido.

- Ah, corta essa! - Respondeu. - Qual é, eu não sei nem por onde começar!

- Hmm, mas você nem tenta muito... - Disse em tom um pouco mais sério.

Miro franziu o cenho.

- Como assim?É claro que eu tento, mais ele--

-Ele me contou que você pegou o elástico de cabelo dele. - Afrodite lançou-lhe um olhar sério e acusador. - Como você espera fazer as pazes com ele assim?

- Ahn...er... ahhh, depois eu ainda dei um pirulito pra ele! - Defendeu-se como pôde.

- É, mas não foi só isso que você aprontou, né? - Afrodite acentuou o olhar com as sobrancelhas.

Miro se via num beco sem saída.

- Você transou com a garota que ele tinha ficado na mesma tarde. Tudo bem que para ela ter aceitado algo assim depois de ter se amassado com outro deve ser uma vagabunda, mas o fato é que a maior sujeira veio da sua parte! Tá na cara que ela não se ofereceu! Você a convenceu!

Algum argumento, Miro?

- Er... Veja bem, é--

- E o que mais você fez, hein! - Agora a voz de Afrodite estava terrivelmente acusadora, como se suas palavras formassem um imenso indicador apontado para o seu nariz.

Foi aí que Miro se deu conta. O que mais Kamus contara? Será que contara sobre... não, não era possível. E agora? O que fazer? Kamus certamente teria abrido o bico a respeito da noite em que se abraçaram. Ele não estaria errado em fazê-lo, posto que Miro não havia pedido segredo, mas... Merda, pensou que ele não contaria!

Suas faces ruborizaram violentamente e ele abaixou a cabeça para que Afrodite não tivesse tão ampla visão de seu rosto.

- Olha, sobre aquilo lá, é--

- Você veio até aqui para pensar em como desestressá-lo. - Afrodite tornou à sua calma habitual repentinamente, fazendo o mais novo assustar-se.

- Ahn!

- Mesmo fazendo o que fez, você voltou aqui para ver o que poderia ser feito a respeito do mal humor do Kamus. Pra mim isso é - Afrodite sorriu pelo canto da boca, perfurando os olhos escuros do outro com os seus azuis-cristalinos - amor.

Miro esbugalhou os olhos, voltando a corar.

- Amor! COMO ASSIM AMOR! Nada a ver! Eu só num tô afim de dormir com um estressado do meu lado toda noite, e já que eu sei MUITO BEM que eu sou o motivo desse stress, melhor que eu arrume a confusão! - Cruzou os braços e virou a cara, ofendido. Na verdade virou a cara só pra esconder a cor mesmo.

Afrodite sorriu. Pegou o pacote de chocolates que levava consigo e abriu. Enfiou a mão dele, retirando uns cinco chocolatinhos em forma de pingo, embalados em papel prateado e com uma banderinha saindo da ponta.

- Toma. - Disse, colocando os chocolates no colo dele.

- O que é isso? - Miro, curioso, catou um por um, levando a altura dos olhos para poder ver melhor naquela penumbra.

O jovem de cabelos azuis-claros levantou-se, espanando a poeira das roupas.

- É um chocolate. Kiss! - Ele sorria maroto. - Sabe, o Kamus ama chocolate! - Piscou o olho esquerdo. - Não se esqueça que hoje é a última noite...

E foi tudo. Miro não teve tempo de xingar/falar/perguntar mais nada. Afrodite disparou a correr na direção da multidão, deixando-o ali com aqueles chocolates na mão.

Miro não pode deixar de soltar um ruído que lembrou muito uma risada. Afrodite sabia ler dentro das pessoas. Leu na alma dele que aqueles atos que cometera não era apenas para aborrecer o monitor e que aquelas perguntas tinham o objetivo de encontrar um jeito de aproximá-los como o calouro queria.

Saiu dali bem rápido, para que o outro casal mais a frente não o visse quando resolvesse voltar. Daquela noite não passava! Riu levemente, enquanto corria para o vestiário. O objetivo tinha sido alcançado e em suas mão estava a chave para o que mais queria desde que pusera os olhos no monitor pela primeira vez.

Obrigado, Afrodite...

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Por que será que eu tinha certeza que eu não sairia ilesa depois do cap 5?XD

Bom, a Freya se enfiando entre esses dois, infelizmente, foi um mal necessário. Não conheci um escorpiano que non fosse vingativo(É incrível essa minha mania de pedir pra apanhar -.-). E o Miro, além de tudo, tinha que dar mais uma bola fora.

A segunda coisa que tenho pra dizer é... capítulo monótono? Muito -.-... Mas as coisas passarão a acontecer mais rapidamente no próximo. É, isso não está nem perto do fim XD! Portanto vocês vão ter que sofrer um pouco mais!(Sim, eu peço pra apanhar -.-)

Pessoalmente, gostei bastante deste capítulo. Foi divertido escrevê-lo e me ajudou a ter novas idéias. Eu precisava colocar o Miro tentando DE VERDADE conquistar o Kamus. Nem ele agüentava mais provocar o Kamus(por isso as mudanças repentinas de humor). O Afrodite ajudando o Miro foi uma das coisas que eu mais curti escrever. Sabe que outro dia entrei numa discussão acalorada com uns amigos que ficavam chamando o Afrodite de "Bicha falsa". Aff, honestamente, sempre achei o Afrodite o cara mais sincero do Santuário, o melhor amigo de qualquer um. Aí surgiu a cena de ele aconselhando o Miro(e dando chocolates, huhuhuhu). Mas o que vocês acham a respeito do "bicha falsa"?

Ah, outra coisa que eu queria dizer é...

Sim. Eu me arrependi de não escrever nada a respeito do Mu e do Shaka, então resolvi dar um pouco mais de espaço a eles, já que esse capítulo é apenas diálogo. Como eu matei boa parte das aulas de astronomia, provavelmente vai ter um monte de coisa errada na "contemplação" dos dois, mas o importante é ter criado o clima romântico. Estou quase me arrependendo de não juntar esses dois como se deve!

Enfim, sobre a demora desse capítulo(pronto a séculos), um pouco de falta de ânimo para publicar, um pouco de vontade de enrolar vocês, um pouco de falta paciência com a droga dessa internet que cai a toda hora. Mas o próximo chega em menos de duas semanas! Se a vida escolar não atrapalhar, em uma semana talvez!

Caso eu atrase, registro aqui minhas antecipadas desculpas.

Matta ne!