Em Busca da Felicidade

Capitulo III – Uma Sombra de Dor

Heero acomodou Duo na cama e permaneceu a seu lado, velando por seu sono.

Por volta das três da manhã decidiu voltar ao próprio quarto e descansar pelo menos um pouco... em poucas horas amanheceria, e teria que ir para trabalhar, como fazia todas as manhãs. Deixou o quarto do americano silenciosamente, e acomodou-se em sua própria cama. E apesar de já terem se passado quase quatro horas, não conseguia impedir-se de continuar a pensar sobre tudo o que ouvira de Duo.

Nunca imaginara quão difícil havia sido sua infância. Crescer sozinho... nas ruas frias da cidade... sem ninguém para zelar por ele... dar-lhe conforto... segurança... ou mesmo amor. A primeira pessoa a realmente importar-se com Duo fôra Edwards e, parecia ser mais do que natural que acabassem por desenvolver um relacionamento e decidissem se casar.

Mas assim como foi natural que Duo acabasse apegando-se a pessoa que o tirara das ruas, dando-lhe um lar e a chance de ter uma família. Em todos aqueles anos Edwards jamais lhe dissera, e ele também jamais perguntara, como seu amigo e Duo realmente haviam se conhecido. Tudo o que Edwards sempre dissera fôra que havia sido o destino...; o destino colocara-o no caminho de um anjo...; um anjo de cabelos compridos..., com um rosto repleto de inocência.

Se Edwards houvesse lhe contado mais sobre Duo ou, se ele mesmo houvesse se esforçado em saber mais sobre o esposo de seu melhor amigo, não teria feito suposições quanto às circunstâncias em que ambos se conheceram..., baseara-se apenas nas informações dos irmãos de Edwards, dos empregados e, das poucas conversas que tivera com o amigo antes que este morresse. Mas agora era fato... agora ele conhecia o outro lado da história, e como tudo realmente acontecera..., e entendia o que Edwards vira em Duo.

O rapaz deitado no outro quarto era realmente especial; pois mesmo tendo levado uma vida dura e difícil, ainda era capaz de manter em seus olhos violetas a mesma inocência que via nos olhares das crianças, na creche da empresa. E eram raras as pessoas capazes de manterem-se inocentes até essa idade... em um mundo tão corrompido.

Havia sido um tanto quanto desconcertante perceber que sentia inveja do amigo morto; a forma como Duo referia-se a Edwards... sua voz emanava tanto carinho cada vez que mencionava seu nome... sentia que o amigo havia sido realmente muito feliz na companhia de Duo. Nos poucos momentos em que estivera em sua companhia, e nas poucas cartas que haviam trocado durante a faculdade; todas demonstravam claramente essa felicidade. E ver tanta dor refletida naqueles olhos violetas..., ao admitir que sentia-se sozinho sem seu marido... tantos sentimentos guardados... refletidos de uma só vez nos olhos que tanto apreciava faziam-no sentir-se incomodado com sua profundidade..., faziam-no temer perder-se... ou mesmo cometer uma loucura. Mas o que mais temia era descobrir que à vontade que sentia de finalmente atender ao pedido de seu falecido amigo, fosse apenas uma desculpa egoísta e interesseira de sua parte.

"Agora entendo o motivo de Relena e Milliardo implicarem tanto com ele, embora isso não se justifique... Talvez fosse apenas ciúme da atenção que Duo recebia de Edwards... do carinho que não era dirigido a eles. Poderiam ser várias coisas, mas não justificava o fato de não terem tentado aproximarem-se de Duo. Se estivessem realmente empenhados em fazê-lo Edwards não teria tanto receio quanto a deixar Duo na companhia dos irmãos".

Heero colocou o braço atrás da cabeça... era sua a função zelar pelo bem estar de Duo... procurar fazer com que este se sentisse amado e protegido... cabia a ele cuidar para que nada de mal acontecesse ao outro... como Edwards pedira-lhe..., e pela primeira vez sentia-se realmente disposto e preparado para atender ao pedido de seu falecido amigo.

"Eu vou realizar o seu desejo Edwards, eu cuidarei dele... por você".

Heero levantou-se e despiu-se, deitando novamente e deixando que o sono levasse-o para um mundo sem sonhos ou preocupações. Por algum motivo sentia-se mais leve..., como há muito não se sentia.

Três semanas depois:

O sol invadiu sem piedade o quarto de cortinas brancas, acordando o jovem de olhos cor azul-cobalto, que abriu-os lentamente. Espreguiçando-se, levantou-se e olhou para o relógio em seu pulso... já era hora de levantar e começar mais um dia. A contra gosto deixou a enorme cama de lençóis brancos, e caminhou sem pressa em direção ao banheiro; parou alguns instantes em frente ao espelho analisando imagem sua refletida e deu um meio sorriso ao constatar que suas olheiras não estavam tão visíveis quanto imaginou que estariam, ainda mais depois de passar novamente boa parte da noite em claro.

Com movimentos ágeis retirou toda a roupa e abriu o chuveiro. Soltou um pequeno gemido ao sentir a água gelada em contato com seu corpo ainda quente. Passou a mão pelos cabelos agora molhados, tentando esquecer o motivo que o havia deixado acordado por quase toda a noite mais uma vez. E este resumisse a uma única palavra... Duo. Há três semanas decidira-se por empenhar-se em cuidar do outro... e desde então..., quase todas as noites sentavam-se na sala, na companhia um do outro, e conversavam até altas horas..., conhecendo-se. Falavam sobre os mais diferentes assuntos, e Heero acabou por descobrir que Duo era tão bom ouvinte quanto falador.

Heero deixou o quarto vestindo um terno azul marinho e uma blusa branca, havia buscado-o em seu apartamento, juntamente com outras peças; não poderia ficar deslocando-se a seu apartamento sempre que precisasse de roupas. E também desejava estar por perto, caso Duo viesse a precisar dele. Sabia que sua atenção era um tanto quanto exagerada, mas desde que descobrira mais sobre o rapaz de cabelos compridos, não conseguia evitar sentir-se assim.

Heero desceu as escadas e foi à direção a cozinha, tomar o café da manhã... não encontrava-se muito disposto a fazê-lo sozinho na sala de jantar, uma vez que; há essa hora Duo ainda não deveria ter se levantado. Mas assim que entrou nesta, teve uma surpresa. Duo já encontrava-se acordado e... conversando animado com um dos empregados; um pequeno sorriso formou-se em seu rosto sempre tão frio... ao vê-lo tão bem e disposto; embora isto já estivesse tornando-se mais habitual.

Os sorrisos já não eram tão raros..., embora algumas vezes Duo ainda saísse do quarto usando óculos escuros, a fim de esconder os olhos inchados e vermelhos..., sinal de que passara a madrugada chorando... de novo. Era bom vê-lo assim..., já fazia algum tempo que não via Duo agir daquela maneira descontraída..., talvez falar sobre Edwards estivesse ajudando o garoto de tranças a sentir-se mais confiante e bem disposto.

Ao perceber a figura de Heero parado na porta, Duo sorriu enquanto dizia:

- Finalmente acordou Heero... O que está acontecendo com você? – perguntou Duo aproximando-se do amigo enquanto colocava uma das mãos sobre sua testa. - Não me parece com febre...

Heero voltou a ficar sério..., porém seus olhos demonstravam um pouco de alegria..., era quase impossível manter-se frio e distante perto de Duo... este possuía uma vivacidade que contagiava a qualquer um.

- Sou eu quem deveria perguntar se está passando mal... Ainda nem são 7 horas e você já está acordado.

Duo sorriu, voltando a sentar-se na cadeira da pequena mesa na cozinha... sim, ele acordara descansado e bem disposto àquela manhã; vinha sentindo-se melhor desde que conversara com Heero, e abrira uma parte de seu coração ao japonês. Sabia que não deveria esperar mais do que sua amizade, mas isso já era o suficiente para sentir-se bem e conseguir ter uma noite tranqüila, sem lágrimas ou pesadelos. Heero sentou a seu lado, observando-o por alguns segundos, notou que Duo não estava usando as roupas pretas de sempre...Ele as substituíra por uma calça verde escura e uma blusa da mesma cor, mas em um tom mais claro, estava incrivelmente belo; embora o preto também o deixasse magnificamente atraente... balançou a cabeça recriminando-se por ter tais pensamentos..., não era o momento de ficar admirando-o ou mesmo pensando o quanto Duo era bonito e atraente, faria isso quando estivesse sozinho... à noite, em seu quarto. Como sempre fazia depois de despedir-se dele a porta do quarto do outro. A comida sendo servida ajudou-o a espantar tais pensamentos, embora estes ainda permanecessem presentes.

Assim que terminaram o café da manhã Heero acionou os seguranças, que verificaram o perímetro da propriedade, executando a rotina de segurança. Logo em seguida ele e Duo entraram no carro, em direção as empresas Falls de Software. Durante boa parte do trajeto não trocaram palavra alguma. Após alguns intermináveis minutos em silêncio, Heero olhou para Duo, que parecia distraído olhando pela janela fechada do carro a paisagem que passava a toda velocidade.

Sentindo que alguém o observava Duo virou-se e, percebeu que Heero estava perdido em pensamentos, mas encarava-o de forma indecifrável, era como se pudesse ver através dele. Havia um brilho estranho em seus olhos, que os tornava mais escuros e ainda mais belos que o normal. Foi ficando um pouco desconfortável com aquele olhar perdido, e acabou por chamá-lo, quase em um sussurro.

- Heero...

Ao ouvir seu nome ser sussurrado, Heero piscou e voltou a realidade, desculpando-se, divagara observando Duo, e deixara que seus pensamentos voassem por caminhos que não deveriam.

- Desculpe... distraí-me um pouco.

Duo sorriu balançando a cabeça, não sabia no que ele estava pensando, mas seu olhar parecia devorá-lo..., e sentiu como se todo seu corpo arrepiasse e ficasse acalorado; apesar do ar frio dentro da limusine. Tentando esconder a sensação que acelerara sua pulsação, Duo decidiu por fazer-lhe uma perguntar.

- A que horas você vem me buscar?

- Por voltas das...

Heero parou o que dizia, dando-se um tapa mental, não poderia buscar Duo, pois tinha assuntos importantes a tratar no final da tarde, um pouco depois do horário de saída do outro da empresa.

- Desculpe Duo... Hoje tenho uma reunião com alguns acionistas e não vou poder acompanhá-lo.

Notou o leve ar de descontentamento que apareceu nos olhos do outro, para logo em seguida ser substituído por um sorriso.

- Não tem problema, Heero. Eu voltarei sozinho para casa... afinal eu já sou bem crescidinho e sei me cuidar.

- Não faça nada precipitado Maxwell, lembre-se que antes de sair, você deve chamar os seguranças.

Duo torceu o nariz levemente, fingindo-se de indignado; antes de responder ironicamente ao japonês que o olhava seriamente.

- Mais alguma coisa mamãe?

- Duo!!!!!!!

O garoto de olhos violetas revirou os olhos e riu divertido diante da expressão severa no rosto do japonês, sabia que Heero não o deixaria em paz enquanto não confirmasse que faria o que lhe dissera.

- Pode deixar Heero, eu vou fazer tudo certinho. Não se preocupe.

- Hn.

Heero estreitou os olhos e ficou sério, como se não acreditasse nas palavras do americano que apenas continuava a rir da cara que ele fazia. Mas apesar de estar rindo, Duo sentia uma tristeza por dentro..., a atenção dispensada por Heero o confortava; até mesmo o envaidecia, mas desejava muito mais que isso. Embora soubesse que não deveria sentir-se assim... deveria ficar apenas agradecido por todo cuidado que Heero tinha para com ele..., mesmo sabendo que um dia o japonês iria embora, para cuidar da própria vida.

Chegaram à empresa e entraram, cada um seguiu para sua respectiva sala, a fim de cuidar de seus afazeres. Despediram-se no elevador. Duo sorriu e cumprimentou cada uma das pessoas com quem cruzou durante o trajeto até seu andar, respondendo aos cumprimentos dirigidos tanto a ele como a Heero. O japonês quase nunca respondia verbalmente. Ao pessoal da recepção, geralmente dava apenas alguns grunhidos, ou fazia um ligeiro movimento de cabeça.

Enquanto seguiam pelo saguão, muitos podiam notar, assim como os demais funcionários das empresas Falls, que seu dono estava diferente... parecia mais tranqüilo e era possível ver uma certa alegria em seus olhos anteriormente tão tristes. A mesma alegria que ele possuía nos tempos em que Edwards Falls ainda era vivo..., no entanto ninguém, exceto Heero, poderia dizer a que se devia essa mudança.

O dia estava passando rápido... devido ao acumulo de trabalho a ser realizado. Duo passara boa parte da manhã ao telefone com clientes, quando não se encontrava em frente ao computador desenvolvendo algum projeto atrasado. Ele mal deixou sua mesa... nem mesmo almoçaria, se não fosse por Clarice que pedira uma refeição... certamente passaria o dia inteiro sem comer. Heero também mal deixou sua sala; havia uma montanha de papéis sobre sua mesa, aguardando que tomasse alguma decisão... desejava convidar Duo para almoçar, mas encontrava-se tão concentrado no trabalho que mal viu o tempo passar, quando finalmente notou, o horário de almoço já passara há muito tempo. Comeu uma salada e um suco, trazidos por sua secretária que o lembrara que deveria comer.

Heero olhou para o relógio e notou que faltava pouco mais de cinco minutos para o fim do expediente... pegando o telefone ligou para a sala do americano que atendeu com uma voz cansada, mas que ao reconhecer a voz do outro lado da linha, imediatamente, tornou-se animada e mais disposta.

- Duo...

- O que aconteceu, Heero? A reunião foi cancelada?

- Não..., na verdade eu estou ligando para lembrá-lo de que você deve chamar os seguranças, quando sair.

- Ih!!! é mesmo..., quase esqueci!

- Eu sabia que você não ia se lembrar...

Heero pôde ouvir uma pequena risada do outro lado da linha. E inconscientemente acabou por sorrir também.

- Obrigado, Heero. Eu vou chamá-los assim que sair, eu ainda devo ficar alguns minutos, estou aguardando um programa terminar de compilar. Fico te devendo essa...

- Tenha cuidado Duo... E não fique até tarde na empresa.

- Pode deixar. Eu terei cuidado... hãn... Heero.

- O que foi Duo?

- Você virá para o jantar?

Heero deu um meio sorriso diante da pergunta, haviam adquirido a rotina de jantarem juntos, tomarem um licor e conversarem sobre alguma coisa.

- Claro Duo... eu ligo quando estiver saindo.

- Ok então...

Duo desligou o telefone tremendo, havia se acostumado a jantar com Heero e, por alguns instantes receou que o japonês não estivesse presente durante a refeição, estava tornando-se muito dependente dele e sabia disso. Por um lado sentia-se bem com tudo isso, mas por outro sabia que quando tudo acabasse, o vazio voltaria, e não sabia o que fazer para lidar novamente com ele.

Heero recolocou o fone no gancho e ficou pensativo por alguns instantes..., era estranho, mas algo parecia dizer-lhe que não deveria deixar Duo sozinho naquele dia..., que algo de ruim iria acontecer com o americano. Deixando a cabeça cair lentamente para trás, Heero acomodou-se na grande e confortável cadeira; decidindo o que fazer.

"Não deve ser nada... não há necessidade de me preocupar".

Heero ficou tamborilando os dedos na mesa. Não seria bom desmarcar uma reunião importante apenas por conta de um mau pressentimento, seria? Certamente isso não deveria significar nada..., respirando fundo Heero voltou a ajeitar-se na cadeira, olhando novamente em direção ao telefone.

Vinte minutos depois - Na recepção:

- Aposto que você diz isso para todas. – dizia a recepcionista distraída conversando com um dos seguranças.

O local estava parcialmente vazio. Àquela hora a maioria dos funcionários já havia retornado para suas casas... apenas alguns poucos permaneciam em suas salas; procurando terminar algo pendente. O segurança e a recepcionista estavam tão distraídos, flertando um com o outro, que não notaram quando um jovem de longos cabelos loiros entrou no prédio, indo em direção aos elevadores. Seus lábios curvavam-se em um sorriso diabólico, enquanto o elevador subia em direção ao último andar... seu destino. Sabia que ele ainda deveria estar na empresa... podia ver a luz acesa no último andar do prédio, e o fato de ter atendido ao telefone a apenas poucos minutos antes só confirmava isso.

"Finalmente, você vai descobrir do que sou capaz... irmãozinho. Finalmente irei jogar minha última cartada... há muito tempo espero por essa chance... e agora Edwards não poderá protegê-lo de mim".

A porta do elevador abriu, seguiu cautelosamente em direção a sala... viu através das paredes de vidro que muitas das salas naquele andar já se encontravam vazias, e que as poucas pessoas que ainda restavam pareciam não reparar em sua presença. (1) O que apenas favorecia a seus planos. No meio do caminho teve uma idéia, entrou em uma das salas e ligou para a recepção... sabia que a recepcionista era nova, e que dificilmente conheceria a todos na empresa. Sorriu ao ouvi-la disser que daria o recado, deixou a sala caminhando a passos lentos para seu destino. Parou em frente à sala da diretoria, deu pequenas batidinhas, e abriu-a porta bem devagar... sem aguardar que o convidassem. Se seu ocupante soubesse de sua presença, jamais permitiria sua entrada.

- Desculpe-me, mas eu já estou de saída, seja lá o que for resolvo amanhã...

Duo ouviu a batida na porta, e esta abrir-se silenciosamente... tudo que desejava era ir para casa tomar um banho e descansar, não queria assinar mais nada, nem resolver nenhum assunto por hoje. Por isso nem ao menos olhou na direção da porta para verificar quem entrara, apenas respondeu enquanto mexia em alguns papéis sobre uma pequena mesinha afastada da sua mesa.

- Isso é modo de receber seu irmãozinho, Duo?

Ao reconhecer a voz, o garoto de olhos violetas olhou assustado na direção da porta, constatando que o quê ouvira não era um sonho, mas sim um terrível pesadelo. Notou quando o loiro fechou e trancou a porta atrás de si... sabia que estava tremendo, mas procurou conter-se, embora isso fosse quase impossível, diante do que via brilhando nos olhos de seu cunhado. Tentou manter a calma, sabia que se Milliardo notasse que estava com medo, seria muito pior; precisava apenas manter-se calmo e, longe de seu alcance, até que os seguranças subissem.

- Milliardo! – disse demonstrando toda a sua surpresa.

- Então ainda se lembra do meu nome. – sorriu sarcástico.

- Como poderia esquecer? Mas acho melhor você se retirar. Eu já chamei meus seguranças e dentro de alguns segundos eles estarão aqui.

Milliardo sorriu ainda mais, satisfeito com aquelas palavras. Aproximou-se ainda mais do garoto de tranças. Ele estava maravilhosamente lindo, a calça bem cortada, a blusa com as mangas dobradas e ligeiramente aberta na altura do tórax..., os olhos amedrontados. Duo sempre fora irresistível a seus olhos..., mesmo quando era pequeno, mas Edwards sempre o manteve em vigilância acirrada, impedindo sua aproximação.

- Sabe irmãozinho... Eu falei com eles que tínhamos assuntos muito importantes a tratar. Eles concordaram em esperá-lo lá embaixo.

O sorriso de Milliardo alargou-se..., sabia que os seguranças certamente não subiriam, a menos que fossem ordenados, e como deixara claro que Duo estava em uma reunião e iria demorar-se, estes aguardariam até que o americano os chamasse. O que demoraria e muito em sua opinião, pois não pretendia deixá-lo descer até que tivesse terminado o que viera fazer..., Duo agora estava a sua mercê.

Os olhos violetas arregalaram-se ao ouvir as palavras de Milliardo, os seguranças nunca subiriam, a menos que ele mesmo os chamasse de novo, Duo apoiou a mão sobre a mesa e os papeis que tinha organizado a pouco caíram, espalhando-se pelo chão enquanto recuava, agora completamente assustado, à medida que Milliardo caminhava em sua direção.

- O que você veio fazer aqui?

- Fiquei com saudades.

Duo estava encurralado contra a parede, a apenas alguns centímetros de Milliardo, que colocou uma de suas mãos na parede impedindo sua fuga. O sorriso cínico no rosto do outro, apenas fez com que esperasse pelo pior..., podia até imaginar o que ele viera fazer ali, mas desejava ardentemente estar errado.

- Adoro esses olhinhos assustados.

Milliardo riu mais uma vez, deslizando sua outra mão pelo rosto de Duo, desenhando com os dedos o contorno de seus lábios, e aproximando seu rosto do rapaz assustado. Duo sabia... pelo olhar do loiro sobre si que algo ruim estava para acontecer..., o pior de todos os seus temores. Se continuasse parado ali, não apenas sua segurança, como também sua integridade, estaria certamente ameaçadas. Empurrando o loiro com todas as forças, conseguiu afastá-lo de si... correu o mais rápido que suas pernas permitiram em direção a porta, porém no nervosismo não conseguiu destrancar e abrir a porta rapidamente. Não antes que Milliardo o alcançasse, empurrasse e virasse, pressionando-o contra a porta, colocando-os um de frente para o outro.

- Duo..., porque está fugindo? Eu ainda não terminei todos os assuntos que vim tratar com você.

- Me solta!

- E se eu não quiser? Vai fazer o quê irmãozinho?

Milliardo abaixou o rosto e beijou o pescoço de Duo que começou a gritar com todas as forças para que o soltasse, porém aquilo apenas parecia diverti-lo ainda mais. Milliardo continuou a beijá-lo e deslizar suas mãos por seu corpo. Duo tentava a todo custo soltar-se e afastar-se do outro... passou a debater-se furiosamente, tentando socá-lo, mas foi Milliardo quem lhe acertou um soco no estômago, enquanto mantinha-o contra a porta. Duo encolheu-se diante da agressão, sentindo uma forte dor e dificuldades para respirar. Aproveitando-se que Duo não reagia, Milliardo puxou–o pelo braço, arrastou-o e jogou-o sobre a espaçosa mesa, derrubando tudo o que estava sobre ela.

Depois de ser jogado sobre a mesa, Duo ainda fez menção de levantar-se..., não desistiria..., não o deixaria fazer o que pretendia com ele..., mas Milliardo era muito mais forte que Duo, agarrou-o com força pelo pulso enquanto sentenciava.

- Fique quieto!!!

- Nunca!!!!

Duo começou a debater-se novamente, usando as pernas para afastá-lo..., não permitiria que aquele homem o tocasse. Milliardo perdeu a paciência com o comportamento do outro..., estava demorando-se mais do que pretendia, se Duo não o queria por bem, então seria por mal. Novamente cerrou o punho, e com força socou-o no estômago e no rosto, fazendo o outro gemer de dor e encolher-se ainda mais. Vendo que o garoto abaixo de si ficara sem forças para reagir, começou a agir. Sem esperar mais segurou com ambas as mãos à blusa de Duo e puxou-a, fazendo os botões voarem.

- NÃO!!!! PARE!!!!!

Duo começou a entrar em pânico ao ter a blusa rasgada e o peito exposto, a blusa foi arrancada totalmente de seu corpo, enquanto lágrimas manchavam seu rosto. Nervoso Milliardo deu-lhe outro soco no rosto, olhando-o de maneira reprovadora e cínica. Duo ainda tentava livrar-se e impedir que ele o tocasse, porém estava se cansando rápido, tanto fisicamente quanto emocionalmente. Para seu desespero seu corpo já não o obedecia, e sua voz parecia estar desaparecendo..., não tinha mais forças para reagir. Tudo que podia fazer era chorar..., chorar por estar vivo... chorar por não ter forças ou meios de impedir que seu corpo fosse violado.

- Parou de reagir irmãozinho!? Não se preocupe tenho certeza de que você vai gostar, e vai implorar para que eu não pare.

Duo fechou os olhos, como se com isso não pudesse ver o que estava acontecendo, mas isso não adiantava muito já que sentia os lábios de Milliardo por seu corpo, beijando-o de forma selvagem; violando-o e machucando-o... não apenas por fora, mas também por dentro. Seus pulsos doíam, presos pelas mãos de Milliardo que a cada mínimo movimento seu, apertava-os com mais força ainda, restringindo-lhe cada vez mais os movimentos... sentia o gosto de sangue na boca, assim como sentia o vazio retornar. Seus olhos antes alegres estavam agora vazios, cobertos por uma tristeza profunda... seria inútil resistir, já não tinha mais forças. Nem ao menos tentou impedir que o outro o virasse de bruços contra a mesa... apenas fechou com força os olhos, desejando ardentemente perder a consciência naquele momento.

Não queria lembrar daquilo, não podia... desejava morrer antes que o outro entrasse em seu corpo, antes que tomasse dele sua inocência... seus sonhos. Sentiu sua calça... juntamente com a cueca, serem abaixadas com força... seu coração parecia querer parar, e desejava que isso realmente acontecesse, sentiu Milliardo afastar-se um pouco. E pôde ouvi-lo, retirando as próprias roupas, enquanto dizia que o faria implorar por mais... Seria agora.

"Por Deus... que eu venha a morrer agora... antes que ele...".

Mais e mais lágrimas desciam por seu rosto, enquanto o desespero inundava seu coração, deveria saber que não poderia ser feliz... que os momentos de descontração e companheirismo vividos ao lado de Heero eram apenas uma ilusão. Desejou que o japonês o salvasse, mas este nem ao menos deveria estar na empresa..., sua voz voltou por alguns segundos e uma única palavra foi pronunciada naquele momento de extrema dor...

- Heero..

Miliardo sorriu irônico..., Heero havia ficado a frente das empresas Falls a pedido de Edwards. O japonês vivia ao lado de Duo, o que dificultara sua aproximação..., mas felizmente o destino conspirara a seu favor. Inclinou-se por sobre o corpo jogado na mesa, sussurrando-lhe maliciosamente ao ouvido, antes de finalmente tomar o corpo que sempre desejara para si.

- Lamento, irmãozinho..., mas ninguém virá salvá-lo agora...

Miliardo beijou a nuca de Duo, os cabelos soltos espalhados por sobre a mesa escura, cobrindo-lhe parte do rosto, repleto de tristeza e dor. O loiro sorriu e esfregou o membro excitado contra o corpo quente e convidativo..., posicionou-o na entrada de Duo preparando –se para penetrá-lo. Duo permaneceu imóvel ao sentir a cabeça do membro ser pressionada contra sua entrada..., já aceitara seu terrível destino..., tudo que podia desejar agora, já que a morte não viera buscá-lo era que tudo terminasse logo. Fechou os olhos com mais força ainda, fazendo-os doerem..., esperando que a qualquer instante fosse brutalmente penetrado. Sentiu Milliardo mover-se ligeiramente, ondulando os quadris..., quando um grande barulho, seguido de uma voz fria tomou conta do lugar.

- Afaste-se dele agora mesmo!.

Milliardo foi jogado no chão e encarou seu oponente... deu um sorriso cínico, enquanto fechava as calças..., deveria saber que ele chegaria, havia demorado demais, seria impossível que o outro não notasse o atraso do americano.

Duo sentiu alguém retirando o loiro de cima dele, rapidamente suspendeu e fechou suas calças, em seguida deixou-se cair no chão, incapaz de sustentar-se sobre as próprias pernas. Abriu os olhos assustado; ao ver a figura de seu salvador, emocionado e agradecido por sua presença, pronunciou-lhe o nome, em meio às lágrimas.

- Heero!

Duo encostou-se na mesa enquanto via, Heero e Milliardo lutando. Milliardo era superior a Heero em tamanho e força, mas o japonês possuía técnica e habilidade. Com movimentos perfeitos conseguiu prendeu o loiro em uma chave de braço, deslocando-o de forma perfeita. Aproveitando que o loiro, gemia de dor, Heero aplicou-lhe um golpe atrás da nuca fazendo-o cair no chão inconsciente. Totalmente enojado e enraivecido chutou diversas vezes o corpo inconsciente de Milliardo. Foi então que se voltou para Duo. Vendo sua figura assustada e encolhida perto da mesa, caminhou em sua direção, agachando-se e abraçando-o enquanto murmurava em seu ouvido:

- Está tudo bem... Eu estou aqui agora, e não vou deixar que nada e nem ninguém te machuque.

Duo agarrou-se a Heero, chorando compulsivamente. Ficaram abraçados vários minutos, um sentindo o calor do outro. Heero sabia que naquele momento, Duo precisava de seu apoio mais do que nunca, apertou seu corpo contra o dele, tentando diminuir seus tremores. Via a pele machucada e marcada pela violência que sofrera..., não queria nem imaginar o que Duo havia passado e o que teria acontecido se demorasse apenas alguns segundos a mais.

Felizmente decidira por cancelar a reunião e ligara para a sala de Duo, mas apenas dava ocupado o que significava que este ainda permanecia na sala, terminou de guardar alguns documentos e subiu para a sala da diretoria, com a finalidade de arrancá-lo do escritório. À medida que subia sentia a angústia crescer em seu peito..., alguma coisa estava acontecendo e sabia que tinha relação com Duo. Ao chegar, notou que não havia mais ninguém lá. Foi caminhando em direção a última sala do andar, girou a maçaneta da porta e notou que estava trancada, encostou o ouvido e foi com terror que ouviu a voz de Duo soar baixa e triste..., mas o pior foi ouvir a voz de Milliardo, dizendo que ninguém o salvaria.

Heero retirou o paletó e jogou-o no chão junto com a pasta que trazia, em um único movimento chutou a porta com toda a força (2), abrindo-a. Mas nada poderia tê-lo preparado para presenciar a cena que encontrara-se a sua frente..., Duo tinha o corpo pressionado contra a mesa, as calças arriadas, os cabelos espalhados sobre a mesa, os olhos fechados, o rosto banhado pelas lágrimas e os pulsos presos no alto da cabeça por uma das mãos de Milliardo. Estavam claras como o dia, as intenções do outro, e não pensara duas vezes ao arrancá-lo de cima do corpo inerte de Duo, tudo em que pensava era fazê-lo pagar por ter se atrevido a tocá-lo de uma forma tão imunda.

Ainda abraçado a Duo, Heero pegou o celular, ligou para a recepção e chamou os seguranças. Em pouco tempo estes apareceram e viram que alguma coisa havia acontecido. Ainda abraçado ao garoto que não parava de chorar, Heero disse com uma voz tão fria que faria até o mais valente dos homens tremer.

- Liguem para o Inspetor Gales e peçam-no que levem este lixo para a delegacia. E que vá mais tarde a casa do senhor Falls, para que esclarecer os fatos.

- Sim senhor Yuy.

Assim que foram deixados a sós novamente. Heero afastou-se ligeiramente, afastando as longas mechas de Duo..., pôde ver toda tristeza e vergonha em seus olhos. O rosto ferido brutamente. Tentou tocar-lhe, mas Duo recuou e tentou desviar seus olhos dos de Heero.

Duo sentia-se envergonhado... sujo... e não queria ver o que reluzia nos olhos azul cobalto, não podia lidar com isso... não agora.

Heero apenas balançou a cabeça, como que dizendo que entendia e abraçou-o novamente, beijando-o suavemente na testa, e embalando-o em seus braços como se ele fosse uma criança pequena; sentiu Duo soluçar fortemente, enquanto dizia-lhe suavemente.

- Eu estou aqui agora! E sempre estarei... e vou protegê-lo..., isso eu prometo.

Continua...

(1) Efeito Hora da saída. Ninguém pensa em nada a não ser ir embora.

(2) Essas portas geralmente são de carvalho... ou pelo menos beeeeeem grossas, e feitas com material que não permite a passagem de som... afinal o que é dito lá dentro não deve ser ouvido de fora e isso inclui atividades extra escritoriais... como sexo

AI!!!!!!!!!!!!!! Heero Superman!!!!!!!!!!! – comentário fora de hora da Dhandara com autorização da Yoru... eu espero... V (tem minha permissão sim linda)

Mais um capitulo terminado.....

A todos os que comentaram muito obrigado pelo apoio, a Lú e eu nos sentimos muito felizes em saber o quanto todos estão apreciando essa fic.

Agradecimentos a Dhandara pela revisão....valeu linda.

(Dhandara) De nada fofa... pó mandar mais.... já estou necessitada...... mim viciada em leitura... C sabe o quanto né?!?!

E aguardamos mais comentários, por favor..

Yoru no Yami