Uma noite especial
Olhando
pela Janela, o sol parecia frio e sem cor, as árvores
entortadas pelos ventos que sopravam cada vez mais forte, muitas
pessoas corriam para suas casas enquanto os primeiros flocos de neve
caiam do céu pálido.
As previsões estavam
mais uma vez erradas, normalmente não acertavam mas dessa vez
fora demais, em vez de sol quente uma nevasca, que diferença.
Pensando nisso, realmente era estranho, não nevava naquele
pequeno vilarejo a mais de cinco anos.
A neve caia rapidamente, o
chão e os telhados começavam a se esconder debaixo de
sua suave crosta branca, não se via mais pessoas nas ruas,
seria uma noite fria uma boa desculpa para acender a lareira.
Desviando os olhos da janela levantou e se dirigiu para a
cozinha. Naquela tarde sem ter muito que fazer cortara a lenha mesmo
estando esperando um 'sol de rachar'.
Aos poucos levou as achas
para perto da lareira, quando terminou o serviço virou o rosto
novamente para a janela, mal conseguia divisar a luz do poste de tão
espessa que estava a neve.
Sentou na frente da televisão
com um cobertor e ficou trocando de canal, não estava passando
nada de bom, desligou e foi para a cozinha preparar um lanche.
Depois de tudo pronto voltou para a sala, pegou um livro e se
colocou a ler. Estava tão imerso na história que
demorou um pouco para escutar as batidas na porta.
Quem poderia
ser louco o suficiente para sair na rua com uma nevasca dessas? Mesmo
um pouco contrariado levantou-se e foi até a porta.
OooOooOooO
Não
conseguira dormir, olhando para o teto ficou pensando na briga que
tivera no dia anterior, fora uma das piores desde que começaram
a namorar.
Logo cedo saiu de casa e ficou caminhando pelo parque
sem reparar nas pessoas que passavam cumprimentando-a.
Já
fazia muito tempo que estava fora de casa, parou sentindo que o corpo
inteiro reclamava por ter pulado o café da manhã. Olhou
no relógio, já passava das seis horas, à noite
estava caindo rápido e o frio chegando mansamente, sentiu algo
gelado tocando seu ombro.
Virou o rosto para o céu e
sentiu pequenos flocos tocando seu rosto. Estava realmente
surpreendida por estar nevando. Reparou que estava muito longe de
casa, colocou o casaco e ia retornar quando sentiu a neve caindo mais
rápida e o vento frio cortando sua pele. Puxando o casaco bem
perto do corpo se pôs a andar, mas não ia para casa,
sabia onde seus pés a tinham levado e se fosse sincera consigo
era onde queria estar o tempo todo.
OooOooOooO
Com
os olhos bem abertos ficou fitando a menina parada à sua
porta, seus longos cabelos escuros encharcados pela neve e seu pelo
corpo tremulo pelo frio.
Pegou a mão dela e a puxou para
dentro da casa levando-a para perto da lareira. Pegou uma toalha e
uma coberta entregando sem escutar um leve murmúrio de
agradecimento que saiu de seus pequenos lábios rosados.
Se
dirigiu para a cozinha e ia pegar um café mas lembrou que ela
nunca fora muito fã. Resolveu fazer um chocolate quente,
ajudaria a aquecer seu corpo enregelado.
Quando voltou para a
sala, encontrou-a sentada perto da lareira em silêncio
encolhida. Entregou a xícara e sentou-se à sua frente.
OooOooOooO
A
neve caia mais forte o vento fazia um barulho alto e seu corpo
começava a se recusar a continuar andando naquelas condições.
Sentiu que não seria possível dar nem mais um passo
quando chegou onde queria. Ficou parada em frente à porta por
algum tempo antes de se resolver a bater, precisava enfrentar o fato
de que exagerara um pouco.
Ficou olhando-o enquanto a levava para
perto da lareira. Pegando a tolha começou a secar os cabelos
seguindo-o com os olhos.
Colocou a coberta sobre os ombros e
olhou em volta, em cima do sofá estava o livro que havia dado
à ele de aniversário, não esperava que ele fosse
ler. Mexeu no livro e reparou que parecia ter sido lido diversas
vezes e sorriu.
Sentou-se em frente à lareira. Assim que
ele voltou pegou a xícara e tomou um gole reparando em como
ele parecia triste, seus olhos estavam um pouco vermelhos, sabia que
o havia magoado e sentia muito por isso.
Viu que ele falava algo
mas não escutava apenas observava seus cabelos claros, suas
mãos tremulas e seus olhos perdidos.
Deixando a xícara
de lado se aproximou dele deixando o cobertor cair para trás,
pousou de leve os dedos sobre seus lábios.
Abraçando-o
murmurou algo que até mesmo para ela era incompreensível,
olhou-o nos olhos e seus lábios se encontraram.
OooOooOooO
Precisava
explicar para ela que entendia e que faria qualquer coisa para que
ela o aceitasse de volta, não conseguia olhar diretamente para
ela e sentia seu corpo tremer, tinha consciência de que não
era o frio.
Quando ela se aproximou não conseguia pensar
direito, abraçou-a com força temendo perdê-la
novamente e quando seus lábios se encontraram seu coração
perdeu o compasso.
O fogo crepitava esquentando o aposento, mas
seus corpos nus em movimento não pareciam reclamar do frio.
A
sala se encontrava às escuras, provavelmente a neve havia
acabado com a luz da vila e o fogo suavemente brindava o local com
sua luz.
OooOooOooO
Muito
tempo depois, quando a lua já brilhava alto no céu
escuro e a neve diminuía um pouco sua ira, encontravam-se
abraçados descansando.
Fecharam os olhos, não
pensavam em mais nada e enquanto o fogo adormecia, a neve caia
suavemente do lado de fora da janela.
Por: Joanne Maluka Salgado
