- Sr. Jinenji, cheguei... Onde o senhor está? – Rin adentrou na cabana, sorridente.

Surpresa, deparou-se com um grande manto cobrindo algo, deixando à vista apenas duas esferas azuis cintilantes. Curiosa e lembrando-se do dia em que viera pedir ao meio-youkai a "Planta dos Mil Dias" para ajudar Jaken, aproximou-se.

- Você veio... – falou Jinenji com a voz um pouco diferente da normal – Não devia ter vindo hoje... Por favor, vá embora... Eu não quero ser visto assim...

- Sr. Jinenji, eu me lembro que sua mãe me disse que você tem vergonha de sua forma humana... É isso que está acontecendo? – Rin questionou-o, deitando-se no chão para tentar enxergar algo por debaixo do pano azul e branco.

A moça recebeu um aceno positivo como resposta e sorriu.

- Não deveria se envergonhar... Por favor, Sr. Jinenji, saia daí...

Jinenji moveu-se constrangido sob a coberta. Rin tornara-se sua amiga e várias vezes voltara até aquela cabana para conversar com ele. Mas nunca havia acontecido de coincidir com as vezes em que tomava sua forma humana. Pelas dobras do tecido podia ver seu sorriso largo e seus olhos brilhantes enquanto continuava a tentar, por gestos e palavras, convencê-lo a sair de debaixo do manto.

"Mas o que é isto?" – Jinenji perguntou-se perturbado, observando a garota a sua frente – "Esta menina... Eu sinto uma grande ternura tomar conta de meu coração... Será que... estou me apaixonando por ela?"

- Sr. Jinenji...? – Rin tornou a chamá-lo alegremente - Saia, Sr. Jeninji! Eu não vou me assustar e nem contar para ninguém como o senhor está.

O meio-youkai moveu-se novamente, levantando-se e levando o tecido consigo para ainda manter seu corpo oculto dos curiosos olhos da garota.

- Por que esta curiosidade? – Jinenji perguntou, tímido e enrubescido sob as sombras.

- Não sei... Acho que agora que somos amigos não há motivos para se esconder de mim... Amigos não têm segredos entre si... E não tem nada de mais se parecer com um humano. Será que sou tão feia assim que o senhor não quer se parecer comigo? Por favor, não se esconda de mim...

Não resistindo ao doce apelo, Jinenji deixou o pano escorregar por sobre suas costas até cair amontoado no chão.

Rin se surpreendeu, observando a forma humana daquele bondoso meio-youkai.

- Viu? Eu disse que você não ia gostar... - Jinenji observava o ar espantado da menina.

Jinenji era muito semelhante ao seu pai. Os mesmos olhos azuis. Alta estatura. Seus cabelos azuis estavam presos em um rabo-de-cavalo e chegavam na altura de seus ombros. Vestia um quimono simples azul-petróleo.

- Não tinha porque ficar envergonhado. – disse Rin, sorridente – O senhor é muito bonito.

A face de Jinenji tornou-se vivamente escarlate. Rin riu. Um riso muito límpido e gostoso de se ouvir, pensou Jinenji.

Certo momento, Rin pediu que Jinenji a seguisse para fora da cabana, tarefa a qual o meio-youkai realizou a muito custo, inquieto ante a possibilidade de mais alguém vê-lo naquela forma e só se tranqüilizou quando ela garantiu que não havia ninguém nas redondezas.

- Veio sozinha? – perguntou ele, lembrando de uma de suas conversas com a moça, no qual ela dizia que sempre estava acompanhada de um youkai pequeno chamado Jaken e outro, de duas cabeças, de nome Aruru.

- O Sr. Jaken estava muito mal-humorado. – respondeu Rin, sentando-se sobre a grama verdejante da encosta – Pedi que ele não viesse comigo.

Jinenji sentou-se próximo à Rin e, evitando encará-la, passou a observar o horizonte e o sol que pouco a pouco se punha. Era a primeira vez que saía de dentro da cabana em sua forma humana. Caminharam por entre seus canteiros de ervas e conversaram animadamente a tarde inteira.

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Muitas vezes ela voltou a visitar seu amigo e a amizade entre os dois tornou-se profunda. Rin sempre lhe trazia algum presente que ela encontrava em suas caminhadas pela floresta.

Com o tempo, ele se habituou a sair da cabana mesmo na sua forma humana e até arriscava alguns passeios em um bosque próximo, sem o antigo medo de ser visto.

As visitas de Rin passaram a ser esperadas com ansiedade e seu coração se iluminava quando ouvia: "Sr. Jinenji, cheguei!"

Quanto mais o tempo passava, mais evidente ficava para Jinenji seus sentimentos para com Rin. Os momentos passados com ela eram muito agradáveis e ela era muito amorosa. Ele queria lhe dizer o que sentia, mas além da timidez havia o medo de sua reação perante tal revelação.

Uma tarde, Rin, como de hábito, chegou à casa de seu amigo. Surpreendeu-o a escrever alguma coisa em uma espécie de pergaminho. Jinenji olhou-a bastante desconcertado e enrolou rapidamente o manuscrito. Ele estava novamente em sua forma humana.

- Sr. Jinenji, vamos dar um passeio no bosque? A tarde está tão bonita! - Disse ela animadamente puxando-o pela mão para fora.

Saíram e caminharam por uma trilha entre as árvores até chegar a um descampado em que corria um pequeno riacho de águas transparentes e sentaram-se em algumas pedras.

Passados alguns momentos de silêncio, em que eles escutavam o barulho suave do vento, o balançar das folhas das árvores, e o barulho da água, Jinenji virou-se na direção de Rin, tendo a face bastante enrubescida. Engoliu em seco, como que a juntar coragem, e retirou da roupa o manuscrito:

- Eu fiz um pequeno presente para você. - entregou sem jeito o manuscrito para Rin. - Espero que saiba ler...

- Oh... muito obrigada, Sr. Jinenji. Eu aprendi sim a ler com aquela moça, Kagome, ela me mostrou muitos manuscritos interessantes da Era dela... - disse timidamente Rin desembrulhando o pergaminho.

Havia nele uma linda poesia que Jinenji compusera para sua musa inspiradora.

Enquanto ela corria os olhos castanhos pelas linhas, sua face foi ficando enrubescida:

"Queria, ah, como eu queria... Poder aprisionar todo o teu encanto em uma poesia... A beleza deste teu olhar eu queria...

Um dia, ah, um dia... Poder te abraçar com os braços de minha fantasia... Beijar estes teus lábios tão macios, um dia...

Faria, ah, eu faria... Toda a tua tristeza se transformar em alegria... Só para te ver sorrindo, eu faria...

Nostalgia, ah, nostalgia... Neste mundo de sonhos para o qual eu te levaria... Lugar para esta emoção tão fria, ah... Não existiria...

Permitiria, ah, eu me permitiria... Amar toda a beleza do teu interior e a força da tua simpatia... E assim, sonhar que tu também me amarias...

Num dia desses, quem sabe um dia?..."

Ao final da leitura, Rin estava quase escarlate. Jamais imaginara que alguém poderia escrever algo assim para ela.

- Puxa, Sr. Jinenji. Nem sei o que falar... - murmurou ela sem graça.

- Sabe, Srta. Rin... Eu sei que é um pouco precipitado e... e que eu nem mesmo sei se existe alguém importante em sua vida... e você é humana, ao contrário do meu caso... em que eu fico com esta forma por pouco tempo... mas... eu... – gaguejava o meio-youkai, completamente sem jeito.

Rin observava-o atenciosamente, com um sorriso suave nos lábios.

- É que eu... não sei como falar isso... Tenho medo de assustá-la...

- Continue... – pediu ela.

- Não sei o que sente em relação a mim, mas quero que saiba que... que eu gosto muito de você.

- Fico feliz em saber disso, Sr. Jinenji... – Rin sorriu ingenuamente.

- Eu quero dizer que estou apaixonado por você, Rin.

- Oh... Quanto a isso... Eu não sei o que dizer, Sr. Jinenji... – Rin baixou um pouco os belos olhos no momento em que uma brisa movia seus cabelos negros.

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Saudações, queridos leitores...

Acho um peninha que haja tão poucas (ou nenhuma, não sei ao certo) fics com o Jinenji... Ele é tão fofo! Mas, em resposta a um antigo desafio de uma grande escritora de fics, escrevi esta estória com o Jinenji. Eu já tinha colocado a fic no site FFNet, mas a mesma foi deletada, não sei por qual motivo. Enfim, estou colocando ela de novo no ar.

Nayara: Que bom que está gostando! Fico muito feliz em saber! Sim, sim, a fic estará atualizada o mais rápido possível. Eu também gosto muito da Rin! Continue acompanhando a estória e deixando sua opinião, que é muito importante para mim! Bjs e até a próxima.