Entretanto, algo fez com que o meio-youkai cessasse seus movimentos, parando seus lábios a poucos centímetros dos de sua amada.

Mesmo em sua forma humana, ele era capaz de sentir que era observado... friamente observado...

Fixando o olhar em algum ponto atrás de Rin, perguntou de maneira cordial:

- Posso ajudá-lo, senhor?

- Hm? – Rin olhou para trás e arregalou um pouco os olhos – Senhor... Sesshou...maru...

- Ah... este é o Sr. Sesshoumaru que mencionou? – Jinenji perguntou a Rin, deixando-a um pouco sem graça. Não pode deixar de notar, muito aborrecido, a bela aparência aristocrática do youkai que acabara de chegar. Rin mencionara um certo youkai que a salvara quando criança e que a criara desde então. Mas não esperava alguém assim.

- Deseja alguma coisa, Sr. Sesshoumaru? Eu... - perguntou Rin cautelosa.

Porém, uma voz fria e imperativa a interrompeu:

- Não ouse tocá-la, meio-youkai. - a última expressão foi pronunciada de forma vagarosa e com um indelével tom de desprezo.

Jinenji levantou-se lentamente e deu um passo na direção do recém-chegado sem nada entender.

- Por que diz isso, senhor? Eu não tenho nenhuma má intenção para com essa moça. – não havendo resposta, prosseguiu – A verdade é que eu amo Rin, mas ela tem o direito de viver sua própria vida. Ela dirá se devo ou não tocá-la. – disse, movido pelo forte sentimento que tomava conta de seu coração.

- Sr. Jinenji! – Rin chamou-o, aflita ante suas palavras descontroladas. Ele definitivamente não sabia com quem estava falando. Sabia que Sesshoumaru desaprovava o relacionamento amoroso entre youkais e humanos. E mais ainda de seu desprezo por meio-youkais como seu irmão.

- Meio-youkai impertinente! Afaste-se dela! – Jinenji permaneceu imóvel olhando a expressão de raiva tomar conta da face de Sesshoumaru.

O inexorável youkai elevou seu braço direito e sua mão foi envolta por uma estranha luz verde-amarelada. - Eu disse para se afastar dela!

Acompanhando um pequeno movimento executado por Sesshoumaru, a luz pareceu alongar-se e tomou forma de um chicote, o qual foi atirado contra Jinenji habilmente pelo youkai cachorro enfurecido.

- Sr. Jinenjiiiiii! – Rin gritou por ele e, numa atitude desesperada, atirou-se na frente do meio-youkai, sendo atingida verticalmente pelo mortal chicote de Sesshoumaru, que só teve tempo de diminuir a velocidade do golpe.

Sentindo dores atrozes de seu ombro direito até a altura do cotovelo esquerdo, Rin caiu ajoelhada no chão a frente de Jinenji. O meio-youkai, por hora com sua forma humana, apressou-se a segurar o corpo já sem vida da moça antes que a mesma caísse completamente.

- Srta. Rin...! – gritou Jinenji desesperado, abraçando sua amada desajeitadamente.

Sesshoumaru observava tudo à distância, já tendo guardado sua arma. Seus olhos cor-de-âmbar voltaram a tomar a expressão fria e impassível de sempre. Ele parecia uma muralha de gelo e pedra.

Um brilho envolveu Jinenji repentinamente e este, aos poucos, foi voltando à sua forma de meio-youkai, sem soltar Rin de seu abraço.

- Por que o senhor fez isso? Por queeee? Como pode ter tanto rancor em sua alma...? – Jinenji questionou Sesshoumaru, com grossas lágrimas brotando de seus grandes olhos.

Corajosamente, Jinenji sequer piscou ante os próximos movimentos do poderoso youkai. Sesshoumaru caminhava majestosamente em direção do meio-youkai.

- Eu mandei afastar-se dela. – Sesshoumaru falou friamente, parando pouco a frente do monstruoso Jinenji.

- O que pretende...? – perguntou o meio-youkai, apertando Rin em seus braços em uma atitude protetora.

- Não vou repetir a ordem. – Sesshoumaru pousou a mão na bainha de uma de suas espadas ameaçadoramente.

Jinenji, ainda receoso, obedeceu, deixando Rin deitada sobre a terra, mas ficou completamente estarrecido ao vê-lo desembainhar a espada e atingir novamente o corpo da moça. Um longo brilho azul sobrenatural saiu do ferimento de Rin.

Sesshoumaru, vendo os emissários do outro mundo, semicerrou seus olhos e cortou a todos os pequenos seres.

Após isso, guardou a arma e tomou o corpo de Rin em seus braços. Ela ainda trazia as flores que colhera enroscadas na mão esquerda.

Um silêncio se seguiu em que o tirano youkai parecia aguardar alguma coisa acontecer. Rin abriu os olhos lentamente, para espanto do meio-youkai. Seu rosto estava a poucos centímetros do rosto do príncipe youkai e ela olhou espantada de Jinenji para Sesshoumaru e de novo para Jinenji. Sem entender muita coisa, esperou que Sesshoumaru a colocasse no solo novamente, o que ele fez lentamente.

- Sr. Sesshoumaru... – falou ela de repente, jogando-se ao pés dele e permanecendo de cabeça baixa perante o youkai – Por favor... Por favor, Sr. Sesshoumaru... Não mate o Sr. Jinenji... Por favor... Ele é muito bom e nunca me fez mal algum... Por favor...

Sesshoumaru sentiu o cheiro das lágrimas que brotavam dos cintilantes olhos da moça.

"Não entendo esta menina. Porque protege esse meio youkai insignificante?" – pensou Sesshoumaru, sem alterar seu olhar desprovido de emoções – "Não entendo minha própria reação. Por que me descontrolei? Este meio-youkai desprezível me fez isso? Não. Não foi por causa dele. Mas, então..."

Sesshoumaru deu-lhes as costas, muito aborrecido, afastando-se sem pressa.

- Ahn? – exclamou Rin, surpresa – Sr. Jinenji... – voltou-se em direção do meio-youkai e executou uma reverência – Eu sinto muito, Sr. Jinenji...

- Não diga nada. – respondeu Jinenji, intuitivamente percebendo a situação – Não precisa se explicar. Você será feliz. Terei sempre um grande carinho por você. Vá agora. E se ainda puder algum dia, sua visita me deixará muito feliz. - Jinenji despediu-se com os olhos marejados.

Rin sorriu com as palavras confortadoras de Jinenji. Agradeceu-as. Após outra reverência, correu para alcançar Sesshoumaru e, já distante, acenou um último adeus.

"Sei que perdi a batalha... Rin já tem o amor de outra pessoa." - concluiu Jinenji entristecido enquanto ela desaparecia no horizonte.

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"Este sentimento é totalmente desconhecido para mim... pela primeira vez perdi o controle das minhas emoções..." – Sesshoumaru prosseguia confuso com seus pensamentos e também com seus passos – "O que está acontecendo comigo? Eu a vi crescer ao meu lado e só há pouco tempo me dei conta no que ela se transformou..." - lembrou-se de ter sentido uma perturbação estranha naquela tarde em que a surpreendeu, sem querer, banhando-se no lago. Era a primeira vez que a via como mulher e não mais uma criança que o seguia obediente por toda a parte. - "Não deveria ter me importado tanto assim já que os humanos costumam mesmo se apaixonar por youkais, mas eu! E porque ela se preocupou tanto com aquele meio-youkai ordinário? E ele não será o último a tentar conquistá-la." - continuou se dando conta aos poucos de uma emoção que pela primeira vez admitia. Estava completamente atordoado com a falta de controle sobre seu coração. - "Poderei eu, um youkai completo, ter me deixado cativar por uma humana? Será possível que eu..."

Mais tarde, tendo Jaken juntado-se a eles com Aruru, o grupo parou sobre o topo de um morro.

Sesshoumaru observava o horizonte distante e Jaken, assombrado, julgou tê-lo visto sorrir tenuamente em certo momento.

"O Sr. Sesshoumaru mudou muito desde que a menina Rin nos acompanha." – refletiu Jaken, satisfeito – "Não posso afirmar o que se passa pela mente do Sr. Sesshoumaru, mas eu acho que seu coração de pedra, que muitos julgavam não existir, amoleceu-se. O sentimento dele para com Rin não deve ser apenas de proteção a uma humana."

"Não será o último..." – Sesshoumaru desviou o olhar do horizonte para uma paisagem que, em sua opinião, era muito mais bonita: Rin, que despreocupada, se divertia em seguir uma borboleta em seu vôo de flor em flor, os longos cabelos esvoaçando com a brisa e o sorriso resplandecente. – "Mas ninguém roubará este meu tesouro."

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(E chegamos ao fim de mais uma fanfic minha. Espero que tenham gostado desta resposta ao desafio da Lonestar Karina (eu deveria escrever um romance com Jinenji).

Obrigada a todos que leram! E continuem acompanhando minhas estórias, hein? Eu as faço com muito carinho especialmente para vocês. Mil beijinhos.)