Capítulo 7

- SHURA! SHURAAAAA!

- Ai, não grita! - Protestou Shura, se afastando das meninas com quem conversava para se aproximar do amigo escandaloso. - Não sou surdo, droga!

Seiya parou a frente dele, ofegante.

- Cara, cadê o Miro! - Perguntou assim que recuperou parcialmente o fôlego.

- Ah, sei lá, tá sumido! Deve estar com aquela menina lá, a tal--

- A gente precisa encontrar ele, Shura! - Seiya estava desesperado.

- Mas por quê! - Shura estava começando a se preocupar. - Aconteceu alguma coisa!

Seiya olhou para o chão por um instante, tentando escolher as palavras mais amenas.

- Pegaram a gente. - Sussurrou as palavras que lhe pareceram as melhores nessa hora.

Shura esbugalhou os olhos, incrédulo.

- Você não está querendo me dizer que...

- É isso mesmo. - Seiya, em tom derrotado.

- Ah, não, cara, cê tá brincando comigo! - Shura desatou a correr na direção do seu acampamento, sendo seguido de perto por Seiya.

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Miro aproximava-se dos acampamentos, mas tudo parecia vazio. Pra onde haviam ido todos? E Kamus, aonde estaria àquela hora? Pensou. Ele não era do tipo que gostava de festas. De certo estaria sentado com os amigos em frente a alguma barraca, jogando conversa fora. Apertou levemente os chocolates em sua mão. Havia feito uma promessa a si mesmo. Era a última noite. E daquela não passava. Diria a Kamus. Diria o que estava guardando no fundo de seu coração. O que o fizera fazer aquelas coisas impulsivas. Exigiria a correspondência, claro! Afinal, ele não sofrera tanto para que aquele idiota o ignorasse depois. Não aceitaria nenhuma resposta além do "Eu também te amo". E se fosse preciso provocar essa declaração... Ele sabia exatamente como fazê-lo.

Ao aproximar-se de seu acampamento, encontrou onde estavam todos. O que estava acontecendo? Era tanta gente amontoada em torno de alguma coisa...

Chegando mais perto, pôde notar que eles estavam em volta de uma das barracas. E olhando melhor... aquela era a sua barraca!

Seus olhos se arregalaram. Será que... não, não havia como! Ninguém, além deles, sabia. E eles não se "auto-denunciariam"! Nunca!

Parou há uns vinte metros de onde a multidão estava, seu rosto perplexo. Aproximou-se lentamente da multidão, tão lentamente que ninguém percebeu. Ao chegar à orla, teve receio de espiar para o centro do círculo. Cutucou o ombro do rapaz a sua frente.

- Dá licença... Mas o que é que está havendo? - Perguntou, hesitante.

O menino virou-se, encarando Miro nos olhos por um instante, para depois anunciar.

- Ele está aqui, professor! - Praticamente gritava. - Aqui, o dono!

E como se aquelas palavras fossem uma espécie de "Abre-te cézamo", a multidão se afastou instantaneamente, abrindo um corredor até o centro da roda, por onde Miro pôde ver o Professor segurando sua mochila numa mão e, na outra, uma garrafa com um líquido transparente. Ao lado dele, Aioria estava com o rosto abaixado.

Seus olhos encheram-se de água de imediato.

- Aproxime-se, Miro. - Ordenou o professor, severo.

A cada passo que dava, os olhares pesavam mais em sua nuca. A sensação de passar por um corredor polonês. Aqueles olhares doíam mais que pauladas. A cabeça baixa. Como... como teriam descoberto? Aioria? Não, este nunca contaria! Mas então...

- Miro!

Ele ergueu o rosto para a voz que lhe chamara. Agora, além do amigo, o tão odiado monitor estava parado ao lado do professor.

Seus órgãos trocaram de lugar dentro de seu corpo enquanto seu sangue começava a ser bombeado ainda mais rápido. O ódio. O mais puro ódio possuiu seu corpo naquele momento. As lágrimas não rolaram por pouco. Não queria mostrar-se fragilizado diante daquele... daquele...

- Miro.

Sem se dar conta já estava em frente ao professor.

- Explique-me, sim? - Ele ergueu os objetos. - O que essa garrafa fazia enfiada em sua mochila?

Ele abriu a boca para responder, mas as palavras não saíram. Seus olhos não conseguiam se manter presos na pessoa que lhe falava. Eles se desviavam para o monitor, que tinha no rosto uma expressão de leve surpresa.

Ele sabia. Ele viu. Ele contou.

- Eu... bem, é que eu...

Pensou. Não sabia como sair da palavra "eu".

Ele de certo mexera na sua mochila, como vingança por ter-lhe pegado o elástico e por ter transado com a menina(não conseguia se lembrar do nome dela no momento). Ele sabia que tinha de haver algo ali dentro que o acusaria de alguma coisa.

- Pare de rodeios.

Miro respirou fundo e olhou fixamente para as pontas dos sapatos.

- Eu trouxe isso. Eu sabia que não podia, mas eu trouxe.

- Você estava bebendo sozinho, Miro? - O professor olhou rapidamente para Aioria.

- Sim. - Miro levantou os olhos para Kamus discretamente. - Mas parece que mexeram nas minhas coisas e me entregaram, certo?

- Exatamente isso.

Fim. A história terminava ali.

- O que acontecerá com ele agora, professor? - Perguntou Kamus, em tom preocupado.

O garoto ergueu os olhos, a raiva dominando sua mente. Se ainda não lhe restasse aquele pinguinho de auto-controle, já teria se atirado sobre Kamus e espancado-o até a morte. Porém, isso só iria piorar a sua situação. Mas o monitorzinho que esperasse até aquela multidão se dispersar.

- Está tarde para ligar para os pais dele, então telefonaremos amanhã cedo. E quanto a punição... Ele terá a resposta na segunda-feira. - Falou extremamente sério.

- Não seria caso de expulsão, seria? - Perguntou Kamus, ainda preocupado.

- É claro que seria!

O mundo de Miro despedaçou-se ali mesmo. Tudo passou como um flash. Injustiça... suas notas eram boas. Ele era o melhor jogador de handebol do time. Era popular. Tinha amigos. Era bagunceiro e metido. Sim, bastante. Mas... expulsão...? Mas não era justo... aquela vodka havia sido trazida por Shura! E ele havia guardado em sua mochila porque confiava no companheiro de "cela". Mesmo que Kamus o detestasse, Miro nunca imaginou que ele seria capaz de mexer em algo que não lhe pertencia. Contudo de onde havia tirado essa idéia? Tinha confiado tanto em alguém que não conhecia. Alguém que se provou ser tão... falso.

Quase tudo havia se perdido naquele instante.

- Por hoje - O professor agora falava para a multidão. - as comemorações acabaram! Todos para dentro, agora!

- Não vai fazer chamada? - Perguntou Kamus.

Miro só pensava em como aquela voz o irritava.

- Não, Kamus. Hoje eu só quero que tudo isso acabe de uma vez. Arrumem-se e vão dormir. Agora! - O professor estava furioso. Colocou a mochila no chão. - Essa noite a ronda será ainda mais pesada. - Anunciou, indo embora e levando a garrafa consigo.

As vozes começaram a se manifestar. Miro sentia os cochichos maldosos. Cochichos de gente que se fazia de santa. Aquela raiva...

As pessoas começaram a se dispersar.

- Miro! - Aioria se aproximou dele, desesperado. - Por que você não nos entregou? Tivemos essa idéia juntos, lembra?

- Sim... - Sua voz soava controlada, mas seus olhos profundos não conseguiam esconder o oceano de ódio que havia tomado conta de sua alma. - Mas eu não podia entregar vocês...

- Miro, me desculpe, eu--

- FOI ELE! - Gritou, apontando para Kamus.

- Eu? Fui eu o quê? - Perguntou, franzindo o cenho, assustado.

- VOCÊ! VOCÊ ME COLOCOU NESSA!

- Mas eu--

- PÁRA DE SE FAZER INOCENTE, SUA RAPOSA! ERA ISSO QUE VOCÊ QUERIA, NÃO? ENTÃO FIQUE FELIZ, VOCÊ CONSEGUIU!

Miro começou a correr na direção do pomar. Apertou os chocolates com ódio, amassando-os.

- ESPERA AÍ, SEU IDIOTA! - Kamus disparou atrás dele.

Aioria começou a correr para...

- AIORIA!

Virou-se. Shura e Seiya vinham em disparada.

- AIORIA, NO QUE É QUE DEU! - perguntou Shura.

Aioria abaixou cabeça.

- O Miro tá encrencado. - Disse com a voz fraca.

- Como assim? E cadê ele? - Seiya não sabia o que fazer.

Aioria começou a contar o que havia acontecido.

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Kamus corria seguindo o barulho de passos no pomar. A luz da lua não atravessava muito bem a copa das árvores, tornando difícil de caminhar. Aonde é que aquele garoto estava indo? E por que ele não parava aos seus chamados? Porque ele não quer falar como você, seu tonto! Qual é, usa a cabeça uma vez na vida, por favor! Tá, tá, ele sabia o motivo. Mas Kamus precisava contar. Haviam coisas que precisavam ser esclarecidas.

Miro corria o máximo que suas pernas agüentavam. Precisava chegar logo. Droga, por que ele continuava seguindo-o? Miro não estava mais em clima de declarações. Kamus havia acabado de provocar sua expulsão e ainda seguia-o com tanto empenho? O que ele esperava ouvir? Um "eu te amo"? Estavam correndo para um lugar deserto e ele ainda esperava uma declaração.

Espera... estavam correndo para um lugar deserto.

A raiva dissipou-se instantaneamente. Era exatamente aquilo que queria. Sorriu de leve. Era tudo o que queria.

Chegou aonde começavam as pedras. Escalava-as, pulava-as. Queria ver se ele desistiria.

Kamus fazia o mesmo que o outro com igual destreza. Haviam coisas a serem esclarecidas e meia dúzia de pedrinhas é que não iriam pará-lo.

Miro chegou ao seu objetivo. A pedra mais alta, debruçada sobre a encosta. Aproximou-se da borda, espiando lá embaixo. Era uma queda e tanto.

Ali a lua coloria perfeitamente tudo de prata. Os campos, a pedra. Miro. E logo logo coloriria Kamus também.

O mais novo ouviu os tênis do outro fazerem barulho ao se encontrarem com a superfície áspera.

- Você está sem saída agora. - Disse, sorrindo triunfante. Conseguiria finalmente falar com ele.

Miro deixou um sorriso malicioso brotar nos lábios, depois tornou a ficar sério e virou-se para encará-lo.

Na verdade, Kamus, quem está sem saída desta vez é você... pensou, o plano já perfeitamente traçado.

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Ahhh, obrigada pela força! Graças a Deus não teve nenhum grande trauma e minhas fics voltaram interinhas, exatamente como foram(só não consegui entender a sombra de terror no rosto do cara que consertou meu pczinho!XD)! Mas isso só porque me mandaram energias positivas(e ameaças de morte)! Muito obrigada:-)

Só para tirar o atraso, postei nessa, em "Acampamento de Primavera" e ainda coloquei a primeira parte de "Confusões Amorosas".

Agora, sobre a fic...

Sim, esse capítulo foi cortado XD! uhahahaauhauhauh, já que o capítulo mais esperado era esse, resolvi adiar a publicação só para fazer vocês sofrerem! XDDDD

- Cacos de vidro, granadas de mão, adagas, tiros e pokébolas começam a chover em cima da pobre Berta -

Aiai, calma gente XDD... é brincadeiraaaaa! - Se esconde atrás da porta - É que, na verdade, eu quis fazer um capítulo especial para o tão esperado lemon(Pra que esconder, todo mundo já sacou o que vai acontecer, né?¬¬ odeio ser previsível!). Então me desculpem e tenham piedade, por favor!XDDDD

E o Kamus não devia ter feito isso... baka!

Enrolei vocês até agora, né? Gomen... mas prometo caprichar, ok? Então não deixem de ler!XD

Eu até pensei em dizer que postaria o capítulo 8 na semana que vem, mas... decidi não provocar o meu computador pra ele não surtar de novo!XD

Kisu! Matta ne!