N/A: Muito bem, pessoal. Isso aqui promete ser bem interessante, bom, pelo menos foi interessante de pensar. Deve ser óbvio que Love Hina foi minha inspiração, mas não estou tentando fazer uma cópia, de jeito algum. Essa idéia surgiu na minha cabeça num dia de tédio, então eu adoraria ouvir sugestões e opiniões, mas, por favor, sejam gentis. Sou muito sensível.^^

E gostaria de agradecer imensamente do fundo do meu coração à Andréa Meiouh, que me apoiou muito e ouviu todas as minhas idéias iniciais. Para quem não sabe, a Andréa também é uma escritora, e excelente, na minha opinião.

Esclarecimentos: as notas em itálico são as que Usagi está escrevendo. Dessa forma, tenho como mostrar o que ela está pensando sem a básica cena de "estou falando sozinha". ^^;

Bishoujo Senshi Sailor Moon e personagens são propriedade de Naoko Takeuchi, e outros. Estou apenas emprestando-os por diversão. Qualquer semelhança a pessoas e fatos reais ou até mesmo fictícios não é intencional e deve ser ignorada.

Sweet Tóquio

Por Naru Lovely

Capítulo I: Novidades De Primavera

Querida Naru-chan,

Como prometi, estou te escrevendo para que possamos manter o contato, não importando onde nenhuma de nós está. Tenho certeza que você não vai ficar surpresa em saber que estou escrevendo isso no trem, a caminho de Tóquio. Foi difícil deixar todo mundo mas agora estou ansiosa por todas as coisas novas e emocionantes que nós duas encontraremos em nossas vidas. Claro, eu vou estar em Tóquio e você, em Quioto, mas nós sempre seremos amigas.

Tsukino Usagi parou de escrever e suspirou. Ela olhou para fora pela janela e a paisagem em movimento a lembrou de como as coisas seriam diferentes agora. Ela estava a caminho de uma nova cidade, e de uma nova vida.

Era a primeira semana de Abril e o clima começava a aquecer. Ela adorava a primavera, todas as flores e perfumes maravilhosos. Ela imaginava se ainda ia conseguir apreciar a estação num lugar totalmente diferente do qual havia crescido e vivido seus 17 anos de vida. Ela tinha que conseguir, afinal, essa era sua maior decisão de vida, e estava certa que ficaria bem.

Alguns dias atrás, Usagi se formou no ensino médio. Algumas semanas antes, recebera a notícia que não havia conseguido entrar na faculdade que tão sonhara: a Universidade de Tóquio, a famosa Toudai. Usagi ficou triste e desapontada, mas sabia que, no fundo, ainda não estava pronta. Por isso ela contou a sua família que queria se mudar para a capital de seu país, onde ela poderia freqüentar um bom cursinho e dessa vez conseguir seu objetivo.

Sua mãe ficou espantada com o quão sério ela falava, mas apoiou suas decisões. Ela até mesmo conseguiu um lugar onde Usagi poderia morar. A filha de uma de suas melhores amigas morava em uma enorme casa que tinha um quarto vago, que Usagi poderia ocupar. Ikuko ficou triste ao pensar em se separar de sua filha mais velha, mas ao mesmo tempo estava feliz pois Usagi estava se mostrando madura o bastante para fazer isso.

Seu pai ficou maravilhado em ver que sua filha cresceu tanto e está tomando suas próprias decisões. Durante o ginásio, Usagi não ligava muito para os estudos, mas quando ela começou o colegial, percebeu o quão sério a situação era na realidade. Kenji sabia que era hora de libertar sua filha, mas ele ainda iria querer investigar sua vida como sempre o fez.

Shingo, o irmão mais novo de Usagi, ficou mais que feliz ao saber que, finalmente, depois de longos e insuportáveis anos de sofrimento, ele poderá ter o maior quarto da casa, com a exceção da suíte de seus pais. Mas, falando sério, ele sentiria muito a falta de sua irmã. Não que ele admitiria isso a ninguém. Afinal, ele ainda é um adolescente teimoso de 14 anos.

O grande problema com a partida de Usagi era sua irmã mais nova, Chibi-usa.

Ela e Chibi-usa têm o mesmo nome: Tsukino Usagi. Ikuko e Kenji ficaram muitos surpresos quando tiveram outra filha cinco anos mais tarde, no mesmo dia e mês que sua filha mais velha: 30 de Junho. As duas garotas não gostam muito de todas essas coincidências, e por muito tempo reclamavam de toda e qualquer coisa que dava errado em suas vidas, e faziam questão de culpar uma a outra.

Pelos últimos meses, Usagi e Chibi-usa têm se dado muito bem já que a mais nova fez 12 anos e já é muito madura. Usagi sempre foi muito infantil mas seu comportamento melhorou muito quando ficou séria quanto a tentar entrar na Toudai. Continua com suas bobeiras de sempre, mas está muito mais amigável com sua irmãzinha, e até mesmo com o irritante do seu irmão.

"Eu não quero que ela vá!" Chibi-usa reclamou pela décima vez naquela manhã, colocando as mãos na mesa do café da manhã e levantando-se da cadeira, enquanto olhava brava para seus pais.

"Eu sei que vai sentir saudades dela, querida. Eu também vou! Mas ela precisa ir, e nós temos que deixar," Ikuko explicou a sua caçula da maneira mais gentil que encontrou.

"Ela não pode ir! Ela estava me explicando aquelas coisas de literatura! Quem vai me ajudar com minha lição-de-casa agora?" a garota de cabelos rosados fez um bico e voltou a se sentar. "Por que é que ela tem que ir pra Tóquio? Ela podia estudar em Quioto com a Naru-chan, e tudo estaria ótimo."

"É o que ela quer fazer, Chibi-usa. Um dia você vai ter um sonho também e então vai entender como ela se sente," Kenji explicou, levantando-se em seguida. "Você sabe que isso é muito difícil para ela também. Ela precisa do nosso apoio."

"Tudo bem, que seja. Contanto que eu possa mudar minhas coisas para o quarto dela. Ei! Eu posso construir uma prateleira pra minha coleção de carrinhos?" Shingo disse, os olhos brilhando ao pensar em como ele teria muito mais espaço agora e como as coisas ficariam mais calmas sem a chata da sua irmã mais velha.

"Claro. Mas agora vamos ajudar Usagi-chan com o resto de suas coisas," Ikuko disse enquanto limpava a mesa com a ajuda de Chibi-usa. "Vou confiar em você para não deixar sua irmã triste. Você sabe como ela odeia despedidas," a mulher de cabelos arroxeados disse para sua filha com um pequeno sorriso.

"Tudo bem, então," Chibi-usa suspirou, sabendo-se derrotada. Isso já havia sido decidido pelas últimas semanas e agora não havia mais nada que ela pudesse fazer. Usagi prometeu escrever cartas e e-mails, e ligar e visitar com freqüência, mas a garotinha sabia que as coisas não seriam iguais.

"Mamãe! Papai! Vocês viram minhas chaves? Não consigo encontrar," Usagi gritou do corredor, e o som de gavetas e armários sendo abertos veio seguido de sua voz estridente.

"Oh, elas estão aqui no balcão da cozinha," Ikuko respondeu, pegando o objeto e seguindo à sala de estar. "Você as deixou lá quando tomou café da manhã."

"Você é mesmo uma tonta. Vai se perder assim que colocar os pés para fora do trem," Shingo disse, dando um pequeno tapa na cabeça de sua irmã. Embora ela fosse três anos mais velha, Usagi já estava a ponto de ficar mais baixa que seu irmão.

"Não vou nada!" ela respondeu com um tapa em sua testa. Os dois sorriram com suas piadas internas. Claro, ele era irritante e ela era uma cabeça-de-vento mas os dois são família. Muitas vezes era um saco viver na mesma casa, mas eles sentirão falta dos bons momentos.

"Agora, ligue para gente assim que você chegar lá, está bem? Quero ter certeza que tudo está certo e que sua mãe não estragou com os planos de onde você deve ficar," Kenji disse colocando uma mão no ombro de Usagi, piscando.

"Ken-chan! Eu não estraguei nada! Satsuki-chan disse que tudo está arranjado e perfeito," Ikuko beliscou o braço do marido com um sorriso provocador.

"Tá bom, tá bom! Chega de nomes melosos por hoje," Shingo gritou, tapando os ouvidos com as mãos, seguindo para fora da casa. Os outros sorriram e o seguiram.

"Dê um abraço na filha de Satsuki-chan por mim. Faz tanto tempo desde a última vez que eu a vi. E tenha certeza de que está com o mapa caso você não se lembre de tudo. Você está levando seu celular e o número da casa, certo?" Ikuko disse, abraçando a filha e checando por uma última vez.

"Eu tenho. Eu vou ligar. Não se preocupe, vai dar tudo certo," Usagi assegurou sua mãe com um sorriso e um abraço. "Não precisa se preocupar porque quando eu finalmente conseguir um namorado, vou trazê-lo para que vocês o conheçam," ela disse ao abraçar seu pai, ignorando os comentários de fundo de seu irmão nas linhas de 'até parece que ela vai conseguir um namorado'.

"É bom mesmo! Eu quero ter certeza se ele serve para minha filha," Kenji retribuiu o abraço. "Ligue sempre que quiser."

"Eu vou," a loira sorriu. "Não vai nem ao menos me dar um abraço? Você não vai me ver por um bom tempo," ela virou-se para seu irmão.

"Está bem. Acho que não custa nada," ele disse, abraçando-a forte. "Lembre-se: quando voltar para visitar, traga presentes! E dos bons!"

"Está bem," ela riu. Usagi voltou-se para o último membro da família. Ela sabia que essa seria a despedida mais difícil. Não chore, ela disse para si mesma. "Parting is such sweet sorrow*," ela finalmente disse, em tom suave e carregado de sotaque.

"Shakespeare," Chibi-usa respondeu também suavemente, sorrindo ao recordar os momentos que passaram juntas. Ela nada disse, somente abraçou sua irmã fortemente, quase deixando-a sem ar. Usagi também a abraçou forte, pelo que pareceu um tempo infinito.

"Sentirei sua falta todos os dias," Chibi-usa sussurrou ao pé de sua orelha, e então largou seus braços, disfarçando as lágrimas que teimavam em se formar em seus olhos.

"Eu também," ela responde, e seus olhos brilhavam com esse estranho sentimento, ou talvez fossem as lágrimas que também apareceram em seus orbes azuis da cor do céu. "Bom, acho que é isso, então."

Eles todos permaneceram em silêncio por mais alguns momentos, juntos por uma última vez como uma família. A magia envolvendo a família Tsukino foi quebrada quando um carro azul-marinho parou em frente ao portão. "Usagi-chan. Vamos logo ou você vai perder o trem," uma garota ruiva gritou de dentro do carro.

"Estou indo, Naru-chan," Usagi responde, pegando sua bolsa e mala de mão. "Tchau, pessoal. Vou sentir saudades," ela disse e os abraçou uma última vez.

Usagi colocou sua mala no banco de trás do carro e sentou-se ao lado de sua amiga de velhos tempos. A corrida foi rápida e sem maiores problemas, e elas logo estavam na plataforma para se despedirem.

"Cuide-se. Não deixe que ninguém te faça de boba. E é bom que você vá bem dessa vez," Naru disse, abraçando a amiga. "E quando você chegar lá, quero que me conte tudo sobre as maravilhas de Tóquio. E não se esqueça dos caras também!"

"Você vai ser a primeira a saber, Naru-chan. E boa sorte com a universidade e tudo mais. Eu espero poder voltar logo para te visitar," Usagi disse. Dessa vez, ela teve que enxugar as lágrimas com as mãos. Era demais. "Olhe só pra mim, toda sentimental!"

"Você sempre vai ser uma chorona," Naru a provocou com um leve soco no braço. "Agora vá logo ou você vai perder seu trem e vamos ter que fazer isso tudo de novo!"

Usagi finalmente deixou a amiga e achou sua cabine. Era lá que agora estava, relembrando os últimos momentos em sua cidade natal, com sua família e amigos. Ela não pode evitar um sorriso ao pensar que tudo daria certo nesse novo rumo que tomava. Parecia tão certo, e a vida tinha de ser assim.

Mal sabia ela que as coisas não seriam tão fáceis assim. No momento em que ela pisou na plataforma da estação central de Tóquio ela percebeu que era praticamente impossível identificar uma pessoa naquele lugar. Principalmente uma que ela nunca havia conhecido e dependia completamente das descrições de sua mãe sobre a pessoa que a esperava.

"Olhos cor de vinho e cabelos longos, lisos, verde-escuros presos num meio-coque? O que é isso, agora? Estou procurando por uma personagem de mangá?" ela murmurou ao checar as anotações de sua mãe. Ela poderia ter dito algo mais como, altura, peso e idade mas é claro que a mamãe esqueceu disso, ela pensou, sacudindo a cabeça.

Ficar parada ali no meio daquele monte de gente apressada não ajudaria em nada então Usagi caminhou até uma área mais calma onde ela poderia pensar direito e conseguir uma solução. Mas é claro, ela disse para si mesma. Eu tenho meu celular e o número da moça. Talvez ela ainda não tenha saído ou alguém na casa dela pode me dizer algo útil.

"Moshi, moshi?" ela disse assim que a linha parou de tocar e alguém atendeu. "Me desculpe o incômodo mas essa é a casa de Meioh Setsuna?"

"Sim, eu sou Meioh Setsuna. Com quem falo?" a mulher no outro lado respondeu em uma voz monótona.

"Ah, oi! Que bom que eu consegui te encontrar. Eu sou Tsukino Usagi. Minha mãe Ikuko falou com você e sua mãe," Usagi suspirou aliviada. "Eu estou na estação central. Me desculpe se estou errada, mas minha mãe disse que você vinha me buscar."

"Você é a Usagi-chan? Ah, então você já chegou. Eu sinto muito mas não vou poder te buscar. Tive um imprevisto de última hora. Mas não se preocupe pois não vou te largar sozinha. Eu mandei um amigo ir te buscar. Ele deve estar chegando a qualquer momento," Setsuna disse e um som de objetos se quebrando vieram em seguida. "Ai, meu Deus! O que você fez agora? E o que eu tenho a ver com isso?" ela disse para, aparentemente, alguém que havia causado o barulho. "Me desculpe mas vou ter que te ligar de volta. Tchau."

"Espera! Alô?" Usagi disse mas tudo que ouviu foi a linha muda. "Que ótimo. Ela podia ter me dito quem é essa pessoa, pelo menos."

Ela sentou-se num banco e fez bico como uma criancinha. Um movimento em sua bolsa tomou sua atenção e, de repente, ela se lembrou de um pequeno detalhe. "Meu Deus! Luna! Você está bem?"

Uma gata de pêlos roxo-escuros surgiu de sua bolsa, quase sem ar. Ela estava ofegante e parecia mais do que brava com a loirinha a seu lado. "Usagi! Quantas vezes você vai me esquecer dentro dessa coisa?"

"Eu sinto muito! Eu sinto muito mesmo! Mas você adormeceu no trem e eu não quis te acordar, e então eu tive que falar com essa Setsuna, mas eu não consegui, pra falar a verdade, e agora eu tenho que achar um jeito de achar essa pessoa que está me procurando e eu não sei nada sobre ele," Usagi começou suas apressadas desculpas, num volume baixo o bastante para que ninguém a achasse louca de falar com uma gata.

"Está bem, pare! Antes de tudo, acalme-se," Luna ordenou ao sair de dentro da bolsa e sentar-se ao lado de sua amiga. "Não tem como você ligar de volta?"

"Eu acho melhor não. Parecia que ela estava discutindo com alguém," Usagi disse passando os olhos nos arredores. Quem ela deveria procurar mesmo?

"Mas assim fica impossível! O que vamos fazer agora?" Luna perguntou.

"Não sei. Ela disse que ligaria de volta então estou esperando que ela ligue de volta," ela disse e suspirou. Cinco minutos mais tarde, ela agarrou seu celular e re-discou. "Não agüento mais esperar!"

"Oh, céus," Luna sussurrou em desespero.

"Moshi, moshi?" Dessa vez, Setsuna atendeu primeiro. Ela parecia mais calma e não havia mais barulho de objetos se quebrando ao fundo.

"Oi, Setsuna-san? Sou eu, Usagi-chan. Eu estava pensando, daria para você me falar algo sobre essa pessoa que veio me buscar?" a loirinha perguntou ignorando as súplicas de sua gata.

"Claro que posso. Oh, espere só um momento, sim?" Setsuna responde e atende a segunda linha que chamava. "Moshi, moshi?"

"Setsuna! Esse vai ser o último favor que estou te fazendo. Já andei pela estação inteira e não consegui achar essa garota que você me falou," a voz de um homem soou do outro lado.

"Ai! Não grite! Onde você está? Eu estou falando com ela nesse momento," Setsuna disse, tapando o ouvido. "Eu já te disse: ela tem olhos azuis, é loira de cabelos longos que estão presos em dois odangos. Ela deve ter uns 17 anos. Como pode ser tão difícil assim encontrá-la?"

"Dois odangos? Como o seu? Você nunca disse nada disso antes," o homem responde.

"Ah, espere só um minutinho. Eu a esqueci na outra linha," Setsuna disse com um sorriso.

"Não! Setsuna, não me deixe-" ele tentou dizer, mas não foi rápido o bastante. "Droga!"

"Alô! Usagi? Então, eu mandei um amigo meu te buscar. Ele é alto, moreno e tem intensos olhos azuis. Ele é jovem e repare que ele está usando sua jaqueta de couro favorita embora o tempo já esteja quente o suficiente," Setsuna explicou em tom provocador, como se ele pudesse ouvir suas palavras.

"Ah, sim. Ei!" ela gritou quando alguém arrancou seu celular de suas mãos. "O que é que você pensa que está fazendo?"

"Alô, Setsuna? É! Eu a encontrei. E não pense que me esqueci que você me deixou esperando na outra linha. Já estaremos aí," ele disse e desligou. "Olá. Eu sou Chiba Mamoru e Setsuna me mandou aqui para te buscar."

"Hunf!" Usagi rufou irritada, pegando seu celular de volta. "Você poderia ao menos ter tido a decência de dizer 'com licença mas vou interromper sua conversa por alguns instantes', não acha?" ela o encarou brava. Está certo, esse cara era alto, moreno, bonito e charmoso, mas que direito tinha de tratá-la daquela maneira?

"Você tem razão. Agora temos que ir," ele disse pegando sua mala. "Essa gata é sua?" ele perguntou voltando seu rosto para ela.

"Sim. Essa é Luna. E eu sou Tsukino Usagi, caso esteja interessado," ela continuou a encará-lo, brava, enquanto pegava sua bolsa e sua gata.

"É um prazer conhecê-la, Usagi-san. Mas nós temos que ir. Setsuna não está muito feliz nesse momento, embora ela pareça estar se divertindo. Temos que voltar rápido ou aquela pensão logo vai virar um hospício," ele disse dirigindo-se ao estacionamento.

"Claro. Espera aí! O que?!" ela exclamou, correndo para alcançá-lo. "O que quer dizer com pensão?"

"O que você acha que é? Uma pensão," ele disse, casualmente, colocando sua mala no banco de trás de seu carro esporte vermelho enquanto segurava a porta aberta para ela. "Por que? Você não sabia que a Setsuna tinha uma pensão?"

"Não mesmo! Minha mãe disse que ela tinha essa casa enorme com um quarto onde eu poderia ficar. Nunca pensei que fosse uma pensão," ela disse procurando nos olhos de Luna por uma confirmação. A gata arregalou os olhos diante dessa nova informação.

"Ah, ela transformou a casa em pensão uns três, quatro anos atrás. Mas não se preocupe! Uma vez que você se acostuma com o pessoal vai ver que é um lugar bom para se viver. Bom, exceto pelas eventuais loucuras," Mamoru a assegurou enquanto dava a partida e saía do estacionamento.

"Essa agora! Vou ter que pagar! Eu não tenho dinheiro. Vou ter que ligar para o papai para me mandar dinheiro ou vou ter que arranjar um emprego. Como é que eu vou fazer cursinho e trabalhar ao mesmo tempo? E um emprego que pague bem o bastante para pagar uma pensão," Usagi começou a dizer em seu desespero de sempre.

"Ei! Escuta: eu disse que não precisa se preocupar, está bem? Vai dar tudo certo. Eu estou certo disso," ele disse olhando em seus orbes da cor do céu.

"Está bem," ela murmurou, controlando-se. Então ela riu baixinho, e ele a olhou com as sobrancelhas franzidas. "A Setsuna estava certa. Você deve amar mesmo essa jaqueta!" ela respondeu rindo.

"Ainda é primavera. Eu posso usá-la se bem quiser," ele disse simplesmente, voltando-se para frente e concentrando-se nas ruas. Ótimo! Mais uma pessoa pra falar da minha jaqueta, ele pensou.

Muito bem, Naru-chan. Esse cara é mais velho (deve ter uns 23, 24 anos), é alto, muito atraente, é moreno e tem um par de olhos azuis maravilhosos. Claro, parece ter alguns problemas de atitude, mas ele é simplesmente uau! E ele dirige esse carro incrível (não sei bem se é Honda ou Toyota, sei lá). No fim das contas, ele parece ser muito legal, apesar do nosso começo turbulento e deixando os problemas de atitude de lado. Mas acho que tenho que lhe dar um tempo; afinal, ele poderia estar tendo um dia ruim ou algo do tipo. Vou poder te contar mais em um dia ou outro.

"Que foi? Está me analisando, é?" ele perguntou com um sorriso intrigante, desviando os olhos das ruas por um momento para checar sua calada passageira.

"Para falar a verdade, eu estava," ela respondeu com um mesmo sorriso. "Eu estava pensando: por que você estava na estação para me pegar? É óbvio que você não mora na região e você também não deveria estar 'nos arredores' então você deve ser muito amigo da Meioh-san."

Mamoru engoliu a seco e dessa vez concentrou os olhos no caminho que seguia. "Eu e Setsuna nos conhecemos da faculdade, e ainda há mais tempo do colegial, então dá para dizer que somos bons amigos," ele disse.

"É mesmo? E que faculdade foi essa?" ela perguntou casualmente, atendo-se a irritar Luna durante a corrida. Ela havia proibido a gata de falar diante de estranhos e Usagi sempre se aproveitava disso quando podia, fazendo cócegas e dando beliscões.

"A Universidade de Tóquio," ele responde, parando diante o sinal vermelho.

"Não! Jura?! Eu vim pra cá só para entrar na Toudai," ela exclamou empolgada com tantas coincidências. "Isso é incrível! Talvez a Meioh-san possa me dar algumas dicas, ou até mesmo você podia me ajudar."

"Eu até poderia, mas acredito que você vai ficar bem melhor com as outras garotas. Elas também estão estudando, como você," Mamoru disse e eles continuaram a andar.

"Ah, claro. Então essas garotas moram na pensão, hein? Quantas pessoas vivem lá, afinal?" Usagi perguntou, abraçando Luna forte, como se a dizer que as coisas já estavam melhorando.

"São sete garotas que moram na casa, e quatro delas devem ter a sua idade. Mas, se não me engano, somente três delas estão estudando," Mamoru respondeu com um leve sorriso curvando os lábios. "A última só quer saber de festa."

"Ela não estuda? Então o que ela faz?" Usagi perguntou quando o carro virou numa curva suave.

"Ela é artista, e está tentando muito conseguir um bom emprego. Parece que ela é boa, pelo o que a Setsuna me disse. As outras garotas acham que sim, pelo menos," ele disse.

Uma artista, Usagi pensou. Quando era pequena, ela sonhava em se tornar atriz ou cantora mas isso ficou somente como uma memória dos tempos de infância. Usagi percebeu que seria muito complicado e arriscado até mesmo tentar seguir a carreira uma vez que ela soube um pouco mais sobre esse mundo. No entanto, ela ainda não sabia no que iria se formar.

"Bom, chegamos," Mamoru anunciou ao entrar num estacionamento. "Bem vinda à pensão Silver Moon."

Silver Moon, ou Lua de Prata. Esse é o nome da pensão. É perfeito. É uma casa de dois andares com um sótão, imagino, de um estilo antigo, talvez de 1950 ou 60. Pelo que eu vi, foi construída totalmente em madeira, que por fora foi pintada em tons claros como bege, creme e branco. Os detalhes das portas e janelas são pintados em vermelho carmesim, em contraste, o que achei que deu um toque muito legal ao prédio todo.

Assim que entramos a sala de estar fica a minha direita; tem uma lareira e um conjunto de sofás e cadeiras ao redor, com uma mesa de centro. O aparelho de tevê fica na parede oposta. Eu notei um bar ao fundo e à direita, ao lado de uma janela. À esquerda do bar, há um balcão ligado à cozinha.

O saguão é bem simples mas aconchegante. Há algumas estantes de livros na paredes e uma mesinha de telefone. Ao lado da porta da frente tem um cabideiro para casacos e bolsas; um ótimo toque.

Logo à esquerda havia um tipo de escritório. A porta estava entreaberta mas eu não pude ver muita coisa. Há outras duas portas nesse mesmo corredor mas estas estavam fechadas. Acho que são quartos.

Ao fim do corredor do saguão fica a cozinha. Uma cozinha comum, pelo que eu sei, mas essa, claro, tem uma geladeira grande o bastante pelo grande número de moradores, e o que parecia um fogão de cozinha profissional. Do outro lado daquele balcão, há uma mesa de madeira onde imagino que caibam todos os moradores.

"Ei, Setsuna! Chegamos," Mamoru gritou ao fechar a porta a trás de si. Ele esperava encontrar Usagi ao lado de sua mala onde a havia deixado mas a garota já estava ao fim do corredor, inspecionando o chão da cozinha intensamente.

"Por acaso ela tem uma empregada? Porque quem quer que seja que fez aquilo é um profissional," Usagi disse voltando para onde ele estava. Sendo a mais velha de três irmãos, ela estava acostumada a fazer atividades da casa e sabia bastante sobre limpeza.

"Todos ajudam um pouco com tudo. Bom, quase todos," Mamoru disse, após pensar melhor sobre o que dissera.

"Quantas vezes eu tenho que lhe dizer para não gritar, Mamoru," uma voz suave veio do andar superior. Segundos mais tarde, sua dona desceu pelas escadas situadas à direita da porta da frente.

Como sua mãe havia dito, Setsuna tem cabelos longos, lisos e verde-escuros, que por acaso estavam presos num meio-coque, ou um odango, o que você preferir. Ela tem maravilhosas orbes vermelho-escuras que lembraram Usagi dos detalhes na frente da casa. Ela vestia um vestido preto, simples, que ia até um palmo abaixo dos joelhos e estava descalça.

Assim que ela viu Usagi, abriu um sorriso brilhante e caloroso, que de alguma forma parecia muito raro e incomum em seu rosto. "Olá! Você deve ser Tsukino Usagi-san," ela disse no mesmo tom de voz suave de antes.

"Por favor, me chame de Usagi, Meioh-san," a loirinha curvou-se em respeito.

"Tudo bem, mas somente se você me chamar de Setsuna," seu sorriso diminuiu a curvas suaves no canto dos lábios, formando um misterioso e intrigante sorriso. "Pelo visto Mamoru conseguiu trazê-la aqui a salvo. Estou aliviada."

"Haha. Muito engraçado, Setsuna," Mamoru disse em resposta, pegando a mala de Usagi e subindo os degraus da escada.

"Venha conosco, Usagi. Nós vamos te mostrar o resto da casa e o seu quarto. E como foi a viagem?" Setsuna disse, seguindo Mamoru.

"Foi normal. Eu tive companhia," Usagi responde e indica Luna ao seu lado. "Eu espero que não tenha sido um problema em trazê-la. É que meu irmão ia acabar enchendo a coitada e a minha irmãzinha ia acabar esquecendo de alimentá-la, e eu não queria incomodar meus pais."

"Não, não tem problema algum. Para a falar a verdade, nós já temos um gato na casa. Ele deve estar aí fora, no jardim," ela responde.

'Ah, que ótimo,' Luna pensou em desespero. 'Mais um maldito gato para infernizar minha vida.'

"Acalme-se, Luna," Usagi disse ao sentir a gata tensa em seus braços.

O segundo andar também possuía o piso em madeira. Como o térreo, havia um corredor central que terminava numa porta dupla de vidro, dando acesso à varanda presente ao redor do segundo andar inteiro.

À esquerda da escadaria havia um pequeno corredor com outra porta de vidro dando acesso ao terraço. Nesse corredor havia dois banheiros de bom tamanho; ambos possuem banheiras.

O pequeno grupo seguiu pelo corredor principal, passando a entrada desse outro corredor. Eles passaram por duas portas fechadas do lado esquerdo e chegaram à terceira e última porta deste lado. Ao lado direito do corredor havia outras três portas, igualmente fechadas. Portanto, havia seis quartos nesse andar. Eram oito ao todo.

"Esse aqui é o seu quarto," Setsuna disse ao abrir essa porta. "O serviço de mudança deixou suas caixas aqui ontem por isso está um pouco bagunçado mas você deve encontrar uma cama, uma cômoda, um armário espaçoso e um criado-mudo."

Usagi passou os olhos pelo quarto. Estava lotado de caixas mas ela pôde distinguir o que parecia ser uma cama e uma cômoda. Ela também reparou que o quarto não tinha janela mas uma porta dupla de vidro que abria para o terraço, do lado oposto à porta de entrada.

"Ai meu Deus," Usagi suspirou. "Vou demorar uns oito anos para conseguir arrumar tudo isso."

"Não se preocupe. Nós vamos te ajudar," Setsuna gentilmente sorriu seu sorriso misterioso.

"É, parece que vamos," Mamoru concordou colocando a mala no chão, ao lado da porta.

"Minha prima me ajudou a limpar o quarto então tudo que temos a fazer é pôr cada coisa em seu devido lugar," Setsuna piscou (mais uma vez, algo que pareceu muito fora do comum para Usagi) e sorriu.

"Muito obrigada, de verdade, Setsuna," Usagi sorriu em resposta.

"Bom, eu não sei de vocês duas, mas eu poderia almoçar agora e fazer isso aqui mais tarde. O que acham disso?" Mamoru sugeriu ansioso por respostas afirmativas.

"É uma idéia excelente, Mamoru. Devia ter mais dessas de vez em quando," Setsuna respondeu com seu sorriso. "Vamos pegar algo para comer."

"Onde estão todas as pessoas que moram aqui?" Usagi perguntou, curiosa, ao segui-los às escadas com Luna logo atrás.

"Devem estar fora fazendo atividades pessoais, acho. A única coisa que sei é que minha prima foi fazer compras," Setsuna disse enquanto rapidamente cruzava a sala e seguia à cozinha.

"E ela está chegando nesse momento," Mamoru continuou quando uma garota entrou na cozinha pela porta dos fundos.

Ela carregava algumas sacolas de papelão com compras de supermercado. Ela é nova, com cerca de 14 anos. Seus cabelos batem à altura dos ombros e são escuros, com luzes naturais roxo-escuras. Seus olhos são dessa mesma cor, e brilhavam intensamente.

"Tadaima!" ela disse ao fechar a porta atrás de si. "Ah, oi Mamoru. Oi Setsuna. Não pensei que você ia estar aqui agora."

"Vim dar boas vindas a nossa nova residente," ela fez um gesto indicando a moça a seu lado. "Essa é Tsukino Usagi, de quem eu te falei. Usagi, essa é minha prima Tomoe Hotaru."

"Olá! É um prazer conhecê-la, Usagi-san. Espero que goste daqui," Hotaru cumprimentou-a com um sorriso brilhante e ofereceu a mão.

"Muito obrigada. É um prazer te conhecer também," Usagi retribuiu o aperto de mão e o sorriso.

"E, por favor, me chame de Hotaru, está bem?" ela disse voltando-se às sacolas de compras. "Muito bem, e o que vamos ter para o almoço hoje?"

"Eu como qualquer coisa que você quiser fazer," Mamoru respondeu ajudando-na com as mercadorias.

Setsuna foi preparar suco e chá com a ajuda de Usagi. Eles prepararam uma refeição leve como sanduíches, um pouco de maionese do dia anterior e torta de maçã re-aquecida.

Muito bem, Meioh Setsuna. Ele deve ter uns 24 anos e parece ser bem responsável e madura. Ela é simpática e tem um certo ar misterioso que é simplesmente hipnotizante. Seus olhos revelam um pouco de tristeza mas eu não sei direito o que poderia ser. Enfim, ela é uma pessoa a quem eu iria quando precisar de conselhos, como uma irmã mais velha. Ainda não sei direito qual o grau do seu relacionamento com Chiba-san. Eles parecem bons amigos e têm brincadeiras de irmãos, pelo pouco que vi até agora. Mas ainda acho que tem mais. Bom, você me conhece com minha mente de detetive. Você tem razão: eu tenho que parar de ler tantos romances policiais.

Sua prima Tomoe Hotaru deve ser uns dez anos mais nova. Acho que ela está na sétima ou oitava séries, como o Shingo. Ela é muito legal e tem uma ótima risada. Ela não parece ser tímida, já que se sentiu à vontade comigo desde o primeiro momento. Ela também mora na pensão e faz grande parte dos serviços da casa. Ela é bem independente para uma adolescente tão nova. Mais uma vez, e eu não faço a mínima de onde eu tiro essas coisas, eu senti um grande pesar por trás de seu sorriso. O que será que pode ser...?

"Isso aqui é ótimo!" disse Usagi. "Quem fez essa torta?"

"Fui eu," Hotaru respondeu. "Eu sou a única aqui que consegue arrumar alguma coisa para comer sem detonar a cozinha, bom, com a exceção da nossa chef de cozinha oficial."

"Mas como ela não está aqui hoje, nós dependemos completamente de Hotaru-chan," Mamoru disse com um sorriso.

"Nossa! Então você nem pense em me deixar tocar a cozinha porque nada bom pode vir disso," riu Usagi.

"Eu posso te ensinar a cozinha, se quiser. Sabe, não é tão difícil assim se você tiver paciência para aprender," Hotaru disse lançando um olhar a sua prima, com um risinho.

"Eu acho que cozinho bem, muito obrigada. Caso não se lembre, eu tenho um restaurante," Setsuna respondeu, um pouco ofendida, voltando-se a seu sanduíche.

"E graças a Deus que você só cuida dos negócios e Motoki e Reika cuidam de toda a comida," Mamoru disse para provocá-la.

"Você tem um restaurante também? Como consegue manter os dois negócios?" Usagi perguntou, impressionada.

"O restaurante é logo aqui ao lado da pensão mas eu contratei uma pessoa para cuidar da maioria dos negócios daqui," Setsuna explicou.

"Quem?" Usagi perguntou.

"Eu," Mamoru disse apontando a si mesmo.

Isso surpreendeu Usagi. "O que? Você é o gerente de uma pensão só para garotas?" sua voz se elevou com o choque.

"É. Por que? Você tem algum problema com isso?" Mamoru perguntou arqueando as sobrancelhas.

"Bom, não, mas isso não parece um pouco contraditório?" ela disse corando um pouco diante seu olhar penetrante.

"Está tudo bem, de verdade. Mamoru se formou em administração de negócios, como eu, e é muito profissional. Além do mais, nenhuma das outras garotas teve problema com isso," Setsuna assegurou-a.

"Com o tempo, você se acostuma," Hotaru sorriu, levantando-se para lavar a louça.

"Tudo bem, então," Usagi suspirou. Ela notou, então, que Luna sacudia sua cauda de um lado para o outro, obviamente nervosa com essa nova descoberta.

"Não se preocupe, cara de Lua. Eu vou cuidar bem de você," Mamoru disse batendo de leve em sua cabeça ao deixar a mesa.

"Espera aí!" ela gritou levantando-se e indo atrás dele. "Do que é que você me chamou?"

"Cara de Lua. Você tem uma cara de Lua, sabia disso?" ele disse um sorriso provocador e olhos inocentes.

"De onde você tirou isso? E o que é para ser uma cara de Lua?" ela pergunta irritada, cruzando os braços e olhando diretamente em seus olhos.

"Eu não sei. Mas você a tem, de qualquer forma," ele virou-se e continuou seu caminho à sala de estar.

"Eu não sou cara de Lua," ela gritou, seguindo-o pronta para ensinar-lhe uma lição.

"Que ótimo," Setsuna suspirou desanimada. "Mamoru arranjou um novo hobby."

Hotaru só pôde rir em resposta enquanto continuava a lavar a louça. "Não se preocupe. Ele logo vai deixá-la em paz, e tenho certeza que Usagi-san não está brava de verdade."

"Ah, droga! Eu quase me esqueci que tenho que receber uma entrega em cinco minutos," Setsuna exclamou subitamente. Hotaru se assustou mas ficou ainda mais perplexa com o fato de que sua prima não tinha um relógio de pulso nem precisou olhar para qualquer relógio para saber as horas. "Por favor, diga a Usagi que não vou poder ajudá-la. Eu volto mais tarde," ela disse e saiu rapidamente pela porta dos fundos.

"Tá bom. Tchau," Hotaru disse vendo sua prima correr ao restaurante. "Nunca é um dia de tédio na pensão Silver Moon," ela sussurrou para si mesma, balançando a cabeça.

Continua...

*Partir é uma doce tristeza, de "Romeu e Julieta", uma das obras de Shakespeare.