Em Busca da Felicidade

Capitulo I – Sob a Luz da Tristeza

      Novamente meu sorriso some ao vê-lo, seus olhos de um azul tão intenso, parecem penetrar em minha alma. Eu sei que, às vezes, tento fugir, mas eu me sinto tão preso, tão dominado por esse sentimento de culpa que reside em meu peito. E tudo isso faz com que eu me sinta a pior pessoa do mundo. Não consigo ficar triste vendo aqueles olhos tão acolhedores me prometendo um lugar seguro para ficar. Sei que não deveria me sentir assim, não depois de perder a única pessoa que se importou comigo nesse mundo. Sei que isso é errado, mas não consigo, não olhando para aqueles olhos, que tem o poder de me seduzir apenas com um olhar.

     Sei que não devo acreditar no dizem seus olhos. Assim como os outros, ele não me quer de verdade, eu conheço aquele olhar, eu já o vi, milhares e milhares de vezes. Se eu fechar meus olhos, por alguns minutos, posso ver o rosto de cada pai adotivo me prometendo a mesma coisa, um lar, uma família... amor, mas no final todos me abandonaram, mesmo meu adorado marido me deixou. Oh, Deus! Como eu queria que Edwards pudesse estar aqui ao meu lado, me confortando como sempre fez, me fazendo sentir seguro, preenchendo o vazio que se tornou minha vida, mas ele teve que me deixar, mesmo contra vontade. Por quê? Por que o tiraste de mim? Por que ele me deixou em um mundo onde não tenho nada além de uma rotina? Um mundo onde as pessoas me odeiam, por eu ser simplesmente quem sou. Eu não quero levantar dessa cama, não hoje, eu quero apenas ficar e chorar. Quero poder ficar aqui e me isolar do mundo lá fora, mas não posso, sei que não posso. Por mais que eu queira, cedo ou tarde terei que me levantar e enfrentar todos novamente, como sempre fiz.

      Sinto-me tão culpado. Tão sujo. Eu queria estar junto de meu esposo, mas meu coração a cada dia bate mais forte por aquele homem de olhos tão profundos. Eu queria poder ficar com ele, mas a imagem de meu esposo me acolhendo, me aceitando, enquanto os outros me viravam as costas, faz me sentir um ser desprezível, pelo simples fato de pensar em outra pessoa que não seja meu marido. Mas é impossível mandar no coração. Sempre que estou sozinho em meu quarto e fecho meus olhos, é a figura dele, e não a sua que fica em minha mente: seus olhos azuis, me vendo com tanto amor, com tanto carinho. Eu me sinto um monstro cada vez que isso acontece. Eu deveria estar chorando sua morte, Edwards, e não pensando em outro homem.

Você me deixou há apenas cinco meses, mas parece que foi ontem. Ainda assim, eu o desejo...eu não deveria desejar ficar com ele, não deveria me aproximar, mas isso é quase que inevitável. Droga, Edwards! Por que pediu que ele ficasse ao meu lado após sua morte?

Vocês sempre foram amigos e, inevitavelmente, acabamos o encontrando em meu aniversário de 20 anos, quando saímos em um cruzeiro. Me lembro que toda a vez que ele se aproximava de mim, minha pele parecia se arrepiar, meu coração queria sair pela minha boca, mas então eu olhava para o lado e via você, Edwards, e o seu doce sorriso, e covardemente não conseguia fazer nada, além de pedir licença e me retirar, não conseguia fazer nada além de fugir.

      Uma vez me disseram "Cuidado com aquilo que deseja, isso pode se realizar". Acho que essa pessoa tinha razão, eu desejei do fundo do meu coração, ficar com aquele homem, mesmo sabendo que a seu modo você me amava. E hoje você está em uma tumba fria e sozinho. Você não merecia isso, eu não merecia. Era eu quem deveria estar no seu lugar, você tem uma família e eu...não tenho nada sem você. Mesmo depois da sua morte, meu desejo por aquele homem, não desapareceu. Ainda o quero, mas não tenho coragem de me aproximar, mesmo com meu coração dizendo, que não tem nada demais. Eu ainda não consigo aceitar outro homem me tocando que não seja você, ainda não consigo permitir um outro homem em minha vida.

Eu queria não pensar em mais nada, mas eu penso; quero sentir os lábios daquele homem, sentir suas mãos tocarem meu corpo. Eu quero apenas ser amado, saber que pertenço a um lugar, saber que existe alguém que me espera, que me deseja, que me ame, que me proteja, alguém que me dê uma vida de felicidade.

      Eu não sei mais o que fazer. Eu me culpo. Eu te culpo. Eu o culpo por ser tão bondoso, por me mostrar o paraíso em apenas um olhar, por tomar meu coração contra minha vontade. Eu o culpo por me fazer sentir em paz.

      Mesmo com dúvidas. Mesmo com esse sentimento de perda. Mesmo estando sozinho, tenho que levantar dessa cama e encarar a vida com um sorriso. Já que ninguém da empresa, que construímos juntos, tem a ver com meus problemas pessoais. Tenho que colocar em meu rosto um sorriso alegre, que me faça parecer bem. Para mostrar aos outros que sou indestrutível que nada pode me atingir. Para mostrar que nada pode me abalar.

Afinal, esse é o mundo real, é o mundo onde só os mais fortes sobrevivem. Nesse mundo onde vivo, não posso demonstrar minha fraqueza ou minha solidão, nem mesmo por um minuto, porque se me mostrar fraco, serei descartado como uma carta sem valor. Levanto da cama caminho até o banheiro para me preparar para mais um dia, onde serei mais uma vez outra pessoa. Guardarei em peito o ser fraco e carente, e deixarei apenas transparecer meu outro eu, deixarei apenas aparecer um eu alegre, decidido e indestrutível.

- Bom dia, senhor Falls!

- Bom dia, James! O senhor Yuy, já chegou?

- Não, senhor.

- "timo! Chame o motorista. Irei para a empresa mais cedo.

- Mas, senhor Falls, o senhor ainda não tomou seu café da manhã. E o senhor Yuy...

- Não se preocupe, James! Hoje eu não estou com fome.

- Sim, senhor! Mandarei Alfred vir o mais rápido possível. Mas o senhor tem certeza que não deseja nem mesmo uma maçã?

- Obrigado, James, mas não quero nada! Apenas chame o motorista, por favor!

- Como queira, senhor! Com sua licença.

Duo olhou para o relógio e viu que eram apenas oito horas. A empresa só abria as nove, então ele teria muito tempo antes que Heero viesse busca-lo. Naquela manhã, Duo apenas queria evitar, a todo custo, a presença de Heero. Devido a sua pressa ele não se lembrou de chamar os seguranças. Quando o motorista buzinou duas vezes, Duo saiu como um louco, com um sorriso bem grande estampado em seus lábios, enquanto entrava no carro.

- Alfred, para a empresa e bem rápido!

- Sim, senhor!

O carro saiu em disparada, o que aumentou ainda mais o sorriso de Duo. Inexplicavelmente, Duo sempre gostou de sentir a adrenalina correndo em suas veias, porém Edwards sempre o impedia de fazer coisas muito arriscadas, já que temia que Duo pudesse se machucar; e para não contraria-lo Duo sempre o obedeceu.

- Senhor, me desculpe a indelicadeza, mas porque essa manhã o senhor não esperou pelo senhor Yuy?

- Nada em especial, Alfred, eu só queria chegar mais cedo! E se eu fosse esperar por ele não conseguiria.

- Quer que eu venha busca-lo mais tarde senhor?

- Não será necessário, Alfred. Hoje tenho que falar com um velho amigo.

- Como queira, senhor!

Duo olhou pelo retrovisor e viu que um carro cinza, que parecia segui-los, mas não deu muita importância a isso. Assim que avistou sua empresa, viu um carro vermelho parado, com um homem vestindo um terno preto encostado no carro.

- Droga! – balbuciou Duo.

O homem parado em frente a sua empresa, não era ninguém mais que Heero Yuy. Assim que saiu do carro, Duo olhou para o homem que se aproximava a passos lentos dele.

- Por que não me esperou?

- É que hoje, tenho alguns assuntos para adiantar e eu não poderia ficar esperando você. Além do mais, não há perigoso algum em se chegar mais cedo ao trabalho!

- Onde estão seus seguranças?

Duo mordeu o lábio inferior. Ele havia se esquecido dos seguranças; como ele sempre saia para o trabalho com Heero, era ele quem sempre avisava os seguranças para acompanha-los.

- Duo, você tem que tomar mais cuidado, você...

- Eu sou uma pessoa normal, que odeia ser colocado em uma redoma de vidro, não precisa se preocupar, Heero. Eu sei me cuidar! Eu não vou morrer ou sofrer um atentado. Eu não sou alguém tão importante assim.

Heero colocou uma das mãos sobre os olhos, para protege-los do sol forte, quando viu um carro cinza, de vidros escuros, se aproximando lentamente. O Sol refletia em alguma coisa que saiu da janela do carro, produzindo um brilho estranho. O carro se aproximou de onde estavam. Olhando na direção do brilho, Heero viu algo, mas não percebeu que era o cano de uma arma, sendo apontada na direção de Duo. O carro continuou a se aproximar de seu alvo, que não tinha notado o perigo que estava correndo.

Quando o carro estava a poucos metros, Heero percebeu que o objeto saindo da janela era uma arma. Sem pensar duas vezes, ele rapidamente se jogou no chão com Duo, o cobrindo com seu corpo, poucos instantes antes do carro disparar na direção onde Duo se encontrava anteriormente. Vários gritos de pânico foram ouvidos; pessoas correndo de um lado para o outro, se jogando no chão tentando fugir dos disparos. o carro cinza continuou a descarregar toda sua munição na direção de Duo. O carro de Heero ficou com a lataria perfurada e os vidros quebrados pelos disparos. Assustado, Duo abraçou Heero puxando-o para mais perto de si, fazendo que o contato entre seus corpos aumentasse. O barulho da arrancada do carro foi suficiente, para Heero afastar Duo e verificar se ele estava bem. Não havia dúvidas de quem seria o alvo.

- Você está bem?

      Duo ainda mantinha os olhos fechados, não conseguindo processar nenhuma informação. O pânico de quase ter sido morto ainda estava presente. Sem responder a pergunta, Duo se manteve abraçado a Heero, tentando buscar forças.

- Duo, você está bem? – o leve tom de preocupação na voz de Heero, que repetiu a pergunta olhando diretamente para os olhos assustados de Duo, o fez despertar.

- Sim, eu estou bem, me desculpe!

Quando Duo teve noção de que ainda estava agarrado a Heero, soltou-o envergonhado. Sem perder mais tempo, ele levantou e bateu suas roupas, se afastando de Heero, que ficou sentado no chão, enquanto o observava caminhar em direção a empresa, onde foi recebido por vários empregados preocupados. Olhando ao longe, uma mulher com um vestido rosa, pareceu se enfurecer com a cena que via a sua frente.

- Já se foram quatro das suas sete vidas.

Duo pegou o elevador para sua sala, encostando as costas na parede. Seu coração batia desordenado, sentia frio e um vazio ameaçava consumi-lo por dentro. De repente se lembrou do calor do corpo de Heero junto ao seu, quando ele o protegeu das balas.

"Eu vou acabar enlouquecendo se insistir em ficar pensando nele".

Duo passou pela secretária com um meio sorriso e se refugiou dentro de sua sala. Caminhou até o bar e pegou algo forte, bebendo de uma vez. O líquido queimou sua garganta, e ele se se encostou ao balcão tentando controlar-se. Depois foi até sua mesa e sentou-se fechando os olhos. Alguns minutos depois a porta de sua sala se abriu e o homem que atormentava seus pensamentos entrou.

Heero havia ficado parado alguns minutos lá embaixo, tentando imaginar as reações de Duo. O americano o intrigava; nunca era capaz de adivinhar o que se passava pela mente dele. Aos seus olhos parecia que Duo ficava incomodado com sua presença, pois  geralmente ele era sempre falante, mas quando ele estava por perto, Duo ficava sempre calado, falando apenas o necessário. Não sabia porquê razão Edwards o havia incumbido de tomar conta de Duo. Ele sentia-se estranho na presença dele; o rapaz de cabelos compridos andava tirando seu sono. Heero se pegava pensando no marido de seu finado amigo com muito mais freqüência do que gostaria. Quando notou que o carro com a arma, planejava atirar em Duo, ele não pensou duas vezes em protege-lo com seu corpo. No entanto, ter o corpo dele juntou ao seu despertou-lhe sensações que não gostaria de sentir, não em relação a ele.

Quando Duo abriu os olhos, viu Heero o observando. Quase que  imediatamente sua face adquiriu um tom avermelhado, que não passou despercebido a Heero. Ele caminhou até Duo, pois precisava conversar com ele e tentar descobrir quem poderia querer mata-lo.

- Duo, você tem idéia de quem poderia querer te matar?

Duo olhou para Heero. Sim ele tinha uma idéia, não uma certeza, mas não poderia simplesmente acusa-los sem provas. Caso decidisse contar, certamente, Heero não acreditaria nele, afinal quem acreditaria?

- Não, eu não faço a mínima idéia de quem poderia ser.

Heero percebeu que Duo desviou os olhos quando respondeu. Ele sabia, mas por algum motivo não queria lhe contar. Seria impossível que Duo não soubesse quem era seu algoz, não depois de quatro tentativas.

- Você realmente não sabe ou não quer me dizer.

- Faz alguma diferença? Você não acreditaria em mim mesmo e, além do mais, eu não tenho provas de que tem sido eles.

- Eles? Então você tem uma idéia de quem poderia ser?

- Eu não quero falar sobre isso agora, Heero, e se você não se importa eu gostaria de ficar sozinho.

- Duo, se você sabe quem é deveria falar.

- Eu já disse que não.

Duo gritou e virou sua cadeira de costas para Heero. Ele não queria dizer que, talvez, os meio-irmãos de seu falecido marido estivessem por trás dos atentados. Heero sabia que não conseguiria arrancar nada de Duo no momento; talvez mais tarde, quando estivesse em casa, Duo lhe contasse suas suspeitas. Ele se levantou, se preparando para deixa-lo sozinho, mas antes de sair deu um aviso.

- Não deixe o edifício sozinho, é arriscado e não convém facilitar. Eu vou chamar os seus seguranças. Eles o levaram para casa. A polícia já foi acionada, por isso é provável que eles queiram falar com você, uma vez que você parecia ser o alvo.

- E por que você acha isso?

- Porque ninguém sofre quatro atentados, em mesmo de dois meses, Maxwell, como parece que o carro o estava seguindo...

Heero deixou a frase no ar e Duo abaixou sua cabeça derrotado. Ele queria ir para casa, não se sentia com disposição para enfrentar o interrogatório da polícia. Com certeza a policía não iria se conformar, como aconteceu com o último depoimento dele. Estava mais do que claro que alguém o desejava morto e não desistiria até conseguir seu intento.

- Está bem. Acho que eu vou voltar para casa depois de falar com a polícia, não me sinto muito bem.

- É melhor assim. Você pode descansar, tenho certeza que não foi o que você esperava ao sair sozinho essa manhã.

- Por acaso você está me acusando de ter procurado isso.

- Não, apenas de ter sido imprudente ao sair sozinho, sem seus seguranças ou comigo.

- Ah tá, e eu estaria muito mais seguro com você, não é, Heero.

- Talvez.

Heero saiu do escritório fechando a porta atrás de si. Ele não tinha intenção de acusar Duo sobre o que havia acontecido, mas o homem havia sido negligente com a própria segurança e ele não pode se  impedir de falar isso. Como também não podia impedir de se sentir responsável por ele.

A polícia chegou minutos depois. Conversaram com Duo, que disse a eles o mesmo que havia dito a Heero: que não tinha a menor idéia de quem poderia quer vê-lo morto. Heero estivera presente ao depoimento, e sabia que ele estava mentindo. Por que o americano não dizia quem poderia querer mata-lo? Heero então se lembrou de algo que Edwards disse uma vez, quando ainda era vivo.

Quatro anos atrás

Edwards estava olhando para a paisagem lá fora: seu marido estava nadando na piscina, com os cabelos soltos flutuando na água. Ele gostaria de estar junto dele, mas sentia-se debilitado por sua doença. Ele sentia que o tempo estava acabando, então, precisava fazer algo para garantir a segurança de Duo depois de sua morte. Sabia que Duo sentiria sua falta, ele também não desejava partir e deixa-lo sozinho, mas não havia uma cura para ele.

O telefone tocou e ele se aproximou da cama para atende-lo. Um sorriso se formou em seu rosto e ele conversou por alguns minutos com a pessoa do outro lado da linha. Recolocou o telefone no gancho e se arrumou; após, desceu as escadas e caminhou até a piscina, onde seu jovem marido nadava despreocupado. Duo viu Edwards se aproximar, bem arrumado e ficou imaginando onde ele poderia ir, já que Edwards nunca saia sem ele, ainda mais agora que sua doença estava progredindo. Duo se aproximou da borda da piscina e saiu, pegando uma toalha sobre a cadeira.

- Edwards, por que não me avisou que ia sair, eu teria me arrumado e...

- Não há necessidade de que venha comigo, Duo, além do mais não queria atrapalha-lo enquanto nadava.

- Mas aonde você vai?

- Ver um amigo.

- Um amigo? Eu o conheço?

- Sim, eu o apresentei quando fomos aquele cruzeiro, lembra?

- Sim, como poderia esquecer, foi maravilhoso.

- É verdade. Vou me encontrar com Heero no clube.

- Ah! Tem certeza que não quer que vá com você?

- Tenho sim, eu ficarei bem não se preocupe. Vou convida-lo para jantar conosco, o que acha?

- Eu...eu...claro, porque não?

Edwards olhou por alguns instantes para Duo. Seu jovem marido era incapaz de mentir, pois seus olhos eram como espelhos e sua face ruborizada não escondia o que lia nos olhos claros. Sabia que Duo se sentia levemente atraído por Heero e tinha conhecimento que seu amigo, mesmo não admitindo, tinha ficado encantado com a beleza de seu marido. Sabia também que Duo jamais o trairia, assim como Heero seria incapaz de faltar com respeito a Duo, o que não poderia dizer o mesmo de seu meio-irmão. No entanto, ele achava tudo muito curioso e divertido. O próximo passo, era resolver alguns assuntos. 

Duo sabia que tinha ficado corado, quando seu marido mencionou o nome de Heero. Ele não conseguia entender o porquê daquele homem causar tal reação em si; bastava ouvir falar no nome dele para que sentisse seu coração bater mais forte e seu rosto ficar vermelho. Sabia que não deveria ter esse tipo de reação, ainda mais na frente de seu marido, mais não pudera impedir.

Edwards se aproximou de Duo e acariciou o rosto com carinho, enquanto o beijava suavemente. Sentia-se bem cada vez que seu marido o tocava, não era nada arrebatador como via nos filmes ou lia nos livros, mas não deixava de ser agradável.

Edwards podia sentir toda a paixão que seu jovem marido exalava cada fez que o tocava. Duo era pura alegria e emoção, sua beleza e graça eram incomparáveis e ele se sentia abençoado por ter um marido tão belo e dedicado, mas ele achava que Duo merecia conhecer o sabor da paixão; sentimento esse que ele não poderia lhe dar, sabia que seu marido possuía necessidades e que elas não eram devidamente supridas. Mas tinha a certeza de que haveria o dia em que seu marido encontraria alguém que lhe ensinaria e lhe mostraria a verdadeira paixão, ele apenas se ressentia de não ser ele a faze-lo.

Edwards saiu, acompanhado de um segurança, em direção ao clube onde se encontraria com Heero. Enquanto seguia para o local, se lembrou da primeira vez que viu Duo: ele tinha apenas dez anos e já irradiava beleza e vivacidade, e isso não passava despercebido aos olhares. Principalmente quando se mora nas ruas, sujeito a todo o tipo de indivíduos.

Flashback

Duo estava sendo covardemente surrado por um outro garoto, que tinha o dobro de seu tamanho. As pessoas passavam e não davam a mínima atenção a briga, ninguém se importava, pois eram apenas moradores de rua e seus conflitos e problemas não eram de seus interesses. No entanto, seu olhar se encontrou com o do menino, que mesmo ferido, não derramava nenhuma lágrima e isso parecia irritar ainda mais seu agressor.

Edwards se aproximou, pois não deixaria que o menino fosse surrado de uma forma tão bárbara. Ele já o havia visto antes, andando próximo à faculdade que freqüentava, revirando as latas de lixo e sendo posto para correr por alguns estudantes ou guardas da instituição de ensino. Ele se admirara pela beleza do menino: os cabelos compridos presos em uma trança, as roupas sempre negras e sujas, no entanto seus cabelos, pareciam sempre limpos, em contraste com o resto. 

Duo sabia que não deveria tê-lo provocado, mas não podia deixa-lo falar mal de seus pais. Agora certamente iria morrer nas mãos dele. Doug tinha o dobro de seu tamanho e da sua idade. Ele gostaria de pedir ajuda a alguém, mas quem o ajudaria? Meninos de rua havia aos montes e a sociedade não se importava com nenhum deles; ele era apenas mais um de quem ninguém sentiria falta. Então seu olhar se encontrou com o de um rapaz que já vira uma vez, no conjunto de prédios grandes onde costumavam procurar comida. Ele nunca o tratara mal, mas o que ele estaria fazendo ali parado no beco, olhando para ele? Será que ele viera ajuda-lo? Sentindo sua vista turva, ele se deixou levar pela inconsciência, e, talvez assim, tudo acabasse mais rápido e ele não sentisse mais dor ou solidão.

Edwards viu o menino desmaiar e simplesmente partiu para cima do outro garoto, que continuava a chutar o menino, mesmo depois de apagado.

- Ei, pare com isso!

O garoto parou de surrar o outro e passou correndo, deixando para trás Edwards, que tinha sua atenção voltada para o corpo do menino estirado no chão. Ele se agachou e tocou de leve o menino. Pegando seu pulso, rezou para que ainda estivesse vivo.

"Por favor que ele não tenha morrido".

Foi com alegria que notou que o pulso do menino ainda batia, apesar de estar muito baixo. Tomando a criança em seus braços com cuidado, correu para o posto médico mais próximo. Ele teve que fazer um verdadeiro escândalo para que o menino pudesse ser atendido, mas ficou tranqüilo quando um médico se prontificou a atende-lo.

- Ele está bem, alguma costelas quebradas, está desnutrido, mas só precisa de um bom banho, uma refeição decente e repouso. Não é sempre que vemos alguém trazer uma criança assim, geralmente a polícia faz isso.

- Não havia policiais por perto e as pessoas que passavam não pareceram dar muita importância.

- Entendo, bem imagino que se você não o tivesse socorrido ele estaria morto agora. Infelizmente isso é muito comum, pelo que vejo, ele não deve ter mais do que dez anos de idade. Vou avisar a polícia para que ele seja levado a um orfanato.

- É necessário?

- Sim, a polícia se encarregará do caso agora. Pode ir embora se quiser.

- Mas você disse que ele precisa de cuidados, não é?

- Sim, mas o Estado cuidará disso.

- Eu pagarei as despesas dele. Tem algum problema se eu ficar esperando ele acordar.

- Não vejo porquê não. A polícia deve demorar um pouco para chegar.

- Obrigado.

- De nada.

Fim Flashback

Edwards despertou de suas lembranças com o chamado de seu motorista, o informando de que haviam chegado ao clube.

- Senhor Falls, chegamos.

- Obrigado, Alfred.

Edwards saiu do veículo e entrou no clube. Muitas pessoas o cumprimentaram enquanto seguia em direção ao restaurante. Ele entrou e disse ao "maitre" que um convidado o aguardava. Ele foi levado até a mesa onde encontrou-se com Heero. O japonês se levantou assim que viu o amigo, e notou que ele parecia ainda mais abatido, desde a última vez em que haviam se encontrado.

- Olá, Heero, é bom vê-lo.

- Eu digo o mesmo, Edwards. O que queria falar comigo?

Edwards se sentou e pediu um copo com água. Não sabia como iria começar a conversa que pretendia ter com o amigo. Heero podia notar que Edwards parecia um pouco desconfortável; ele não podia imaginar que assunto tinha levado seu amigo a contata-lo. De certo deveria ser algo relativo ao seu jovem marido. Lembrar-se do marido de Edwards o fez imaginar onde ele estaria agora.

-   Tem algo a ver com seu marido, Edwards?

Edwards ficou feliz por Heero ter mencionado no nome de Duo. O japonês sempre fora muito perspicaz.

- Sim, tem. Eu estou morrendo, Heero...

Heero olhou incrédulo para seu amigo. Jamais poderia imaginar que isso pudesse acontecer, pois da última vez que haviam se encontrado, Edwards não havia mencionado que estava doente. Edwards viu o semblante surpreso de Heero, e soune q precisava se explicar, pois o amigo não esperava por essa notícia. Poucos sabiam sobre isso, apenas seus meio-irmãos, seu marido, alguns empregados, seu advogado e, agora, Heero.

- Eu tenho câncer e, antes que pergunte se não há uma cura, não há, pelo menos não para o meu caso.

- Eu sinto muito saber disso.

- Eu sei, mas não mais do que eu.

- É verdade.

- Apenas algumas pessoas tem conhecimento desse fato: somente algumas pessoas de confiança e minha família. Mas o que me preocupa são meus meios-irmãos, que não se importam nem um pouco com minha doença, na verdade, creio que eles aguardam apenas a minha morte para tentar arrancar o que puderem de Duo, e foi por isso que eu pedi que se encontrasse comigo.

- Em que posso ajuda-lo?

- Eu tenho medo que Relena e Milliardo tentem fazer algo contra Duo.

- Como assim? Pensei que eles se dessem bem com ele.

- Não, eles simplesmente não o suportam, ainda mais depois que Duo se casou comigo. Milliardo nem tanto, embora o interesse dele em meu marido não é nem um pouco lisonjeiro e educado. E quanto a Relena, tenho certeza de que se Duo fosse algum tipo de animal pequeno ela mesma o estrangularia com as mãos.

- Edwards, não deveria disser isso de seus irmãos, tenho certeza que eles...

- Não, Heero, eles seriam capazes sim, ainda mais por dinheiro. A empresa que Duo e eu construímos é uma das mais lucrativas e cada dia ela engloba uma boa parte do mercado. Ou seja, nosso patrimônio cresce a cada dia. E com a minha morte Duo será o único beneficiário. No entanto, não sei se ele conseguirá ter animo para mantê-la sozinho depois que eu me for, e não quero que eles se aproveitem disso para faze-lo mal. Duo ainda é muito inocente em determinados aspectos, e tende a se apegar as pessoas, e elas geralmente se aproveitam disso para usa-lo.Não quero que ele sofra mais do que já sofreu.

- O que quer de mim exatamente, Edwards?

- Que fique ao lado dele quando eu me for. Ajude-o a manter a empresa a salvo e longe de Relena e Milliardo ou eles irão destruir tudo o que construímos juntos, inclusive Duo.

- Eu ainda acho que seria impossível isso acontecer. Eles não seriam capazes disso.

- Você não os conhece tão bem quanto eu, Heero. Pense nisso quando Duo estiver com a vida dele em perigo, quando ele começar a sofrer acidentes misteriosos.

Heero se recusava a pensar nisso, ele não acreditava que Relena pudesse fazer uma coisa dessas. Ela era sempre tão gentil e solícita. Mas se Edwards tinha essa impressão dos meio-irmãos, quem era ele para duvidar disso?

As palavras de Edwards ainda ecoavam em sua cabeça.

"Você não os conhece tão bem quanto eu, Heero. Pense nisso quando Duo estiver com a vida dele em perigo, quando ele começar a sofrer acidentes misteriosos."

Sim. Duo já sofrera três acidentes, mais esse pela manhã, e em todos eles a vida de Duo ficou por um fio. Saberia Duo que seus cunhados queriam sua vida. O que Duo havia dito mesmo?

"Você não acreditaria em mim mesmo e, além do mais, eu não tenho provas de que tem sido eles."

De que tenha sido eles? Duo poderia estar se referindo aos irmãos de Edwards? Teria ele mesmo razão em dizer que eles tentariam contra a vida do marido de seu finado irmão? Heero sabia que seria possível, ainda mais que os rendimentos dois dos não era mais o mesmo. Ambos havia gasto muito mais do que deviam, e, ainda assim, não entendia como a morte de Duo os iria beneficiar. Ele precisava conversar com alguém sobre isso; algo não estava cheirando muito bem e Heero pretendia descobrir o que era, mesmo que tivesse que obrigar o americano a contar o que já suspeitava.

Continua....

Gente finalmente depois de séculos sem atualização saiu o capitulo.

Por favor eu é a Lú que está comigo na empreitada aguardamos comentários.