Em Busca da Felicidade

Capitulo IV – Um Sonho e Um Desejo

Heero estava sentado na sala de espera particular do Star Memory Hospital, aguardando Duo voltar do atendimento. Conseguira convencê-lo a fazer o exame de corpo delito. Precisariam disso para manter Milliardo preso sob a acusação de agressão e tentativa de atentado ao pudor. Heero sentia o sangue agitar-se com a simples lembrança do ocorrido. Já havia entrado em contato com a policia avisando que iriam para o hospital, e não foi nenhuma surpresa ver o Inspetor Gates pouco tempo depois atravessando as portas da sala onde se encontrava.

- Senhor Yuy.

- Inspetor Gates.

O inspetor estava a ponto de perguntar o que exatamente acontecêra, quando a porta abriu-se novamente, permitindo a entrada de Duo. Heero percebeu o ligeiro tremor no corpo do americano, assim que este percebeu a presença do inspetor; bem como a vergonha em seus olhos ametista. Heero aproximou-se de Duo, que recuou instintivamente, isso o fêz parar; dando ao americano algum tempo; até que tentou uma nova aproximação, o que lhe foi permitido. Abraçou Duo e o fêz sentar-se em umas das poltronas. O inspetor Gates olhava-o minuciosamente, observando com pesar o estado do senhor Falls. As marcas em seu rosto deixavam claro que ele havia sido brutamente agredido. Sabia que esse não era o melhor momento para o jovem, mas precisava de seu testemunho para manter preso Milliardo Peacecraft; uma vez que o advogado dele já havia sido acionado.

- Senhor Falls, eu sei que ainda deve estar abalado pelo que aconteceu, mas eu preciso de seu depoimento para manter o senhor Peacecraft detido.

Heero sentiu Duo tremer, e as lágrimas caírem em sua mão ao ouvir o nome de Milliardo. Olhou para o inspetor pedindo silenciosamente que lhe desse um tempo para convencer Duo a dar o depoimento. Este balançou a cabeça, indicando que aguardaria do lado de fora da sala. Assim que o inspetor saiu, Heero voltou sua atenção a Duo. Ergueu ligeiramente sua cabeça com os dedos; assim que seus olhares se encontraram sentiu os olhos de Duo tremerem, e quando o mesmo tentou desviar o olhar, Heero não o permitiu e; delicadamente, o fez retornar seu olhar a ele.

- Duo eu sei que você não deseja lembrar do que houve, mas você precisa contar tudo ao inspetor; assim Milliardo pagará pelo que tentou fazer. Sei que é...

- Não! Você não sabe...não sabe...

Duo começou a gritar e a chorar compulsivamente nos braços de Heero. A dor que sentia era enorme. Sentia-se imundo. Não apenas por fora; mas por dentro também. Mesmo vivendo nas ruas havia conseguido sobreviver; intocado de sua imundice e crueldade. Como pudera permitir que Milliardo o tocasse e manchasse seu corpo com suas mãos imundas? Que maculasse o que havia reservado apenas a Edwards?

- Ele não podia...não podia.

- Duo...

Heero podia sentir a dor na voz de Duo. E todo seu desespero. Gostaria de poder fazer alguma coisa, mas não sabia o quê. Sabia o quanto o americano estava fragilizado com tudo o quê acontecêra, e como este precisava sentir-se seguro. Sentia que tudo o que haviam construído ruindo em meros segundos. Estavam indo tão bem. Estavam conseguindo conversar abertamente, e agora... acontecia isso. Sua vontade era de matar Milliardo com as próprias mãos, e fazê-lo sofrer por ousar tocar em Duo. O americano continuava a murmurar sua litânia; mas à menção do nome de Edwards, Heero passou a olhá-lo mais atentamente, e prestar melhor atenção às palavras do outro..

- Eu não vou... eu sinto muito Edwards... mas eu não vou... não vou poder atender a seu último pedido... não depois do... do que... aconteceu.

Heero olhou confuso para Duo. Parecia que este tinha esquecido de sua presença. Ele se levantara e andava de um lado para o outro abraçando a si mesmo. Algumas vezes parava e balançava o corpo, para frente e para trás, com o olhar perdido. Falava coisas que não entendia; fragmentos de uma conversa que parecia ter tido com o falecido marido; coisas como um pedido... de ser incapaz de atendê-lo... então de repente, ouviu Duo narrar de forma fria e vazia o que acontecêra no escritório. Desejava que o inspetor Gates estivesse presente para ouvir, mas temia que Duo parasse de falar se ele se movesse da cadeira onde se encontrava; sabia que Duo não voltaria a falar se parasse. Foi então que viu a porta da sala abrir-se lentamente, e o inspetor entrar silenciosamente, ficando no canto da sala de forma a não chamar a atenção de Duo.

Assim que ouvira a voz exaltada do senhor Falls, o inspetor se aproximou da porta da sala de espera e a abriu. Já se encontrava em alerta, para o caso de ser chamado, ou no caso do senhor Falls começar a contar o ocorrido de um momento para o outro. Permaneceu afastado, ouvindo a narração triste e angustiada de Duo Falls.

- Eu deveria saber quando ele entrou... seus olhos demonstravam claramente suas intenções... ainda assim... eu não quis acreditar... talvez por medo... ou...

Duo fez uma pausa longa, perdido em lembranças. Parecia que havia esquecido tudo que havia aprendido nas ruas. Tornara-se descuidado. Perdêra o jeito após casar-se com Edwards. O marido estivera sempre a seu lado, protegendo-o; tanto que esqueçera como era estar sempre em alerta, e pronto a se defender.

- Quando se vive nas ruas você aprende a diferenciar os amigos, dos assaltantes, vagabundos e dos... dos estupradores.

Duo voltou a ficar calado por vários; minutos perdido em suas lembranças. Heero o viu fechar as mãos em punho, e morder o canto dos lábios, antes de voltar a falar, de forma ainda mais vazia e triste.

- Nunca ignore sua primeira impressão sobre uma pessoa. Você também aprende isso nas ruas. Há sempre 95 de chance dessa impressão ser verdadeira. Eu não acredito que me esqueci disso. Eu não podia ter sido tão estúpido a esse ponto. Eu deveria ter sido mais cuidadoso... eu deveria saber que seria sempre assim...

- Duo não foi sua culpa.

Duo simplesmente não ouvia a voz de Heero. Em sua mente era sua culpa o que havia acontecido. Como pudera pensar que tinha o direito a ser feliz? De que merecia um pouco de carinho e proteção? De que era digno de ser amado por alguém? Não... Milliardo teve todo o direito de fazer o que fizera. Talvez, inconscientemente o tivesse incentivado a fazer isso. Talvez estivesse tão carente, que sem perceber havia dado ao outro, permissão para ter feito o que fez.

Heero podia notar pelas reações e palavras de Duo que este se culpava pelo que Milliardo lhe havia feito. Que o outro tinha todo o direito de violá-lo. Tinha vontade de esmurrar o americano por pensar isso. Como ele podia pensar uma coisa dessas? Aproximou de Duo,segurou-o pelos braços e sacudiu-o. Os olhos de Duo arregalaram-se assustados por alguns segundos, antes de tornarem-se tristes e resignados.

- Você não teve culpa, e não vou admitir que se culpe pelo quê aquele desgraçado tentou fazer.

Duo abaixou os olhos e desvencilhou-se de Heero. Por alguns segundos permitiu-se sentir aquecido pela preocupação que via em seus olhos, mas depois conformou-se com o fato de que não merecia sua preocupação. Não era digno dela. Não era digno de Heero. Nunca seria. Estava apenas se iludindo, desejando o melhor amigo de seu falecido marido. Sentou-se em uma das poltronas, procurando afastar-se do japonês. Não desejava que este o tocasse novamente. Não desejava sentir seu toque e torturar-se pelo que jamais poderia ter. Fechou os olhos e continuou a falar; sabia que o inspetor Gates estava ouvindo; havia percebido sua presença na sala de espera. Contaria tudo o que ele desejava saber e depois se calaria.

- Eu deveria ter ligado para a recepção assim que o vi trancar a porta, mas não pude; fiquei paralisado de medo. Edwards sempre soube que eu tinha pavor de Milliardo, e que seu meio irmão tinha conhecimento disso. Achei que tinha superado, mas percebi tardiamente que estava errado.

- Ele já tentou algo semelhante antes senhor Falls?

Heero olhou para o detetive e depois para Duo, não sabia se o americano responderia, pois assim que ouviu a pergunta o mesmo se calou. Entretanto, alguns instantes depois uma gargalhada irônica e sem vida preencheu a sala. Mantendo os olhos fechados Duo respondeu, apesar de parecer que ele falava mais para si mesmo do que para o inspetor Gates.

- Ah! Sim, mas nunca diretamente, ou Edwards certamente o mataria se o fizesse. Milliardo sempre foi cuidadoso na frente de Edwards, ainda mais quando notou que ele já havia percebido o interesse dele por mim. Ele sempre foi óbvio em suas intenções, por isso que meu Edwards nunca me deixava a sós com Milliardo ou mesmo Relena, embora as motivações dela sejam totalmente diferentes em alguns aspectos.

Inconscientemente Duo abriu os olhos e olhou para Heero, ao falar de Relena e suas supostas intenções.

Heero arqueou as sobrancelhas ao notar o olhar de Duo sobre si. Por alguns segundos o olhar de Duo mudou e tornou-se desesperançoso; mas não teve tempo para analisar melhor, pois Duo tornou a fechá-los.

Gates anotava tudo, e vez ou outra interrompia-o pedindo maiores detalhes sobre determinados fatos, que não estava relacionados em si com à agressão que sofrêra. Duo respondia automaticamente, e Heero se perguntava se de fato Duo se encontrava desligado da realidade a sua volta ou simplesmente decidira por contar tudo como um desabafo.

- Senhor Falls, o senhor teria uma suspeita de quem estaria atentando contra sua vida nos últimos tempos?.

- Sim... não é muito difícil de se imaginar quem seriam... ainda mais quando se liga os fatos. As pessoas costumam fazer qualquer coisa por dinheiro ou ciúme...

Repentinamente Duo levantou-se, dando por encerrado o depoimento. Já havia falado mais que o necessário. Respondeêra por alto todas as perguntas que se recusara a responder antes. Agora tudo o que desejava era tomar um banho e retirar o que havia sobrado de suas roupas.

- Eu quero ir para casa agora... eu quero... preciso de um banho.

Duo caminhou até a porta passando pelo inspetor Gates, sem olhá-lo. Este abriu-lhe a porta. Estava mais que satisfeito com o depoimento. Heero levantou-se e seguiu o americano. Antes, porém; voltou-se para o inspetor, observando a figura parada de Duo a alguns metros aguardando-o.

- É o suficiente para mantê-lo preso?

- Sim, mais do que suficiente para a abertura de um processo. Vou tentar mantê-lo preso o tempo que puder, mas o advogado dele é muito bom Heero. Sugiro que o senhor Falls contrate um advogado, pois pelo que percebi os irmãos Peacecraft vão acabar por encontrar um meio de culpá-lo pelo ocorrido.

- Entendo... obrigado inspetor Gates.

- Não por isso Heero; nunca gostei muito deles dois mesmo. E como o senhor Falls disse, a primeira impressão que se tem de uma pessoa tem realmente 95 de chances de ser verdadeira, e meu instinto nunca me enganou. Aqueles dois não valem o ar que respiram.

Heero meneou a cabeça e caminhou na direção de Duo, que voltou a andar assim que viu Heero aproximar-se. Pararam no hall dos elevadores, deixando o hospital em silêncio sepulcral, que perdurou durante todo o trajeto até a residência Falls.


Na residência Falls:

Assim que chegaram Duo desceu do carro e entrou, subindo correndo as escadas, em direção a seu quarto ignorando por completo o olhar do mordomo. Assim que o alcançou entrou, trancando-se nele. Caminhou até o banheiro e começou a arrancar o que restara de suas roupas, assim como o paletó de Heero, jogando tudo em um canto do aposento. Providenciaria para que tudo fosse jogado fora no dia seguinte. Ligou o chuveiro na água quente e entrou no Box, deixando que a água levasse um pouco de sua dor e sua vergonha.

Heero entrou no momento em que ouviu a porta do andar de cima bater com força. Encontrou James com um olhar preocupado. Dirigiu-se ao bar e pegou uma dose de uísque virando-a na boca de uma só vez. Precisava de uma bebida naquele momento. Serviu-se de uma segunda dose, sentindo a primeira ainda a queimar-lhe a garganta por dentro, então virou-se para James, que ainda aguardava uma resposta pelo estado do senhor Falls.

- Milliardo o atacou no escritório.

- Por Deus... não me diga que aquele infame ousou tocá-lo?

- Sim James, ele ousou, e se eu não tivesse chegado ele o teria...

A raiva de Heero era tanta que nem registrou o fato de que apertava o copo que segurava; até que ouviu uma exclamação e uma ligeira ardência em sua mão direita. Ao olhar viu-a banhada em sangue. Quebrara o copo devido a força com que o apertara. O uísque havia se misturado ao sangue e molhado os corte o que estava causando a ardência. Praguejou e deixou que James cuidasse do ferimento. Olhou para o alto, imaginando como ficaria de agora em diante a relação de amizade que haviam construído. Tinha plena consciência de que nada seria como antes.

"Maldito"


Uma semana depois:

Heero estava sentado na sala de Duo. O escritório havia sido arrumado e a porta consertada. Não restara nada que lembrasse o que ocorrêra há alguns dias atrás. Sentiu a raiva aumentar ao lembra-se do ocorrido. Milliardo havia conseguido sair sob fiança há três dias; apesar de seus esforços em mantê-lo preso; e isso apenas contribuía para aumentar sua raiva. Tivera que dar uma desculpa para explicar a ausência de Duo na empresa durante algum tempo. Não sabia se ele se sentiria à vontade para voltar tão cedo. Não falava com Duo desde que deixaram o hospital àquela noite. Este se recusava a qualquer tipo de aproximação, de qualquer pessoa; mantendo-se trancado no quarto e comendo o mínimo possível.

Estava com uma terrível dor de cabeça, e um monte de coisas para resolver; e tudo no que conseguia pensar era em encontrar um meio de voltar a conversar com ele. Estava sentindo falta da camaradagem que havia se formado entre eles, e que fôra destruída por Milliardo. O telefone da mesa tocou, e antes que pudesse atendê-lo a porta da sala se abriu. Irritado, olhou para a figura que entrou sem ser anunciada, e a mesma sendo seguida pela secretária de Duo, que tentava desculpar-se pelo ocorrido.

- Heero, eu exigo que Duo retire as acusações contra meu irmão.

- Desculpe senhor Yuy, mas ela simplesmente entrou e não consegui detê-la.

- Tudo bem Clarice, pode ir.

Relena olhou com desdém para a secretária, que deixou a sala. Heero apontou para a cadeira em frente a ele. Não que desejasse a companhia de Relena, mas já que ela tinha entrado talvez fosse uma boa oportunidade de descobrir algumas coisas. Relena sentou-se em frente a Heero sorrindo. O japonês era tão belo, inteligente e forte. Cruzou as pernas de forma que a abertura da saia revelasse as pernas alvas e torneadas. Heero franziu o rosto antes de voltar sua atenção ao assunto que trouxera a loira até ali.

- Milliardo já está solto Relena, mas se dependesse de mim ele apodreceria na cadeia.

- Isso é um absurdo. Como pode acreditar que ele tenha tentando algo contra Duo, ele é... da família.

Heero notou a pausa e o leve ar de desprezo de Relena, ao dizer que Duo era da família, sabia muito bem pelas conversas entre ela e Duo que a mesma não nutria nenhum tipo de sentimento familiar em relação ao americano. Estreitou os olhos, tentando descobrir como havia se deixado enganar tanto por uma pessoa. Como não vira antes que Relena não suportava a presença de Duo, e que Milliardo via o americano apenas como um objeto a satisfazer seus desejos imundos?

- Talvez porque eu o tenha visto fazer isso Relena.

- Quem garante que não foi Duo que o instigou e depois mudou de idéia? Não se pode acreditar em pessoas como ele.

- Pessoas como ele?

Relena mordeu a língua repreendendo-se, não podia dar a entender que não gostava de Duo. Sabia que Edwards havia pedido a Heero que cuidasse do marido após sua a morte e que o japonês costumava ser fiel a suas promessas. Sorriu e levantou-se, caminhando até ele. Não conseguira conversar com Milliardo, pois chegara a pouco tempo de viagem, e soubera por alto o que acontecêra ao irmão. Por isso não tinha idéia de que Heero fôra quem impedira o irmão de fazer o que havia lhe dito ao telefone àquela noite. Teria que mudar de tática se quisesse livrar o irmão, e colocar a culpa por suas atitudes no verme que seu meio irmão tomara por esposo.

- Desculpe... eu me expressei mal. Mas você deve saber Heero, que Duo ainda é muito jovem, bonito e deve ter certos desejos... não vou negar que Milliardo sempre se sentiu atraído por Duo, e bem, não é muito difícil imaginar o que pode ter acontecido. Você poderia ter interpretado mal o que viu.

Relena debruçou-se sobre o ombro de Heer,o deslizando sua mão sobre seu tórax, fechou os olhos deliciada pelo perfume que emanava de seu corpo, desejando ardentemente que ele a tocasse. Sabia que era uma mulher bonita, capaz de satisfazer as vontades de um homem como Heero. Mas não era esse o motivo que a levara ali àquela tarde. Suspirando, afastou-se dele; continuando a falar, uma vez que o japonês não parecia disposto a interrompê-la.

- Milliardo pode ser um tanto desajuizado, mas jamais tocaria Duo sem o consentimento dele. E como diz o ditado quando um não quer dois não brigam.

Virou-se para Heero que a encarava de forma fria, o que a vez recuar momentaneamente. Viu-o levantar-se e aproximar-se, parando a poucos centímetros.

Heero estava se controlando para não dizer algo que se arrependeria depois, mas ouvir Relena tentar livrar o irmão e jogar culpa do ocorrido em cima de Duo foi demais.

- Eu tenho certeza do que vi Relena, e se veio aqui apenas para tentar me convencer do contrário, perdeu seu tempo. Milliardo pagará pelo que fez, e se eu fosse você não tentaria livrá-lo, ou vou começar a achar que está envolvida nisso tanto quanto ele

Relena olhou-o chocada. Levou a mão ao peito em falsa indignação. Internamente amaldiçoava o americano. Não seria tão fácil assim livrar-se dele. Caminhou até a cadeira e pegou a bolsa. Sem olhar para o japonês caminhou até a porta, parando momentaneamente antes de sair.

- Você me ofende Heero, ao imaginar tal coisa, mas eu entendo. Mas não se deixe enganar pela beleza dele, ficaria triste ao pensar que é tolo o suficiente para cair na mesma armadilha de meu falecido irmão.

Relena deixou a sala sob o olhar de Heero, caminhando em direção dos elevadores.Cansara-se de ser paciente, estava na hora de mostrar a Duo seu verdadeiro lugar. Um sorriso maldoso cruzou seu rosto antes que as portas do elevador se fechassem.

"Você vai se arrepender Duo Maxwell".


Quatro semanas depois:

Um mês havia se passado e Duo continuava a recusar sua companhia. Assim como se recusava a deixar o quarto. Todas as noites podia ouvi-lo chorar através da parede e tudo o quê podia fazer era escutá-lo em silêncio chamar o nome de Edwards antes de sucumbir ao cansaço. Falara com o advogado sobre um meio de mandar Milliardo de volta para a cadeia, mas o mesmo lhe dissera que seria difícil, uma vez que ele não possuía antecedentes, e provinha de uma família rica e respeitada. Heero torceu o nariz diante da explicação . Se ao menos os outros soubessem que Relena e Milliardo não tinham onde cair mortos.

Havia assumido as funções de Duo, certo de que o americano não poderia retomá-las no momento. Por um lado era bom, assim não havia risco dele se encontrar Milliardo novamente, pelo menos até a audiência, marcada para a próxima semana. Não sabia durante quanto tempo Duo continuaria a isolar-se de tudo e todos; mais precisamente de sua companhia. Sabia que ele o estava evitando deliberadamente, parecia que haviam voltado ao estágio inicial.

Heero levantou-se da cadeira onde Duo deveria estar sentado. Sentia-se cansado. Cansado de não poder fazer nada, pois tudo dependia de Duo aceitar sua ajuda, o que era terminantemente evitado pelo americano. Sabia que o outro andava tendo pesadelos com o ocorrido. Podia ouvir seus gritos através das paredes do quarto. Por duas vezes tivera que acordá-lo arrancando-o do pesadelo, e mantendo-o em seus braços até que se acalmasse e voltasse a dormir.


Em algum lugar da cidade:

Um carro luxuoso parou próximo a um beco. Já era quase madrugada, e não desejava estar ali, mas visto os últimos acontecimentos, precisava dos serviços dele novamente. Havia tentado se aproximar de Heero, procurando informações sobre o processo aberto contra Milliardo, no entanto ele não lhe contara nada, bem como havia proibido sua entrada na empresa. Sorriu maldosamente diante da inocência de Heero, em achar que ficaria parada, e deixar que seu irmão fosse preso ou julgado pelo que tentara fazer com aquele lixo.

Ele mereceu o que recebeu, e lamentava não estar presente, pois de outra forma poderia te-lo aconselhado melhor, e teriam planejado tudo corretamente, e agora ele não estaria se endividando ainda mais com advogados. O motorista bateu no vidro do carro, indicando que haviam chegado. Ela abaixou o vidro, olhando para o homem que vinha em sua direção. A porta foi aberta, permitindo a entrada dele, que sorriu de forma sarcástica e maliciosa para ela.

- Você não cumpriu com sua parte no acordo. E espero sinceramente que cumpra dessa vez.

- Não se preocupe, minha cara, já está tudo pronto como você me pediu.


Na residência Falls:

Duo ofegou ao sentir a carícia em seu corpo. Jamais sentira tamanho prazer. Nem mesmo nos braços de seu finado marido. Havia esperado tanto por isso. Como não havia notado que ele também o queria? Quando Heero entrara em seu quarto dizendo que não aceitaria que o ocorrido os afastasse novamente e que acabasse com a amizade que tinha criado, nunca imaginara que acabariam dessa forma. Nunca imaginou que seguindo-o até seu quarto acabariam assim. A forma como Heero o beijava, arrancava-lhe o fôlego. Agarrou-se ao japonês com desespero, perdido nas fortes sensações que nunca antes experimentara. Deixou que o amigo de seu finado marido retira-se suas roupas e explorasse com as mãos e os lábios seu corpo. Permitiu que ele fizesse algo que Edwards jamais fizera-lhe em vida. Duo ofegou o nome de Heero quando suas ereções se encontraram, e o japonês continuou a esfregar-se, criando uma fricção torturante e prazerosa entre eles. A voz rouca de Heero alterada pelo desejo, chegou em seus ouvidos através do véu de prazer em que se encontrava.

- Deixe-me amá-lo Duo... amá-lo da forma como merece.

O pedido o fez queimar por dentro e ele se ouviu quase dizendo sim ao pedido do japonês.

- Por Deus Heero... por favor.

- Por favor o que Duo?

Duo agarrou-se aos lençóis diante da luxúria que via brilhando nos olhos do japonês. Como poderia negar tal pedido, se secretamente também desejava isso? Ele se deixou ser tocado em sua intimidade, ofegando ao sentir a língua dele deslizar por seu peito. Estava a ponto de dizer-lhe sim, que o amasse, o possuísse; ao sentir a ponta do dedo de Heero pressionar-se contra sua entrada. Mas ao abrir os olhos para ver a íris azul cobalto do homem que descobrira amar, o que viu foi seu falecido marido, parado a poucos metros da cama observando-os. Em seu rosto o mesmo sorriso bondoso com que sempre o recebia.

- Edwards!

Duo gritou o nome de seu marido. Levantou-se sobressaltado e assustado. Notou que o quarto estava mergulhado na escuridão de sempre. Esticou o braço tremendo, e ligando o abajur. Sua respiração estava acelerada. Os lençóis encharcados pelo suor que banhava seu corpo. Olhou ao redor e reconheceu seu quarto, e não o de Heero. Havia sido apenas mais um sonho, apesar da sensação dos beijos e toques ainda queimarem sua pele. Fechou os olhos por alguns segundos tentando se controlar, e acalmar seu corpo, mas abriu-os assim que ouviu uma batida, e a porta abrir-se, revelando a presença de Heero.

- Você esta bem? Eu o ouvi... gritar.

- Sim... foi apenas um pesadelo... desculpe-me por incomodá-lo.

Heero balançou a cabeça, observando Duo de longe. Não se atrevia a entrar em seu quarto, não diante da visão que tinha dele no momento. O corpo arfante e suado, e os longos fios soltos ao redor dos ombros, lhe forneciam uma imagem maravilhosamente atraente. Por um instante seus olhos escureceram, ao imaginá-lo de outra forma, embaixo de seu corpo e implorando para que o possuísse, notou que Duo começou a respirar mais pesadamente, e que seu rosto apresentava um certo avermelhado. Recriminou-se mentalmente por desejá-lo dessa forma. Não haviam se passado nem dois meses que ele havia se recuperado do ataque de Milliardo, e agora o olhava como se o despisse.

Duo sentiu um ligeiro arrepio diante do olhar de Heero. Era a primeira vez que o via observá-lo dessa forma. Podia perceber o desejo nos olhos dele. O japonês o estava despindo com os olhos. Sentiu que corava, e foi incapaz de sustentar por mais tempo seu olhar. Sentia que seu corpo queimava reagindo à presença de Heero. Da mesma forma como em seus sonhos. Então lembrou-se de Edwards e um calafrio percorreu-lhe o corpo, fazendo-o apertar o lençol.

- Tem certeza de que está bem?

- Sim... não se preocupe... pode ir dormir Heero... eu estou bem.

Heero ainda ficou alguns instantes observando-o. Era visível que Duo fazia um esforço para controlar-se., pela forma como apertava os lençóis. Estreitou os olhos, tentando descobrir o que estaria escondendo, mas não descobriu nada. Relutante decidiu por deixá-lo sozinho. Sabia que não conseguiria arrancar nada de Duo se o mesmo não desejasse falar. Seu olhar percorreu mais uma vez o corpo perfeito do esposo de seu amigo morto. Recriminou-se por achá-lo maravilhosamente desejável. Procurou firmar sua voz, antes de falar e felicitou-se mentalmente por conseguí-lo.

- Se precisar de algo, basta me chamar.

Heero estava a ponto de fechar a porta e voltar para o seu quarto, antes que entrasse e cometesse a maior loucura de sua vida, quando o chamado hesitante de Duo fez seu coração bater descompassado e abrir a porta novamente.

- Heero... eu...

Duo não sabia o porquê de ter chamado Heero de volta. Abaixou a cabeça por alguns instantes, tomando coragem para fazer o que tinha que fazer. Levantou-se lentamente, incerto quanto à decisão que havia acabado de tomar. Deixou a segurança dos lençóis que cobriam a parte debaixo de seu corpo, revelando-o a Heero. Seu tronco ficou exposto aos olhos do japonês, que nunca o havia visto dessa forma. Duo vestia apenas um short preto que revelava suas pernas musculosas e longas. Heero sentiu que ofegava ligeiramente ao vê-lo pela primeira vez assim. Ele tinha um corpo harmonioso e perfeito. Viu Duo caminhar em sua direção, e abrir ainda mais a porta, ficando de frente para si. Inconscientemente olhou para os lábios cheios e vermelhos, desejando tomá-los entre os seus. Duo podia sentir o cheiro de Heero penetrar-lhe as narinas, e quase fraquejou em seu intento, ainda mais ao ficar na ponta dos pés para beijar-lhe o rosto, e recebendo um olhar escurecido, e surpreso do japonês.

- Obrigado por tudo que tem feito por mim Heero... mas eu tenho que te pedir para voltar para seu apartamento amanhã... eu não... eu não quero que fique mais aqui.

- Duo?

Heero olhou para Duo, surpreso com seu pedido. Como ele podia querer mandá-lo de volta a sua casa, quando faltavam apenas poucos dias para o julgamento de Milliardo? Duo respirou fundo, buscando a coragem de que precisava, para terminar de dizer o que começara.

- Será melhor para... nós dois. Quando levantar-me amanhã... não quero mais vê-lo em minha casa.

Duo viu o olhar de Heero estreitar-se por alguns segundos, viu raiva e confusão, mas tudo não durou mais do que poucos segundos, pois logo depois Heero virou-se, deixando-o sozinho, mas antes que entrasse em seu quarto pôde ouvir a voz fria do japonês.

- Se é o que deseja... quando levantar, já terei partido, não se preocupe.

Duo balançou a cabeça e fechou a porta do quarto trancando-a. Recostou-se nela escorregando no chão. Tocou os lábios com a ponta dos dedos lembrando da sensação da pele de Heero por sobre ela. Sabia que era a melhor atitude, mesmo que isso o fizesse sentir-se como se arrancasse seu coração. Era necessário ou acabaria por se entregar ao desejo que sentia, e não queria perturbar a memória de seu finado marido, pedindo ao japonês que o amasse como gostaria.

- É melhor assim... por nós dois, Edwards.

Continua...

Gente, desculpe a demora; mas a culpa foi minha. O cap já tinha sido iniciado a um bom tempo, mas faltava ajeitar alguns detalhes e acabei não fazendo.

Espero que gostem e comentem. Eu e a Lu adoramos receber emails, então não se sintam acanhados em fazê-lo.

Lu: yoru. a Dhandara pela revisão